Eleições para o Parlamento da UE: o que aconteceu em países como França, Itália e Alemanha

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É fácil ficar sobrecarregado com as eleições da União Europeia (UE). Os eleitores votaram em duas dezenas de línguas em 27 países, com diferentes questões de campanha. Veja o que aconteceu em alguns países-chave nas eleições que ocorreram entre 6 e 9 de junho para um novo Parlamento Europeu.

França

Esta foi a maior surpresa da noite eleitoral em massa na Europa. O partido pró-negócios moderado do presidente Emmanuel Macron foi tão duramente derrotado pelo partido de extrema direita de Marine Le Pen na votação da UE, que ele convocou eleições legislativas antecipadas na França.

Impulsionado por suas ideias anti-imigração e nacionalistas, prevê-se que o partido Reunião Nacional de Le Pen conquiste a maioria dos 81 assentos da França no Parlamento Europeu - cerca de duas vezes mais que o Renascimento de Macron.

As eleições legislativas francesas são uma grande aposta para Macron e o seu partido, que corre o risco de perder mais apoio, enquanto o Reunião Nacional de Le Pen poderá ver a sua influência aumentar.

Muitos eleitores franceses aproveitaram as eleições na UE para expressar insatisfação com a gestão da economia, as regras agrícolas ou a segurança de Macron. O resultado atinge Macron enquanto ele tenta liderar os esforços em toda a Europa para defender a Ucrânia e impulsionar as próprias defesas e a indústria da UE.

O principal candidato ao Parlamento Europeu do Reunião Nacional, Jordan Bardella, promete limitar a livre circulação de migrantes dentro das fronteiras abertas da UE e reduzir as regras climáticas do bloco. O partido já não quer abandonar a UE e o euro, mas sim enfraquecê-los a partir de dentro.

À esquerda, o sofrido Partido Socialista francês surgiu atrás do candidato principal, Raphael Glucksmann, que quer uma política climática mais ambiciosa e proteções para as empresas e trabalhadores europeus.

Alemanha

O líder do país mais rico e poderoso da UE, a Alemanha, também sofreu um golpe. A impopular coligação governamental de centro-esquerda do chanceler Olaf Scholz perdeu gravemente para a oposição conservadora, que se beneficiou dos problemas dele. O bloco conservador manteve a sua posição como o partido alemão mais forte em Bruxelas, enquanto aguarda as eleições nacionais previstas para o outono (no hemisfério Norte) do próximo ano.

E a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita, obteve bons ganhos, apesar de uma série de escândalos em torno dos seus dois principais candidatos à legislatura da UE. Isso é especialmente preocupante para muitos, dado o passado nazista da Alemanha.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é membro da União Democrata Cristã, o partido dominante no bloco conservador bipartidário que obteve o maior número de votos.

As projeções mostraram que o apoio aos Social Democratas de centro-esquerda de Scholz era de 14%, o seu pior resultado pós-Segunda Guerra Mundial em uma votação nacional. Os Verdes da Alemanha, centrais para a política climática globalmente importante da UE, viram o apoio cair.

A Alemanha terá o maior número dos 720 assentos do novo Parlamento Europeu, com 96.

Hungria

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, viu mais uma vitória eleitoral - no entanto, um novo adversário alterou o seu controle sobre a política húngara.

Esperava-se que o partido Fidesz de Orbán obtivesse 43% dos votos, de acordo com estimativas do Parlamento da UE. Embora o Fidesz tenha obtido uma pluralidade de votos, perdeu quase 10 pontos em relação ao seu apoio nas últimas eleições da UE em 2019, e parecia prestes a perder dois assentos, o que foi amplamente visto como um referendo sobre a popularidade de Orbán.

Uma profunda crise econômica e uma recente série de escândalos envolvendo políticos do Fidesz abalaram o partido que se orgulha de defender os valores familiares e o conservadorismo cristão.

