Huck: Sem governo de transição, ficaremos reféns dos extremos nas eleições

Política
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O apresentador Luciano Huck defendeu a construção de um governo de transição sob o risco de o Brasil ficar "refém" dos extremos nas próximas eleições presidenciais. Os dois projetos políticos colocados hoje, em referência ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, olham, na sua visão, o País pelo retrovisor, de vitórias do passado.

"Precisamos construir um governo de transição. Se não fizermos isso, vamos acabar como reféns dos extremos. Precisamos de um candidato que não seja personalista, que não queira reeleição de cara. Isso está nos atrapalhando hoje", disse ele, durante live, promovida na noite deste domingo, 27, pelo Parlatório.

Para Huck, o Brasil precisa de "oxigênio em meio à tanta falta de ar" nos dias atuais. Ele, que se retirou do jogo eleitoral para substituir Fausto Silva aos domingos na programação da TV Globo, disse que o País vive um "desgoverno" de uma forma "assustadora".

"Acredito que nós não vamos ter uma terceira via grupo de zoom, gabinete, Avenida Faria Lima, Leblon... Só vai fazer isso se a gente se conectar com a rua", defendeu. Durante suas respostas a um painel virtual de ex-ministros, economistas e empresários, reforçou a importância da "conexão com a rua".

Ao responder uma pergunta do ex-presidente Michel Temer, Huck afirmou que o próximo governo terá de reconstruir as relações internacionais. Segundo ele, é uma "vergonha" não ver o País na liderança de uma agenda global, principalmente sob a ótica do meio ambiente.

Huck repetiu ainda a promessa de que permanecerá no debate político mesmo após sua desistência de se candidatar à presidência. "Não me vejo dentro ou fora. Eu nunca mais saio do debate", disse o apresentador, ressaltando sua experiência na TV e sua "capacidade de influência".

A live é organizada pelo Parlatório, uma organização sem fins lucrativos, e ocorre neste domingo. Entre os participantes do encontro virtual estão o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o atual presidente do Credit Suisse no Brasil, José Olympio, os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Luiz Fernando Furlan, além de empresários como Chaim Zaher, Jorge Gerdau, dentre outros.

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O governo Javier Milei orientou a delegação da Argentina a não participar da reunião ministerial de alto nível do Fórum China-Celac, realizada em Pequim na terça-feira, 13. "A República Argentina esteve ausente da plenária ministerial da 4ª Reunião do Fórum China-Celac e não participou da adoção destes documentos", informa a Declaração de Pequim.

Na prática, a diplomacia argentina compareceu em um nível diplomático mais baixo, apenas para informar que não bloquearia a discussão, mas também não participaria das decisões.

Na Celac e em outros fóruns, como G20, OEA e Mercosul, e até nas Nações Unidas, o governo Milei adotou uma postura de tentar barrar temas e complicar consensos.

A China é um relevante parceiro comercial da Argentina, mas os laços políticos estão conturbados, com gestos às vezes ideológicos, às vezes pragmáticos de Milei.

Diplomatas brasileiros interpretaram a instrução de Javier Milei como mais um sinal de atuação em favor dos interesses do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com quem o argentino tem uma relação muito próxima.

A declaração final do mecanismo usado pelo presidente Xi Jinping para estreitar elos com a América Latina e o Caribe revela que a Costa Rica, outro país próximo dos EUA, também se dissociou do bloco, pontualmente.

Já no plano de ação 2025-2027, aparece a mesma estratégia de esvaziamento por parte da Argentina, enquanto Costa Rica e o Equador, de Daniel Noboa, mais uma vez não aceita o tema da guerra comercial.

"As partes promoverão esforços para construir mecanismos de cooperação, resolver disputas comerciais por meio de diálogo construtivo, administrar adequadamente os atritos comerciais e abordar medidas coercitivas unilaterais que afetam a economia, o comércio e o investimento", diz o texto.

Xi Jinping fez questão de elevar o peso político do Fórum China-Celac, originalmente apenas uma reunião de ministros com os 33 países do grupo. O líder chinês procurou ser um contraponto a Trump com o evento e reforças elos políticos.

