Revista publica mensagens do vazamento de planos da cúpula da Casa Branca de ataque no Iêmen

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A revista norte-americana The Atlantic publicou nesta quarta-feira, 26, uma série de novas mensagens enviadas por membros do governo Donald Trump no aplicativo criptografado Signal que incluíam detalhes operacionais de ataques militares contra os Houthis no Iêmen. A revista inicialmente havia retido detalhes dos planos de guerra, justificando que as informações eram sensíveis e poderiam prejudicar tropas americanas no exterior. Mas os comentários de oficiais republicanos, que negaram que planos de guerra haviam sido compartilhados, fizeram a publicação mudar de ideia.

Os novos detalhes do conteúdo divulgado no grupo foram publicados antes de uma audiência do Comitê de Inteligência da Câmara com o diretor da CIA, John Ratcliffe, e a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard.

Detalhes

As novas mensagens, que incluem capturas de tela do bate-papo completo, deixam claro que o secretário de Defesa, Pete Hegseth, compartilhou detalhes específicos sobre o momento dos lançamentos de porta-aviões dos EUA.

Os horários de lançamento geralmente são mantidos em segredo para garantir que os alvos não possam se esconder ou montar um contra-ataque no exato momento em que os aviões estão decolando, quando estão potencialmente vulneráveis.

A revista afirmou nesta quarta-feira que incluiu todas as capturas de tela, exceto o nome de um oficial da CIA que está trabalhando como assessor de John Ratcliffe, o diretor da agência, a pedido da organização.

Segundo a publicação, Hegseth não publicou todos os detalhes dos planos de guerra e não identificou os alvos precisos que os aviões iriam atingir.

Mensagens

No chat do grupo, Hegseth publicou vários detalhes sobre o ataque iminente, usando linguagem militar e expondo quando uma "janela de ataque" começa, onde um "alvo terrorista" estava localizado, os elementos de tempo em torno do ataque e quando várias armas e aeronaves seriam usadas no ataque.

Entenda o caso

Na segunda-feira, 24, o editor-chefe da revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg revelou em uma reportagem que foi incluído por engano em um grupo do aplicativo de mensagem Signal - similar ao WhatsApp e ao Telegram, mas com mais segurança - com autoridades do alto escalão do governo Trump que discutiam os ataques aos rebeldes Houthis, do Iêmen.

As conversas, com informações sensíveis sobre os planos militares dos Estados Unidos, reuniram, entre outros o vice-presidente J.D. Vance, o secretário de Estado Marco Rubio e o secretário de Defesa Pete Hegseth e abriram um debate sobre o descuido com informações sigilosas na alta cúpula do governo.

Segundo o relato publicado na The Atlantic, Jeffrey Goldberg recebeu o pedido de conexão de uma pessoa identificada como Michael Waltz. Esse é o nome do Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos.

Dois dias depois de aceitar a solicitação, ele foi incluído no grupo chamado "Houthi PC small group" em aparente referência a principals committee (reuniões com integrantes do gabinete e funcionários do alto escalão da segurança nacional). O chat, dizia mensagem enviada por Michael Waltz, havia sido criado para "coordenação sobre os Houthis".

Os rebeldes que integram o "Eixo da Resistência" do Irã causaram problemas ao comércio global com ataques no Mar Vermelho em meio ao conflito no Oriente Médio e a ameaçaram retomar os disparos com mísseis e drones depois que Israel suspendeu a ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.

Nos dias que antecederam o ataque no Iêmen, o usuário identificado como J.D. Vance se mostrou reticente sobre a ofensiva. Ele disse que o governo estaria "cometendo um erro" e argumentou que a via atingida pelos ataques dos rebeldes era mais importante para a Europa do que para os Estados Unidos. "Há um risco real de que o público não compreenda isso ou por que é necessário", escreveu. "Não tenho certeza se o presidente está ciente de quão inconsistente isso é com sua mensagem sobre a Europa."

A conta identificada como Pete Hegseth disse que entendia as preocupações de Vance, mas insistiu na ofensiva. Ele concordou que a comunicação seria difícil porque "ninguém sabe quem são os houthis" então seria preciso focar nas falhas do governo Joe Biden em deter os rebeldes e no apoio do Irã.

A mensagem alertava ainda para os riscos de adiar o ataque, como Vance sugeriu. "Há 2 riscos imediatos na espera: 1) isso vaza e parecemos indecisos; 2) Israel toma uma atitude primeiro - ou o cessar-fogo em Gaza fracassa - e não conseguimos iniciar o processo em nossos próprios termos."

"Estamos preparados para executar e, se eu tivesse um voto final de "sim" ou "não", acredito que deveríamos fazê-lo. Isso não tem a ver com os houthis. Eu vejo isso como duas coisas: 1) Restaurar a liberdade de navegação, um interesse nacional fundamental; e 2) Restabelecer a dissuasão, que Biden destruiu", concluiu Hegseth.

