De Marta a Alckmin: as aproximações de Lula com políticos adversários e críticos do PT

Política
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva selou acordo com a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (sem partido) para retorno dela ao PT para ser vice na chapa encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL-SP) nas eleições municipais de 2024. Ela deixou o partido em 2015, afirmando que a sigla protagonizou "um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou", em referência aos fatos revelados pela Operação Lava Jato. Não é a primeira vez que o petista se articula com políticos que eram críticos a ele ou à legenda.

Além de Marta, o petista também já costurou alianças com adversários históricos, como Geraldo Alckmin (PSB), com quem disputou as eleições presidenciais de 2006. Hoje ele é seu vice-presidente. Outros destaques são Paulo Maluf, Fernando Collor e Leonel Brizola.

Segundo o cientista político Thiago Valenciano, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), as alianças feitas por Lula são estratégias para remover adversários ferrenhos da oposição aos candidatos petistas. Ao mesmo tempo, os movimentos buscam garantir bases eleitorais no Legislativo e atrair eleitores mais distantes do programa de governo do PT.

"É o jogo da política. Concessões para obtenção de sucesso no resultado eleitoral, cessão de apoios para partidos políticos quando necessário, inclusive na negociação de cargos comissionados e emendas parlamentares. Lula sabe como conduzir crises políticas e entende a dificuldade que enfrenta em cada eleição. Nesse sentido, ele acaba sendo pragmático e faz as alianças necessárias", afirmou.

Marta Suplicy

A ex-prefeita Marta Suplicy deixou a Secretaria de Relações Internacionais de São Paulo na última terça-feira, 9, após se encontrar com Lula no Palácio da Alvorada e fechar uma aliança com Boulos e o retorno ao PT. Marta fazia parte do secretariado do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que é pré-candidato a reeleição e tem no psolista seu principal adversário. A saída dela foi encarada como uma "traição" por aliados do emedebista, que vai ser apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Marta integrou o PT por 35 anos e, no partido, foi deputada federal (1995-1999), prefeita de São Paulo (2001-2005), ministra do Turismo do segundo mandato de Lula (2006-2007), senadora (2011-2015) e ministra da Cultura de Dilma Rousseff (2012-2014).

Em abril de 2015, Marta entregou uma carta às direções municipal, estadual e nacional do partido em que pediu a desfiliação do PT, afirmando que a sigla era reincidente em casos de desvios éticos. Fora do partido, ela apoiou o impeachment de Dilma em 2016.

Geraldo Alckmin

Nas eleições de 2006, o principal adversário de Lula foi Geraldo Alckmin, que integrou o PSDB por 33 anos e era governador de São Paulo na época. O pleito ocorreu durante as descobertas do escândalo do mensalão, e Alckmin usou a campanha para associar o petista ao esquema de corrupção. Em resposta, o petista atacou o governador, dizendo que ele foi um especialista no "processo de desmonte" das políticas públicas paulistas.

Em 2016, na convenção do PSDB que lançou o empresário João Doria para a Prefeitura, Alckmin atacou o PT e o ex-prefeito e atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "Os 13 anos de lulopetismo levaram o País a ser saqueado, literalmente. O PT quer vencer a eleição para se redimir e resolver seus problemas", afirmou.

Em 2017, em outro encontro do PSDB, Alckmin disse que Lula havia "quebrado o Brasil" e que o petista desejava "voltar à cena do crime". Enquanto Lula estava preso em Curitiba, o atual vice-presidente o chamava de "preso condenado por corrupção".

No início de 2022, Alckmin e Lula se aproximaram para criar uma "frente ampla" para enfrentar Jair Bolsonaro (PL) nas eleições. Para isso, o ex-governador deixou o PSDB e se filiou ao PSB.

Alckmin passou a acompanhar o petista em eventos ligados à causa sindicalista e da esquerda. Em um deles, ele exaltou Lula como o "maior líder político" do País. Em outro, Alckmin ouviu e aplaudiu o hino da Internacional Socialista. A chapa composta pelos dois venceu o pleito de 2022 para comandar a Presidência.

Paulo Maluf

Em busca de um maior tempo de televisão para a propaganda eleitoral gratuita de Fernando Haddad nas eleições municipais de 2012 em São Paulo, Lula se aproximou do PP do ex-prefeito Paulo Maluf. Segundo o petista, Maluf exigiu que os dois posassem para jornalistas para que a aliança fosse consolidada.

