Vitorino Freire, onde o asfalto só chega na terra do ministro Juscelino Filho

Política
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Nos últimos cinco anos, o município de Vitorino Freire, no interior do Maranhão, teve R$ 20 milhões para investir em asfalto. Com cerca de um terço da população vivendo em ruas de terra, a obra mais cara de pavimentação contratada pela prefeitura foi a da estrada que corta oito fazendas do ministro das Comunicações, Juscelino Filho; da irmã, a prefeita Luanna Rezende, e de outros parentes. Ao custo de R$ 5 milhões, garantidos com verba do orçamento secreto direcionada pelo ministro a seu reduto eleitoral, a intervenção custará 25% de tudo o que a prefeitura pôde investir para asfaltar ruas entre 2017 e 2022.

A 300 quilômetros de São Luís, Vitorino Freire é um município pobre do interior maranhense, com a política sob influência da família de Juscelino Filho desde os anos 1970. A maior parte da população depende de auxílios do governo e vive em ruas sem urbanização, de acordo com dados do Cadastro Único. Apesar desse cenário, uma das prioridades municipais é a estrada das fazendas, onde Juscelino também tem uma pista de pouso e um heliponto particulares.

A justificativa técnica para a obra na estrada das fazendas, revelada pelo Estadão, é uma incógnita. A prefeitura não respondeu os pedidos de explicação feitos pela reportagem. Questionado, o secretário de Administração, Josué Lima de Alencar, responsável pela licitação, tentou esclarecer assim: "Quando tem a necessidade é feita a escolha. A gente faz o levantamento das ruas e escolhe os trechos".

A pavimentação está na fase inicial. Ao longo dos 19 quilômetros, dos quais mais da metade passa pelas fazendas, as casas são escassas. Quem vive por ali costuma ganhar a vida na roça. Uma opção de trabalho para os povoados das cercanias é justamente as terras da família de Juscelino, literalmente cortadas pela via. A informalidade é uma marca de Vitorino Freire. Apenas 6,7% dos habitantes tinham ocupação, de acordo com o IBGE de 2020.

Contratos

O naco do orçamento secreto que Juscelino Filho enviou para pavimentação da estrada que o beneficia garantiu um dos maiores contratos firmados pela gestão de sua irmã, a prefeita Luanna Rezende. Nas redes sociais, o ministro se referiu a "centenas" de beneficiados, mas a prefeitura não informou o número exato até agora.

Juscelino nunca havia enviado tanto dinheiro para asfaltar uma rua na cidade, segundo dados disponíveis em portais da transparência de Vitorino Freire, do governo federal e da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Como mostrou o Estadão, parte das obras tem sido tocada por empresas de amigos, ex-assessores e integrantes de seu núcleo familiar.

Muitos vitorinenses não entenderam o critério para a seleção da estrada das fazendas, sobretudo porque bairros da área mais urbana da cidade ainda têm ruas de terra que viram lama em períodos chuvosos. "Eu moro em área urbana há mais de dez anos, em rua não calçada. Não seria melhor asfaltar aqui e beneficiar a mim e meus vizinhos?", escreveu um morador no Instagram do ministro. "Tanto dinheiro jogado fora vai servir pra ele não pegar poeira até a fazenda", comentou outro.

"Enquanto isso, o povo que aguente as ruas esburacadas. Eles tentam entrar em contato com a prefeita para ajeitar as ruas, mas não dão um sinal de resposta", disse mais uma seguidora. Cobranças de explicações e queixas sobre outras ruas não pavimentadas, à espera de serviços, levaram o político a restringir novos comentários na rede social.

Vitorino Freire tem 33 mil habitantes. Na comparação com cidades do mesmo porte, o reduto de Juscelino Filho foi privilegiado com repasses federais para pavimentação. Em Cururupu, município de 32 mil habitantes que fica no Norte do Estado, 87% das pessoas estão em ruas de terra. De 2016 a 2022, a cidade recebeu R$ 1,4 milhão para asfaltar ruas. No mesmo período, Vitorino Freire obteve R$ 19 milhões, dos quais R$ 8,4 milhões diretamente de Juscelino.

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O governo da Alemanha anunciou nesta sexta-feira, 5, que chegou a um acordo sobre o orçamento para 2025, junto a um pacote de estímulos para a maior economia da Europa. O acordo ameniza uma disputa política que durou meses e ameaçava acabar com a coalizão de centro-esquerda do chanceler Olaf Scholz.

Scholz, um social-democrata, e os líderes dos Democratas Livres e dos Verdes chegaram a um acordo sobre os planos, incluindo maiores gastos com defesa e moradias acessíveis, após uma maratona de negociações que se arrastou até a madrugada de sexta-feira. Scholz disse que os ministros aprovariam formalmente o plano em uma reunião do Gabinete no final deste mês.

Ao equilibrar a segurança, a coesão social e o crescimento econômico, Scholz afirmou que o orçamento foi projetado para tranquilizar os cidadãos inquietos com a guerra na Ucrânia, os impactos das mudanças climáticas e a migração irregular, além de oferecer uma alternativa às políticas "separatistas" dos partidos de extrema direita que estão ganhando espaço em toda a Europa.

