Como a Cúpula da Casa Branca adicionou jornalista em chat para discutir plano secreto?

Internacional
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A revelação de que as autoridades mais altas de segurança nacional dos Estados Unidos publicaram detalhes de um ataque militar no Iêmen em um grupo de bate-papo no aplicativo Signal com a presença de um jornalista, horas antes do ataque ocorrer, levantou questões sobre leis violadas, vazamento de informações confidenciais e possíveis consequências.

O 'Signalgate', como o caso ficou conhecido, expôs que a cúpula da Casa Branca discutia planos de guerra americanos no aplicativo Signal, que não possui autorização do governo americano para discutir assuntos secretos pelo risco de ser hackeado.

Entenda o caso

Neste domingo, 6, o jornal britânico The Guardian mostrou que o assessor de segurança nacional de Donald Trump, Mike Waltz, incluiu o jornalista Jeffrey Goldberg, da revista americana The Atlantic, no bate-papo em grupo do Signal sobre os planos de ataques dos EUA no Iêmen depois de ter salvado por engano seu número meses antes sob o contato de outra pessoa que ele pretendia adicionar, de acordo com três pessoas informadas sobre o assunto.

"O erro foi uma das várias falhas que vieram à tona na investigação interna da Casa Branca, que mostrou uma série de deslizes iniciados durante a campanha de 2024 e passaram despercebidos até que Waltz criou o bate-papo em grupo no mês passado", diz a reportagem do The Guardian.

Desde a revelação da revista Atlantic, em março, uma série de "análises forenses" foram iniciadas pelo escritório de tecnologia da informação da Casa Branca. Segundo o Guardian, essas análises descobriram que Waltz salvou o número de Goldberg depois de o jornalista enviar um e-mail à campanha de Trump em outubro passado.

"De acordo com três pessoas informadas sobre a investigação interna, Goldberg havia enviado um e-mail à campanha sobre uma matéria que criticava Trump por sua atitude em relação aos membros feridos do serviço militar. Para rebater a história, a campanha contou com a ajuda de Waltz, seu representante de segurança nacional", diz o The Guardian.

"O e-mail de Goldberg foi encaminhado ao então porta-voz de Trump, Brian Hughes, que copiou e colou o conteúdo do e-mail - incluindo o bloco de assinatura com o número de telefone de Goldberg - em uma mensagem de texto que enviou a Waltz, para que ele pudesse ser informado sobre a história que estava por vir. Waltz não chegou a ligar para Goldberg, disseram as pessoas, mas, acabou salvando inadvertidamente o número de Goldberg em seu iPhone - sob o cartão de contato de Hughes, agora porta-voz do conselho de segurança nacional".

Na ocasião, Waltz apareceu na CNN para defender Trump do episódio. Mas o telefone do jornalista estava erroneamente salvo durante uma "atualização de sugestão de contato" pelo iPhone de Waltz. Essa função é gerada por um algoritmo do iPhone que adiciona um número previamente desconhecido a um contato existente que ele detecta que pode estar relacionado.

"O erro passou despercebido até o mês passado, quando Waltz tentou adicionar Hughes ao bate-papo em grupo do Signal - mas acabou adicionando o número de Goldberg à cadeia de mensagens de 13 de março denominada "Houthi PC small group", na qual várias autoridades importantes dos EUA discutiram planos de ataques contra os Houthis", relata o The Guardian.

Waltz disse, logo após o incidente, que nunca havia se encontrado ou se comunicado com Goldberg. Ele também sugeriu na Fox News que o número de Goldberg havia sido "sugado" para seu telefone, aparentemente em referência à forma como seu iPhone havia salvo o número de Goldberg.

A Casa Branca não comentou a reportagem do The Guardian. Contatado por telefone no sábado, Goldberg disse: "Não vou comentar sobre meu relacionamento com Mike Waltz além de dizer que o conheço e falei com ele".

Trump foi informado sobre as conclusões da análise forense na semana passada. O presidente dos EUA teria cogitado demitir Waltz por causa do episódio, mas desistiu por não querer que "a Atlantic e a mídia tradicional tivessem a satisfação de forçar a demissão de um alto funcionário do gabinete semanas após o início de seu segundo mandato", segundo o jornal britânico.