A relação tensa entre os dois começou antes mesmo de Lula se candidatar ao seu primeiro cargo público. Em 1980, ele foi preso por liderar greves no ABC paulista. Maluf, que era governador de São Paulo na ditadura militar, disse: "Lula é um líder morto. Em seis meses os metalúrgicos o esquecerão".

Nas primeiras eleições diretas depois da redemocratização, em 1989, Maluf e Lula foram adversários e trocaram ataques. Enquanto o PT representava uma proposta de esquerda, o ex-governador era o candidato do PDS, partido que sucedeu à Arena - sigla que deu sustentação à ditadura militar.

Nas vésperas do pleito de 1994, quando o petista se candidatou e perdeu para Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, o ex-prefeito disse: "Quem votar em Lula vai cometer suicídio administrativo". Lula respondeu afirmando que o opositor era "o símbolo da pouca vergonha nacional".

Fernando Collor

Em 1989, Lula foi para o segundo turno contra o ex-presidente Fernando Collor, que então estava no Partido da Reconstrução Nacional (PRN). A disputa foi polarizada e marcada por ataques pessoais. Em um debate televisionado, Collor, que venceu a disputa por 53% a 47%, disse que o petista era um mentiroso e fez insinuações de que ele não sabia ler.

"Aquele codinome de Pinóquio que o deputado (Lula, que ocupou a Câmara entre 1987 e 1991) tenta colocar no programa do partido (PRN), eu acho que cabe muito bem a ele. Ele que é um grande Pinóquio. Eu sabia que o Pinóquio pelo menos lia, mas eu não sei se ele sabe ler", disse Collor.

Em outro momento do debate, Lula provocou Collor com menção a Xuxa Meneghel. "São promessas de um candidato Xuxa: na campanha, dá beijinho, beijinho e, depois de eleito, é tchau, tchau", em referência a um jargão usado pela apresentadora. Quando Collor esteve no Planalto, o petista foi um dos articuladores do processo de impeachment que destituiu o então chefe do Executivo em 1992.

Em 2006, 14 anos depois, o alagoano ensaiava uma volta à política, ao mesmo tempo em que o petista tentava a reeleição na Presidência. Collor se candidatou ao Senado e buscou se aproximar de Lula, conquistando uma cadeira no Legislativo, onde ficou até 2022.

Collor disse que Lula, por ser nordestino, conhecia "nossas raízes e nossas carências e tem agido rápido no atendimento aos pleitos do Nordeste", em entrevista. Em 2009, o petista se encontrou com o ex-presidente em Alagoas e teceu elogios ao novo aliado.

Collor também apoiou as candidaturas de Dilma em 2010 e em 2014, se afastando da petista durante o processo de impeachment de 2016. Nos últimos anos, o ex-presidente se aproximou do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Leonel Brizola

O fim dos anos 80 e a década de 90 foram marcados por uma grande cisão na esquerda, sendo representada pelo PT de Lula e o PDT de Leonel Brizola. Disputando o mesmo segmento do eleitorado em eleições presidenciais, os dois frequentemente trocavam acusações na imprensa. Em uma entrevista ao programa Roda Viva, em 1987, o petista chamou o ex-governador do Rio de "caudilho". O termo que faz referência aos líderes que contavam com forças militares particulares no Sul do País, região onde nasceu Brizola.

Nas eleições de 1989, Brizola afirmava que Lula era despreparado por nunca ter tido uma experiência administrativa e desferia ataques ao PT. Após ficar de fora do segundo turno das eleições, Brizola anunciou que apoiaria Lula. "Não seria fascinante fazer as elites brasileiras engolirem Lula, o sapo barbudo?", afirmou.

Em 1998, buscando vencer FHC, os dois formaram uma chapa de oposição ao tucano. A aliança não funcionou e a dupla Lula-Brizola ficou em segundo lugar, enquanto Fernando Henrique venceu o pleito em primeiro turno.

Logo após o fim da eleição, o petista e o pedetista se distanciaram novamente. Em 2002, quando Lula venceu a primeira disputa presidencial, Brizola apoiou o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, que então era filiado ao Partido Popular Socialista (PPS), hoje Cidadania.

