Trump detalha atentado e pede união, mas acusa Partido Democrata de 'demonizar' rivais

Internacional
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O ex-presidente dos EUA Donald Trump fez uma descrição detalhada da tentativa de assassinato que sofreu no fim de semana em seu primeiro discurso após o atentado. No encerramento da Convenção Nacional Republicana, ele disse que a divisão na sociedade americana precisa ser curada, mas não poupou os democratas de críticas. "Quando ouvi um som alto de assobio e senti algo me atingir muito, muito forte na orelha direita, perguntei a mim mesmo, o que foi isso? Só pode ser uma bala", narrou.

"Havia sangue jorrando por toda parte, e ainda assim, de certa forma, me senti muito seguro porque tinha Deus ao meu lado", disse, lembrando que se não tivesse virado a cabeça para checar nos números sobre imigração no telão atrás de si, "não estaria aqui".

 

Com um uniforme dos bombeiros no palco, ele homenageou o apoiador Corey Comperator, bombeiro que morreu no ataque ao comício ao tentar proteger a família. O colete que foi enviado para a Convenção, no entanto, estava com a grafia de Comperator errada, sem o "a".

 

Enquanto descrevia o atentado e se solidarizava com as vítimas, Donald Trump defendeu que a discórdia e a divisão na sociedade americana precisam ser curadas. Mas ao virar o discurso para a corrida a Casa Branca, se voltou contra o Partido Democrata, que acusou de prossegui-lo.

"Não devemos criminalizar a dissidência ou demonizar a discordância política", disse. "Nesse espírito, o Partido Democrata deve parar imediatamente de armar o sistema de justiça e rotular seu oponente político como um inimigo da democracia, especialmente porque isso não é verdade, na verdade, sou eu quem salva a democracia para o povo do nosso país."

 

Durante a semana, Trump disse à imprensa americana que rasgou o discurso programado para a Convenção e escreveu outro do zero após o atentado. Além do conteúdo em si, havia muita expectativa para a forma.

 

Na forma, começou com um tom mais emotivo, que se dissipou ao longo do discurso, e evitou citar Joe Biden nominalmente - quando o fez, foi sem os apelidos de sempre. No conteúdo, repetiu conhecidas alegações e foi subindo o tom de voz à medida em que avançava para os seus tópicos de costume.

Donald Trump voltou a dizer, sem evidências, que os imigrantes vêm de prisões e instituições psiquiátricas, representando um risco para o país. Prometeu parar o que chama de "invasão" na fronteira e concluir o muro na fronteira com o México.

 

"No coração da plataforma republicana está nossa promessa de acabar com esse pesadelo de fronteira e restaurar completamente as fronteiras sagradas e soberanas dos Estados Unidos", disse. "Faremos isso no primeiro dia. Isso significa duas coisas no primeiro dia, certo: perfurar, baby, perfurar e fechar nossas fronteiras".

 

Foi uma referência ao slogan de campanha do Partido Republicano em 2008 "drill, baby, drill", que defendia o aumento da perfuração de petróleo e gás como fontes de energia adicional.

 

Em outro tema que aborda com frequência, o processo eleitoral, repetiu as alegações infundadas sobre fraude, e disse que os democratas aproveitaram a pandemia para trapacear em 2020, quando foi derrotado por Joe Biden.

Na política externa, disse que o mundo está "oscilando à beira da 3ª Guerra Mundial" e reafirmou que a Rússia não teria invadido a Ucrânia se ele estivesse na Casa Branca. Donald Trump ainda criticou o governo democrata pela retirada das tropas do Afeganistão, que terminou com 13 soldados americanos mortos, e prometeu trazer de volta os reféns do Hamas na guerra em Gaza.

 

Ao reverenciar J.D Vance, seu candidato a vice-presidente, Donald Trump sinalizou que aposta nele para o futuro do seu movimento Make America Great Again ao dizer: "Você vai fazer isso por muito tempo".

 

O líder republicano foi acompanhando pela esposa Melania Trump, que tem evitado os compromissos de campanha, e pela filha Ivanka. Elas não discursaram, mas subiram ao palco ao fim da Convenção Nacional Republicana.

 

Ao longo do encontro, os republicanos reforçaram a união em torno de Donald Trump diante da tentativa de assassinato. O momento em que ele se levantou após ser atingido de raspão na orelha e ergueu o punho para a multidão gritando "lute", foi evocado com frequência pelos seus aliados. Eric Trump, o segundo filho do ex-presidente, disse que o pai demonstrou coragem inabalável.

 

Os discursos da noite desta quinta-feira, 18, soaram como uma tentativa de amenizar a imagem de Donald Trump, figura divisiva na política americana, e rebater as críticas, com o argumento de que ele seria vítima de uma perseguição.