Na abertura, Xi anunciou uma linha de crédito de US$ 9,1 bilhões para a região, isenção de visto para cinco países - no momento em que Trump deporta imigrantes em massa - e milhares de bolsas de estudo e viagens à China, entre outros.

O chinês também reagiu às tarifas de Donald Trump, dizendo que não há vencedores em uma guerra comercial, e buscou mais influência política na América Latina e no Caribe. Por isso, um parágrafo do comunicado final, proposto originalmente pelos anfitriões chineses e emendado pelos demais países, reafirmava o "apoio a um sistema multilateral de comércio justo, transparente e baseado em regras".

"O governo da República da Costa Rica se desassocia deste parágrafo", registra o documento.

Como o Estadão revelou, a China tentou usar o comunicado oficial de um fórum multilateral para arrancar apoios mais explícitos a questão que os países decidem bilateralmente. Isso desagradou e fez com que a negociação diplomática se prolongasse.

No fim, o princípio político de uma só China, base para reivindicação de soberania sobre Taiwan, foi mantido, mas com validade apenas para aliados de Pequim. E a menção à Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), projeto de infraestrutura global que ficou na mira dos EUA, foi suavizado, para não parecer um endosso completo.

"Reconhecemos as contribuições das partes envolvidas na Iniciativa do Cinturão e Rota, que apoiou o desenvolvimento econômico e social em algumas áreas de ambas as regiões", resume a declaração.

Por outro lado, a China deixou também de apoiar explicitamente o pleito da América Latina e do Caribe para indicar o próximo secretário geral da ONU, em campanha patrocinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O apoio seria um passo importante, mas a China afirmou apenas que tomou nota do pleito.

Boric e Petro

Com outra postura, os presidentes do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro, ambos com histórico de relações privilegiadas com Washington, fizeram questão de viajar a Pequim.

O Chile foi o primeiro país latino-americano a ter um acordo de livre comércio com os EUA e recebeu 10% no tarifaço de Trump, como quase todos os demais da região. Boric pediu ajuda ao Palácio do Planalto para azeitar a agenda com Xi Jinping de última hora.

Já Petro, cujo país também possui relação extensa com os EUA, inclusive em Defesa e segurança, usou sua passagem pela capital chinesa para anunciar a adesão colombiana à Nova Rota da Seda.

Na segunda-feira, 12, o Conselho da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que cuida da aviação civil, responsabilizou a Rússia pelo acidente envolvendo o voo da Malaysia Airlines abatido em 2014 na Ucrânia. Os 298 passageiros e tripulantes morreram. O governo russo sempre negou qualquer envolvimento no caso.

O avião, um Boeing 777 que transportava pessoas de 30 países diferentes, foi abatido por um míssil russo lançado por separatistas na região de Donetsk, no leste ucraniano, e foi um prenúncio do conflito que resultou na invasão da Rússia na Ucrânia em 2022. Confira a seguir perguntas e respostas sobre o caso, desde o acidente há 11 anos até a decisão atual.

O que aconteceu com o voo MH17 da Malaysia Airlines?

Em 17 de julho de 2014, o voo MH17, um Boeing 777 que viajava de Amsterdã para Kuala Lumpur, foi abatido enquanto sobrevoava a região de Donetsk, no leste da Ucrânia. Todas as 298 pessoas a bordo morreram.

Quem estava na aeronave?

Das 298 vítimas, 196 eram holandesas, 42 eram malaias e 27 eram australianas - ao todo, cidadãos de 30 países estavam a bordo do avião.

Quem foi considerado responsável pela queda na época?

A Ucrânia acusou separatistas pró-Rússia de terrorismo, enquanto a Rússia responsabilizou a Ucrânia. Autoridades ocidentais desde o início suspeitaram de que o avião foi atingido por um míssil.

O que as investigações internacionais concluíram?

