Políticos de 26 países alertam sobre 'insurreição' contra democracia do Brasil

Política
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Na véspera das manifestações de 7 de Setembro, convocadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e seus apoiadores, ex-presidentes, intelectuais, parlamentares e ministros de 26 países alertam para o risco de os atos criarem "uma possível insurreição" que "colocará em perigo a democracia no Brasil". A preocupação com "um golpe de Estado" está formalizada em uma carta divulgada nesta segunda-feira, 6.

"Neste momento, o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados - incluindo grupos supremacistas brancos, a polícia militar e funcionários públicos em todos os níveis de governo - estão preparando uma marcha nacional contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso em 7 de setembro, aumentando os temores de um golpe de Estado na terceira maior democracia do mundo", diz o documento.

O texto ressalta que autoridades internacionais estão atentas para os acontecimentos no Brasil e não serão tolerantes com qualquer ruptura democrática. "Estamos profundamente preocupados com a ameaça iminente às instituições democráticas do Brasil - e estaremos vigilantes em defendê-las antes e depois de 7 de Setembro. O povo brasileiro tem lutado durante décadas para garantir a democracia contra o domínio militar. Não devemos permitir que Bolsonaro os tire agora."

O documento cita as ameaças de Bolsonaro, nas últimas semanas, que moldaram a escalada dos ataques de contra instituições democráticas. "Em 10 de agosto, ele organizou um desfile militar sem precedentes pela capital, Brasília, e seus aliados no Congresso impulsionaram reformas radicais no sistema eleitoral do país, amplamente considerado um dos mais confiáveis do mundo. Bolsonaro e seu governo têm - repetidamente - ameaçado cancelar as eleições presidenciais de 2022 se o Congresso não aprovar essas reformas."

O documento foi divulgado na manhã desta segunda pela Progressive International, uma rede global progressista que monitora o avanço da direita no mundo.

Leia a íntegra da carta e seus signatários:

"Nós, representantes eleitos e líderes de todo o mundo, soamos o alarme: Em 7 de setembro de 2021, uma possível insurreição colocará em perigo a democracia no Brasil.

Neste momento, o Presidente Jair Bolsonaro e seus aliados - incluindo grupos supremacistas brancos, a polícia militar e funcionários públicos em todos os níveis de governo - estão preparando uma marcha nacional contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso em 7 de setembro, aumentando os temores de um golpe de Estado na terceira maior democracia do mundo.

Bolsonaro tem intensificado seus ataques às instituições democráticas do Brasil nas últimas semanas. Em 10 de agosto, ele organizou um desfile militar sem precedentes pela capital, Brasília, e seus aliados no Congresso impulsionaram reformas radicais no sistema eleitoral do país, amplamente considerado um dos mais confiáveis do mundo. Bolsonaro e seu governo têm - repetidamente - ameaçado cancelar as eleições presidenciais de 2022 se o Congresso não aprovar essas reformas.

Agora, Bolsonaro convoca seus apoiadores para viajar a Brasília em 7 de setembro, num ato de intimidação das instituições democráticas do país. De acordo com uma mensagem compartilhada pelo presidente em 21 de agosto, a marcha está em preparação para um 'necessário contragolpe' contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. A mensagem afirmava que a 'Constituição comunista' do Brasil havia retirado o poder de Bolsonaro, e acusava o 'Poder Judiciário, a esquerda e todo um aparato, inclusive internacional, de interesses escusos' ao conspirar contra ele.

Parlamentares do Brasil advertem que a mobilização de 7 de setembro tem sido moldada pela insurreição na capital dos EUA em 6 de janeiro de 2021, quando o então presidente Donald Trump incitou seus partidários a "parar o roubo" com falsas alegações de fraude eleitoral nas eleições presidenciais de 2020.

Estamos profundamente preocupados com a ameaça iminente às instituições democráticas do Brasil - e estaremos vigilantes em defendê-las antes e depois de 7 de setembro. O povo brasileiro tem lutado durante décadas para garantir a democracia contra o domínio militar. Não devemos permitir que Bolsonaro os tire agora.

