Putin destitui ministro da Defesa da Rússia em momento de ofensiva na guerra com Ucrânia

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, destituiu seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, num momento de avanço das forças russas na Ucrânia. O vice-primeiro-ministro, o economista Andrei Belousov, assumirá como ministro da Defesa no lugar de Shoigu, que ocupou o cargo por anos. Essa mudança tem de ser aprovada pelos legisladores.

 

Shoigu agora deve assumir como chefe do Conselho de Segurança Nacional, substituindo Nikolai Patrushev, informou o Kremlin neste domingo, 12.

 

A reorganização ocorre enquanto Putin inicia seu quinto mandato e após mais de dois anos de guerra com a Ucrânia. A mudança também acontece semanas depois de Timur Ivanov, vice-ministro da Defesa encarregado de projetos de construção militar, ter sido preso por suposto suborno.

 

De acordo com a lei russa, todo o gabinete russo renunciou na terça-feira, quando Putin iniciou seu quinto mandato presidencial em uma pomposa cerimônia de posse no Kremlin.

 

O anúncio ocorreu enquanto milhares de civis fugiam da renovada ofensiva terrestre russa no nordeste da Ucrânia, que atingiu cidades e vilas com fogo de artilharia e morteiros, disseram as autoridades no domingo.

 

As intensas batalhas obrigaram pelo menos uma unidade ucraniana a recuar na região de Kharkiv, cedendo mais terreno às forças russas em áreas da chamada "zona cinzenta", perto da fronteira com a Rússia. Até domingo à tarde, a cidade de Vovchansk, com uma população de 17 mil habitantes antes da guerra, era um ponto focal da batalha.

 

Volodimir Tymoshko, chefe da polícia regional de Kharkiv, disse que as forças russas estavam nos arredores da cidade e se aproximavam de três direções. Um tanque russo foi visto em uma estrada importante que leva à cidade, acrescentou o oficial.

 

Uma equipe da Associated Press, estacionada em uma vila próxima, viu colunas de fumaça subindo da cidade enquanto as forças russas lançavam projéteis. As equipes de evacuação trabalharam sem parar durante todo o dia para retirar das zonas de perigo os residentes, a maioria idosos.

 

Pelo menos 4 mil civis fugiram da região de Kharkiv desde sexta-feira, quando as forças de Moscou iniciaram a operação, disse o governador Oleh Syniehubov, em um comunicado nas redes sociais. No domingo, ocorreram intensos combates na linha nordeste do front, onde as forças russas atacaram 27 localidades nas últimas 24 horas.

 

Analistas dizem que a campanha russa visa aproveitar a falta de munição na Ucrânia antes que os suprimentos ocidentais prometidos cheguem ao front. Os soldados ucranianos afirmaram que o Kremlin está usando a tática habitual russa de empregar um fogo desproporcional e ataques de infantaria para esgotar suas tropas.

 

Ao intensificar as batalhas naquilo que antes era uma zona estática da linha de frente, as forças russas ameaçam imobilizar as forças ucranianas no nordeste, enquanto realizam batalhas intensas mais ao sul, onde Moscou também está ganhando terreno. Isso ocorre depois que a Rússia intensificou, em março, seus ataques contra a infraestrutura e as populações ucranianas, o que, segundo analistas, era uma tentativa de Moscou de preparar o terreno para uma ofensiva.

 

Enquanto isso, um prédio de apartamentos de 10 andares desabou na cidade russa de Belgorod, perto da fronteira, com relatos de oito mortos e 20 feridos. As autoridades russas disseram que o prédio desabou após ser alvo de projéteis ucranianos. A Ucrânia não comentou o incidente.

 

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, disse que conter o avanço russo na região era uma prioridade e que as tropas de Kiev continuavam sua contraofensiva em sete vilarejos na região de Kharkiv. "Frustrar as intenções ofensivas russas é agora nossa tarefa número um. O sucesso nessa tarefa depende de cada soldado, cada sargento, cada oficial", afirmou.