O desafiante Péter Magyar rompeu com o partido de Orbán em fevereiro e, em uma questão de meses, construiu o partido de oposição mais forte da Hungria. Esperava-se que esse partido, Respeito e Liberdade (TISZA), obtivesse 31% dos votos

Magyar ganhou destaque com acusações públicas de corrupção e má gestão dentro do governo de Orbán. O partido de Magyar apresentou-se como uma alternativa mais centrista ao tipo de populismo iliberal de Orbán.

Orbán classificou as eleições como uma luta existencial entre a guerra e a paz, dizendo aos eleitores que votar na sua oposição atrairia a Hungria diretamente para a guerra na Ucrânia e precipitaria um conflito armado global. Ele está no poder desde 2010.

Itália

O partido Irmãos da Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, que tem raízes neofascistas, deverá mais do que duplicar o seu número de assentos no Parlamento Europeu desde as últimas eleições. E isso lhe dará novo poder para influenciar as políticas na UE.

Embora os eleitores tenham punido os líderes moderados na França e na Alemanha, eles deram ao partido de Meloni ainda mais apoio do que nas últimas eleições nacionais de 2022.

As suas políticas pró-Ucrânia e Israel provaram ser tranquilizadoras para os aliados centristas americanos e europeus, mas ela está liderando guerras culturais internas que preservam as suas credenciais de extrema direita.

O Partido Democrata, de oposição de centro-esquerda, ficou em segundo lugar, seguido por outro partido principal da oposição, o Movimento 5 Estrelas.

Na Itália, não se espera que a votação desestabilize o governo, mesmo que a vantagem de Meloni seja à custa dos seus parceiros na coligação governamental, a populista de direita anti-migrante Lega, liderada por Matteo Salvini, e a Forza Italia, de centro-direita, liderada pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani.

A Itália tem 76 assentos no Parlamento Europeu.

Eslováquia

Um grupo liberal e pró-ocidental venceu as eleições da UE na Eslováquia, derrotando o partido do primeiro-ministro populista e pró-Rússia, Robert Fico, poucas semanas depois de ele sobreviver a uma tentativa de assassinato.

O ataque a Fico enviou ondas de choque por toda a nação de 5,4 milhões de habitantes e pareceu aumentar a participação eleitoral, que foi a mais baixa de todo o bloco em 2014 e 2019, mas atingiu um recorde de 34,4% no último domingo.

Por que a ascensão da extrema direita ameaça a estabilidade política da Europa?

A tentativa de assassinato não ajudou o partido esquerdista Smer (Direção) de Fico, o principal parceiro da coligação governamental, a ganhar a votação. O Smer tem atacado o apoio da UE à Ucrânia, bem como outras políticas sobre imigração, mudanças climáticas e direitos LGBTQ+.

O Smer estava em uma disputa acirrada contra a principal oposição, a Eslováquia Progressista, que conquistou 27,8%, ou seis assentos no Parlamento da UE, de acordo com resultados provisórios. O Smer segue com 24,8%, ou cinco assentos. Um partido de oposição de extrema direita que quer a Eslováquia fora da OTAN, a República, terminou em terceiro lugar com 12,53% e terá dois assentos. (*COM REPORTAGEM DA AP)

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O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), ao criticar uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez comentários sexistas sobre a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Na quarta-feira, 12, Gayer afirmou que o presidente estava "oferecendo" a petista para os líderes do Congresso da mesma forma com um cafetão faz com uma garota de programa.

O parlamentar goiano afirmou ainda que pensou num "trisal" entre Gleisi, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), namorado da deputada licenciada, e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado. O senador pretende pedir a cassação do deputado.

As declarações foram feitas por Gayer após Lula afirmar que escolheu Gleisi para a articulação política do governo pelo fato de a aliada ser uma "mulher bonita".

Após a repercussão da declaração sobre o discurso de Lula, Gayer disse ter sido o "único parlamentar de direita que saiu em defesa da ministra Gleisi Hoffmann, covardemente menosprezada e achincalhada pelo presidente da República".

