Polônia pede ajuda à Otan e fala em 'risco de guerra' após abater drones russos

Política
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A Polônia acionou o artigo 4 da Aliança Militar do Atlântico Norte (Otan) e falou em risco de guerra com a Rússia após diversos drones russos sobrevoarem o território polonês na manhã desta quarta-feira, 10 (madrugada no Brasil). Caças da Otan e equipamentos de defesa aérea, como os mísseis Patriot, foram utilizados para abater os drones, disseram as autoridades. A Rússia negou as violações.

O episódio marca um raro confronto entre Moscou e a aliança, liderada pelos EUA, e aumenta o risco de uma guerra em larga escala na Europa. O artigo 4, ativado pela Polônia, convoca os Estados membros da aliança a discutem se houve violação à integridade territorial, a independência política ou a segurança de qualquer país da aliança.

A última vez que o artigo havia sido convocado foi em fevereiro de 2022, justamente quando a Rússia decidiu invadir a Ucrânia.

O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, afirmou em discurso ao Parlamento polonês que a primeira violação do espaço aéreo polonês foi registrada por volta das 23h30 desta terça-feira (9) e a última, às 6h30 desta quarta. Ao todo, a Polônia registrou 19 violações do espaço aéreo. "Isso dá uma ideia da escalada", afirmou. "Durou a noite inteira."

Tusk acrescentou que o episódio cruza um limite que até então não havia sido violado na guerra. "Não tenho motivos para afirmar que estamos à beira da guerra, mas uma linha foi cruzada e é incomparavelmente mais perigoso que antes", disse. "Esta situação nos aproxima mais do que nunca de um conflito aberto desde a Segunda Guerra Mundial."

O Comando Operacional Militar da Polônia afirmou em um comunicado que a ação russa equivale a uma violação sem precedentes do espaço aéreo polonês e representa "uma ameaça real" aos cidadãos.

A Rússia negou as alegações de violação. O encarregado de negócios russos na Polônia, Andrei Ordash, disse que as acusações são infundadas. "Não foi apresentada nenhuma evidência de que esses drones sejam de origem russa", disse. Questionado sobre o episódio, o Ministério da Defesa da Rússia declarou que "nenhum alvo em território polonês foi planejado".

Segundo o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, a defesa contra os drones foi feita com o uso de caças F-16 poloneses, F-35 holandeses e aeronaves de vigilância AWACS italianas estavam envolvidos na resposta à violação do espaço aéreo polonês, assim como um avião-tanque de reabastecimento ar-ar da Otan e um sistema de defesa aérea alemão Patriot.

Rutte acrescentou que os aliados da Otan "expressaram solidariedade à Polônia" nesta quarta e fazem uma avaliação da situação. "[O incidente] só reforça a importância da Otan", disse. "Os aliados estão determinados a defender cada centímetro do território aliado."

A violação do espaço aéreo polonês é sensível por arriscar a ativação do Artigo 5 do tratado da Otan, que considera um ataque a um aliado como ataque a todos os membros - o que incluiria os EUA. O país ameaçado deve solicitar a invocação da cláusula de defesa comum, e os outros 31 aliados devem concordar unanimemente em fazê-lo.

O presidente ucraniano Volodmir Zelenski declarou nas redes sociais que a violação do espaço aéreo polonês foi "um precedente extremamente perigoso para a Europa" e repetiu os apelos para que os aliados da Ucrânia aumentassem as sanções contra Moscou. "Moscou sempre testa os limites do que é possível e, se não encontrar uma reação forte, permanece em um novo nível de escalada", afirmou.

Kaja Kallas, representante de relações exteriores da União Europeia, disse que esta foi "a violação mais grave do espaço aéreo europeu pela Rússia desde o início da guerra, e há indícios de que foi intencional, não acidental".

Mais cedo, a Polônia informou ter fechado temporariamente pelo menos dois aeroportos, incluindo o Aeroporto Chopin, em Varsóvia, e o Aeroporto Rzeszow-Jasionka, no sudeste. O espaço aéreo sobre o Aeroporto Chopin foi reaberto depois dos drones serem abatidos, embora as autoridades tenham informado que atrasos e interrupções são esperados ao longo do dia. O exército polonês também alertou cidadãos para ficarem em casa, em especial nas regiões de Podlaskie, Mazowieckie e Lublin.

Precedentes

Em novembro de 2022, um míssil que a Otan considerou ser um míssil de defesa aérea ucraniano errante, lançado em resposta a ataques russos, caiu em território polonês e matou duas pessoas. Inicialmente, suspeitou-se que o míssil era de origem russa.

A Romênia também relatou fragmentos de drones russos pousando em seu território em 2023, mas não invocou a Otan.

O episódio desta quarta-feira, no entanto, chama a atenção pelo número de violações e pela rota dos drones, que entraram no espaço aéreo da Polônia através das fronteiras com Belarus. "A novidade é a direção de onde vieram os drones que violaram o espaço aéreo polonês - pela primeira vez na história desta guerra, eles não vieram da Ucrânia, [mas] uma parcela significativa dos drones sobrevoou a Polônia diretamente de Belarus", disse Tusk.

