Na Argentina, Milei confirma plano de fechar Banco Central e anuncia parte do novo governo

Internacional
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O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, anunciou na manhã desta segunda-feira, 20, suas primeiras medidas entre nomes do seu gabinete, viagens internacionais e empresas a serem privatizadas. O libertário foi eleito na noite de domingo, 19, o novo presidente da Argentina em um histórico resultado de 55,6% dos votos contra 44,3% do seu rival, o peronista Sergio Massa.

Já na noite de domingo, em seu discurso de vitória, o libertário disse que pretende manter suas promessas de campanha, mas não citou a controvertida dolarização. Hoje, porém, ele reiterou os planos de fechar o Banco Central, mas alertou que a inflação deve demorar até dois anos para retroceder. "Vamos começar primeiro pela reforma do Estado e pela resolução do problema dos Leliqs [liquidez do Banco Central]", disse.

Em entrevista a rádios argentinas, Milei confirmou uma promessa de campanha ao anunciar a privatização dos meios de comunicação públicos do país, entre eles: TV Pública, Télam e Rádio Nacional. "Consideramos que a TV Pública se tornou um mecanismo de propaganda", disse em entrevista à rádio Mitre. Segundo ele, esses veículos teriam se transformado em propaganda peronista e parte da campanha de medo promovida contra ele na campanha.

Ele também confirmou a privatização da estatal de petróleo e gás YPF, que recentemente esteve no meio de uma crise de combustíveis no país. "Tudo o que pode estar nas mãos do setor privado, vai estar nas mãos do setor privado", disse. O presidente eleito, porém, não definiu uma data para as privatizações.

"Primeiro é preciso recompor a YPF. Desde que Kicillof decidiu nacionalizá-la, a deterioração que foi feita à empresa em termos de resultados para que ela valha menos do que quando foi expropriada... Obviamente a primeira coisa a fazer é reconstruí-la", afirmou, citando Axel Kicillof, o governador kirchnerista reeleito de Buenos Aires.

As privatizações são um projeto central de seu futuro governo, que visa reduzir o tamanho do Estado argentino, que atualmente consome 42% de seu Produto Interno Bruto e com baixa taxa de eficiência, segundo avaliações do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Áreas mais polêmicas, porém, ficaram de fora em um primeiro momento, como Saúde e Educação. Estudos mostram que os argentinos, embora estejam mais liberais, são contra a privatização dessas duas áreas.

"Nem a Educação nem a Saúde podem ser privatizadas, são responsabilidades das províncias. O melhor é sempre subsidiar a procura e não a oferta, mas isso ainda não vai acontecer no curto prazo", disse.

A dúvida, porém, é se poderá de fato realizar essas privatizações, já que necessita do apoio do Congresso, onde não tem maioria. Neste sentido, as alianças que deve construir, especialmente com o partido Proposta Republicana (PRO) de Mauricio Macri será essencial.

Outras medidas anunciadas pelo novo presidente são as primeiras viagens internacionais. Nesse sentido, o Brasil ficou de fora dos primeiros destinos, quebrando uma tradição de o presidente eleito da Argentina visitar primeiro Brasília e vice-versa.

Em entrevista à mesma rádio, Milei anunciou que sua primeira viagem será aos Estados Unidos e depois Israel, destinos que deve visitar antes mesmo da posse em 10 de dezembro. "A viagem tem uma conotação mais espiritual do que outras características", afirmou.

Entre os primeiros nomes de seu governo estão o advogado Mariano Cúneo Libarona para o Ministério da Justiça e Carolina Píparo será a nova chefe da Anses, entidade que cuida da assistência social do país e esteve sob o guarda-chuva do La Cámpora, grupo de jovens de esquerda do kirchnerismo.