O deputado ainda afirmou que a intenção dele "era apenas denunciar e escancarar a hipocrisia da esquerda quando se trata da defesa das mulheres, e jamais quis ofender ou depreciar o presidente do Senado Davi Alcolumbre".

Não é a primeira vez que Gayer se envolve em polêmicas por uma declaração de teor preconceituoso. O parlamentar já comparou nordestinos a galinhas e afirmou que democracias não prosperam em países da África em razão da capacidade cognitiva de seus habitantes.

Gayer é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por difamação e injúria contra o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO). Além disso, é investigado pela Polícia Federal (PF) por suposto desvio de dinheiro público com recursos da cota parlamentar. O deputado federal também é conhecido responder a jornalistas com receitas culinárias.

Deputado comparou nordestinos com galinhas

Em maio de 2024, Gayer comparou os habitantes da região Nordeste a galinhas que recebem migalhas do Estado. A declaração ocorreu durante um seminário de discussão sobre o Sistema Nacional de Educação (SNE). Gustavo Gayer disse que, certa vez, o ditador soviético Josef Stalin maltratou uma galinha, depenando-a, mas depois lhe deu migalhas de comidas. Após ser alimentada, segundo a anedota, a galinha passou a ficar mansa com o ditador, mesmo tendo sido maltratada momentos antes.

"Essa história representa o que a esquerda faz com o Brasil, e principalmente o que a esquerda faz como o Nordeste", afirmou Gustavo Gayer, chamando programas de assistência social de "migalhas para uma população depenada".

A anedota narrada por Gustavo Gayer tem a veracidade contestada. O site de checagem de fatos Snopes atribui a história ao escritor quirguiz-russo Chingiz Aitmatov, um autor se notabilizou por um estilo "elíptico e alegórico". Segundo o site, é provável que a parábola da galinha depenada tenha sido um mero "esboço ilustrativo" de Aitmatov sobre a personalidade de Stalin, uma vez que não há outros registros factuais sobre o episódio narrado.

Democracia não prospera na África por falta de 'capacidade cognitiva'

Em setembro de 2023, durante uma entrevista ao podcast 3 Irmãos, Gustavo Gayer afirmou que regimes democráticos não prosperavam em países da África em razão da "capacidade cognitiva" dos habitantes do continente.

"Democracia não prospera na África porque, para você ter uma democracia, você precisa ter um mínimo de capacidade cognitiva de entender entre o bom e o ruim, o certo e o errado", disse o parlamentar. "Tentaram fazer democracia na África várias vezes. O que acontece? Um ditador toma tudo, toma conta de tudo, e o povo (aplaude). O Brasil está desse jeito, Lula chegou na Presidência e o povo burro (aplaude)."

A declaração motivou um pedido de cassação no Conselho de Ética da Câmara, mas a proposta não chegou a ser votada pelo colegiado. Em novembro de 2024, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Gayer ao STF por injúria e racismo. Se uma eventual pena for superior a quatro anos de prisão, os procuradores pedem a cassação do mandato de Gayer. O caso está sob relatoria da ministra Cármen Lúcia.

Investigação por desvio de dinheiro público

Gustavo Gayer é investigado pela Polícia Federal por suposto desvio de dinheiro público com recursos da cota parlamentar. De acordo com as investigações, o deputado federal mantinha uma escola de inglês e uma loja de camisetas e acessórios em um espaço que deveria ser um escritório político. O aluguel do local, de R$ 6,5 mil mensais, era pago com dinheiro público, proveniente da Câmara dos Deputados. Segundo a PF, Gayer pagava assessores para desempenharem funções alheias ao mandato parlamentar, prestando serviços para seus negócios privados.

Quando a investigação veio à tona, em outubro de 2024, Gayer afirmou que as diligências buscavam "prejudicar seu candidato" à prefeitura de Goiânia, Fred Rodrigues (PL), que disputava o Executivo da capital goiana em um segundo turno contra Sandro Mabel (União Brasil).

