Diagnósticos mais precoces e confiáveis contribuem para reduzir a transmissão do vírus e melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV
Neste Dezembro Vermelho, mês da campanha nacional de conscientização sobre HIV/Aids, é importante ressaltar que o diagnóstico é um dos pilares para alcançar as metas globais de controle da epidemia. O objetivo estabelecido pelo Unaids é claro: ter, até 2030, 95% das pessoas diagnosticadas, tratadas e com carga viral indetectável no mundo.
“Atualmente, dois grandes grupos de testes são utilizados para a detecção do HIV: os testes sorológicos e os moleculares, cada um com funções específicas no diagnóstico e acompanhamento da infecção”, explica o patologista clínico Carlos Eduardo Ferreira, líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e gerente médico do Laboratório Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.
Os testes sorológicos estão disponíveis de duas formas. No laboratório clínico, o processo envolve coleta de sangue, separação do soro e análise automatizada. Já os testes rápidos, incluindo os autotestes, disponíveis em farmácias e clínicas, são feitos com amostras de sangue ou saliva.
“Os testes realizados em laboratório permitem pesquisar tanto os anticorpos quanto o antígeno do vírus, o que garante um desempenho superior em comparação aos testes que analisam apenas a presença de anticorpos. Já os testes rápidos têm maior chance de resultados falso-positivos — ou seja, quando o teste indica um resultado positivo, mas a pessoa não está infectada”, salienta Ferreira.
Segundo ele, a chance de um resultado falso-negativo nos testes laboratoriais é praticamente mínima, devido à janela imunológica, que é o período entre a infecção e a detecção do vírus. “No laboratório, essa janela é de apenas alguns dias, então, se uma pessoa entrou em contato com o vírus hoje, é provável que o teste já seja positivo após cinco ou seis dias. Para identificar a infecção na fase aguda, quando a janela imunológica ainda pode ser um fator, somente o teste molecular é capaz de detectar diretamente o vírus”, salienta.
Os testes moleculares, como o PCR para HIV, podem ser qualitativos, usados para confirmar infecções, ou quantitativos, que medem a carga viral e auxiliam no monitoramento do tratamento de pacientes já diagnosticados. Eles são essenciais para detectar a presença do vírus em fases muito precoces da infecção, quando outros testes ainda não conseguem identificar o HIV.
Ferreira destaca que com os avanços tecnológicos, os resultados falso-positivos diminuíram consideravelmente em todos os tipos de testes. Ainda assim, sua ocorrência reforça a importância de protocolos de confirmação diagnóstica. “O recente caso de contaminação de pacientes com o vírus HIV no Rio de Janeiro evidencia falhas na execução do teste ou até mesmo a sua não realização, mas isso não implica que o exame seja ineficaz.”
O progresso no desenvolvimento dos testes diagnósticos reflete os esforços contínuos da comunidade científica para ampliar o acesso e a precisão na detecção do HIV. “Esses avanços, aliados ao compromisso com a equidade no acesso ao diagnóstico e tratamento, são passos essenciais para cumprir as metas da Unaids para 2030. Eles garantem diagnósticos mais precoces e confiáveis, contribuindo para reduzir a transmissão do vírus e melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV”, finaliza Ferreira.
Dados sobre a Aids
Segundo o Unaids Brasil, a mortalidade pela doença caiu mais de 25% na última década, passando de 5,5 mortes por 100 mil habitantes para 4,1. No mundo, o impacto do HIV também diminuiu. Em 2023, 1,3 milhão de pessoas foram infectadas pelo vírus, um número muito inferior aos 3,3 milhões registrados em 1995. Desde 2004, as mortes relacionadas à Aids foram reduzidas em 69%, e em 51% desde 2010.
No entanto, essa realidade é desigual. Populações vulneráveis enfrentam barreiras significativas no acesso e na adesão ao tratamento. Apenas 15% das pessoas trans, por exemplo, têm o tratamento em dia, e as mulheres apresentam piores desfechos em todas as etapas do cuidado, desde a detecção até a supressão da carga viral. A falta de informação entre jovens e pessoas negras sobre tratamentos preventivos e emergenciais agrava ainda mais esse cenário.
O Relatório do Dia Mundial de Luta Contra a AIDS 2024, intitulado "Sigamos o caminho dos direitos", enfatiza que a igualdade de gênero e o respeito aos direitos humanos são pilares fundamentais para erradicar a doença. Promover aceitação, cuidado e inclusão em todas as comunidades é indispensável para alcançar o desenvolvimento sustentável e garantir segurança e dignidade para todos.
Aids: diagnóstico é um dos pilares para alcançar as metas globais de controle da epidemia, reforça Abramed
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