Discurso na ONU 'vai ser em Braille', diz Bolsonaro em NY

Política
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O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou nesta segunda-feira, 20, que seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) "vai ser em Braille", sem explicar o que quis dizer com a referência ao sistema de leitura tátil para cegos ou pessoas com baixa visão. O presidente fez a declaração a jornalistas no período da manhã, após o tomar o café da manhã no hotel onde está hospedado em Nova York. Foi a única manifestação pública do presidente desde que desembarcou nos Estados Unidos, na tarde do domingo.

Bolsonaro desceu do seu quarto para o café da manhã às 7h45, no horário local, e foi acompanhado pelos ministros Marcelo Queiroga (Saúde), Joaquim Leite (Meio Ambiente), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e pelo secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, Flávio Rocha.

O grupo usou uma sala reservada do hotel para o desjejum. Uma placa na entrada do restaurante do hotel indica que é exigido comprovante de vacinação contra covid-19 para entrar no local. Bolsonaro não está vacinado.

O restaurante, no entanto, não tem requisitado a apresentação do comprovante aos clientes. A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo entrou no restaurante sem que houvesse pedido por parte dos funcionários para mostrar comprovante de vacinação.

O único compromisso na agenda oficial do presidente no período da manhã é uma reunião com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.

Agenda positiva

Conforme o jornal O Estado de S. Paulo revelou, contra o desgaste internacional do governo brasileiro, o Itamaraty quer que o presidente Jair Bolsonaro divulgue uma agenda positiva ao discursar nesta terça-feira, 21, na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas.

Uma das medidas que diplomatas tentam fazer o presidente encampar e anunciar é a doação de vacinas contra covid-19 para nações da América Latina em piores condições de combate à pandemia, como Paraguai e Haiti, segundo assessores que participam da elaboração do discurso.

Bolsonaro entrou no domingo pela porta dos fundos do hotel onde está hospedado, ao desembarcar em Nova York. Alguns poucos manifestantes contrários ao governo o aguardavam com faixas na porta do hotel.

Não havia apoiadores do presidente no local. Em 2019, última vez que esteve em Nova York para participar presencialmente da Assembleia-Geral, Bolsonaro encontrou à sua espera manifestantes a favor e contra seu governo. Na ocasião, entrou pela porta da frente do mesmo hotel.

Na sua primeira participação na ONU, há dois anos, Bolsonaro desembarcou acompanhado pelo então chanceler Ernesto Araújo e fincou os pés nas bases do bolsonarismo em seu primeiro discurso no organismo. Na época, Bolsonaro se juntava a um time de líderes como o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que desafiavam o sistema multilateral.

Desta vez, com o Itamaraty sob comando do chanceler Carlos França e o democrata Joe Biden na presidência americana, diplomatas tentam convencer Bolsonaro a centrar seu discurso em temas alinhados com a agenda de aliados americanos, europeus e da própria ONU. Os três pilares do discurso esboçado pelo time de França serão a diplomacia da saúde, onde entrará o possível anúncio a respeito das vacinas, o combate ao desmatamento e a recuperação econômica.

Desde o início do seu governo, Bolsonaro foi retratado na imprensa internacional como um líder que ameaça a democracia, os direitos humanos e o meio ambiente no Brasil. Na pandemia, foi também descrito como um negacionista.

Apesar de ter questionado a eficácia das vacinas durante o último ano, Bolsonaro deve comemorar na frente de líderes internacionais que o País avançou na vacinação mais do que muitas nações ricas e que poderá se tornar um "hub regional" de produção de imunizantes. Nesse contexto, Itamaraty e Ministério da Saúde querem o anúncio da doação de vacinas para a região.

'Arroz com feijão'

Integrantes da chamada ala ideológica do governo, no entanto, têm dito nos bastidores que França quer um discurso "arroz com feijão", sem apelo junto à base eleitoral de Bolsonaro. Em live nas redes sociais na última quinta-feira, o presidente disse que defenderá na ONU o marco temporal das terras indígenas, o que assustou diplomatas. Eles tentam dissuadi-lo da ideia e dizem que a fala despertará uma forte reação negativa entre indígenas, ambientalistas e o próprio governo americano.

Pressionado pelo governo Biden para se comprometer com o fim do desmatamento ilegal, Bolsonaro deve falar que começou a cumprir os compromissos estabelecidos na Cúpula de Líderes para o Clima, organizada pela Casa Branca em abril. Está previsto que ele diga que, em julho e agosto deste ano, houve redução no desmatamento da Amazônia e que o orçamento do Ibama foi duplicado, com o anúncio de contratação de 700 servidores para trabalhar na fiscalização ambiental.

Parte da comitiva, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, deve ter em Nova York uma reunião com o enviado especial do clima de Biden, John Kerry. Os dois conversaram por telefone na semana passada, quando Kerry deixou mais uma vez claro que os americanos não pretendem anunciar dinheiro público para ajudar na preservação da Amazônia, mas querem servir de ponte para alavancar recursos do setor privado.