Assinado,

José Luis Rodriguez Zapatero, Former Prime Minister, Spain

Fernando Lugo, Fmr President, Paraguay

Adolfo Pérez Esquivel, Nobel Laureate, Argentina

Noam Chomsky, Professor, USA

Yanis Varoufakis, Member of Parliament, Greece

Ernesto Samper, Fmr President, Colombia

Jeremy Corbyn, Member of Parliament, United Kingdom

Cori Bush, Member of the House of Representatives, USA

Jean-Luc Melenchon, Member of the National Assembly, France

Gustavo Petro, Senator, Colombia

Caroline Lucas, Member of Parliament, United Kingdom

Golriz Gharahman, Member of Parliament, New Zealand

Larissa Waters, Senator, Australia

Helmut Scholz, Member of the European Parliament, Germany

Manon Aubry, Member of the European Parliament, France

Gonzalo Winter, Member of the Chamber of Deputies, Chile

Heinz Bierbaum, President of the Party of the European Left, Germany

Ricardo Patiño, Fmr Minister of Foreign Affairs, Ecuador

Unai Sordo, General Secretary of Comisiones Obreras (CCOO), Spain

Cornel West, Professor, USA

María José Pizarro, Member of the House of Representatives, Colombia

Juan Somavía, Fmr Director-General of the International Labour Organization, Chile

Rafael Correa, Fmr President, Ecuador

Oscar Laborde, President of Mercosur Parliament, Argentina

Carlos Ramirez-Rosa, Member of the Chicago City Council, USA

Manuel Bompard, Member of the European Parliament, France

Rafael Michelini, Senator, Uruguay

Nelson Larzabal, Member of the Chamber of Representatives, Uruguay

Celso Amorim, Fmr Minister of Foreign Relations, Brazil

Ana Isabel Prera, Fmr Ambassador, Guatemala

Hugo Yasky, Secretary-General of Central de Trabajadores de la Argentina (CTA), Argentina

Mehreen Faruqi, Senator, Australia

Thierry Bodson, President of the Fédération Générale du Travail de Belgique (FGTB), Belgium

Denis de la Reussille, Member of the National Council, Switzerland

Marco Enriquez-Ominami, Fmr Member of the Chamber of Deputies, Chile

Aída García Naranjo, Fmr Minister of Women and Social Development, Peru

Jordon Steele-John, Senator, Australia

Martín Torrijos, Fmr President, Panamá

Liliam Kechichian, Senator, Uruguay

Nicolás Viera, Member of the Chamber of Representatives, Uruguay

Zarah Sultana, Member of Parliament, United Kingdom

Claudia Webbe, Member of Parliament, United Kingdom

Martin Buschmann, Member of EU Parliament, Germany

Kenny MacAskill, Member of Parliament, United Kingdom

Mick Whitley, Member of Parliament, United Kingdom

Marion Fellows, Member of Parliament, United Kingdom

Bell Ribeiro-Addy, Member of Parliament, United Kingdom

Mohammad Yasin, Member of Parliament, United Kingdom

Tony Lloyd, Member of Parliament, United Kingdom

John McDonnell, Member of Parliament, United Kingdom

Kate Osborne, Member of Parliament, United Kingdom

Ian Byrne, Member of Parliament, United Kingdom

Pauline Bryan, Member of the House of Lords, United Kingdom

Lloyd Russell-Moyle, Member of Parliament, United Kingdom

Prem Sikka, Member of the House of Lords, United Kingdom

John Hendy, Member of the House of Lords, United Kingdom

Gerardo Pisarello, Member of the Congress of Deputies, Spain

Cecilia Britto, Member of the Mercosur Parliament, Argentina

Gabriela Rivadeneria, Fmr President of National Assembly, Ecuador

Aina Vidal, Member of the Congress of Deputies, Spain

Daisy Tourné, Senator, Uruguay

Eric Calcagno, National Deputy, Argentina

Omar Plaini, Senator, Argentina

Marcela Aguiñaga, Fmr Minister of the Environment, Ecuador

Rafael Mayoral, Member of the Congress of Deputies, Spain

Fernanda Vallejo, National Deputy, Argentina

Idoia Villanueva, Member of the European Parliament, Spain

Lucía Muñoz Dalda, Member of the Congress of Deputies, Spain

Marita Perceval, Senator, Argentina

Ricardo Oviedo, Member of the Mercosur Parliament, Argentina

Maite Mola, Vice-President of the Party of the European Left, Spain

Andres Arauz, Fmr Minister of Knowledge and Human Talent, Ecuador

Alicia Castro, Fmr Ambassador, Argentina

Adolfo Mendoza Leigue, Senator, Bolivia

Barry Gardiner, Member of Parliament, United Kingdom

Jon Cruddas, Member of Parliament, United Kingdom

Mary Kelly Foy, Member of Parliament, United Kingdom

Apsana Begum, Member of Parliament, United Kingdom

Maurizio Landini, General Secretary of Confederazione Generale Italiana del Lavoro, Italy