Outros nomes ainda são aguardados, principalmente o do próximo ministro da Economia. Na noite de domingo, Milei se reuniu com Macri e Patricia Bullrich, candidata derrotada do PRO no primeiro turno, possivelmente para costurar nomes em seu governo. O libertário prometeu reduzir o número de ministérios de 18 para 8.

O libertário também deve se reunir nesta segunda com o presidente Alberto Fernández para tratar da transição presidencial, reunião que deve também definir o futuro de Sergio Massa em meio a rumores de demissão.

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O ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), multou dois usuários que tiveram os perfis suspensos no X (antigo Twitter) por fake news sobre as urnas e, após recuperarem as contas, voltaram atacar a Justiça Eleitoral. A multa pode chegar a R$ 600 mil para cada um.

Os usuários são Wagner Pereira e Rita de Cássia Serrão. Eles tiveram os perfis bloqueados em novembro de 2022, por ordem judicial. Moraes autorizou a reativação das contas em janeiro, mas impôs como condição para levantar o embargo uma multa de R$ 20 mil por dia caso voltassem a publicar "mensagens instigadoras ou incentivadoras de golpe militar, atentatórias à Justiça Eleitoral e ao Estado democrático de Direito".

Novas postagens que colocavam sob desconfiança a legitimidade das eleições de 2022 foram publicadas nas contas no dia 1º de maio. "Eleições tomadas, fato que eles mesmo não conseguem provar o contrário (sic)", escreveu Wagner em uma das publicações. Rita afirmou que "eles não venceram a eleição mas sim tomaram o poder".

As publicações foram removidas pelo X no dia 1º de junho, após ordem de Moraes. Na ocasião, o ministro listou oito links para serem excluídos e levantou o sigilo dos autos. A multa estabelecida na decisão é referente ao mês em que o conteúdo ficou no ar.

Embora sejam reincidentes, os usuários não chegaram a ser notificados sobre o risco de multa. Um dos documentos do processo afirma que a Coordenadoria de Processamento "certifica não ter localizado endereço para intimação dos envolvidos".

O Estadão procurou o TSE para saber se a cobrança da multa está condicionada ou não à citação prévia e aguarda resposta.

Para a advogada Maíra Recchia, especialista em Direito Eleitoral, a multa não pode ser aplicada sem a ciência dos envolvidos.

"A gente ficou muito próximo de golpe, então o Estado Democrático de Direito e a lisura do processo eleitoral precisam de proteção. Por outro lado, as pessoas só descumprem aquilo que elas têm ciência. Essa determinação judicial tem que vir pelos meios legais, seja via citação, quando é o primeiro ato de chamada da parte no processo, ou uma intimação", explica. "Quando elas não existem, eu não vejo como aplicar multa. Um fator de proteção seria a retirada do conteúdo."

Supremo tem ameaça de CPI

A decisão de Moraes vem a público no momento em que a Corte está sob ataques. Na Câmara, deputados de oposição conseguiram reunir 171 assinaturas para instauração da CPI do abuso de autoridade. O presidente do TSE e também ministro do Supremo Tribunal Federal tem sido alvo das principais críticas.

Em outra frente, o Senado aprovou proposta legislativa para impedir decisões monocráticas de magistrados do Supremo contra projetos de lei votados no Legislativo. A proposta seguiu para apreciação na Câmara dos Deputados.

A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cobrando mobilização social contra "raposas no galinheiro" ao admitir que pode ser derrotado no Congresso em relação ao marco temporal em terras indígenas, provocou reações na Câmara e no Senado. Se já havia indicação de Lula ter seu veto derrubado pelo Legislativo, a probabilidade de isso ocorrer foi reforçada.

A Frente parlamentar do Agro, composta por 324 deputados e 50 senadores, teve a reação mais incisiva. O grupo divulgou nota neste domingo, 3, em que diz que as falas de Lula durante a Cúpula do Clima (Cop-28), nos Emirados Árabes Unidos, "criminalizam" os integrantes do Legislativo. Outros parlamentares ouvidos pelo Estadão também criticaram o presidente.

