Pesquisa revela que muitas gestantes desconhecem os benefícios da imunização materna para o bebê

Saúde
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Maioria das grávidas consultadas pelo Ipec acredita que se vacinar nessa fase protege exclusivamente a mãe; apenas 8% estão cientes da possibilidade de imunização contra a bronquiolite na gravidez, mas medo da doença cresce conforme a gestação avança

A vacinação não é tratada como tema prioritário no pré-natal, muitas gestantes desconhecem a existência de um calendário vacinal específico para essa fase e a maioria não está bem informada sobre os benefícios da imunização materna para o bebê. Essas são algumas conclusões de uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), a pedido da Pfizer, com 530 mulheres grávidas de todas as regiões do Brasil.

Em meio à profusão de patógenos respiratórios em circulação no Brasil1 e à crescente importância epidemiológica do vírus sincicial respiratório (VSR)2 nesse contexto, a nova pesquisa investiga a percepção da imunização materna entre as gestantes considerando também que a hesitação vacinal é um desafio importante no período gestacional, ainda que os imunizantes para esse público sejam recomendados e ofertados pelas autoridades de saúde e sociedades médicas3.

Intitulado ‘Vacinação na gravidez: o que as gestantes brasileiras pensam sobre imunização materna diante do avanço do vírus sincicial respiratório (VSR)’, o levantamento contempla mulheres grávidas de 18 a 45 anos, em diferentes períodos gestacionais, tanto das classes A/B quanto das classes C/D/E, com leitura dos resultados por região: Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-oeste/Norte.

“A pesquisa aponta lacunas de informação sobre imunização em uma fase muito peculiar para a mulher, em que existe a chance de proteger duas vidas. Ao se vacinar, a gestante não apenas está beneficiando a sua própria saúde, num momento em que o sistema imunológico feminino se torna naturalmente mais vulnerável, como também tem a oportunidade de transferir anticorpos para o bebê, cuja imunidade ainda está em processo de desenvolvimento”, diz a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro.

Os resultados da pesquisa apontam que apenas 22% das gestantes respondentes estão cientes de que a vacinação na gravidez não almeja proteger exclusivamente a mãe de doenças infectocontagiosas, mas também a criança. Os benefícios da medida para o bebê não estão suficientemente claros para 78% da amostra, como indica a tabela abaixo:

 

Vacinar-se durante a gravidez tem o objetivo de proteger exclusivamente a mãe de doenças infectocontagiosas

Falsa

22%

Verdadeira    

62%

Não sei   

16%

“O desenvolvimento de vacinas para gestantes é considerado prioritário pela Organização Mundial de Saúde, podendo reduzir as taxas de mortalidade infantil, aliviar a sobrecarga das unidades hospitalares pediátricas e, é claro, evitar esse forte impacto para as famílias”, lembra Adriana. “Paralelamente, precisamos combater a hesitação vacinal na gestação. A pesquisa Ipec descortina grandes oportunidades de aumentar a conscientização sobre o impacto positivo da imunização materna, tanto para a gestante quanto para o bebê, desde a primeira respiração”, complementa a médica.

Um exemplo que ilustra o desconhecimento sobre a vacinação materna é a percepção em relação à bronquiolite – inflamação aguda das ramificações que conduzem o ar para dentro dos pulmões, podendo causar quadros graves em bebês4: apenas 8% das gestantes consultadas sabem que é possível se imunizar contra essa doença na gravidez, ainda que a medida seja recomendada tanto pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)5 como pela - Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)6.

Embora a maioria das respondentes (94%) afirme que já ouviu falar sobre a bronquiolite, as informações que dispõem sobre o tema são equivocadas ou insuficientes. Apenas 22% das gestantes que demonstraram familiaridade com a doença têm uma concepção correta sobre o assunto, enquanto 24% desse grupo confundem bronquiolite com bronquite (uma condição crônica), bem como 36% afirmam diretamente que não dispõem de informações:

 

O que você sabe sobre uma doença chamada bronquiolite?

NUNCA OUVI FALAR SOBRE ESSA DOENÇA

6%

OUVI FALAR SOBRE ESSA DOENÇA

94%

Já ouvi falar sobre a doença, mas não tenho mais informações

36%

É uma doença crônica, também conhecida como bronquite

24%

É uma doença contagiosa, causada por bactérias e tratada com antibióticos

6%

É uma doença causada por vírus e que dificulta a chegada do ar nos pulmões

22%

É um tipo de pneumonia, porém provoca sintomas mais leves

5%

Quando perguntadas sobre o impacto da bronquiolite, muitas das gestantes entrevistadas tendem a subestimar esses efeitos, enquanto uma em cada 5 (20%) afirma desconhecer totalmente esses impactos. Entre aquelas que consideram ter informação sobre o tema, 13% acreditam erroneamente que a doença não oferece risco de morte para os bebês. Na realidade, o vírus sincicial respiratório (VSR), principal responsável pelas bronquiolites em bebês, é considerado a causa mais comum de mortalidade no primeiro ano de vida no Brasil7.

