Lula reclama de racismo contra brasileiros em Portugal e premiê promete 'tolerância zero'

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou nesta quarta-feira, dia 19, que brasileiros não sejam alvo de racismo e xenofobia em Portugal, durante reunião com o primeiro-ministro do país, Luís Montenegro. Em resposta, o chefe do governo português prometeu "tolerância zero" para os autores de crimes relacionados ao preconceito de origem ou raça.

"Mantivemos uma conversa muita franca sobre como melhorar a vida de nossas comunidades expatriadas. Afirmei ao primeiro-ministro Montenegro que precisamos desconstruir a narrativa mentirosa que associa a migração brasileira ao aumento da criminalidade em Portugal. Sabemos bem que não há espaço para racismo e xenofobia entre nós", afirmou Lula, em discurso após a cúpula entre governos, no Palácio do Planalto.

As denúncias de crimes contra imigrantes brasileiros cresceram em Portugal, acompanhando o aumento da comunidade brasileira no país, nos últimos anos. Conforme os dados mais recentes do Itamaraty, há 513 mil nacionais brasileiros vivendo em Portugal, o segundo maior contingente de expatriados no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Dados da Comissão para Igualdade e Contra a Discriminação Racial, órgão português responsável pelo registro de casos, revelam aumento de 833% das queixas de brasileiros: foram 18 em 2017 e 168 em 2022. Não há dados mais recentes, porque a comissão passou um ano paralisada e voltou a funcionar apenas em dezembro passado, com a posse dos novos integrantes e seu funcionamento vinculado à Assembleia da República Portuguesa.

Promessa de tolerância zero

"Não posso garantir, tenho que ser completamente honesto, que não possa existir episodicamente alguma manifestação de racismo, de xenofobia. O que posso dizer é que temos tolerância zero para quem tiver um comportamento dessa natureza", prometeu Montenegro.

Segundo o primeiro-ministro, a política de tolerância zero passa pela prevenção, pela postura "inequívoca" de repressão "a qualquer tentação" de prática de crimes e também pela proteção a pessoas que possam estar expostas e virem a ser vítimas. Ele afirmou que os países trabalham para atingir uma cooperação melhor a fim de "afastar qualquer ocorrência de comportamentos xenófobos".

O premiê do Partido Social Democrata repetiu, porém, a linha de discurso de autoridades portuguesas distintas no espectro político local: os casos são isolados. Esse argumento é similar ao do presidente do Parlamento e ao da diplomacia do governo antecessor, de António Costa, do Partido Socialista.

"Os portugueses, na sua esmagadora maioria, esmagadora mesmo, não têm nenhuma, mas nenhuma mesmo, tendência para fenômenos de xenofobia. Não têm", afirmou Montenegro.

Segundo o premiê, a relação com os brasileiros é muito próxima pela identidade de valores e cultura, além do idioma comum. Ele afirmou que, se não fosse assim, os brasileiros não teriam tanta vontade de viver em Portugal, nem os portugueses de acolhê-los.

"Em casos excepcionais e em casos graves - às vezes basta haver um caso ou dois, que é contaminada toda uma comunidade. Temos que fazer a pedagogia... Atenção, não extraiam daqui nenhuma diminuição do valor das coisas. Não estou a dizer que um caso que seja não é uma preocupação, claro que é. Mas temos de relativizar. Não podemos extrair a conclusão, com a exceção, de que isso é a regra. Efetivamente não é."

A cobrança estava na pauta das reuniões de Lula com Montenegro e com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, na véspera, também em Brasília. A diplomacia brasileira já havia levado as queixas ao conhecimento das autoridades portuguesas.

Na véspera, o presidente de Portugal destacou que regulamentou a facilitação dos pedidos de residência, na semana anterior. A mudança na lei promulgada permitirá que brasileiros possam dar entrada no processo de moradia para estudo ou trabalho durante viagens como turistas, sem necessidade de visto prévio.

"Essa lei acaba de ser regulamentada e uma das preocupações é não só garantir os direitos dos que se encontram em Portugal e ultrapassar problemas de regularização como abrir um caminho para o futuro, que é fundamental para a sociedade e economia portuguesa, que tanto tem se beneficiado das centenas de milhares de brasileiros que já vivem em Portugal", afirmou o presidente.

Integração de imigrantes

Montenegro também falou dos esforços para facilitar a integração de imigrantes em Portugal - o país tem incentivado a imigração para dinamizar a economia, embora tenha havido crescimento também de setores radicais de direita com discursos de ódio, inclusive no Parlamento.

O atual governo português extinguiu o antigo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e transferiu as tarefas para Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).