Belarus, aliada da Rússia, emitiu um comunicado que classificou o episódio - sem apresentar provas - como um acidente.

Os incidentes na Polônia ocorrem no momento em que Moscou intensifica os ataques aéreos contra a Ucrânia, tendo lançado o maior no domingo, com mais de 800 drones e 13 mísseis. O ataque, que durou horas, atingiu o principal prédio do governo em Kiev pela primeira vez na guerra e matou pelo menos três pessoas.

O ataque russo noturno que incluiu a violação do espaço aéreo polonês incluiu 415 drones, 42 mísseis de cruzeiro e um míssil balístico em um ataque que atingiu várias regiões ucranianas, incluindo Kiev, disse a força aérea da Ucrânia em um comunicado. (Com agências internacionais).

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A ameaça que o conflito entre Rússia e Ucrânia se espalhe por mais países europeus existe e é um dos temas tratados, ainda que de forma tangencial, pelo guia "Todos são Responsáveis" lançado nesta quinta-feira pelo governo francês.

O documento alerta para os procedimentos a serem adotados caso "o funcionamento normal da sociedade seja de alguma forma perturbado" - e isso inclui ciberataques - uma forma moderna de terrorismo muito em voga no continente. Tempestades, inundações, ciberataques, crises sanitárias e ainda conflitos armados: como nossa sociedade é confrontada com a multiplicação de ameaças" diz o documento explicando a necessidade do guia. Há instruções para a montagem de kits de sobrevivência, com a recomendação de armazenagem de seis litros de água por pessoa, por exemplo.

Dividido entre 'cuidados básicos' - como comer, beber e manter-se aquecido - a cartilha também enumera quais os riscos aos quais a França está atualmente exposta. A Rússia não é citada diretamente no documento do governo francês, mas a nova guerra travada no continente é lembrada, ao lado do conflito no Oriente Médio, entre Israel e o grupo Hamas. Na manhã desta quinta-feira, o ministro da Defesa, Fabien Mandon, disse que as famílias francesas precisam "estar preparadas para perderem seus filhos".

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um projeto de lei que obriga seu governo a divulgar todos os arquivos relacionados ao caso Jeffrey Epstein, após meses de resistência e sob pressão crescente dentro do próprio Partido Republicano. Segundo ele, a insistência democrata no tema busca "desviar a atenção de nossas VITÓRIAS MARAVILHOSAS", escreveu na Truth Social.

A legislação determina que o Departamento de Justiça publique, em até 30 dias, todos os documentos e comunicações referentes a Epstein, incluindo informações sobre a investigação de sua morte em uma prisão federal em 2019. O texto permite apenas redações vinculadas à proteção de vítimas ou a investigações em curso, proibindo retenções por "constrangimento, dano reputacional ou sensibilidade política".

A aprovação simboliza uma reviravolta para uma pauta que inicialmente parecia improvável, apoiada por uma coligação pouco usual de democratas, um republicano crítico do presidente e alguns ex-aliados de Trump. Diante do avanço inevitável no Congresso, Trump fez no fim de semana uma guinada abrupta, afirmando que o tema havia se tornado uma "distração" para a agenda republicana. "Não quero que os republicanos tirem os olhos de todas as vitórias que tivemos", escreveu na terça-feira.

A Câmara aprovou o texto por 427 votos a 1, com o deputado Clay Higgins, da Louisiana, como único dissidente, alegando que a linguagem poderia expor pessoas inocentes citadas na investigação. O Senado aprovou a proposta por unanimidade, sem votação formal.

Trump foi amigo de Epstein no passado, embora diga ter cortado laços muito antes das acusações e desconhecer os crimes cometidos pelo financista. Antes de seu retorno à Casa Branca, aliados próximos ajudaram a alimentar teorias de acobertamento na condução federal do caso, apontando possível ocultação de informações sensíveis nos arquivos.

O presidente Donald Trump anunciou, na noite desta quarta-feira, 19, que ele e o prefeito eleito da cidade de Nova York, Zohran Mamdani, vão se encontrar nesta sexta-feira, 21, para uma reunião na Casa Branca. O anúncio foi feito pelo republicano através da Truth Social.

"O prefeito comunista solicitou uma reunião", escreveu, afirmando em seguida que dará "mais detalhes em breve". O encontro deve acontecer no Salão Oval do palácio presidencial, local onde nos últimos meses Trump constrangeu de Volodmir Zelenski, presidente ucraniano, a Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul.

Esta semana, o mandatário recebeu o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e o jogador de futebol português (que atua agora pelo Al Nassr) Cristiano Ronaldo. Mamdani ainda não se pronunciou sobre o assunto. Mas na segunda-feira, 17, ele adiantou a possibilidade do encontro afirmando que sua equipe havia entrado em contato com a Casa Branca para agendar uma possível reunião. No domingo, 16, Trump disse a repórteres que planejava se encontrar com Mamdani.

Desde o período de campanha, Trump chama o novo prefeito eleito, que se intitula como socialista democrata, de "comunista". O presidente americano chegou a ameaçar deportar Mamdani, que nasceu em Uganda e se naturalizou cidadão americano em 2018, e cortar verbas federais da cidade.

(Com informações de AP)