 

Qual das opções abaixo melhor descreve o impacto da bronquiolite nos pacientes?

TENHO INFORMAÇÕES SOBRE IMPACTO

80%

É uma doença que pode se tornar grave, porém apenas em idosos

4%

É uma doença que pode se tornar grave, porém apenas em crianças menores de 12 anos

13%

É uma doença que costuma ser grave em todas as pessoas, de qualquer idade

12%

É uma doença com sintomas leves, tratados em casa, sem risco de internação

5%

É uma das principais causas de internação em bebês, em todo o mundo, mas não há risco de morte

13%

É uma doença que pode ser grave tanto em idosos quanto em bebês, com risco de internação e morte

33%

NÃO TENHO INFORMAÇÕES SOBRE IMPACTO

20%

 

Percepção sobre o VSR em um contexto desafiador

Se o conhecimento geral a respeito da bronquiolite tem lacunas, a situação se torna ainda mais crítica quando as respondentes da pesquisa são questionadas de forma específica a respeito do VSR: 78% dessas gestantes ou nunca ouviram falar sobre o vírus (42%) ou até estão familiarizadas com o termo, mas dizem não ter mais conhecimento sobre o patógeno (36%).

A desinformação sobre o VSR demonstrada pela pesquisa chama a atenção em um contexto epidemiológico marcado pela forte presença do vírus:  em 2024, considerando dados oficiais até 7 de novembro, o VSR desponta como a causa confirmada mais frequente de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil, detectado em 36% dos diagnósticos com resultado positivo para algum vírus respiratório1.

 

Você conhece ou já ouviu falar sobre o Vírus Sincicial Respiratório (VSR)?

Sim, conheço

22%

Já ouvi falar, mas não tenho conhecimento sobre

36%

Não, nunca ouvi falar

42%

 

Os dados oficiais também indicam que a presença do VSR em infecções respiratórias graves vem aumentando no Brasil nos últimos anos. Se em 2020 foram diagnosticados 1.681 casos de SRAG provocados pelo VSR, esse número passou para 12.478 em 2021, chegando a 16.775 em 20228 e ultrapassando os 22 mil casos em 20239. Neste ano, considerando informações compiladas apenas até novembro, o número de registros já passa de 26 mil10. Dados da literatura médica apontam que, até os 2 anos de idade, praticamente todas as crianças terão sido infectadas pelo VSR11.

“Estamos falando de um vírus que é responsável por até 40% das pneumonias e 75% das bronquiolites nas crianças pequenas. Quanto menor a idade, mais suscetível o bebê. Por isso, é fundamental que esse tema faça parte das prioridades maternas desde a gestação”, diz a pediatra sanitarista Melissa Palmieri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) para a regional São Paulo. “Além de ser a principal causa de infecções respiratórias graves nos bebês, o VSR pode deixar consequências duradouras, como o desenvolvimento de asma”, complementa.

Apesar do desconhecimento sobre o VSR evidenciado pela pesquisa, as principais doenças causadas por ele estão entre as cinco enfermidades mais temidas pelas respondentes em relação a seus bebês. Em primeiro lugar aparece a poliomielite, erradicada no Brasil, seguida por pneumonia e meningite. A bronquiolite aparece em 4º lugar – e esse temor cresce conforme a gestação avança, com 36% da amostra expressando receio em relação à doença até a 12ª semana de gestação e a taxa chegando a 49% para aquelas que estão entre a 24ª e a 36 ª semana.

 

Quais das doenças infectocontagiosas abaixo você mais teme que seu bebê tenha?

DOENÇA

TOTAL

13 a 23 semanas

24 a 36 semanas

Poliomielite (paralisia infantil)

53%

57%

48%

Pneumonia

51%

56%

55%

Meningite

50%

48%

52%

Bronquiolite

40%

38%

49%

Covid-19

40%

39%

40%

Hepatite

30%

29%

31%

Dengue

21%

21%

28%

Sarampo

20%

18%

23%

Coqueluche

16%

15%

18%

Gripe

14%

13%

13%

Rubéola

14%

13%

12%

Varicela (catapora)

12%

11%

7%

Rotavírus

11%

13%

12%

Diarreia

10%

13%

9%

Caxumba

10%

11%

10%

 Calendário da gestante, pré-natal e prioridades

As participantes da pesquisa desconhecem não apenas a possibilidade de se imunizar contra o principal vírus da bronquiolite na gestação, mas também outras recomendações para esse período. A vacinação para prevenção de hepatite B, medida também recomendada pelas sociedades médicas para grávidas5, é reconhecida por 48% da amostra, por exemplo.

Em outra frente, parte das respondentes identifica como permitidos na gestação imunizantes que, na verdade, são contraindicados nessa fase5: esse é o caso da vacina contra o HPV (apontada por 25% das participantes) e daquela para a prevenção da catapora (sinalizada por 12% dessa amostra). De modo geral, menos de metade da amostra (47%) sabe que as gestantes não podem se vacinar com qualquer tipo de imunizante:

 

Gestantes podem se vacinar com todo tipo de imunizante.