"Trump aceitou o mea culpa de Waltz e o defendeu publicamente nas últimas semanas, desde que a situação do bate-papo em grupo se tornou pública. Waltz também parece ter gerado alguma simpatia dentro da órbita de Trump por causa do bate-papo em grupo, pois a Casa Branca autorizou o uso do Signal, principalmente porque não existe uma plataforma alternativa para enviar mensagens de texto em tempo real para diferentes agências, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto".

Governos anteriores dos EUA usaram o Signal para trocar mensagens de conteúdo secreto ou altamente confidencial, incluindo a Casa Branca de Biden, e não desenvolveram uma plataforma alternativa ao Signal.

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O vereador de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan Bolsonaro (PL) protocolou uma moção de repúdio contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Câmara Municipal. O filho "04" do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou o pedido na última sexta-feira, 4, afirmando que o governo federal impôs "severas restrições" à pesca de tainha, o que não tem "não tem contribuído para o desenvolvimento" da cidade. Neste domingo, 6, Jair Renan esteve ao lado do pai na manifestação pró-anistia na Avenida Paulista, em São Paulo.

O texto cita uma normativa do governo federal que impôs restrições, em 2023, à pesca industrial de tainha, atividade tradicional de Santa Catarina, além da imposição de cotas para a pesca artesanal em 2025. Segundo Jair Renan, "afetando milhares de pescadores e prejudicando a economia local".

O vereador também afirmou que Lula tem "demonstrado desrespeito" ao governador do Estado, Jorginho Mello (PL), e tido uma gestão ruim sobre a economia nacional. "O descontrole fiscal e a falta de direção na política econômica têm gerado sofrimento à população brasileira, com o aumento expressivo da inflação e a perda do poder de compra", afirmou.

O filho do ex-presidente ainda disse que o governo federal tem manifestado apoio a regimes ditatoriais, como os governos da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua.

Jair Renan argumenta que o município de Balneário Camboriú não pode compactuar com este "cenário de afronta às tradições culturais, descaso com a economia local e apoio a regimes antidemocráticos".

Atuação de Jair Renan na Câmara

Eleito vereador pelo Partido Liberal (PL) nas eleições de 2024, Jair Renan exerce seu primeiro cargo eletivo. No mês de março, um corte de uma sessão na casa viralizou nas redes sociais. O vídeo mostra Jair Renan chorando ao discursar sobre a permanência de seu irmão, Eduardo, nos EUA.

Na tribuna, o vereador pediu respeito a sua família. "Quando você vai atacar alguém, ataque a pessoa, não ataque a família. Eu nunca desrespeitei nenhum familiar. O que aconteceu ontem foi algo mesquinho e de baixo calão", disse.

Ainda em março, Jair Renan foi o único vereador a votar contra o reconhecimento de assassinato do ex-prefeito Higino João Pio pela ditadura militar. Ao todo, 16 integrantes da Casa apoiaram o texto. Jair Renan se posicionou contrário ao projeto, e os vereadores Victor Forte (PL) e o presidente, Marcos Kurtz (Podemos), não votaram.

Durante ato em defesa da anistia para os condenados do 8 de Janeiro, neste domingo, 6, em São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou a condenação de vendedores de pipoca e sorvete para criticar a condução dos processos contra acusados dos ataques às sedes dos Três Poderes em 2023.

Em cima de trio elétrico na avenida Paulista, Bolsonaro afirmou: "Olhe só o que está acontecendo no Supremo no dia de hoje. Eles já têm maioria para condenar um pipoqueiro e um sorveteiro por golpe de Estado. É inacreditável o que acontece", disse.

Depois, citou o caso em inglês, trecho do discurso que repercutiu em vídeo nas redes sociais: "Popcorn and ice cream sellers sentenced for coup d'état in Brazil" ("pipoqueiros e sorveteiros são condenados por golpe de Estado no Brasil", em português).

Bolsonaro se referia a Carlos Antônio Eifler, o pipoqueiro, e a Otoniel Francisco da Cruz, o sorveteiro. Eles foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última sexta-feira, 4, por associação criminosa e incitação ao crime, com pena de um ano de prisão e pagamento de multa.

Em seu voto, o ministro Alexandre de Moraes, relator dos casos, substituiu a pena restritiva de liberdade por pena restritiva de direitos. Os dois deverão prestar serviços à comunidade e participar de curso sobre "Democracia, Estado de Direito e Golpe de Estado", e estão proibidos de utilizar redes sociais ou deixar a comarca em que residem.