 

"Já não confiamos nas nossas eleições. Já não confiamos no nosso sistema judicial e já não acreditamos que o nosso governo esteja trabalhando no nosso melhor interesse", disse Eric Trump, citando os processos de impeachment e ações na Justiça como parte de um esforço para silenciar o pai.

 

"Eles têm pavor de você e das dezenas de bilhões de pessoas que nos assistem pela TV neste momento. Eles tentaram de tudo para tirar isso de você. Tudo. Tentaram de tudo para destruir seu legado" acusou Eric Trump.

Enquanto os críticos afirmam que a volta do republicano à Casa Branca colocaria a democracia em risco, o apresentador de TV e comentarista político Tucker Carlson afirmou que Donald Trump é quem "devolverá a democracia aos Estados Unidos". Depois, o próprio líder republicano se diria o salvador da democracia.

 

Em seu discurso, Carlson afirmou que a tentativa de assassinato de Donald Trump mudou o ex-presidente. "Ele não era mais apenas um candidato de um partido político, ou um ex-presidente, ou um futuro presidente. Este era o líder de uma nação", declarou, elogiando o comportamento do republicano diante do episódio. "Ele rejeitou a oportunidade mais óbvia na política de inflamar a nação depois de ser baleado."

 

A defesa mais efusiva de Donald Trump, no entanto, veio do lutador aposentado e apresentador Hulk Hogan. Em um dos momentos notáveis da noite, ele arrancou gritos da plateia ao rasgar uma camisa com as palavras "verdadeiro americano" revelando outra camiseta vermelha com os dizeres "Trump-Vance".

 

"Deixem a 'Trumpmania' governar de novo. Deixem a 'Trumpmania' tornar a América grande novamente", disse aos gritos.

 

O momento foi posteriormente referenciando por Trump. "Podem chamar isso de entretenimento, mas eu sei o que é entretenimento," disse. "Quando ele costumava levantar homens de 160 kg sobre seus ombros e depois os levantava novamente duas fileiras para dentro da plateia." Ele acrescentou, "Pode ser entretenimento, mas ele é um filho da mãe muito forte."

 

'America First'

 

Mike Pompeo, secretário de Estado americano do governo Donald Trump, disse que ele colocava os Estados Unidos em primeiro lugar - slogan trumpista que se repetiu ao longo da noite. Em contraste, acusou Joe Biden de traição, referindo-se à entrada de imigrantes. "Nossa fronteira virou um tapete de boas-vindas para terroristas islâmicos, traficantes de drogas, espiões chineses e criminosos violentos", alegou.

 

Pompeo disse ainda que a "fraqueza" do democrata resultou nas guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, argumento que tem sido usado com frequência por Trump. E disse que não se pode confiar em Biden, voltando-se para as fragilidades que agora ameaçam a campanha do presidente de 81 anos á reeleição.

 

"Todo governo falhou em dizer a verdade. A verdade, que todos sabemos e que é tão perigosa para a nossa nação, é que Joe Biden não consegue atender uma ligação às 3h da manhã", disse. "Na verdade, ele não atenderá depois das 16 horas."

 

Embora o foco da convenção seja Donald Trump, os republicanos apelaram ainda para o controle do Congresso. Hoje, o partido tem frágil maioria na Câmara e o mesmo vale do outro lado para os democratas no Senado.

O senador Steve Daines, defendeu uma maioria "America First". "Vamos eleger um Senado que apoie o presidente Donald Trump", disse, criticando os democratas que "falam como moderados mas votam com Joe Biden".

 

Partido unido em torno de Trump

 

Ao longo da semana, a convenção reforçou o domínio do trumpismo sobre o partido. Nikki Haley, que disputou a nomeação republicana e até então se mostrava reticente em pedir votos para Donald Trump, expressou seu total apoio em discurso voltado para aqueles que não concordam 100% com Trump - o seu eleitorado.

 

Enquanto isso, antigas lideranças, como o ex-presidente George W. Bush e Mike Pence, que foi o vice de Donald Trump, e rompeu com ele após o ataque ao Capitólio, estiveram ausentes.

 

Dividida em blocos temáticos, sempre em alusão ao slogan Make America Great Again, a convenção concentrou-se em economia, imigração e política externa. Os republicanos culparam Joe Biden pela inflação; acusaram o governo democrata de permitir uma "invasão" na fronteira; e atacaram a retirada de tropas do Afeganistão, que deixou 13 soldados americanos mortos em 2021. Além de expressar apoio a Israel, que trava uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza.

 

Os discursos políticos foram intercalados aos depoimentos de americanos comuns, reforçando a mensagem do partido, resumida na ideia de que o país estava melhor e projetava mais força no mundo quando Donald Trump era presidente, em comparação com o governo Biden.

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O ex-presidente José Sarney está curado da covid-19 e liberado para participar de atividades pela equipe médica dele. O ex-presidente, diagnosticado com a doença na semana passada, vai completar 95 anos na próxima quinta-feira, 24.

