Israel e Hitler, Navalni e Venezuela versus ONU: entenda as polêmicas de Lula na África

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Em seu primeiro compromisso internacional em 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu agenda no continente africano na última semana, onde visitou o Egito e a Etiópia, países recém-integrados ao Brics, para aprofundar a aproximação política e econômica com os territórios.

 

Em declarações dadas durante a viagem, neste domingo, 18, Lula criou brecha para um novo desconforto diplomático com Israel, ao comparar a campanha militar do país na Faixa de Gaza contra o grupo terrorista Hamas ao Holocausto. A polêmica não foi a única na viagem à África - Lula ainda se eximiu de se manifestar sobre a expulsão dos funcionários da agência da ONU ligada aos direitos humanos na Venezuela e questionou a "pressa" pela responsabilização da morte do ativista russo Alexei Navalni. Confira abaixo algumas das declarações dadas pelo presidente.

 

Comparação com Holocausto

 

"O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou Lula, comparando a operação militar de Israel com o Holocausto, acrescentando que o conflito "não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças".

 

O primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu reagiu aos comentários classificando-os de "vergonhosos e graves", e anunciou que seu governo convocou o embaixador do Brasil em Israel. "A comparação entre Israel e o Holocausto dos nazistas e de Hitler atravessa uma linha vermelha", disse o premiê em um comunicado.

 

O grupo terrorista o Hamas, por sua vez, "louvou" em um comunicado as declarações de Lula, que são "uma descrição exata do que sofre o povo" em Gaza e revelam "a magnitude do crime" cometido por Israel "com o apoio aberto da administração Biden".

 

A fala polêmica de Lula já havia sido antecipada por uma série de críticas a Israel na quinta-feira, 15, ao lado do presidente do Egito, o general Abdel Fattah el-Sissi. Lula afirmou que Israel mata mulheres e crianças a pretexto de derrotar o Hamas na Faixa de Gaza e que as ações militares do país no território palestino não têm justificativa nem explicação. O governo israelense, acrescentou Lula, ignora decisões das Nações Unidas.

 

'Para que pressa de acusar alguém?'

 

Lula ainda alfinetou países do Ocidente, como Estados Unidos e Reino Unido, ao dizer que não se deve tirar conclusões precipitadas sobre morte do opositor russo Alexei Navalni, que morreu na sexta-feira aos 47 anos em uma remota penitenciária do Ártico, após mais de três anos de prisão.

 

"Eu acho que é uma questão de bom senso [...] se a morte está sob suspeita, nós temos que primeiro fazer uma investigação para saber do que o cidadão morreu", declarou Lula em Adis Abeba.

 

Lula afirmou que é preciso esperar os resultados periciais antes de expressar qualquer opinião. Caso contrário, "você julga agora que foi não sei quem que mandou matar, e não foi, e depois vai pedir desculpas", afirmou. "Para que essa pressa de acusar alguém?", questionou.

 

Lula indicou que Navalni poderia estar doente e advertiu para os perigos de "banalizar uma acusação". "Não quero especulação", destacou. "Eu até compreendo os interesses de quem acusa imediatamente: 'foi fulano'. Mas não é meu mote. Eu espero o registro que vai fazer, o exame que diga de que o cidadão morreu", insistiu.

 

'Não tenho informações'

 

Lula também evitou qualquer postura crítica ao regime de Nicolás Maduro ao afirmar que não tinha "informações sobre do que está acontecendo na Venezuela", ao ser questionando sobre a expulsão do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos de Caracas, prometendo responder após voltar ao Brasil.

 

Na quinta-feira, 15, a Venezuela suspendeu as atividades do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) no país, estabelecido em 2019 para apoiar a implementação das recomendações emitidas pelos órgãos internacionais. A decisão incluiu a expulsão dos funcionários do escritório, que receberam o prazo de 72 horas para deixar o país.

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O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (PB), participa na segunda-feira, 21, Dia de Tiradentes, de eventos em Minas Gerais ao lado do governador Romeu Zema (Novo) e do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG).

O dia de Motta vai começar às 9 horas, em Ouro Preto. O presidente da Câmara vai participar da cerimônia da Medalha da Inconfidência 2025, a convite de Zema.

O governador de Minas tenta pavimentar um caminho para a eleição presidencial de 2026 e é a favor da anistia para os condenados do 8 de Janeiro - tema que Motta deve enfrentar nas próximas semanas.