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O presidente do Chile, Gabriel Boric, condenou o ataque feito à usina hidrelétrica Rucalhue, que está sendo construída no rio Biobío, na região centro-sul do país, na madrugada deste domingo, 20, quando 52 veículos foram incendiados no local.

"Assim como fizemos em outros casos, perseguiremos e encontraremos os responsáveis que deverão responder perante a justiça. Continuaremos trabalhando sem recuar para erradicar todas as formas de violência", disse o mandatário em publicação na rede social X.

De acordo com o adido de Polícia do Chile, Renzo Miccono, indivíduos armados invadiram a localidade por volta das 2h30 da madrugada, ameaçaram quatro guardas de segurança e depois atearam fogo a máquinas.

O empreendimento terá 90 megawatts (MW) de capacidade e enfrenta resistência de povos originários locais e de ambientalistas. No último dia 03 de abril, a Corte de Apelações de Concepción negou dois recursos que pediam a paralisação das obras.

De acordo com a Associated Press, a região do Biobío já havia sido palco de outro ataque incendiário no último dia 7 de abril, quando duas residências e um galpão foram destruídos. Segundo autoridades, o ataque foi reivindicado pela Resistência Mapuche Lafkenche (RML).

A empresa responsável pelo projeto, Rucalhue Energía SpA, controlada da China International Water & Electric Corp (CWE), afirmou que está colaborando com as autoridades para encontrar os responsáveis e reforçar as medidas de segurança.

"Por sorte, não houve feridos graves. No entanto, os danos materiais são significativos. Uma avaliação completa das perdas está sendo feita", disse a companhia em comunicado, acrescentando que o projeto segue toda a regulamentação ambiental, social e técnica.

*Com informações da Associated Press.

O Exército de Israel afirmou que errou ao matar 15 socorristas na Faixa de Gaza. De acordo com relatório sobre o incidente, que ocorreu em 23 de março, foram identificadas "várias falhas profissionais, violações de ordens e uma falha em relatar completamente o incidente", informou a autoridade militar neste domingo, 20.

Na ocasião, uma ambulância em busca de pessoas feridas por um ataque aéreo israelense foi alvo de tiros em um bairro na cidade de Rafah, que fica na fronteira com o Egito. Quando outras ambulâncias chegaram para procurar a equipe desaparecida, também foram alvo de tiros.

"A investigação determinou que o fogo nos dois primeiros incidentes resultou de um mal-entendido operacional pelas tropas, que acreditavam enfrentar uma ameaça tangível por parte das forças inimigas", disse o exército israelense em referência a um possível veículo policial do Hamas.

Israel disse que demitiu o comandante adjunto do Batalhão de Reconhecimento Golani, por fornecer "um relatório incompleto e impreciso durante o debriefing" e repreendeu o oficial comandante da 14ª Brigada, citando sua responsabilidade geral.

Para Jonathan Whittall, chefe do escritório humanitário das Nações Unidas em Gaza e na Cisjordânia, a investigação militar israelense careceu de responsabilização. "Corremos o risco de continuar assistindo a atrocidades se desenrolarem, e as normas destinadas a nos proteger, se erodindo". Fonte: Dow Jones Newswires.

Em nova publicação no X, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que bombardeios russos chegam a 1.355. "Já houve 67 ataques russos contra nossas posições em várias direções, com o maior número na direção de Pokrovsk. Houve um total de 1.355 casos de bombardeios russos, dos quais 713 envolveram armamento pesado", escreveu, citando relatório do comandante-chefe do exército do país, Oleksandr Syrskyi.

Zelensky também disse que a Ucrânia propõe cessar-fogo de 30 dias, com a possibilidade de prorrogação. "A Ucrânia propõe o fim de qualquer ataque com drones e mísseis de longo alcance contra a infraestrutura civil por um período de pelo menos 30 dias, com a possibilidade de prorrogação."

O presidente ucraniano também afirmou que, "se a Rússia não concordar com essa medida, isso será uma prova de que ela pretende continuar fazendo apenas coisas que destroem vidas humanas e prolongam a guerra", acrescentou na publicação.

Desde que o acordo de cessar-fogo durante o feriado de Páscoa foi proposto pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, no último sábado, 19, Zelensky afirma que os bombardeios continuam na Ucrânia, publicando em sua conta no X dados sobre os ataques.