 

O Ministério da Defesa da Rússia disse no domingo que suas forças tomaram quatro vilarejos na fronteira da região ucraniana de Kharkiv, além dos cinco que relataram ter ocupado no sábado. Era provável que essas áreas estivessem pouco fortificadas devido à natureza dinâmica dos combates e ao bombardeio constante, facilitando o avanço russo.

 

As autoridades ucranianas não confirmaram os avanços de Moscou. Uma unidade ucraniana disse que foi forçada a recuar em algumas áreas e que as forças russas haviam tomado pelo menos mais um vilarejo no sábado à noite.

 

Tymoshko disse que as táticas russas em Vovchansk refletiam as usadas nas batalhas por Bakhmut e Avdiivka na região de Donetsk, onde intensos ataques aéreos foram acompanhados por vários assaltos de infantaria.

 

Em um vídeo no sábado à noite, a unidade Hostri Kartuzy, parte da seção de forças especiais da Guarda Nacional Ucraniana, disse que estava lutando pelo controle do vilarejo de Hlyboke.

 

"Hoje, durante combates intensos, nossos defensores foram obrigados a recuar de mais algumas de suas posições e outro vilarejo ficou completamente sob controle russo. Até as 20h, a luta pelo vilarejo de Hlyboke continua", disseram os combatentes no vídeo.

 

O Instituto para o Estudo da Guerra, sediado nos Estados Unidos, afirmou no sábado que considerava confiáveis as informações de que Moscou havia capturado Strilecha, Pylna, Pletenivka e Borsivika e que as imagens geolocalizadas também indicavam que as forças russas haviam tomado Morokhovets e Oliinykove. Descreveu os recentes avanços russos como "taticamente significativos".

 

Nos primeiros dias da guerra, a Rússia fez uma tentativa fracassada de capturar rapidamente Kharkiv, mas se retirou de seus arredores após cerca de um mês. No outono de 2022, sete meses depois, o exército ucraniano expulsou as tropas russas de Kharkiv.

 

Esse contra-ataque audacioso ajudou a persuadir os países ocidentais de que a Ucrânia poderia vencer a Rússia no campo de batalha e merecia apoio militar./AP

 

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial da Redação do jornal O Estado de S. Paulo. Saiba mais sobre a Política de IA em www.estadao.com.br/link/estadao-define-politica-de-uso-de-ferramentas-de-inteligencia-artificial-por-seus-jornalistas-veja/.

Em outra categoria

O ex-presidente José Sarney está curado da covid-19 e liberado para participar de atividades pela equipe médica dele. O ex-presidente, diagnosticado com a doença na semana passada, vai completar 95 anos na próxima quinta-feira, 24.

Segundo o boletim médico divulgado pela assessoria do ex-presidente, Sarney teve uma boa evolução clínica e um exame realizado nesta quinta-feira, 21, atestou que ele não está mais com coronavírus.

"O ex-presidente José Sarney, diagnosticado com covid-19, apresenta evolução clínica favorável, com melhora importante de seu quadro geral. O exame para detecção do vírus SARS-CoV-2, realizado hoje, apresentou resultado negativo, reforçando a tendência de recuperação. Seguimos acompanhando de perto sua evolução e o liberamos para suas atividades", afirmou a equipe de Sarney.

Sarney foi diagnosticado com covid-19 na última quarta-feira, 16, e teve que cancelar agendas. Nesta segunda, ele participaria de uma cerimônia em Minas Gerais para lembrar os 40 anos da morte do presidente eleito Tancredo Neves, que morreu em 1985, antes de tomar posse do Executivo brasileiro.

Na semana passada, Sarney apresentou sintomas de resfriado e cansaço. Segundo os assessores do ex-presidente, ele também tossia e apresentava coriza.

"O ex-presidente está clinicamente estável, os exames estão dentro da normalidade, não foi necessário interná-lo, ele foi medicado e recomendado repouso por sete dias", dizia o boletim médico divulgado pela cardiologista Núbia Welerson Vieira na última quarta.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes rejeitou o pedido apresentado pela defesa do ex-assessor da Presidência Filipe Martins para que ele pudesse circular livremente por Brasília durante os dias em que acompanhará presencialmente o recebimento da denúncia pela Primeira Turma da Corte.

