Líder do Irã reconhece avanço inicial em negociações com EUA, mas 'desconfia' do outro lado

Internacional
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O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, reconheceu avanços iniciais nas negociações com os Estados Unidos em Omã como "movimento bem executado", mas reforçou desconfiança em relação a Washington. O líder evitou extremos, afirmando: "Não somos excessivamente otimistas nem excessivamente pessimistas sobre as negociações de Omã".

Em meio à pressão americana para restringir o poderio bélico do país, Khamenei adotou um tom de prudência, mas reafirmou confiança na capacidade do Irã de superar desafios e disse estar "otimista" sobre as próprias capacidades soberanas.

"As conversas em Omã são um dos muitos deveres do Ministério das Relações Exteriores. Não devemos fazer todas as questões do país dependerem dessas negociações", afirmou. O presidente dos EUA, Donald Trump, já deixou claro que o Irã "não pode ter armas nucleares" e impôs essa condição para as discussões, que tiveram uma rodada no último sábado e devem continuar no próximo.

Khamenei também frisou que as "linhas vermelhas" do Irã estão definidas, tanto para os americanos quanto para seu próprio governo. Enquanto os EUA pressionam por limites ao enriquecimento de urânio, o Irã insiste em seu direito a um programa nuclear pacífico.

Além do tema atômico, o líder iraniano abordou as sanções americanas, defendendo maior autonomia econômica. "Uma das melhores maneiras de frustrar o efeito das sanções é remover os obstáculos que impedem o investimento doméstico", disse. Ele expressou confiança na resiliência do país: "Se usarmos efetivamente nossas capacidades, podemos tornar o Irã invulnerável. Então, mesmo sob sanções, o país sairá de qualquer dificuldade". Khamenei reforçou a estratégia de diversificar parcerias, citando China, Rússia e Índia como aliados-chave.

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A Polícia Federal (PF) intimou o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, e o ex-número 2 da agência, Alessandro Moretti, para prestar depoimento na quinta-feira, 17, sobre esquemas de espionagem ilegal.

As oitivas vão ocorrer na sede da PF em Brasília e fazem parte do inquérito da "Abin paralela", que investiga suposto esquema de monitoramento ilegal de políticos, jornalistas e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). As informações são da CNN.

A convocação dos dois ocorre depois de uma reportagem do UOL revelar denúncias de espionagem contra autoridades do Paraguai em 2022. Dois agentes da Abin afirmam que o Brasil fez um ataque hacker para obter informações de negociações relacionadas à Usina Hidrelétrica de Itaipu, o que fez a Polícia Federal abrir uma apuração sobre o caso.

Alessandro Moretti, que era diretor-adjunto da agência, foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no início do ano passado. Diligências da Polícia Federal indicaram, na época, que ele e outros integrantes dificultaram as apurações sobre a "Abin paralela" e estariam agindo em "conluio" com servidores investigados.

O diretor-geral Luiz Fernando Corrêa disse à CNN que está à disposição das autoridades "para prestar quaisquer esclarecimentos, seja no âmbito administrativo, civil ou criminal, sobre os fatos relatados na imprensa e que remetem a decisões tomadas em gestão anterior da Agência".

Ele sucedeu no cargo o deputado bolsonarista Alexandre Ramagem (PL-RJ), investigado no STF no processo da "Abin paralela" e réu, junto ao ex-presidente Bolsonaro, por tentativa de golpe de Estado.

Ramagem e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL-RJ) são os principais investigados pela aparelhagem da Abin apontada pela PF para espionar adversários políticos, blindar os filhos do ex-presidente em processos judiciais e atacar a credibilidade do sistema eleitoral.

Em 2024, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, seguiu uma recomendação da Procuradoria-Geral da República (PGR) e rejeitou pedido da PF para compartilhar provas da Operação First Mile, que investigou o caso, com a Corregedoria da Abin para abertura de sindicâncias internas.

Na decisão, Moraes afirmou que o compartilhamento não era "adequado para o presente momento investigatório". Já o parecer da PGR ressaltou a possibilidade de interferência da agência no processo, já que, em fases anteriores da investigação, foram detectados indícios da "intenção de evitar a apuração aprofundada dos fatos".