A maioria dos ministros da Corte acompanhou o relator nos votos, com exceção de Kassio Nunes Marques e André Mendonça, que pediram a absolvição da dupla. Ambos os magistrados foram indicados à Corte por Bolsonaro.

De acordo com o voto de Moraes, os casos se encaixam no contexto dos crimes multitudinários, em que uma ação conjunta é perpetrada por inúmeros agentes, todos contribuindo para o resultado.

O ministro também ressaltou que o acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército "encontrava-se extremamente organizado e com tarefas bem definidas", sendo o credenciamento e a permanência dos dois no local suficientes para verificar "o intuito comum à atuação da horda golpista".

Até março deste ano, a Corte já condenou 434 envolvidos nos ataques golpistas.

Quem é o pipoqueiro?

O empresário Carlos Antônio Eifler, de 54 anos, é de Lajeado (RS) e tem um pequeno negócio de pipocas registrado em seu nome desde 2020. Em depoimento, ele afirmou que chegou à capital federal em 8 de janeiro de 2023, por volta das 14h30, e foi direto ao acampamento com sua barraca, onde passou a noite. "Após terminar a parte da montagem das barracas, já era na parte da noite. Deste momento até a noite, nós não saímos do QG", disse.

Carlos Eifler também afirmou que tinha dois intuitos, conhecer Brasília e "fazer um abraço simbólico em volta das Esplanadas". Declarou não ter quebrado nada nem invadido qualquer prédio público.

Nas redes sociais, o pipoqueiro acumula postagens em que se diz revoltado com o resultado das urnas em 2022, além de apoiar explicitamente os acampamentos golpistas e pedir uma intervenção militar comandada por Bolsonaro.

Quem é o sorveteiro?

O outro citado por Bolsonaro é Otoniel Francisco da Cruz, de 45 anos, natural de Porto Seguro (BA). Em audiência, ele disse trabalhar vendendo picolés na praia. Declarou ter deixado Porto Seguro em um ônibus fretado, em que viajou sem pagar passagem.

Ele chegou em Brasília na noite do dia 8, quando os ataques já haviam ocorrido, e pernoitou no acampamento, onde, contou, teve acesso a comida e bebida de forma gratuita. Disse ter permanecido no QG até o dia 9, quando foi preso pela Polícia Federal (PF).

O sorveteiro afirmou que um dos objetivos da viagem era manifestar "pacificamente contra o mal". "Não sou contra o governo, sou contra algumas pautas do governo, que é aborto e drogas (sic)", disse durante depoimento.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que o Congresso Nacional não teria dificuldades em discutir um corte nas emendas parlamentares como forma de ajuste fiscal. As declarações ocorreram na manhã desta segunda-feira, 7, durante evento sobre o atual cenário político brasileiro, realizado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Na ocasião, o deputado defendeu as emendas parlamentares como instrumentos de desenvolvimento e afirmou ser favorável à transparência na operação dos recursos. Por outro lado, considerou que o Congresso pode debater os seus cortes, caso outros ajustes também ocorram.

"Não estou aqui dizendo que o Congresso não tem a capacidade de discutir, se for para se fazer um grande ajuste fiscal, se discutir também um corte nas emendas. Agora, não se pode colocar a culpa disso tudo o que o País está vivendo só nas emendas", declarou. "Eu concordo que, quanto mais transparência a gente trouxer para essa aplicabilidade, mais legitimidade nós vamos ter", acrescentou.

Na sequência, Motta disse que o Parlamento pode adotar um corte, caso haja contribuição de outras partes. "Um corte de despesas, não tenho dificuldade de dizer que o Congresso discute isso com tranquilidade, porque, se todo mundo der a sua contribuição, por que o Congresso não vai dar? Agora, nós temos que discutir isso com responsabilidade e não tem a menor dificuldade de nós defendermos", afirmou.

Durante o evento, o presidente da Câmara dedicou trechos do seu discurso para defender a responsabilidade fiscal e a reforma administrativa. Entre os temas citados nesse campo, ele mencionou a necessidade de o Congresso enfrentar a questão dos supersalários. "Esperamos que o Senado possa enfrentar os supersalários como a Câmara", disse.

Estavam presentes no evento integrantes do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), como os secretários Gilberto Kassab (Relações Institucionais), Samuel Kinoshita (Fazenda) e Guilherme Afif Domingos (Projetos Estratégicos). Também compareceram o líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA), e o deputado Danilo Forte (União-CE).