Venda de sentenças: veja como estão as investigações da PF nos tribunais de 7 Estados do País

Política
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A Polícia Federal deve concluir, até o final do primeiro semestre, parte das investigações sobre o envolvimento de juízes, desembargadores e servidores de sete tribunais de Justiça estaduais em esquemas de venda de sentenças. Desde o final da década de 1990, quando estourou o escândalo de corrupção envolvendo o juiz Nicolau dos Santos Neto e os desvios milionários nas obras do Fórum Trabalhista de São Paulo, o Poder Judiciário não se via sob tal vigilância.

Estão sob a mira da PF, por suspeita de negociação de decisões em troca de propinas, desembargadores, juízes e servidores dos tribunais da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, São Paulo, Espírito Santo e Maranhão. Os inquéritos já levaram ao afastamento provisório de pelo menos 16 desembargadores e sete juízes de primeira instância. As investigações também sobrecarregam a corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que fiscaliza os tribunais, responsável pelas apurações na esfera administrativa. O trabalho dos policiais federais também já esbarrou em gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Até o momento, não há condenações. Alguns inquéritos deram origem a indiciamentos, denúncias criminais e ações penais. A PF também investiga se há elos entre os esquemas investigados nos Estados. Em alguns casos, os investigadores e o Ministério Público têm optado por desmembrar as acusações, para facilitar os julgamentos e evitar prescrições.

Os processos mais avançados envolvem desembargadores da Bahia, alvo da Operação Faroeste, a primeira deflagrada pela PF. Cinco desembargadoras - Maria do Socorro Barreto Santiago, Ilona Márcia Reis, Sandra Inês Moraes Rusciolelli Azevedo, Lígia Maria Ramos Cunha Lima e Maria da Graça Osório Pimentel Leal - já respondem a processos criminais por corrupção e lavagem de dinheiro. Sandra Inês foi a primeira desembargadora a fechar um acordo de delação no País. As demais negam as acusações.

A Operação Faroeste começou investigando sentenças favoráveis à grilagem de terras no Oeste da Bahia, que teriam movimentado fortunas. Com o avanço do inquérito, surgiram suspeitas de corrupção também em acordos de recuperação judicial e processos envolvendo débitos de empresas solventes. O esquema de negociação de sentenças era tão amplo que, segundo a Polícia Federal, atendeu grupos rivais. Eles teriam disputado processos com sentenças compradas, aponta a investigação.

Em São Paulo, as suspeitas recaem sobre o desembargador Ivo de Almeida, o principal alvo da Operação Churrascada. Os policiais federais chegaram a fazer buscas no gabinete e na casa do desembargador, onde apreenderam R$ 170 mil em dinheiro vivo. O magistrado foi indiciado pela Polícia Federal por cinco crimes - corrupção passiva, lavagem de dinheiro, associação criminosa, advocacia administrativa e violação de sigilo funcional. Também é alvo de outra investigação, por suspeita de rachadinha. Ele alega ser inocente. Segundo o desembargador, seu nome foi usado por terceiros, pessoas do seu convívio, para negociar decisões, mas tudo sem que tivesse conhecimento.

A investigação no Maranhão se debruça sobre a expedição de alvarás judiciais que resultaram no levantamento de quase R$ 18 milhões do Banco do Nordeste para o pagamento de honorários advocatícios. Segundo a Polícia Federal, magistrados e advogados montaram um esquema para liberar os pagamentos e dividir o dinheiro. Três desembargadores, dois juízes e sete advogados, além de servidores do Tribunal de Justiça do Estado, foram indiciados no último dia 6 de fevereiro. A desembargadora Nelma Celeste Sousa Silva Sarney Costa, cunhada do ex-presidente José Sarney, está na lista. A PF afirma que ela teve um papel "determinante para o sucesso da empreitada criminosa". A magistrada foi procurada, mas não se manifestou sobre as acusações.

O caso mais rumoroso envolve os Tribunais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Conversas sobre a negociação de decisões, encontradas no celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em dezembro de 2023, na porta de seu escritório em Cuiabá, colocaram magistrados na mira da PF.

Um dos interlocutores do advogado era o empresário Andreson de Oliveira Gonçalves, o "lobista dos tribunais", preso em novembro. Os investigadores acreditam que o empresário tinha acesso privilegiado a gabinetes do STJ. A PF suspeita que ele "vendia" a influência a advogados e clientes interessados em comprar decisões. A Polícia Federal busca identificar agora quem teria recorrido aos "serviços" do lobista.

Como as suspeitas chegaram às portas do STJ, o caso foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). O procurador-geral da República Paulo Gonet pediu a transferência para verificar se há envolvimento de ministros. O Superior Tribunal de Justiça descartou a participação de magistrados. Servidores foram afastados e são investigados administrativamente.