Kim Johnson, Member of Parliament, United Kingdom

Diane Abbott, Member of Parliament, United Kingdom

Tahir Ali, Member of Parliament, United Kingdom

Sira Rego, Member of the European Parliament, Spain

Manu Pineda, Member of the European Parliament, Spain

Richard Burgon, Member of Parliament, United Kingdom

Iván Cepeda Castro, Senator, Colombia

Daniel Caggiani, Fmr President of the Mercosur Parliament, Uruguay

Guillaume Long, Fmr Minister of Foreign Affairs, Ecuador

José Roselli, National Deputy, Argentina

Guillermo Carmona, National Deputy, Argentina

Arlindo Chinaglia, Member of the Mercosur Parliament, Brazil

Paola Vega, Member of the Legislative Assembly, Costa Rica

Juan López de Uralde, Member of the Congress of Deputies, Spain

Monica Macha, National Deputy, Argentina

Martina Velarde, Member of the Congress of Deputies, Spain

Antònia Jover, Member of the Congress of Deputies, Spain

Daniel Martínez, Fmr Mayor of Montevideo, Uruguay

Ana Merelis, Member of the Mercosur Parliament, Bolivia

Perpétua Almeida, Member of the Mercosur Parliament, Brazil

Carlos Ominami, Fmr Senator, Chile

Hugo Martínez, Fmr Foreign Minister, El Salvador

Scott Ludlam, Fmr Senator, Australia

Leïla Chaibi, Member of the European Parliament, France

Saúl Ortega, Fmr President of the Mercosur Parliament, Venezuela

Mónica Xavier, Fmr Senator, Uruguay

Paulão, Member of the Mercosur Parliament, Brazil

Cristina Alvarez Rodríguez, National Deputy, Argentina

Lia Veronica Caliva, National Deputy, Argentina

Fotini Bakadima, Member of Parliament, Greece

Ricardo Canese, Member of the Mercosur Parliament, Paraguay

Héctor Fernández, National Deputy, Argentina

Alejandro Rusconi, International Relations Secretary of Movimiento Evita, Argentina

Amanda Della Ventura, Senator, Uruguay

Carlos López, Member of the Mercosur Parliament, Argentina

Juan Carlos Alderete, National Deputy, Argentina

Ruth Buffalo, Member of the North Dakota House of Representatives, USA

Adrien Quatennens, Member of the National Assembly, France

Cristian Bello, Member of the Mercosur Parliament, Argentina

Alberto Grillón, Fmr Senator, Paraguay

Jahiren Noriega Donoso, Member of the National Assembly, Ecuador

Carlos Sotelo, Fmr Senator, Mexico

Nanci Parrilli, Senator, Argentina

María Antonieta Saa Diaz, Member of the Chamber of Deputies, Chile

Marcia Covarrubias, Member of the Chamber of Deputies, Chile

Bettiana Díaz, Member of the Chamber of Representatives, Uruguay

Gastón Harispe, Member of the Mercosur Parliament, Argentina

Ubaldo Aíta, Member of the Chamber of Representatives, Uruguay

Carolina Yutrovic, National Deputy, Argentina

Claudia Mix, Member of the Chamber of Deputies, Chile

Clara López, Fmr Minister of Labour, Colombia

Karol Cariola, Member of the Chamber of Deputies, Chile

Roser Maestro, Member of the Congress of Deputies, Spain

Mercedes Pérez, Member of the Congress of Deputies, Spain

Victoria Donda, National Deputy, Argentina

Benoît Martin, President of the Confédération Générale du Travail-Paris (CGT-Paris), France