Dois anos após a queda do jato, investigações apontaram que o Boeing foi abatido por um míssil Buk 9M38, disparado do território separatista de Donetsk, controlado por rebeldes apoiados pela Rússia, utilizando um lançador móvel russo. A unidade militar russa que forneceu o míssil também foi identificada.

Qual foi o resultado do julgamento na Holanda em 2022?

Um tribunal holandês condenou à prisão perpétua três homens, sendo dois russos e um ucraniano, com ligações com serviços de segurança russos pelo abate do voo. Eles foram considerados culpados de ajudar a organizar o transporte do sistema de mísseis BUK para a Ucrânia, embora não tenham disparado o míssil. Um quarto suspeito foi absolvido.

Qual a posição da Rússia sobre as acusações e o julgamento?

O Kremlin sempre negou qualquer envolvimento na queda do MH17 e afirmou que o tribunal holandês estava sob pressão política, desrespeitando os princípios da justiça imparcial.

A investigação sobre o caso foi encerrada?

Em 2023, os investigadores internacionais suspenderam as investigações por considerarem que não havia provas suficientes para processar outros suspeitos.

Qual foi a decisão recente da agência da ONU?

O Conselho da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), determinou que a Rússia foi a responsável pelo abate da aeronave que fazia o MH17 em 2014. O órgão considerou que a Rússia não cumpriu suas obrigações sob o direito aéreo internacional.

Na prática, o que a decisão da OACI significa?

A decisão da OACI foi considerada histórica na busca por justiça e responsabilização pelas vítimas. Austrália e Holanda pedem que a Rússia aceite sua responsabilidade e repare sua conduta. (Com agências internacionais).

O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica morreu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos, em Montevidéu, em decorrência de complicações de um câncer no esôfago. Ícone da esquerda latino-americana, Mujica construiu ao longo de duas décadas uma relação próxima com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcada por afinidades políticas, gestos de solidariedade e amizade pessoal.

O governo brasileiro prestou condolências por meio do Itamaraty, que classificou o uruguaio como "um dos mais importantes humanistas de nossa época" e "grande amigo do Brasil". A ligação entre os dois começou em 2005, quando Mujica, então senador, participou da posse do presidente Tabaré Vázquez. Lula, presente na cerimônia, ficou impressionado com o discurso do político uruguaio.

A relação se aprofundou a partir de 2010, quando ambos estavam na Presidência. Nesse período, firmaram acordos em áreas como agricultura, energia e defesa, sempre sob a bandeira da integração regional. Defensores do Mercosul e da Unasul, discutiram ainda propostas como a criação de uma moeda comum na região.

Momentos simbólicos reforçaram os laços entre os dois. Em 2018, Mujica visitou Lula na prisão em Curitiba, durante a Operação Lava Jato. "Ele estava de bom humor e preocupado com a América Latina", disse o uruguaio à época. Quatro anos depois, durante a campanha presidencial de 2022, Mujica participou da última caminhada de Lula na Avenida Paulista antes do segundo turno.

O reencontro mais emblemático ocorreu em janeiro de 2023, já com Lula de volta à Presidência. Em Montevidéu, os dois se encontraram na chácara de Mujica. A imagem dos líderes sentados em cadeiras de plástico e posando dentro do icônico Fusca azul do uruguaio viralizou nas redes.

Em dezembro de 2024, Lula concedeu a Mujica o grande colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, maior honraria do Brasil a estrangeiros. "Essa medalha que estou entregando ao Pepe Mujica não é pelo fato de ele ter sido presidente do Uruguai. Posso dizer que de todos os muitos presidentes que conheci, que tive amizade, o Pepe é a pessoa mais extraordinária", declarou.

Em resposta, Mujica disse: "Não sou um homem de prêmios e medalhas. Sou um homem do povo. Obrigado por termos nos encontrado nessa caminhada."

O último encontro entre ambos foi em março deste ano, durante a posse do presidente Yamandú Orsi, sucessor político de Mujica. Já sem tratar o câncer, o ex-presidente uruguaio recebeu de Lula o desejo de vida longa. Em nota, o presidente brasileiro chegou a dizer que Mujica está acima da média dos seres humanos.