O ministro Cristiano Zanin é o relator dos inquéritos no STF. Ele autorizou o desembargador Sérgio Fernandes Martins a reassumir a presidência do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e a deixar de usar tornozeleira eletrônica, mas mantém afastados os desembargadores João Ferreira Filho e Sebastião de Moraes Filho, ambos de Mato Grosso, que seguem monitorados. As defesas não se manifestaram sobre as investigações, alegando que o caso tramita em sigilo.

Antes de assumir o cargo no Tribunal de Mato Grosso do Sul, Sérgio Martins foi sócio do advogado Félix Jayme da Cunha, apontado como operador do esquema de venda de decisões, em um escritório de advocacia em Campo Grande. O desembargador participou de julgamentos que, segundo apontam mensagens obtidas na investigação, foram negociados em troca de propinas. A Polícia Federal investiga se ele tinha conhecimento do esquema. A defesa nega irregularidades e afirma que todas as movimentações financeiras do magistrado são lícitas e estão comprovadas, o que foi reconhecido pelo ministro Cristiano Zanin ao autorizar o retorno dele às funções.

Familiares dos desembargadores de Mato Grosso do Sul também são investigados. As suspeitas envolvem sobretudo os filhos dos magistrados, em sua maioria advogados, que segundo a PF usariam os escritórios para receber propinas sem chamar a atenção dos órgãos de investigação. Os desembargadores e seus filhos mantinham uma relação de proximidade fora do ambiente de trabalho. Fotos obtidas pela Polícia Federal mostram reuniões informais, churrascos e até viagens em grupo.

Cinco desembargadores e três juízes são investigados no Tocantins. A Polícia Federal entregou o primeiro relatório parcial da Operação Máximus em dezembro, já com indiciamentos por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. As acusações se referem especificamente a decisões que favoreceram uma mineradora. Segundo a PF, os desembargadores Helvécio de Brito Maia Oliveira e João Rigo Guimarães receberam propinas para beneficiar a empresa em processos. Eles também não se manifestaram sobre as conclusões da PF.

O dinheiro teria sido entregue em espécie - a Polícia Federal apreendeu R$ 206 mil em dinheiro vivo na casa de Guimarães - e também repassado por contas de empresas de intermediários, incluindo o filho de Oliveira, aponta a investigação.

Polícia do Senado e PM contradizem ministro da Defesa sobre armas no 8/1

Um personagem-chave da investigação é o advogado Daniel Almeida Vaz, apontado como operador do esquema. O celular dele foi apreendido e periciado pela Polícia Federal. As mensagens são consideradas provas essenciais do inquérito porque indicam que os magistrados fizeram pressão para acelerar o pagamento das propinas e demonstraram "insatisfação" com repasses fracionados. Os diálogos foram classificados como "estarrecedores" pela Polícia Federal.

No Espírito Santo, a investigação se debruçou sobre um esquema de fraudes para sacar heranças irregularmente que teria movimentado R$ 7 milhões. O juiz Bruno Fritoli Almeida e outras 19 pessoas foram denunciadas na Operação Follow The Money. A denúncia foi recebida pelo Tribunal de Justiça em dezembro. A defesa alegou no processo que não existem provas suficientes contra ele.

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O presidente americano Donald Trump assinou nesta terça-feira, 10, uma ordem executiva que convoca agências federais dos Estados Unidos a trabalhar com o departamento de Elon Musk, em um novo um esforço de corte de funcionários do governo federal. A assinatura foi antecedida por um encontro de Trump e Musk no Salão Oval da Casa Branca.

A ordem pede que os líderes da agência limitem a contratação a cargos "essenciais", preparem-se para grandes reduções de força e reduzam os preenchimentos após saídas de funcionários. A ordem inclui algumas exceções, como permitir mais contratações de pessoal de segurança nacional e de aplicação da lei.

Segundo a nova ordem executiva, acessada pelo jornal Washington Post, as agências só poderão contratar um novo funcionário para cada quatro que saírem, após o fim do atual congelamento de contratações federais.

O documento também observa que o pessoal e as funções "essenciais para a segurança nacional, segurança pública, aplicação da lei e aplicação da lei de imigração" estão isentos da ordem.

Trump colocou Musk no comando do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) para ajudar a eliminar desperdício, fraude e abuso nos gastos e reduzir a força de trabalho federal de mais de 2 milhões de pessoas.

No Salão Oval nesta terça-feira, o bilionário dono da Tesla e do X fez seus primeiros comentários públicos sobre seu trabalho de supervisão do departamento. Ele afirmou que quer adicionar "controles de senso comum" aos gastos federais e que o dinheiro do contribuinte deve ser gasto com sabedoria.

Musk, sem evidências, ainda declarou que alguns funcionários da agora extinta Usaid estavam recebendo "propinas". Ele disse que "algumas pessoas" na burocracia de alguma forma "conseguiram acumular dezenas de milhões de dólares em patrimônio líquido enquanto estavam nessa posição".