Marisa Saavedra, Member of the Congress of Deputies, Spain

Miguel Bustamante, Member of the Congress of Deputies, Spain

Antón Gómez-Reino, Member of the Congress of Deputies, Spain

Pedro Antonio Honrubia, Member of the Congress of Deputies, Spain

Joan Mena, Member of the Congress of Deputies, Spain

Mar García Puig, Member of the Congress of Deputies, Spain

Txema Guijarro, Member of the Congress of Deputies, Spain

Pablo Echenique, Member of the Congress of Deputies, Spain

Sofía Castañón, Member of the Congress of Deputies, Spain

Javier Sanchez, Member of the Congress of Deputies, Spain

Pilar Garrido, Member of the Congress of Deputies, Spain

Ismael Cortés, Member of the Congress of Deputies, Spain

Julio Sotelo, Member of the Mercosur Parliament, Argentina

Florence Poznanski, National Secretary Parti de Gauche, France

John Ackerman, Professor, Mexico

Karina Oliva, Fmr Gubernatorial Candidate for the Metropolitan Region of Santiago, Chile

Florence Poznanski, National Executive Secretary of the Parti de Gauche, France

Jean-Christophe Sellin, Co-coordinator of the Parti de Gauche, France

Helene Lecacheux, Co-coordinator of the Parti de Gauche, France

Camilo Lagos, President of the Partido Progresista, Chile

Gibrán Ramírez Reyes, Professor, Mexico

Katu Arkonada, Network of Intellectuals in Defense of Humanity, Mexico

Eduardo Valdes, National Deputy, Argentina

Nora Del Valle Giménez, Senator, Argentina

Minou Tabarez Miraval, National Deputy, Dominican Republic

Yves Niveaux, Direction of the PST/POP, Switzerland

Marc Botenga, Member of EU Parliament, Belgium

Felipe Carballo, Diputado Nacional, Frente Amplio, Uruguay

José Miguel Insulza, Fmr Foreign Minister, Chile

Mathilde Pannot, Member of the National Assembly, France"

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O governo Donald Trump enviou centenas de venezuelanos, acusados de integrar a gangue Tren de Aragua, para a prisão em El Salvador, um dia após a Justiça americana ter bloqueado o uso de uma lei do século 18 para acelerar deportações.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, publicou neste domingo, 16, o vídeo que mostra homens algemados sendo retirados de um avião durante a noite e levados para prisão, onde têm as cabeças raspadas.

"Hoje, os primeiros 238 membros da organização criminosa venezuelana Tren de Aragua chegaram ao nosso país", escreveu Bukele, que havia se oferecido para receber prisioneiros enviados pelos Estados Unidos. Os venezuelanos foram levados para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), a mega prisão de segurança máxima com capacidade para 40 mil pessoas.

Três países da América Central - Guatemala, Panamá e Costa Rica - concordaram em servir de "ponte" para os imigrantes deportados pelos Estados Unidos, mas El Salvador é o único que aceita prisioneiros. "Os Estados Unidos pagarão uma tarifa muito baixa para eles, mas alta para nós", disse Nayib Bukele.

O governo americano espera que esse acordo incomum de transferência de prisioneiros para El Salvador seja o início dos esforços para usar a Lei de Inimigos Estrangeiros, de 1798, para prender e deportar suspeitos de envolvimento com o Tren de Aragua, sem os processos legais necessários nos casos de imigração.

A Lei dos Inimigos Estrangeiros permite deportações sumárias das pessoas de países em conflito com os Estados Unidos ou em casos de "invasão". A lei, mais conhecida por ter servido como base para prisão de nipo-americanos durante a 2ª Guerra, foi invocada três vezes na história americana - sempre no contexto de guerras.

No sábado, o juiz James Boasberg, do Tribunal Distrital Federal em Washington, emitiu uma ordem de restrição temporária que impedia o governo de deportar imigrantes com base na Lei de Inimigos Estrangeiros. A medida preventiva atendeu a pedido de organizações da sociedade civil, que se anteciparam aos planos do governo para expulsar cinco venezuelanos com base na Lei de Inimigos Estrangeiros.

No mesmo dia, o governo Donald Trump invocou o dispositivo ao declarar uma "invasão" do Tren de Aragua nos Estados Unidos.

Em audiência convocada às pressas a pedido da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), o juiz então ordenou que qualquer voo que tivesse partido com imigrantes venezuelanos sob a ordem de Trump retornasse aos Estados Unidos. "É algo que você precisa garantir que seja cumprido imediatamente", disse ao Departamento de Justiça.