Ainda pela manhã da segunda-feira, Motta vai partir para São João del-Rei, para integrar as homenagens pelo 40º aniversário do falecimento do presidente Tancredo Neves. O deputado foi convidado pelo colega Aécio Neves.

A segunda agenda de Motta contará com três eventos: às 11h45, ele participa da visita ao túmulo do ex-presidente; às 12h30, da reabertura do Memorial Tancredo Neves, e às 13h15 de um almoço no Solar do Presidente.

Em meio ao debate sobre uma possível anistia aos condenados pelos ataques de 8 de Janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes concedeu prisão domiciliar a, pelo menos, seis pessoas sentenciadas por tentativa de golpe de Estado somente neste mês. As decisões se baseiam, principalmente, em laudos médicos que apontam condições graves de saúde ou no tempo de prisão preventiva já cumprido pelos réus.

O caso mais recente é o de Sérgio Amaral Resende, condenado a 16 anos e 6 meses de prisão por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa armada. Ele também foi condenado, solidariamente com outros réus, ao pagamento de R$ 30 milhões por danos morais coletivos.

Resende cumpria pena na Penitenciária da Papuda, no Distrito Federal, e teve a prisão convertida após sua defesa apresentar laudos que apontam sepse, necrose na vesícula e sequelas nos rins, pâncreas e fígado.

"O sentenciado no mês de fevereiro de 2025 teve alta do hospital do Paranoá, e não tem condições de permanecer no sistema prisional para tratar a sua saúde", diz o documento enviado ao STF.

A decisão favorável foi concedida na sexta-feira, 18. Ele é o terceiro nome da lista da Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav) a obter o benefício por razões médicas.

Antes dele, Jorge Luiz dos Santos e Marco Alexandre Machado de Araújo também tiveram a pena convertida. Jorge Luiz apresentou laudo que indicava necessidade de cirurgia cardíaca. A defesa informou que ele sofre de hipertensão arterial grave e sopro cardíaco de grau 6, com pressão arterial fora de controle. Moraes autorizou a prisão domiciliar em 15 de abril.

Marco Alexandre estava preso desde abril de 2023. Segundo a Asfav, ele desenvolveu transtornos psicológicos durante a detenção, foi internado na ala psiquiátrica do presídio e atualmente faz uso de medicamentos para depressão. O benefício foi concedido em 11 de abril.

Na mesma data, Cláudio Mendes dos Santos e Ramiro Alves da Rocha Cruz Junior também obtiveram o direito à prisão domiciliar. No dia 13, a medida foi estendida ao indígena Helielton dos Santos.

As concessões de Moraes vêm acompanhadas de medidas cautelares: tornozeleira eletrônica, proibição de acesso a redes sociais (inclusive por terceiros), impedimento de contato com outros envolvidos nos ataques, veto à concessão de entrevistas - salvo autorização expressa do STF - e restrição de visitas a advogados, pais, irmãos e pessoas previamente autorizadas pelo Tribunal.

As decisões recentes ocorrem após a repercussão do caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos.

Ela foi presa por participação nos ataques e ganhou notoriedade após pichar, com batom, a frase "perdeu, mané" na estátua da Justiça em frente ao prédio do STF, imagem que viralizou nas redes sociais. Após dois anos na cadeia, a cabeleireira teve sua prisão convertida em domiciliar no mês passado.

Débora foi condenada a 14 anos de prisão pelos mesmos crimes de outros réus, incluindo tentativa de golpe e dano ao patrimônio público.

A comoção gerada por seu caso motivou manifestações de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que passaram a alegar desproporcionalidade na pena. Parte das críticas, porém, ignorava os crimes pelos quais ela foi efetivamente condenada, reduzindo sua participação ao gesto simbólico.

Em mensagem de Páscoa, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse neste domingo, 20, que a data remete à comemoração do renascimento do amor e da paz sobre as injustiças. Segundo Lula, o momento é de reforçar os laços de união e de solidariedade.

"Hoje é o dia em que milhões de brasileiras e brasileiros, e pessoas em todo o mundo, comemoram o renascimento do amor e da paz sobre as injustiças. É o momento em que nos encontramos - seja em uma celebração religiosa, seja em um almoço de família - para reforçar nossos laços de união e de solidariedade. E em que relembramos os ensinamentos de Jesus de que devemos sempre amar uns aos outros, construindo um mundo cada vez melhor e mais fraterno", escreveu, Lula em mensagem divulgada pelo governo federal.

Ao fim da publicação, Lula desejou um "feliz domingo de Páscoa".