"Lula demonstra desapreço ao Congresso que tem e desrespeito as suas escolhas políticas. Subjugar o povo brasileiro a condição de galinheiro é algo típico de quem acha pode tudo e que controla a todos", disse o senador Marcos Rogério (PL-RO), relator do marco temporal no Senado.

"É uma fala de viés autoritário", disse o deputado Mendonça Filho (União-PE). "É de alguém que entende o poder Executivo como hegemônico. A mesma legitimidade que ele tem, nós temos com o Parlamento. É de uma agressão com as bases democráticas."

O segundo-vice-presidente da Câmara, Sóstenes Cavalcantes (PL-RJ), também criticou o presidente. "O Parlamento e a representação de todo o povo, inclusive de quem perde a eleição do Executivo", afirmou.

Para a bancada do agro, ao criticar a adoção de um marco temporal, tese que estabelece que só podem ser demarcadas reservas em áreas ocupadas por indígenas até a promulgação da Constituição Federal, em 5 de abril de 1988, o presidente "sinaliza para a criminalização da produção rural no Brasil, em busca de perpetuação no poder e de uma democracia fraca, dependente e corrupta, incapaz de debater seriamente um tema que impacta milhares de família brasileiras".

"No alerta feito por Lula na Cop-28 sobre o aumento da extrema direita no Brasil e no mundo, fica claro que a democracia petista não alcança a multiplicidade de opiniões, a liberdade de expressão e o futuro do Brasil, independente de partido, mas como nação", escreveu a FPA, em comunicado. "Nossa política é para brasileiros e para todos os demais países que dependem da produção brasileira para se alimentar."

Na Cop-28, Lula se reuniu com entidades da sociedade civil brasileiras e defendeu a participação de representantes dos movimentos sociais na política para ocupar espaços de decisão.

"A gente tem que se preparar para entender que ou nós construímos uma força democrática capaz de ganhar o Poder Legislativo, o Poder Executivo, e fazer a transformação que vocês querem, ou nós vamos ver acontecer o que aconteceu com o marco temporal. Querer que uma raposa tome conta do nosso galinheiro é acreditar demais", disse Lula.

"Na grande maioria das vezes, Lula fala muita besteira, mas quando ele viaja, entra no modo turbo", criticou José Medeiros (PL-MT), integrante da FPA. "O problema são os cupins cuidando do dinheiro dos brasileiros. O que assusta é Lula e o PT cuidando do dinheiro do País."

Lula fez vetos aos principais pontos do marco temporal, aprovado na Câmara e no Senado. O projeto de lei foi aprovado enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) pautou o assunto e declarou a tese inconstitucional no dia 21 de setembro.

Senadores aproveitaram a votação da proposta para fazer críticas ao STF e dizer que cabe ao Legislativo a premissa de criar leis.

Os vetos ainda precisam ser analisados em sessão do Congresso Nacional, que reúne deputados e senadores. A votação já foi adiada duas vezes. A última delas aconteceu no dia 23 de novembro e foi adiada. A votação da pauta segue sem data definida.

A votação tem um dos quóruns mais difíceis do Legislativo brasileiro: a maioria absoluta dos parlamentares precisa votar sim para derrubar o veto de Lula. Isso significa metade mais um de todos os membros do Congresso - 257 deputados e 41 senadores -, e não apenas dos presentes.

O presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), já afirmou em repetidas vezes que tem os votos necessários para derrubar os vetos do presidente ao marco temporal.

Uma decisão liminar da primeira instância da Justiça do Paraná obrigou o portal G1, a RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, e o portal Plural a tirar do ar reportagens sobre a delação premiada que implicou o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Ademar Traiano (PSD), e o ex-deputado Plauto Miró. A multa em caso de descumprimento é de R$ 50 mil por dia.