O advogado que representou o governo, Drew Ensign, argumentou que o presidente tem amplos poderes sobre imigração e política externa e pediu ao juiz que não interviesse em suas deportações. "A maioria ou todos eles são indivíduos incrivelmente perigosos", disse. O Departamento de Justiça recorreu imediatamente da decisão.

O momento exato dos voos para El Salvador é importante porque James Boasberg emitiu a ordem pouco antes das 19h de sábado, pelo horário de Washington, ou 17h pelo fuso de El Salvador. Mas o vídeo publicado por Bukele mostra que os prisioneiros desembarcaram à noite, o que levanta dúvidas se o governo Donald Trump ignorou a determinação da Justiça.

No domingo, Bukele publicou uma captura de tela nas redes sociais sobre a ordem do juiz Boasberg e escreveu: "Ops... Tarde demais."

A procuradora-geral Pam Bondi acusou o juiz de ter ficado do lado de "terroristas em vez da segurança dos americanos". E alegou que a decisão "ignora uma autoridade bem estabelecida sobre o poder do presidente Trump, colocando o público e as forças de segurança em risco".

Acontece que os Estados Unidos não estão em guerra, como prevê a Lei de Inimigos Estrangeiros. E juristas afirmam que invocar o dispositivo é uma forma de o governo Trump acelerar as deportações, ao privar os imigrantes de direitos.

"É ilegal usar essa lei em tempos de paz, na ausência de uma invasão por uma potência estrangeira, o que não temos", disse Ilya Somin, professor de direito da Universidade George Mason, em meio à expectativa de que a proclamação fosse assinada pelo presidente.

No documento, o governo diz que "todos os cidadãos venezuelanos com 14 anos de idade ou mais" podem ser "apreendidos, contidos, segurados e removidos como Inimigos Estrangeiros". Como Trump tentou caracterizar os imigrantes sem documentos como criminosos - muitas vezes com alegações falsas -, o temor é que a lei possa ser usada para expulsar pessoas inocentes. Os imigrantes não teriam audiências de asilo. E o governo não teria que provar que eles são criminosos em tribunal.

Um dos autores do processo, o tatuador identificado como J.G.G. para proteger sua segurança, disse que fugiu da Venezuela após ter sido torturado pela polícia e temia ser morto se fosse deportado. Ele afirmou que não teve a chance de apresentar seu caso perante um juiz. E que um agente de imigração o identificou erroneamente como membro de uma gangue por causa de suas tatuagens.

(Com agências internacionais)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na sexta-feira, 14, que foi "um pouco sarcástico" quando afirmou repetidamente, como candidato à Casa Branca, que resolveria a guerra entre a Rússia e a Ucrânia em 24 horas - e mesmo antes de tomar posse.

Trump foi questionado sobre a promessa durante uma entrevista para o programa de televisão "Full Measure", numa altura em que a sua administração ainda tenta negociar uma solução para o conflito, 54 dias após o início do seu segundo mandato.

"Bem, eu estava sendo um pouco sarcástico quando disse isso", disse Trump num vídeo divulgado antes do episódio que vai para o ar no domingo. "O que eu realmente quero dizer é que gostaria de resolver o problema e, eu acho, eu acho que vou ser bem-sucedido", afirmou o presidente dos Estados Unidos.

Foi uma confissão rara de Trump, que tem um longo histórico de fazer afirmações exageradas. Trump disse numa entrevista para a CNN em maio de 2023: "Estão morrendo, russos e ucranianos. Eu quero que eles parem de morrer. E eu farei isso - farei isso em 24 horas".

"Vou resolver [a guerra na Ucrânia] antes mesmo de me tornar presidente", disse Trump durante seu debate em setembro com a então vice-presidente e candidata democrata à Presidência Kamala Harris. "Se eu ganhar, quando eu for presidente eleito, eu vou falar com um, vou falar com o outro. Vou juntá-los", completou o republicano.

O seu enviado especial, Steve Witkoff, esteve em Moscou esta semana para conversações sobre um cessar-fogo proposto pelos EUA, que a Ucrânia aceitou.

Na entrevista, Trump foi também questionado sobre qual seria o plano se o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não concordasse com um cessar-fogo na guerra que iniciou há três anos.

"Más notícias para este mundo, porque muitas pessoas estão morrendo", respondeu Trump. "Mas eu acho, eu acho que ele [Putin] vai concordar. Acho que o conheço muito bem e acho que ele vai concordar", completou o presidente dos Estados Unidos.