A agência estabeleceu uma força-tarefa para reduzir a fila de espera e processar a documentação de cerca de 400 mil imigrantes no país. A maior parte dos casos pendentes é de brasileiros, grupo que compõe 35% dos estrangeiros residentes em Portugal: são 368 449 brasileiros, conforme dados do país, de 2023. O total de imigrantes era de 1.044.606 estrangeiros.

Montenegro afirmou que determinou um reforço nas equipes de atendimento aos imigrantes em todo o país e que atualmente há mais de 25 centros onde os processos de regularização tramitam. Segundo ele, a capacidade de resposta da burocracia é quatro ou cinco vezes maior do que há dez meses, quando assumiu o poder.

"A expectativa é nos próximos meses poder fechar essa página e passarmos a ter regularidade no fluxo de entrada no nosso país", afirmou o primeiro-ministro.

Segundo, o governante os 500 mil brasileiros vivendo na sociedade portuguesa são parte ativa e colaboram com o momento positivo do país.

"Quero assegurar aos brasileiros, ao presidente da República e aos membros do governo brasileiro que nós em Portugal temos uma relação de perfeita articulação com os brasileiros que escolheram viver em Portugal. São efetivamente a maior comunidade de imigrantes que temos em nosso país e por isso mesmo aquela que está mais bem integrada", afirmou o premiê. "Isso é motivo para eu reconhecer gratidão que o governo português aqueles que nos têm procurado para alimentar o sonho de alcançarem maior prosperidade para suas famílias."

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O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai destinar R$ 100 milhões para um plano nacional para enfrentamento aos desastres naturais que será desenvolvido juntamente com a Marinha e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A parceria foi oficializada em Belém, nesta sexta-feira, 7, durante cerimônia que homenageou Pedro Teixeira, militar português do período colonial que liderou a primeira expedição fluvial subindo o rio Amazonas.

Estiveram presentes o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante; o Comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen; a diretora do Cemaden, Regina Célia Alvalá; e a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos. A cerimônia ocorreu no espaço interno do navio Atlântico, ancorado no porto de Belém e que funcionará como base de operações e apoio logístico das Forças Armadas durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30).

A ideia da parceria é unir esforços técnicos, científicos e institucionais para fortalecer a capacidade nacional de prevenção, monitoramento e resposta aos eventos climáticos extremos, cada vez mais recorrentes.

"Estamos tendo desastres extremos cada vez mais frequentes e intensos. Estamos desenvolvendo esforços de prevenção, com programa de descarbonização e outras iniciativas. Mas nós também temos que nos preparar para a resposta.

Salvar vidas em primeiro lugar e recuperar as estruturas, as comunicações, a economia", afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. De acordo com Mercadante, a expectativa é de que, com base nas estudos que serão realizados, o plano nacional esteja concluído em outubro do próximo ano.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou neste sábado, 8, que o relatório do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) para o projeto de lei antifacção enviado ao Congresso pelo Executivo "preserva avanços" do texto do governo federal e "endurece as penas contra o crime".

"É hora de colocar todos na mesma mesa: governo, Congresso e sociedade e, com a maturidade que o país exige, trabalhar juntos por um projeto que una o Brasil no que realmente importa: garantir segurança à nossa sociedade", escreveu o parlamentar em sua conta no X. "Quando o tema é segurança, não há direita nem esquerda, há apenas o dever de proteger", completou.

Motta afirmou ainda que segurança pública é uma pauta suprapartidária e que vai conduzir as discussões sobre o congresso, "com respeito ao regimento, mas com a firmeza de quem conhece a urgência das ruas". O deputado diz acreditar que o Marco Legal de Combate ao Crime Organizado "encontrou um ponto de unidade".

A declaração ocorre no rescaldo do anúncio, na noite desta sexta, 7, de que Derrite - que se licenciou do cargo de secretário de Segurança Pública de São Paulo para relatar projetos sobre o tema na Câmara - também seria relator do PL antifacção, de autoria do governo Lula. O parlamentar já havia recebido a relatoria de um projeto concorrente, o que propõe equiparar facções a organizações terroristas, de autoria do deputado Danilo Forte (União-CE).

O anúncio gerou fortes críticas de governistas. O líder do PT na Câmara dos Deputados afirmou que a escolha de Derrite como relator do projeto como um "desrespeito" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também ressaltou que a decisão "beira uma provocação". Já a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, disse que a escolha "contamina o debate com os objetivos eleitoreiros de seu campo político".

Horas depois do anúncio Derrite já publicou seu parecer sobre o tema, que pode ser analisado na Câmara dos Deputados já na próxima semana.