A decisão também proíbe novas reportagens sobre o caso. A liminar atendeu a um pedido de Traiano. Procurado pela reportagem, por meio da assessoria de imprensa da Assembleia Legislativa, o deputado não comentou a decisão. O Estadão também procurou o ex-deputado Plauto Miró e os outros veículos de comunicação atingidos, mas ainda não obteve resposta.

O empresário delator é Vicente Malucelli. Ele fechou acordo de colaboração com o Ministério Público do Paraná. A delação trata da licitação da TV Icaraí, da qual Malucelli é um dos responsáveis, para planejamento e produção de conteúdo da TV Assembleia, canal do legislativo estadual do Paraná. Os anexos estão sob sigilo. A advogada Thaise Mattar Assad, que representa o empresário, informou que não comentaria o caso. "Não podemos nos manifestar, porque o dever de sigilo existe", disse ao Estadão.

A reportagem também procurou o Ministério Público. O órgão informou que os procedimentos relacionados a autoridades com prerrogativa de foro "receberam os encaminhamentos pertinentes e as soluções adequadas, tempestivamente". "Em razão de disposição legal e de expressa ordem judicial, o MPPR, por ora, não pode se manifestar a respeito", diz o comunicado.

A decisão que determinou a exclusão das matérias é assinada pela juíza Giani Maria Moreschi e foi tomada neste sábado, 2, no plantão do Tribunal de Justiça do Paraná. Ela justificou que o caso corre em segredo de justiça e que a divulgação das informações poderia causar "danos" ao processo.

"O acordo de colaboração premiada e os depoimentos do colaborador serão mantidos em sigilo, sendo vedado ao magistrado decidir por sua publicidade em qualquer hipótese", escreveu.

A juíza afirmou que a restrição à publicação é temporária, até o levantamento do sigilo do processo, e negou que a ordem judicial seja uma forma de censura ou violação da liberdade de imprensa.

"Até porque referida informação foi divulgada ilicitamente e, inclusive, pelo que consta dos autos, está sendo, ou será, objeto de investigação, para fins de responsabilização", acrescentou.

A decisão foi tomada em caráter de urgência no plantão e ainda poderá ser revista se houver recurso.

COM A PALAVRA, O DEPUTADO ADEMAR TRAIANO

A reportagem entrou em contato com a assessoria da Assembleia do Paraná, para ouvir o deputado, que não comentou a decisão. "Se está em sigilo é vedado falar ou publicar", informou o serviço de comunicação.

COM A PALAVRA, O EX-DEPUTADO PAULO MIRÓ

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com o ex-deputado, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, O EMPRESÁRIO VICENTE MALUCELLI

Procurada pela reportagem, a advogada Thaise Mattar Assad, que representa o empresário Vicente Malucelli, que fechou acordo de colaboração com o Ministério Público, informou que não pode comentar o caso. "Nós estamos, enquanto defesa, colecionando interrogações. É um assunto que tem um sigilo legal imposto. Não podemos nos manifestar, porque o dever de sigilo existe", disse ao Estadão.

COM A PALAVRA, O PORTAL PLURAL

"O Plural lamenta a decisão e tem convicção de que, em nome da liberdade de expressão garantida pela Constituição Federal, o Judiciário irá em breve reverter essa liminar. O assunto é de grande relevância para todos os cidadãos paranaenses e merece a devida publicidade", diz o comunicado divulgado pelo portal.

COM A PALAVRA, O G1 E A RPC

A reportagem entrou em contato com o portal g1 e com a RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, e ainda aguardava resposta até a publicação deste texto. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, O MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ

O Ministério Público do Paraná, por meio da Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos (Subjur), informa que os "procedimentos investigatórios sob sua responsabilidade, relacionados a autoridades com prerrogativa de foro, receberam os encaminhamentos pertinentes e as soluções adequadas, tempestivamente. E que em razão de disposição legal e de expressa ordem judicial, o MPPR, por ora, não pode se manifestar a respeito".