Tornados violentos e ventos fortes dizimaram casas, destruíram escolas e derrubaram semi-reboques enquanto uma tempestade monstruosa, que matou pelo menos 32 pessoas até a manhã deste domingo, 16, se espalhou pelo centro e sul dos Estados Unidos.

Dakota Henderson disse que ele e outros que resgatavam vizinhos presos encontraram cinco corpos espalhados nos escombros na noite de sexta-feira, fora do que restou da casa de sua tia no condado de Wayne, Missouri, duramente atingido. Segundo as autoridades, os vários ciclones mataram pelo menos uma dúzia de pessoas no estado.

"A noite passada foi muito difícil", disse Henderson no sábado, não muito longe da casa destruída, de onde disse ter resgatado a sua tia através de uma janela do único cômodo que ainda estava em pé. "É realmente perturbador o que aconteceu às pessoas, as vítimas de ontem à noite."

O médico legista Jim Akers, do condado de Butler, descreveu a como "apenas um campo de destroços" a "casa irreconhecível" onde um homem foi morto. "O chão estava de cabeça para baixo", disse ele. "Estávamos caminhando sobre as paredes".

O governador do Mississipi, Tate Reeves, anunciou a morte de seis pessoas em três condados e o desaparecimento de mais três no final do sábado, quando as tempestades se deslocaram para leste, para o Alabama, onde foram registadas casas danificadas e estradas intransitáveis.

As autoridades confirmaram três mortes no Arkansas, onde a governadora Sarah Huckabee Sanders declarou estado de emergência. O governador da Geórgia, Brian Kemp, fez o mesmo em antecipação ao deslocamento da tempestade para leste.

As tempestades de poeira provocadas pelos ventos fortes iniciais causaram quase uma dúzia de mortes na sexta-feira. Oito pessoas morreram num acidente numa autoestrada do Kansas que envolveu pelo menos 50 veículos, segundo a polícia rodoviária estatal. As autoridades disseram que três pessoas também morreram em acidentes de carro durante uma tempestade de poeira em Amarillo, no Texas.

Condições extremas atingem área de 100 milhões de pessoas

A previsão do tempo estima que as condições meteorológicas extremas afetem uma zona onde vivem mais de 100 milhões de pessoas, com ventos que ameaçam tempestades de neve nas zonas mais frias do norte e que aumentam o risco de incêndios florestais nas zonas mais quentes e secas do sul.

Foram ordenadas evacuações em algumas comunidades de Oklahoma, uma vez que foram registrados mais de 130 incêndios em todo o estado. Cerca de 300 casas foram danificadas ou destruídas. O governador Kevin Stitt disse numa conferência de imprensa no sábado, 16, que cerca de 266 milhas quadradas (o equivalente a 689 quilômetros quadrados) tinham queimado, acrescentando que também perdeu uma casa sua em um rancho a nordeste de Oklahoma City.

Ao norte, o Serviço Nacional de Meteorologia emitiu avisos de tempestades de neve para partes do extremo oeste do Minnesota e do extremo leste do Dakota do Sul a partir do início do sábado. Esperavam-se acumulações de neve de 7,6 a 15,2 centímetros, com possibilidade de até 30 centímetros. Prevê-se que os ventos provoquem condições de nevasca.

Ainda assim, os especialistas afirmam que não é incomum ver tais extremos climáticos em março.

Os tornados têm sido generalizados

Tornados significativos continuaram a ocorrer no final do sábado, com a região de maior risco estendendo-se desde o leste do Louisiana e Mississippi até o Alabama, oeste da Geórgia e uma região da Florida, informou o Centro de Previsão de Tempestades americano.

Bailey Dillon, 24 anos, e o seu noivo, Caleb Barnes, observaram do alpendre da sua casa em Tylertown, Mississippi, quando um enorme tornado atingiu uma área a cerca de 0,8 quilômetros de distância, perto do Paradise Ranch RV Park.

Mais tarde, foram até lá para ver se alguém precisava de ajuda e gravaram um vídeo de árvores partidas, edifícios destruídos e veículos tombados.

"A quantidade de danos foi catastrófica", disse Dillon. "Havia uma grande quantidade de cabanas, caravanas e campistas que foram simplesmente virados. Tudo foi destruído".