A discussão chegou ao fim depois que "SM", que se presume ser o assessor Stephen Miller, entrou na conversa. "Pelo que ouvi, o presidente foi claro: sinal verde", escreveu, sinalizando que os Estados Unidos depois poderiam cobrar a conta de Egito e Europa, sem especificar o que pediriam como recompensa. "Se os EUA conseguirem restaurar a liberdade de navegação a um custo elevado, será necessário obter algum ganho econômico adicional em troca."

Em artigo publicado na segunda-feira, o editor disse ter ficado com receio de que o grupo fosse falso, parte de alguma campanha de desinformação. Até que os bombardeios detalhados no chat foram de fato lançados pelos Estados Unidos. "Eu tinha fortes dúvidas de que esse grupo fosse real, porque não podia acreditar que a liderança da segurança nacional dos Estados Unidos se comunicaria pelo Signal sobre planos de guerra iminentes", escreveu Jeffrey Goldberg.

Reação de Trump

Trump minimizou na terça-feira, 25, o envio das mensagens. Ele afirmou que esse foi "o único erro em dois meses" de seu governo, enquanto legisladores democratas criticaram duramente o tratamento descuidado de informações altamente sigilosas.

O presidente dos EUA disse à NBC News que o deslize "acabou não sendo grave" e reafirmou seu apoio ao assessor de segurança nacional, Mike Waltz.

"Michael Waltz aprendeu uma lição, e ele é um bom homem", disse Trump.

Ele também pareceu culpar um colaborador não identificado de Waltz por ter incluído Goldberg no grupo. "Foi um dos funcionários de Michael no telefone. Um membro da equipe incluiu o número dele lá."

Waltz disse na terça-feira que não sabia como Goldberg acabou no chat. "A ele, em particular, nunca o conheci, não o conheço e nunca me comuniquei com ele", declarou Waltz.

Mais tarde, no programa The Ingraham Angle, da Fox News, Waltz afirmou que ele mesmo criou o grupo de bate-papo e que especialistas técnicos da Casa Branca estavam investigando como o contato de Goldberg foi integrado./ COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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A Justiça Federal condenou o ex-prefeito de Marajá do Sena - município com cerca de 8 mil habitantes no interior do Maranhão, a 400 quilômetros de São Luís -, Manoel Edivan Oliveira da Costa (PDT), o Edivan Costa, a cinco anos e seis meses de reclusão pelo desvio de R$ 96.737,62 em verbas federais destinadas à construção de duas escolas.

Segundo a ação movida pelo Ministério Público Federal, apenas 25,06% da construção de uma das escolas foi feita. A outra escola teve só 0,13% da obra executada. Marajá do Sena tem o segundo pior IDH educacional maranhense.

A reportagem do Estadão busca contato com a defesa. O espaço está aberto para manifestação de Manoel Edivan, que terá que devolver o valor do desvio, acrescido de correção monetária, para reparação do dano causado ao patrimônio público.

O ex-prefeito também está proibido de exercer funções públicas por cinco anos. Ainda cabe recurso da decisão.

A sentença acolheu acusação do Ministério Público Federal. As verbas foram repassadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), por meio de convênio firmado com o município, em 2014, para a construção das escolas.

Quando foi eleito pela primeira vez, em 2008, seu plano de governo previa a construção, reforma e ampliação de escolas na zona rural da cidade.

A Justiça Federal concluiu que o MPF "demonstrou que as verbas não foram aplicadas no objeto do convênio, caracterizando o desvio de recursos públicos".

Parecer técnico da Diretoria de Gestão, Articulação e Projetos Educacionais do FNDE indica que apenas 25,06% da construção de uma das escolas foi realizada. A outra escola teve apenas 0,13% da obra executada.

De acordo com a sentença da 1.ª Vara Federal no Maranhão, as obras não foram concluídas dentro do prazo estabelecido, que era 30 de setembro de 2016, e a prestação de contas, obrigatória até 31 de agosto de 2018, não foi apresentada.

O MPF também aponta que, embora Manoel Edivan tenha deixado o cargo de prefeito em dezembro de 2016, antes do fim do prazo para a prestação de contas, seu sucessor não conseguiu apresentar as contas devido à falta de documentos e informações sobre o andamento das obras.

"Dessa forma, o sucessor adotou as providências legais necessárias visando o resguardo do patrimônio municipal, tal como o ajuizamento de ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra o ex-prefeito", destaca a Procuradoria.

Na sentença, a Justiça absolveu o ex-prefeito do crime de responsabilidade pela não prestação de contas, porque considerou que ele estava impossibilitado de fazê-lo, já que não estava mais no cargo ao final do prazo desta obrigação legal. Mas a decisão foi favorável aos pedidos do MPF no que se refere ao crime de responsabilidade pelo desvio dos recursos públicos, pelo qual Manoel Edivan foi condenado.