"A autorização para acompanhar o julgamento corresponde a excepcional alteração da situação do denunciado, em respeito ao princípio da ampla defesa, mas não significa uma verdadeira licença para fazer turismo ou atividades políticas em Brasília", escreveu Moraes ao negar o pedido.

O advogado de Martins, o desembargador aposentado Sebastião Coelho, argumentou a Moraes que o impedimento do seu cliente se locomover livremente por Brasília o "impõe uma restrição mais severa do que aquela já observada pelo Requerente (Filipe Martins) em sua comarca de origem".

A defesa ainda argumentou no pedido que a manutenção dessa restrição "contraria os princípios da proporcionalidade e da legalidade estrita das medidas cautelares" Segundo Coelho, a restrição de locomoção pode "gerar constrangimentos operacionais e jurídicos desnecessários, inclusive no acesso a alimentação, cuidados pessoais, reuniões com a defesa técnica ou deslocamentos imprevistos".

Moraes, por sua vez, rejeitou os argumentos e definiu que Martins deverá, limitar-se ao roteiro "aeroporto-hotel-sessão de julgamento-hotel", até seu retorno. O ministro ainda proibiu a divulgação de imagens da votação ou de seu deslocamento, mesmo que por terceiros, sob pena de multa e conversão mediata em prisão.

A um dia do julgamento do Supremo Tribunal Federal que decidirá, nesta terça, 22, se manda para o banco dos réus os acusados de integrarem o 'núcleo 2' da trama golpista que culminou no 8 de Janeiro, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal decidiu partir para o ataque. Em nota divulgada nesta segunda, 21, por meio de sua defesa, Silvinei Vasques diz ser alvo de 'relatório fraudulento para sustentar narrativa de interferência nas eleições presidenciais de 2022'.

Segundo Silvinei, a 31.ª Zona Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral/RN, na comarca de Campo Bom, produziu 'um relatório fraudulento e enviesado', documento que, afirmam seus advogados, foi utilizado para atribuir à corporação então dirigida por ele um esquema que teria interferido no segundo turno das eleições presidenciais - naquela ocasião, a PRF teria montado barreiras em série nas rodovias da região para dificultar o acesso de eleitores às urnas com intenção de prejudicar o petista Luiz Inácio Lula da Silva, adversário do então presidente Jair Bolsonaro.

Silvinei Vasques é um dos seis acusados do 'núcleo 2'. Nesta terça, 22, os ministros da 1.ª Turma do STF vão decidir se abrem ou não ação penal com base na denúncia da Procuradoria-Geral da República que atribui a ele cinco crimes - abolição violenta do Estado democráico de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Em fevereiro, o STF acolheu a denúncia contra o 'núcleo crucial' e mandou para o banco dos réus Bolsonaro e sete aliados. Todos negam ligação com atos extremistas. Ao todo, são 34 os acusados de participação no plano de golpe.

No 'núcleo 2', além de Silvinei, fazem parte da lista de denunciados o general da Reserva Mário Fernandes (ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência de Bolsonaro), Marcelo Câmara (coronel da Reserva, ex-assessor de Bolsonaro), Filipe Garcia Martins Pereira (ex-assessor especial de Assuntos Internacionais), Marília Ferreira de Alencar (ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça na gestão do delegado federal Anderson Torres) e Fernando de Souza Oliveira (delegado da PF, ex-secretário executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF).

Na resposta prévia à acusação ao Supremo Tribunal Federal, os advogados de Silvinei pediram, preliminarmente, que seja 'declarada a incompetência absoluta da Suprema Corte para apreciar e julgar o presente caso, com a consequente remessa dos autos à primeira instância'. Eles também questionam o ministro Alexandre de Moraes, relator, de quem pretendem a declaração de impedimento 'para apreciar e julgar o presente caso, resguardando-se a imparcialidade e a integridade do devido processo legal'.