A empresa MM Consultoria Construções e Serviços LTDA, do empresário José Marcos Moura, o "Rei do Lixo", movimentou R$ 861.412.612,79 em operações classificadas como suspeitas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

O empresário é apontado como articulador político e "operador de influência" do esquema de desvio de emendas investigado pela Polícia Federal na Operação Overclean. Contratos com prefeituras na Bahia, Tocantins, Amapá, Rio de Janeiro e Goiás estão no radar da PF.

O Estadão pediu manifestação da defesa, o que não havia ocorrido até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

O próprio banco fez uma série de comunicações ao Coaf alertando para operações atípicas da MM Consultoria Construções e Serviços.

As notificações apontaram a movimentação de valores incompatíveis com o faturamento mensal da empresa, o pagamento de despesas pessoais de terceiros, incluindo agentes públicos, e transferências contumazes de recursos de alto valor, sem justificativa econômica.

"A estrutura financeira da empresa é incompatível com sua atividade declarada", afirma a Polícia Federal em relatório da Operação Overclean.

Segundo a PF, a empresa recebeu pagamentos milionários de prefeituras da Bahia "sem evidência clara de prestação dos serviços correspondentes".

Duas transações em particular chamaram a atenção da Polícia Federal. Os investigadores descobriram uma transferência de R$ 435 mil para "uma autoridade detentora de foro privilegiado", sem justificativa econômica aparente. A autoridade não é identificada no relatório da PF. A segunda operação suspeita envolve a compra de um imóvel, avaliado em R$ 1,2 milhão, por R$ 8 milhões.

A Polícia Federal afirma que José Marcos Moura "mantém possíveis vínculos obscuros com diversas pessoas" e movimentou R$ 80,2 milhões em transações suspeitas em suas contas pessoais.

"Marcos Moura recebeu transferências diretas, foi beneficiado com pagamento de boletos e títulos bancários e realizou operações incompatíveis com seu perfil financeiro, como investimentos e saques de valores elevados", afirmam os investigadores.

Foram identificados padrões suspeitos, como recebimento de valores incompatíveis com a renda declarada, o que levantou suspeitas sobre possível ocultação patrimonial, transferências fracionadas, depósitos e saques em espécie sem origem identificada e "relacionamento financeiro" com agentes públicos, incluindo pagamentos de despesas pessoais.

José Marcos Moura é apontado um dos líderes do "núcleo central" do suposto esquema de desvio de emendas. Ele é descrito na investigação como uma pessoa influente e bem relacionada no mundo político, sobretudo junto a prefeituras baianas. Mas não só. Segundo a Polícia Federal, o empresário teria interferido em nomeações até na prefeitura de Belo Horizonte.

O "Rei do Lixo" chegou a ser preso na investigação, mas conseguiu habeas corpus para aguardar a conclusão do inquérito em liberdade. Ele foi alvo de buscas novamente na terceira fase da Operação Overclean. A PF chegou a pedir um novo mandado de prisão contra o empresário, mas o ministro Kassio Nunes Marques, relator da investigação no Supremo Tribunal Federal, negou.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deixou a economia de lado durante passagem pela fábrica da Nissan e deu um depoimento pessoal sobre as inspirações que o levaram a entrar na política. Entre elas, citou a transformação social e a participação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições presidenciais vencidas em 1989 por Fernando Collor.

"Gostava de política, mas tinha muita dúvida se ia ocupar um cargo, se eu iria participar de um governo. Mas duas coisas me motivaram. A primeira delas foi o aparecimento do Lula, da figura do Lula, que me motivou a pensar diferente a política", disse o ministro da Fazenda em discurso na cerimônia que marcou o início da produção de um novo modelo pela Nissan.

"Em 1989, morava fora do Brasil, morava no Canadá. E não acreditei quando recebi a notícia pela TV de que o Lula tinha passado para o segundo turno", lembrou Haddad, ao lado do presidente da República.

Ele afirmou que, na época, arrumou as malas para votar no Brasil.

Referindo-se ao discurso feito um pouco antes por uma funcionária da montadora, Haddad disse que o segunda razão que o levou para a vida pública foi o objetivo de transformar a realidade social. "É uma mulher negra, filha de um homem solteiro, que 20 ou 30 anos atrás não tinha nenhuma oportunidade de estudar, de trabalhar numa multinacional, de poder se desenvolver, de poder sonhar."

"São depoimentos como o dela que nos fazem permanecer na vida pública e acreditar que é possível ter um país mais justo", reforçou Haddad, antes de encerrar o discurso parabenizando a Nissan pelos investimentos no Brasil.

*O repórter viajou a convite da Nissan