Depois de prometer "reunir o mundo" para cobrar Bolsonaro pela preservação da Amazônia, durante a campanha eleitoral, Biden tem se mostrado pragmático na relação com o Brasil desde que assumiu a Casa Branca. O relacionamento entre os dois países é mantido, no entanto, fora do nível presidencial. Uma aproximação de Biden com o Bolsonaro, ainda que protocolar, seria mal vista dentro do partido democrata.

Pela primeira vez, os dois estarão na mesma cidade, mas não haverá reunião bilateral com o mandatário americano. Assessores de Bolsonaro, no entanto, esperam que os dois tropecem um no outro no corredor da Assembleia-Geral, para que o brasileiro possa ao menos cumprimentar o americano. O presidente dos Estados Unidos é o segundo a discursar na Assembleia-Geral, depois do Brasil. Por isso, é praxe haver um aperto de mãos na coxia.

O presidente também deve mencionar no discurso o visto humanitário autorizado para afegãos e o fato de o Brasil voltar ao Conselho de Segurança da ONU a partir de 2022, em uma das vagas rotativas.

Encontros bilaterais e comitiva

Bolsonaro terá encontros bilaterais com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e com o presidente da Polônia, Andrzej Duda. Ele também será recebido pelo secretário-geral da ONU, António Gutérres, como é tradicional.

Da última vez em que pisou em Nova York, Bolsonaro não teve nenhum encontro bilateral com líderes mundiais. Na época, além de participar da abertura da Assembleia-Geral, ele se reuniu com Rudy Giuliani, advogado pessoal de Donald Trump, e foi ao rápido coquetel tradicionalmente oferecido pelo presidente americano aos demais chefes de Estado.

Bolsonaro está acompanhado por oito ministros: Carlos Alberto França (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Marcelo Queiroga (Saúde), Joaquim Leite (Meio Ambiente), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública) e Gilson Machado (Turismo).

Em sua primeira noite em Nova York, Bolsonaro e parte da comitiva deixaram o hotel para comer pizza na calçada de um restaurante próximo ao local em que está hospedado. A pizzaria não possui espaço interno para refeições. As imagens do presidente e seus auxiliares comendo pizza na calçada foram publicadas por ministros nas redes sociais.

O terceiro filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, e a primeira-dama, Michelle, também viajaram a Nova York. A comitiva é composta ainda pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e pelo secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, Flávio Rocha.

Os diplomatas Nestor Forster (embaixador do Brasil em Washington) e Ronald Costa Filho (representante permanente do Brasil junto à ONU) encontraram o grupo em Nova York.

O governo leva aos Estados Unidos o advogado Rodrigo Mudrovitsch como convidado especial. Ele foi indicado em dezembro por Bolsonaro para concorrer ao cargo de juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Queiroga se reúne com investidores

O ministro Marcelo Queiroga se reunirá no período da manhã com investidores de fundos de investimento estrangeiros. O encontro acontecerá na sede do consulado do Brasil em Nova York.

Segundo o próprio ministro disse a jornalistas no período da manhã, não há previsão até o momento de reunião com autoridades americanas para trocar informações a respeito da vacinação de adolescentes, que é realizada nos Estados Unidos. A agenda do ministro em NY, no entanto, ainda está em elaboração.

A Pfizer disse nesta segunda-feira, 20, que a sua vacina contra a covid-19 funciona para crianças de cinco a 11 anos. A vacina da farmacêutica já está disponível para qualquer pessoa com 12 anos ou mais em vários países, entre eles o Brasil e também os EUA.

A morte de uma adolescente de 16 anos em São Bernardo do Campo foi usada como uma das justificativas do Ministério da Saúde para recomendar a suspensão da imunização de adolescentes sem comorbidades na semana passada, contrariando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Um estudo feito por 70 especialistas e divulgado nesta sexta-feira pela Secretaria de Estado da Saúde, no entanto, aponta que a fatalidade não foi causada pela vacina da Pfizer contra covid-19. O diagnóstico apontou que a causa do óbito, sete dias após a jovem ser imunizada, foi uma doença autoimune, grave e rara, conhecida como Púrpura Trombótica Trombocitopênica (PTT).

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Um exame do cachorro encontrado morto junto com o ator Gene Hackman e sua mulher, Betsy Arakawa, em sua casa em Santa Fé mostra que desidratação e fome foram provavelmente as causas da morte do animal.

Um relatório obtido pela Associated Press do laboratório veterinário do Departamento de Agricultura do estado do Novo México detalha uma mumificação parcial e observa que, embora a decomposição severa possa ter obscurecido as alterações nos órgãos, não há evidência de doença infecciosa, trauma ou envenenamento que possa ter resultado em morte.

O relatório menciona que o estômago do cachorro estava praticamente vazio, exceto por pequenas quantidades de pelo e bile.

Zinna, uma mistura da raça kelpie, era um dos três cães do casal. Ela foi encontrada morta em uma caixa no armário do banheiro, perto do corpo de Betsy Arakawa, enquanto dois outros cães sobreviveram.