Nesta segunda, 21, os advogados de Silvinei protocolaram junto ao gabinete do corregedor nacional de Justiça, ministro Mauro Campbell, representação para instauração de processo administrativo disciplinar em que imputam à juíza Erika Souza Corrêa Oliveira e ao técnico judiciário Bruno Teixeira da Silva 'inserção de dados falsos em documento público, alegação de que houve dificuldade de votação no período da manhã' no segundo turno do pleito de 2022.

Até a publicação deste texto, a reportagem do Estadão buscou contato com a magistrada e o técnico, mas sem sucesso. O espaço está aberto.

A representação - subscrita pelos advogados Anderson Almeida, Eduardo Pedro Nostrani Simão, Marcelo Rodrigues, Leonardo Vidal Guerreiro Ramos e Gabriel Jardim Teixeira - é amparada no 'Relatório de Atuação no Segundo Turno das Eleições Gerais de 2022 - Zona 31/TRE-RN'. O documento aponta que a presença de viaturas da PRF nas rodovias teria inibido o comparecimento de eleitores, 'sobretudo nas primeiras horas do dia'.

A defesa de Silvinei sustenta que o relatório 'é baseado exclusivamente em percepções empíricas de mesários, coletadas por meio de WhatsApp, sem método científico, sem acesso aos dados brutos, sem utilizar dados oficiais e com manipulação deliberada de informações'.

"Uma perícia técnica contratada pela defesa analisou os logs oficiais das urnas eletrônicas do Tribunal Superior Eleitoral e identificou divergência de mais de mil eleitores entre os dados oficiais e os números apresentados no relatório", destacam os advogados do ex-diretor-geral da PRF.

Segundo eles, 'a análise conclui que não houve queda no comparecimento matutino e que a suposta inibição foi fabricada com base em dados parciais e distorcidos'. "A votação no segundo turno naquela zona eleitoral foi superior à do primeiro turno das eleições de 2022", afirmam.

Eles acentuam, ainda, que 'conforme registro nos sistemas da própria Polícia Rodoviária Federal, a juíza eleitoral responsável pela zona, Érika Souza Corrêa Oliveira, esteve pessoalmente no local de trabalho da PRF no dia das eleições de segundo turno e declarou que não identificou nenhuma irregularidade na atuação da PRF'.

A defesa de Silvinei vai sustentar perante o STF que ele foi alvo de 'uma fraude documental com fins políticos, que buscou dar aparência de legalidade a uma narrativa de interferência eleitoral sem qualquer respaldo nos fatos'.

"O uso desse relatório na investigação é gravíssimo e teria servido para justificar medidas como a prisão de Silvinei Vasques e sua inclusão em processos que apuram ataques à democracia", argumentam os advogados. "O relatório colaborou para induzir a erro os investigadores, a Procuradoria-Geral da República e o relator da petição no Supremo Tribunal Federal."

Em defesa preliminar perante o STF, Silvinei nega os crimes a ele atribuídos pela PGR. Seus advogados dizem que 'os fatos deduzidos na inicial são, na essência, manifestamente atípicos'. "Destaca-se que a atipicidade dos fatos descritos na denúncia está intrinsecamente ligada à sua inépcia formal. Em síntese, significa que a PGR não conseguiu apresentar uma narrativa clara e precisa, conforme exige o artigo 41 do Código de Processo Penal, devido à evidente atipicidade dos fatos imputados."

"Qual conduta criminosa o denunciado praticou?", questiona a defesa. "A resposta é óbvia: nenhuma. E o pior: os elementos indiciários amealhados durante o apuratório, tal como a denúncia ofertada pela PGR, não se desincumbiram do ônus de comprovar qualquer fato criminoso. A atipicidade da conduta é um elemento fundamental para evitar arbitrariedades e manter o respeito aos princípios do Direito Penal. Seja pela ausência de previsão legal, pela falta de ofensividade ao bem jurídico ou pela inexistência de dolo ou culpa, a atipicidade impede que o Direito Penal seja aplicado de forma abusiva ou desproporcional, que é, justamente, o que está sucedendo no caso em concreto."