Para a Justiça Federal, ficaram provadas as irregularidades e inexecução parcial das obras.

A Justiça concluiu que "o modo escancarado como se deu o desvio dos recursos públicos impressionou, inclusive pela iniludível crença na impunidade, reforçada pelo pouco caso que fez o réu da investigação e, por que não dizer, da ação penal".

"Tal postura, na mesma medida que viola princípios básicos da administração pública, a desacreditar as instituições, humilha o cidadão e contribuinte, a merecer resposta penal proporcional", diz a sentença.

Marajá do Sena possui o segundo pior IDH educacional do estado do Maranhão, de apenas 2,99. Segundo a decisão, "ainda assim, o réu subtraiu às famílias desse município a possibilidade de ver seus filhos contarem com duas escolas básicas".

O Superior Tribunal Militar (STM) decidiu cassar o posto e a patente de César de Medeiros Garcia, major do Exército, após o trânsito em julgado (quando não cabe mais recurso) de ação penal que o condenou por falsificação de atestado médico.

O oficial recebeu uma pena de dois anos e seis meses de reclusão pelo crime de falsificação de documento público, previsto no artigo 311 do Código Penal Militar. A perda do posto e da patente está prevista no regimento interno do STM e na Constituição Federal para oficiais condenados a penas superiores a dois anos de reclusão.

A representação pela declaração de indignidade e incompatibilidade para o oficialato foi proposta pelo procurador-geral da Justiça Militar, que argumentou que a ação revelou uma postura egoísta e desprovida da moralidade necessária a um oficial.

Em janeiro de 2015, César adulterou um atestado para tentar alterar o resultado de sua inspeção de saúde em que havia sido considerado apto para o serviço militar, com restrição por 180 dias. A falsificação foi confirmada por perícia.

Segundo o procurador-geral, o major teria se valido da boa-fé de um colega militar hierarquicamente inferior, que acatou as ordens recebidas sem questioná-las. "O oficial se aproveitou de seu posto e da estrutura organizacional do setor administrativo de saúde para se valer de documento falso com a finalidade de realizar nova inspeção, mesmo sem indicação para tal", escreveu.

A perda da farda foi determinada em sessão plenária do STM, presidida pela ministra Maria Elizabeth Rocha. A Corte decidiu acolher a representação do procurador-geral da Justiça Militar por maioria de votos, seguindo o entendimento do relator, ministro Artur Vidigal de Oliveira, e do revisor, ministro Carlos Vuyk de Aquino.

O relator destacou que falsificar documento público configura crime de "elevada gravidade" por atentar contra a moralidade administrativa e comprometer valores como honestidade e lealdade às instituições e ao País.

"A conduta do oficial representou um rompimento da confiança nele depositada e um abalo à credibilidade do Exército Brasileiro", afirmou o ministro Artur Vidigal de Oliveira.

O único voto divergente foi do ministro José Coêlho Ferreira, que se posicionou contra a perda da patente e argumentou que o major ainda teria condições de permanecer no oficialato.

O governo federal promove nesta quinta-feira, 3, um evento para apresentar as ações dos dois primeiros anos da gestão. A agenda terá a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros de Estado, parlamentares, representantes da sociedade civil e outras autoridades.

A solenidade terá início às 10h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. O mote "O Brasil Dando a Volta Por Cima" foi apresentado neste mês pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Sidônio Palmeira, que assumiu o cargo em janeiro com a missão de melhorar a popularidade de Lula.

Na ocasião, o ministro deu orientações para que os ministros incluíssem a frase em seus discursos e apresentem os números positivos do governo em relação à gestão anterior. A ideia é passar a imagem de que o País se recupera dos efeitos do governo Jair Bolsonaro (PL).

O presidente Lula vive o pior momento de seus três mandatos no quesito aprovação entre os eleitores. O evento na quinta-feira deve dar destaque a programas como o Pé-de-Meia, Farmácia Popular, a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil e o Minha Casa Minha Vida.

Sob Sidônio, a Secom intensificou os gastos em campanhas publicitárias, principalmente em propagandas na televisão. As peças focam em programas e resultados da gestão. Entre 1º de janeiro e 17 de março, foram 1.211 campanhas veiculadas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva em rádio, televisão, internet, mídia digital (como televisões de elevador) e revista.

Ainda fazem parte da cruzada pelo aumento da popularidade viagens nacionais e internacionais do presidente Lula, frequentemente acompanhado de ministros de Estado, para divulgação de resultados e inaugurações.

Segundo pesquisa Futura Inteligência divulgada na última quarta-feira, 26, 52,1% dos brasileiros avaliaram o governo como ruim ou péssimo, enquanto 23,4% o consideram ótimo ou bom, e 23,9% como regular.

O levantamento ouviu mil pessoas por entrevista telefônica entre os dias 19 e 22 de março. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais, para mais ou para menos.