Verdadeira

20%

Falsa     

47%

Não sei   

33%

 

O levantamento também revela outros dados que ajudam a explicar a desinformação em relação aos imunizantes recomendados na gestação: pouco mais da metade da amostra (58%) está ciente da existência do calendário vacinal específico para gestantes, enquanto 41% ignoram esse fato: 35% acreditam que o indicado seria seguir o calendário regular para mulheres de sua faixa etária (desconsiderando a gravidez) e parte das respondentes não tem conhecimento sobre o assunto:

 

Qual das afirmações abaixo reflete melhor a sua opinião?

Existe um calendário de vacinação específico para grávida

58%

Na gestação, as grávidas devem seguir normalmente o calendário de vacinação para mulheres da sua idade

35%

Na gestação a vacinação deve ser interrompida

1%

Não tenho conhecimento sobre vacinação na gravidez

5%

 

Em meio às dúvidas relacionadas ao tema, manter a carteirinha de vacinação atualizada não é considerado o autocuidado mais importante durante a gestação pelas respondentes: cumprir à risca os exames do pré-natal aparece em primeiro lugar (44%), mas a adoção de uma alimentação balanceada, por exemplo, também é mais valorizada (preconizada por 21% da amostra). A imunização materna se posiciona em terceiro (priorizada por 11%) e a percepção de sua importância reduz conforme a gestação avança, como demonstra o quadro a seguir:

Entre as opções abaixo, qual você considera a mais importante em termos de autocuidado com a saúde durante a gestação?

Alternativas

Total

Até 12 semanas

13 a 23 semanas

24 a 36 semanas

Cumprir à risca a agenda de exames do pré-natal

44%

43%

45%

44%

Adotar uma alimentação balanceada

21%

15%

24%

23%

Manter a carteirinha de vacinação atualizada

11%

17%

10%

7%

Manter uma rotina de exercícios

10%

14%

8%

8%

Não beber

6%

7%

5%

9%

Escolher produtos de beleza e procedimentos estéticos compatíveis com o período da gravidez

6%

3%

8%

6%

Nenhuma

2%

1%

 -

2%

 

O distanciamento das informações sobre vacinação é um desafio identificado no próprio pré-natal das participantes da pesquisa do Ipec. Perguntadas sobre o tema mais discutido durante as consultas, apenas 5% das respondentes apontaram a imunização materna. Exames de rotina (42%) e questões ligadas ao parto (16%) predominam nesses momentos. Até mesmo temáticas ligadas a mudanças no corpo (peso, estrias e manchas na pele, por exemplo) são mais priorizadas do que a vacinação na gestação:

 

E agora falando sobre a sua relação com o médico que vem acompanhando a sua gravidez...

 Nas consultas com o médico que acompanha a sua gravidez, qual é o tema mais discutido?

Exames de rotina (pedidos e resultados de ultrassom, exames...)

42%

Parto (plano de parto, tipo de parto, dúvidas do trabalho de parto)

16%

Sintomas da gestação (enjoos, azia, dores de coluna, pélvicas)

12%

Como será o momento do pós-parto

10%

Mudanças do corpo (aumento de peso, aparecimento de estrias, manchas de pele, secreções...)

9%

Vacinação durante a gravidez

5%

Ainda que, no levantamento, a vacinação materna não figure como prioridade nas consultas, 77% das gestantes pesquisadas indicam que o médico recomendou a imunização durante a gravidez – e 96% daquelas que receberam essa orientação seguiram a indicação do profissional. Parte das entrevistadas respondeu, contudo, que o profissional não chegou a abordar o tema (11%) ou, ainda, que contraindicou a vacinação. Cerca de 1 a cada 10 gestantes (11%) das classes A/B, por exemplo, sinalizou ter ouvido do médico a recomendação de não se imunizar durante a gravidez.

Mitos que persistem e novas fake news

A desinformação também se reflete na persistência de mitos antigos, tal como a associação entre vacinação e autismo: 35% das respondentes ou não sabem se essa relação é falsa ou a tomam como verdadeira. A força de fake news mais recentes também chama a atenção entre as mulheres consultadas: 40% não estão convencidas de que as vacinas não causam mutações genéticas nos bebês e 48% não descartam a falsa ideia de que imunizantes costumam deixar sequelas a longo prazo nas crianças: 

Vacinas podem causar autismo no bebê.

Falsa

                64%

Verdadeiro

                10%

Não sei   

                25%

As vacinas podem causar mutações genéticas no bebê.

Falsa

                60%

Verdadeira     

               14%

Não sei   

               26%

Imunizantes costumam deixar sequelas a longo prazo no bebê.

Falsa

               51%

Verdadeira     

               12%

Não sei   

               36%

Não é necessário tomar vacina contra doenças que já foram controladas.

Falso

               65%

Verdadeiro      

               14%

Não sei   

               21%

É melhor ser imunizado pela doença do que pela vacina.

Falso

               67%

Verdadeiro    

               15%

Não sei   

               18%