Segundo o boletim médico divulgado pela assessoria do ex-presidente, Sarney teve uma boa evolução clínica e um exame realizado nesta quinta-feira, 21, atestou que ele não está mais com coronavírus.

"O ex-presidente José Sarney, diagnosticado com covid-19, apresenta evolução clínica favorável, com melhora importante de seu quadro geral. O exame para detecção do vírus SARS-CoV-2, realizado hoje, apresentou resultado negativo, reforçando a tendência de recuperação. Seguimos acompanhando de perto sua evolução e o liberamos para suas atividades", afirmou a equipe de Sarney.

Sarney foi diagnosticado com covid-19 na última quarta-feira, 16, e teve que cancelar agendas. Nesta segunda, ele participaria de uma cerimônia em Minas Gerais para lembrar os 40 anos da morte do presidente eleito Tancredo Neves, que morreu em 1985, antes de tomar posse do Executivo brasileiro.

Na semana passada, Sarney apresentou sintomas de resfriado e cansaço. Segundo os assessores do ex-presidente, ele também tossia e apresentava coriza.

"O ex-presidente está clinicamente estável, os exames estão dentro da normalidade, não foi necessário interná-lo, ele foi medicado e recomendado repouso por sete dias", dizia o boletim médico divulgado pela cardiologista Núbia Welerson Vieira na última quarta.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes rejeitou o pedido apresentado pela defesa do ex-assessor da Presidência Filipe Martins para que ele pudesse circular livremente por Brasília durante os dias em que acompanhará presencialmente o recebimento da denúncia pela Primeira Turma da Corte.

"A autorização para acompanhar o julgamento corresponde a excepcional alteração da situação do denunciado, em respeito ao princípio da ampla defesa, mas não significa uma verdadeira licença para fazer turismo ou atividades políticas em Brasília", escreveu Moraes ao negar o pedido.

O advogado de Martins, o desembargador aposentado Sebastião Coelho, argumentou a Moraes que o impedimento do seu cliente se locomover livremente por Brasília o "impõe uma restrição mais severa do que aquela já observada pelo Requerente (Filipe Martins) em sua comarca de origem".

A defesa ainda argumentou no pedido que a manutenção dessa restrição "contraria os princípios da proporcionalidade e da legalidade estrita das medidas cautelares" Segundo Coelho, a restrição de locomoção pode "gerar constrangimentos operacionais e jurídicos desnecessários, inclusive no acesso a alimentação, cuidados pessoais, reuniões com a defesa técnica ou deslocamentos imprevistos".

Moraes, por sua vez, rejeitou os argumentos e definiu que Martins deverá, limitar-se ao roteiro "aeroporto-hotel-sessão de julgamento-hotel", até seu retorno. O ministro ainda proibiu a divulgação de imagens da votação ou de seu deslocamento, mesmo que por terceiros, sob pena de multa e conversão mediata em prisão.

A um dia do julgamento do Supremo Tribunal Federal que decidirá, nesta terça, 22, se manda para o banco dos réus os acusados de integrarem o 'núcleo 2' da trama golpista que culminou no 8 de Janeiro, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal decidiu partir para o ataque. Em nota divulgada nesta segunda, 21, por meio de sua defesa, Silvinei Vasques diz ser alvo de 'relatório fraudulento para sustentar narrativa de interferência nas eleições presidenciais de 2022'.

Segundo Silvinei, a 31.ª Zona Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral/RN, na comarca de Campo Bom, produziu 'um relatório fraudulento e enviesado', documento que, afirmam seus advogados, foi utilizado para atribuir à corporação então dirigida por ele um esquema que teria interferido no segundo turno das eleições presidenciais - naquela ocasião, a PRF teria montado barreiras em série nas rodovias da região para dificultar o acesso de eleitores às urnas com intenção de prejudicar o petista Luiz Inácio Lula da Silva, adversário do então presidente Jair Bolsonaro.

Silvinei Vasques é um dos seis acusados do 'núcleo 2'. Nesta terça, 22, os ministros da 1.ª Turma do STF vão decidir se abrem ou não ação penal com base na denúncia da Procuradoria-Geral da República que atribui a ele cinco crimes - abolição violenta do Estado democráico de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Em fevereiro, o STF acolheu a denúncia contra o 'núcleo crucial' e mandou para o banco dos réus Bolsonaro e sete aliados. Todos negam ligação com atos extremistas. Ao todo, são 34 os acusados de participação no plano de golpe.

No 'núcleo 2', além de Silvinei, fazem parte da lista de denunciados o general da Reserva Mário Fernandes (ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência de Bolsonaro), Marcelo Câmara (coronel da Reserva, ex-assessor de Bolsonaro), Filipe Garcia Martins Pereira (ex-assessor especial de Assuntos Internacionais), Marília Ferreira de Alencar (ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça na gestão do delegado federal Anderson Torres) e Fernando de Souza Oliveira (delegado da PF, ex-secretário executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF).