Ele também afirmou que alguns beneficiários de cheques da Previdência Social tinham até 150 anos.

Trump e Musk estão pressionando os funcionários federais a renunciarem em troca de incentivos financeiros, embora o plano esteja atualmente suspenso enquanto um juiz analisa sua legalidade.

O programa de demissão diferida, comumente descrito como uma aquisição, permitiria que os funcionários pedissem demissão e ainda recebessem até 30 de setembro. Autoridades do governo Trump disseram que mais de 65 mil trabalhadores aceitaram a oferta. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O Canadá nomeou um novo "czar do fentanil" do país, cumprindo a promessa feita ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para ajudar a evitar uma tarifa de 25% sobre as exportações do país com destino ao território americano.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, informou que escolheu Kevin Brosseau, com início imediato. Brosseau era o conselheiro adjunto de segurança nacional de Trudeau, após uma carreira na Polícia Montada Real Canadense e em outros postos.

"Brosseau trabalhará em estreita colaboração com os homólogos dos EUA e agências de aplicação da lei para acelerar o trabalho contínuo do Canadá para detectar, interromper e desmantelar o comércio de fentanil", de acordo com comunicado.

O Canadá está tomando medidas significativas para interromper a produção e o tráfico de fentanil ilegal, ampliando a capacidade de detecção nas entradas de fronteira para encontrar drogas e armas ilegais e reduzir o tempo de processamento de contêineres de carga, diz o governo. O país está ainda construindo um centro canadense de análise de drogas para avaliar amostras de drogas ilegais e identificar onde e como essas drogas são fabricadas.

Trudeau prometeu a Trump que nomearia um czar do fentanil e reforçaria os esforços para conter o fluxo de drogas ilegais para os EUA. Em troca, Trump proporcionou um adiamento temporário da tarifa de 25% que ameaçou impor às importações do Canadá e do México devido ao que ele disse serem medidas frouxas de segurança nas fronteiras dos dois vizinhos da América.

O papa Francisco afirmou nesta terça-feira, 11, que a política de deportações em massa adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é uma violação à dignidade humana. Em resposta, o chefe do governo americano para a fronteira, Thomas Homan, disse que o pontífice deveria cuidar "dos assuntos da Igreja Católica".

A crítica do papa foi registrada em uma carta aberta enviada aos bispos americanos. "Eu tenho acompanhado de perto a grande crise que está ocorrendo nos EUA com o início de um programa de deportações em massa", escreve Francisco na carta. "O que é baseado na força, e não na verdade sobre a igual dignidade de cada ser humano, começa mal e terminará mal", acrescenta.

Não foi a primeira vez que o papa Francisco se posicionou em defesa dos migrantes. Em diversas ocasiões, ele falou contra o que considera políticas migratórias não acolhedoras e não cristãs ao redor do mundo. Ele já havia criticado Trump durante as eleições do ano passado, mas esta foi a primeira vez que falou abertamente após o início do governo do republicano.

Após a publicação da carta, o chefe da fronteira de Trump, Thomas Homan, respondeu ao papa em uma coletiva de imprensa concedida na Casa Branca. "Quero que ele cuide dos assuntos do Vaticano e deixe a fiscalização das fronteiras conosco", afirmou.

"Querem nos atacar porque garantimos a segurança de nossas fronteiras? Há um muro ao redor do Vaticano, certo? Não podemos ter um muro ao redor dos Estados Unidos", acrescentou.

Na carta, o papa reconhece "o direito de uma nação de se defender e de manter as suas comunidades a salvo daqueles que cometeram crimes violentos ou graves enquanto estavam no país ou antes de chegarem", mas diz que deportar pessoas em situação de vulnerabilidade "prejudica a dignidade de muitos homens e mulheres, e de famílias inteiras".

Segundo especialistas, o tom adotado pelo pontífice na carta difere de outras críticas do papa aos EUA. "Isso aumenta a intensidade do conflito (de relacionamento entre EUA e Vaticano)", disse Massimo Faggioli, professor de teologia na Universidade Villanova, na Pensilvânia.

Trump promoveu uma abordagem conservadora e religiosa durante a campanha eleitoral e tem membros católicos no seu governo, como o vice-presidente J.D. Vance.

O presidente, que declarou que "Deus salvou" a sua vida quando um homem lhe disparou durante um comício na Pensilvânia em plena campanha eleitoral, ordenou por decreto a abertura de um Gabinete de Fé na Casa Branca, dirigido pela televangelista Paula White, sua conselheira espiritual.

"Isso mudou alguma coisa em mim", confessou o republicano durante um café da manhã de oração no Capitólio na semana passada. "Eu acreditava em Deus, mas agora sinto isso com muito mais força", declarou. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)