As autoridades confirmaram na semana passada que Hackman morreu de doença cardíaca com complicações da doença de Alzheimer cerca de uma semana após uma doença rara transmitida por roedores - síndrome pulmonar por hantavírus - ter tirado a vida de sua mulher. Hackman, nos estágios avançados do Alzheimer, aparentemente não estava ciente de que ela estava morta.

Hackman foi encontrado na entrada da casa, e Arakawa foi encontrada em um banheiro. Assim como o cachorro, seus corpos estavam se decompondo com certa mumificação, uma consequência do tipo de corpo e do clima no ar especialmente seco de Santa Fé, a uma altitude de quase 2.200 metros.

Embora ambas as mortes tenham sido consideradas como sendo de causas naturais, o Gabinete do Xerife do Condado de Santa Fé está concluindo a investigação, unindo a linha do tempo com qualquer informação obtida dos telefones celulares coletados na casa e os últimos contatos que foram feitos.

"O caso é considerado aberto até que tenhamos as informações necessárias para fechar a linha do tempo", disse Denise Womack Avila, porta-voz do xerife.

Zinna foi resgatada de um abrigo e tornou-se uma companheira incrível, que estava sempre ao lado de Arakawa, disse Joey Padilla, proprietário do centro de cuidados para animais de estimação Santa Fe Tails, que está envolvido nos cuidados dos cães sobreviventes.

Arakawa, nascida no Havaí, estudou como pianista de concerto, frequentou a Universidade do Sul da Califórnia e conheceu Hackman em meados da década de 1980, quando trabalhava em uma academia da Califórnia.

Hackman, um ícone de Hollywood, ganhou dois Oscars durante uma carreira histórica em filmes como Operação França, Momentos Decisivos e Superman - O Filme, dos anos 1960 até sua aposentadoria no início dos anos 2000.

O casal levou uma vida privada depois de se mudar para Santa Fé décadas atrás. Um representante do espólio do casal citou essa privacidade na tentativa de bloquear a divulgação pública da autópsia e dos relatórios de investigação relacionados às suas mortes, especialmente fotografias e vídeos. Caberá a um juiz distrital estadual considerar essa solicitação.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou na manhã deste sábado que o presidente da Rússia, Valdimir Putin, terá, "mais cedo ou mais tarde" que se sentar à mesa para iniciar "negociações sérias" de paz.

Segundo o premiê britânico, Putin está tentando adiar um acordo de cessar-fogo de 30 dias, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky "mostrou mais uma vez e sem qualquer dúvida que a Ucrânia é a parte interessada na paz".

As declarações foram feitas em coletiva de imprensa neste sábado, quando 26 líderes internacionais se reúnem no Reino Unido a fim de apoiar uma eventual trégua entre a Ucrânia e a Rússia.

"O grupo que eu convoquei hoje é mais importante do que nunca. Ele reúne parceiros de toda a Europa, bem como da Austrália e da Nova Zelândia e continua apertando as restrições sobre a economia da Rússia para enfraquecer a máquina de guerra de Putin e trazê-lo à mesa de negociações. E concordamos em acelerar nosso trabalho prático para apoiar um potencial acordou", afirmou o premiê.

Starmer disse ainda que o grupo entrará "em uma fase operacional" e que militares dos respectivos países se reunirão na próxima quinta-feira, 20, no Reino Unido "para colocar em prática planos fortes e robustos, para apoiar um acordo policial e garantir a segurança futura da Ucrânia".

Segundo o premiê, "o apetite da Rússia pelo conflito e pelo caos mina a segurança do Reino Unido", o que encarece o custo de vida, inclusive os custos de energia. "Então isso importa muito para o Reino Unido. É por isso que agora é a hora de se engajar em discussões sobre um mecanismo para gerenciar e monitorar falsas bandeiras", afirmou.

Na quinta-feira, Putin havia dito que concorda com a proposta de cessar-fogo, mas pontuou que o acordo deve levar a uma paz duradoura e eliminar as "causas raízes do conflito".

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou há pouco que o exército russo está acumulando tropas ao longo da fronteira leste do país. Isso, segundo ele, "indica que Moscou pretende continuar ignorando a diplomacia" e tem a intenção de atacar a região de Sumy.

"Está claro que a Rússia está prolongando a guerra. Estamos prontos para fornecer aos nossos parceiros todas as informações reais sobre a situação no front, na região de Kursk e ao longo de nossa fronteira", disse Zelensky, em publicação na rede social X.

A publicação também afirma que a situação na direção da cidade de Pokrovsk foi estabilizada, e que as tropas ucranianas continuam retendo agrupamentos russos e norte-coreanos na região de Kursk.

Segundo Zelensky, o programa de mísseis da Ucrânia teve "resultados tangíveis", com o míssil longo Neptune testado e usado "com sucesso" em combate.

O presidente também disse que o Ministério de Defesa da Ucrânia apresentou um relatório sobre novos pacotes de apoio de outros países. "Sou grato a todos os parceiros que estão ajudando", acrescenta.