Na resposta prévia à acusação ao Supremo Tribunal Federal, os advogados de Silvinei pediram, preliminarmente, que seja 'declarada a incompetência absoluta da Suprema Corte para apreciar e julgar o presente caso, com a consequente remessa dos autos à primeira instância'. Eles também questionam o ministro Alexandre de Moraes, relator, de quem pretendem a declaração de impedimento 'para apreciar e julgar o presente caso, resguardando-se a imparcialidade e a integridade do devido processo legal'.

Nesta segunda, 21, os advogados de Silvinei protocolaram junto ao gabinete do corregedor nacional de Justiça, ministro Mauro Campbell, representação para instauração de processo administrativo disciplinar em que imputam à juíza Erika Souza Corrêa Oliveira e ao técnico judiciário Bruno Teixeira da Silva 'inserção de dados falsos em documento público, alegação de que houve dificuldade de votação no período da manhã' no segundo turno do pleito de 2022.

Até a publicação deste texto, a reportagem do Estadão buscou contato com a magistrada e o técnico, mas sem sucesso. O espaço está aberto.

A representação - subscrita pelos advogados Anderson Almeida, Eduardo Pedro Nostrani Simão, Marcelo Rodrigues, Leonardo Vidal Guerreiro Ramos e Gabriel Jardim Teixeira - é amparada no 'Relatório de Atuação no Segundo Turno das Eleições Gerais de 2022 - Zona 31/TRE-RN'. O documento aponta que a presença de viaturas da PRF nas rodovias teria inibido o comparecimento de eleitores, 'sobretudo nas primeiras horas do dia'.

A defesa de Silvinei sustenta que o relatório 'é baseado exclusivamente em percepções empíricas de mesários, coletadas por meio de WhatsApp, sem método científico, sem acesso aos dados brutos, sem utilizar dados oficiais e com manipulação deliberada de informações'.

"Uma perícia técnica contratada pela defesa analisou os logs oficiais das urnas eletrônicas do Tribunal Superior Eleitoral e identificou divergência de mais de mil eleitores entre os dados oficiais e os números apresentados no relatório", destacam os advogados do ex-diretor-geral da PRF.

Segundo eles, 'a análise conclui que não houve queda no comparecimento matutino e que a suposta inibição foi fabricada com base em dados parciais e distorcidos'. "A votação no segundo turno naquela zona eleitoral foi superior à do primeiro turno das eleições de 2022", afirmam.

Eles acentuam, ainda, que 'conforme registro nos sistemas da própria Polícia Rodoviária Federal, a juíza eleitoral responsável pela zona, Érika Souza Corrêa Oliveira, esteve pessoalmente no local de trabalho da PRF no dia das eleições de segundo turno e declarou que não identificou nenhuma irregularidade na atuação da PRF'.

A defesa de Silvinei vai sustentar perante o STF que ele foi alvo de 'uma fraude documental com fins políticos, que buscou dar aparência de legalidade a uma narrativa de interferência eleitoral sem qualquer respaldo nos fatos'.

"O uso desse relatório na investigação é gravíssimo e teria servido para justificar medidas como a prisão de Silvinei Vasques e sua inclusão em processos que apuram ataques à democracia", argumentam os advogados. "O relatório colaborou para induzir a erro os investigadores, a Procuradoria-Geral da República e o relator da petição no Supremo Tribunal Federal."

Em defesa preliminar perante o STF, Silvinei nega os crimes a ele atribuídos pela PGR. Seus advogados dizem que 'os fatos deduzidos na inicial são, na essência, manifestamente atípicos'. "Destaca-se que a atipicidade dos fatos descritos na denúncia está intrinsecamente ligada à sua inépcia formal. Em síntese, significa que a PGR não conseguiu apresentar uma narrativa clara e precisa, conforme exige o artigo 41 do Código de Processo Penal, devido à evidente atipicidade dos fatos imputados."

"Qual conduta criminosa o denunciado praticou?", questiona a defesa. "A resposta é óbvia: nenhuma. E o pior: os elementos indiciários amealhados durante o apuratório, tal como a denúncia ofertada pela PGR, não se desincumbiram do ônus de comprovar qualquer fato criminoso. A atipicidade da conduta é um elemento fundamental para evitar arbitrariedades e manter o respeito aos princípios do Direito Penal. Seja pela ausência de previsão legal, pela falta de ofensividade ao bem jurídico ou pela inexistência de dolo ou culpa, a atipicidade impede que o Direito Penal seja aplicado de forma abusiva ou desproporcional, que é, justamente, o que está sucedendo no caso em concreto."