O mês de abril é conhecido como Abril Azul, um período dedicado à Conscientização Mundial sobre o Autismo. É quando pautas sobre ‘o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)’ e ‘os principais sinais’ ganham mais visibilidade, contribuindo para a disseminação de informações essenciais. No entanto, há diversas vertentes importantes dessa temática que ainda são pouco exploradas, aspectos do dia a dia de crianças autistas e de suas famílias que ninguém vê, ninguém comenta, mas que fazem toda a diferença.
Um exemplo claro desse interesse crescente por temas mais práticos e aplicáveis está nos dados do Google Trends: entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025, a busca pelo termo “ensino de habilidades básicas para pessoas autistas” cresceu mais de 300%.
“Esse crescimento pode indicar uma maior conscientização da sociedade sobre o autismo e um interesse em compreender como contribuir para o ensino de habilidades básicas. Isso revela um maior engajamento social e, quem sabe, a percepção de que todos podem participar ativamente do desenvolvimento de pessoas autistas. Pois todos podem.” completa Alice Tufolo, Diretora Clínica da Genial Care.
Sim, é preciso ensinar habilidades básicas para pessoas autistas
O aumento nas buscas também reflete a movimentação de pais, educadores e cuidadores em busca de estratégias reais que promovam autonomia, comunicação e qualidade de vida. É importante ressaltar que o autista possui formas diferentes de aprendizado, no entanto, todos são capazes de aprender e se desenvolver dentro do seu contexto apropriado.
“Habilidades como escovar os dentes, se vestir, lidar com imprevistos ou até mesmo utilizar o transporte público são fundamentais para uma vida mais independente e digna. O ensino dessas práticas precisa ser adaptado, empático e contínuo, considerando o ritmo e a maneira única de aprendizado de cada criança”, completa a especialista.
Do ensino básico à pós-graduação: o autismo não limita o potencial
Quando habilidades funcionais são ensinadas desde cedo, criam-se condições para que a criança com TEA vá muito além da independência básica: ela pode desenvolver seu pleno potencial acadêmico e profissional.
“Com diagnóstico e intervenção adequada, precoce e acompanhamento contínuo, aumenta a chance de que a criança autista frequente a escola, participe de atividades em grupo, conclua o ensino médio e avance para a universidade ou pós-graduação. No mercado de trabalho, também há espaço e números que comprovam isso. Todos merecem a possibilidade de atingir seu máximo potencial”, reforça Alice Tufolo Diretora Clínica da Genial Care.
De acordo com o estudo Cenário das Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho Brasileiro, realizado pela consultoria Mais Diversidade, 32% das pessoas neurodivergentes concluíram a pós-graduação, o maior percentual entre todos os tipos de deficiência. Além disso, 69% dessas pessoas estão no mercado de trabalho.
É importante ficar cada vez mais evidente que os autistas podem frequentar espaços regulares. Por exemplo, jovens são capacitados a cursar universidades e adultos a trabalhar no mercado comum. É possível, no entanto, que uma pessoa diagnosticada com autismo seja incluída em cotas nas universidades, ou trabalhe como PCD (pessoas com deficiência) nas empresas.
Socialmente, é importante que seja quebrada a ideia de que existem espaços exclusivos destinados a pessoas típicas ou atípicas, isso reforça a ideia inadequada de que a neurodivergência deve ser separada do restante da sociedade. O que a neurodivergencia necessita é que as suas necessidades sejam respeitadas e incluídas nesse espaço social que é de todos.
Para Alice Tufolo, o primeiro passo da inclusão é o conhecimento. “Com o apoio certo, adaptações adequadas e o respeito às suas particularidades, pessoas autistas podem se destacar em diversas áreas do conhecimento e contribuir ativamente com a sociedade. Acreditar na capacidade de desenvolvimento das crianças, que serão os adultos de amanhã, é essencial para romper barreiras e ampliar horizontes.”
Enquanto o Abril Azul promove conscientização, é fundamental que as discussões avancem para além do mês e do diagnóstico. O que ninguém vê, o esforço diário, os pequenos aprendizados, os desafios silenciosos, precisa, cada vez mais, ser visto, acolhido e respeitado. Porque a inclusão de verdade começa na prática.
Abril Azul e além: os desafios (e avanços) reais da inclusão de crianças e adultos autistas
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