Réu por calúnia

Gayer é réu no STF por ofensas contra os senadores Vanderlan Cardoso (PSD-GO) e Jorge Kajuru (PSB-GO). Em fevereiro de 2023, após a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na presidência do Senado, Gayer chamou os senadores goianos de "vagabundos que viraram as costas para o povo em troca de comissão". Kajuru também foi chamado de "doido varrido" e "caricatura".

Receitas culinárias

Gustavo Gayer também é conhecido por não responder a jornalistas. O deputado federal encaminha receitas culinárias a profissionais de imprensa que o contatam. A conduta ironiza o modo como diversos jornais impressos, entre eles o Estadão, resistiram aos censores da ditadura militar (1964-85).

O governo do presidente Lula é mal avaliado por 41% dos brasileiros, de acordo com levantamento do Ipsos-Ipec divulgado nesta quinta-feira, 13. O porcentual de eleitores que consideram a gestão ruim ou péssima cresceu 7 pontos porcentuais desde dezembro do último ano. Pela primeira vez na série histórica da pesquisa, a avaliação negativa supera a positiva.

Apenas 27% dos entrevistados classificam o governo como ótimo ou bom, uma queda de 7 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior. Outros 30% avaliam a gestão como regular, enquanto 1% não soube responder.

A pesquisa ouviu 2.000 brasileiros em 131 municípios entre os dias 7 e 11 de março deste ano. O nível de confiança do estudo é de 95%, com margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Os entrevistados também foram questionados sobre a forma de governar do presidente. O levantamento revela que 55% desaprovam a administração de Lula, um aumento de 9 pontos percentuais, enquanto 40% aprovam, registrando uma queda de 7 pontos. Outros 4% não souberam responder.

O nível de confiança no presidente também caiu, atingindo 40% dos entrevistados. Por outro lado, a desconfiança subiu 6 pontos percentuais, chegando a 58%. Apenas 2% não souberam opinar.

Entre os eleitores de Lula, a aprovação despencou de 64% para 52%. No Nordeste, principal base eleitoral do presidente, a queda foi ainda mais expressiva, passando de 50% para 37%. Entre os menos escolarizados e aqueles que recebem até um salário mínimo, Lula mantém avaliações positivas de 36% e 34%, respectivamente.

Já os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022 são os que mais reprovam a gestão petista: 72% classificam o governo como ruim ou péssimo. Lula também enfrenta maior rejeição entre eleitores com renda superior a cinco salários mínimos (59%), os mais escolarizados (48%), evangélicos (52%) e homens (46%).

O deputado Sóstenes Cavalcante, líder do PL, afirmou nesta quinta-feira, 13, que a fala de Gustavo Gayer (PL-GO) foi "infeliz". O parlamentar publicou uma insinuação de que Alcolumbre formaria um "trisal" com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT) e seu marido, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ).

"Admito que essa manifestação sobre o trisal foi infeliz. Ele errou. Não só eu admito, como o próprio Gayer. Ele apagou o post e fez uma nota para explicar. Nós acabamos de conversar e ele me disse: 'Não fui feliz na construção do texto e apaguei'. Ele mesmo assume", afirmou Sóstenes ao Globo.

A provocação de Gayer veio após o presidente Lula dizer que colocou uma "mulher bonita" na articulação política porque quer ter uma boa relação com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Apesar da avaliação de Sóstenes, o líder do PL afirmou que a sigla não deverá tomar nenhuma providência contra o deputado e defendeu que, aqueles que tiverem se sentido ofendidos, que busquem o Conselho de Ética da Câmara e a Justiça.

Alcolumbre afirmou que entrará com uma ação judicial contra o Gayer e pedirá sua cassação no Conselho de Ética da Câmara pelas falas do parlamentar. Questionado, Gayer afirmou que "apenas questionou" se Lindbergh aceitaria as "falas repugnantes" do presidente Lula, e que "jamais quis ofender ou depreciar" Alcolumbre.

O PT também acionará o Conselho de Ética da Câmara para pedir a cassação de Gayer e levará o caso à Procuradoria-Geral da República (PGR).