Para apoiar o crescimento econômico, o governo planeja criar incentivos para investimentos, inclusive permitindo que as empresas reduzam o valor dos ativos mais rapidamente, apoiem a pesquisa e o desenvolvimento, reduzam a burocracia e promovam o desenvolvimento de energia renovável.

Os líderes da oposição rebateram que estavam céticos em relação à aritmética orçamentária do governo, especialmente em relação à sua capacidade de financiar um orçamento de defesa ampliado, e previram que os parceiros da coalizão se desentenderiam novamente em relação aos detalhes.

Nos últimos meses, a coalizão de Scholz enfrentou uma série de disputas internas, após a Corte Constitucional Federal da Alemanha considerar ilegais as manobras do governo para manter a expansão de gastos caracterizados como "emergenciais". Os partidos da coalizão tinham visões divergentes sobre a suspensão do chamado "freio da dívida" e os desentendimentos alimentaram especulação sobre colapso do governo, capaz de provocar eleições parlamentares antecipadas na Alemanha. Fonte: Associated Press.

O governo do novo primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, confirmou, nesta sexta-feira, 5, a nomeação da parlamentar Rachel Reeves ao cargo de ministra das Finanças do país. Ela se torna a primeira mulher da história a ocupar a posição. Reeves, de 45 anos, é economista formada pela London School of Economics (LSE) e começou a carreira como funcionária do Banco da Inglaterra (BoE). Em 2010, foi eleita ao Parlamento Britânico e rapidamente ascendeu na estrutura do Partido Trabalhista. Em 2021, Reeves foi nomeada ao gabinete paralelo da oposição, no posto análogo ao de ministra das Finanças.

Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, se tornou oficialmente primeiro-ministro do Reino Unido nesta sexta-feira, 5, após reunião com o rei Charles III. Após um cerimonial aperto de mãos, o monarca convidou o trabalhista para o cargo e lhe concedeu a bênção para que forme um governo em seu nome.

Ele se encontrou com o rei no Palácio de Buckingham, como manda o ritual após a vitória esmagadora de seu partido sobre o Partido Conservador. Então ele fez um discurso do lado de fora do número 10 da Downing Street, sua nova residência oficial, onde afirmou que "a mudança começa agora". O novo premiê prometeu liderar um governo pragmático que restauraria a esperança e a fé da nação na política e no serviço público.

Starmer levou o Partido Trabalhista a uma enorme vitória eleitoral e se tornou o primeiro líder do partido de centro-esquerda a vencer uma eleição nacional no Reino Unido desde Tony Blair , que venceu três eleições consecutivas a partir de 1997.

Em seu primeiro discurso como premiê, Starmer começou elogiando seu antecessor, Rishi Sunak, que havia feito suas próprias breves observações de despedida do mesmo local algumas horas antes.

"Precisamos avançar juntos", disse sob um céu nublado de tarde e acompanhado de sua esposa Victoria. "Não tenham dúvidas de que o trabalho de mudança começa agora", disse ele.

Starmer mencionou poucas políticas específicas em seus comentários, falando de um governo "não sobrecarregado pela doutrina", prometendo trabalhar de forma pragmática por todos os britânicos, unir a nação e governar com respeito e humildade.

"Quer você tenha votado no Partido Trabalhista ou não - na verdade, especialmente se não votou -, digo diretamente a você: 'Meu governo servirá a você'", disse ele. "A política pode ser uma força para o bem. Nós mostraremos isso."

Os britânicos, disse ele, deram ao seu partido "um mandato claro, e nós o usaremos para entregar mudança, para restaurar o serviço e o respeito à política, encerrar a era da performance barulhenta, interferir menos em suas vidas e unir nosso país."

Falando sobre a necessidade de escolas e moradias acessíveis, Starmer prometeu reconstruir a "infraestrutura de oportunidades" do país "tijolo por tijolo".

Com quase todas as 650 disputas declaradas, o Partido Trabalhista havia conquistado mais de 410 cadeiras e os Conservadores estavam a caminho de menos de 130. Essa seria a pior derrota para os Conservadores nos quase 200 anos de história do partido.

Mas também foi um resultado excepcionalmente fragmentado, com ganhos não apenas para o partido Reformista britânico, de direita radical, mas para o Partido Verde e para candidatos independentes pró-Palestina em assentos trabalhistas antes seguros.

Starmer assumiu a residência oficial cerca de duas horas depois que o líder conservador Rishi Sunak e sua família deixaram a casa e o rei aceitou a renúncia do líder conservador.

"Este é um dia difícil, mas deixo este trabalho honrado por ter sido primeiro-ministro do melhor país do mundo", disse Sunak em seu discurso de despedida.

Sunak admitiu a derrota no início da manhã desta sexta, dizendo que os eleitores haviam dado um "veredicto preocupante".

Em um discurso reflexivo de despedida no mesmo lugar onde havia convocado eleições antecipadas seis semanas antes, Sunak desejou tudo de bom a Starmer, mas também reconheceu seus erros.

"Ouvi sua raiva, sua decepção, e assumo a responsabilidade por essa perda", disse Sunak. "A todos os candidatos e ativistas conservadores que trabalharam incansavelmente, mas sem sucesso, lamento que não tenhamos conseguido entregar o que seus esforços mereciam" (Com agências internacionais).