Marta volta ao PT para ser vice de Boulos e recebe afagos após rompimento

Política
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Ovacionada pela militância, a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy retornou ao PT após nove anos nesta sexta-feira, 2, e disse que sua missão é lutar para derrotar o bolsonarismo na capital paulista e preservar a democracia. "Eu estou de volta ao meu aconchego, à minha raiz", disse ela logo no início de seu discurso, com a voz embargada. O peso da volta de Marta para o PT foi representado pelas presenças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que no passado foi duramente criticado pela ex-prefeita. Marta deixou o PT em 2015, com ataques à legenda, e votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff.

A volta foi articulada pelo próprio Lula para que a agora petista seja vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) na eleição municipal em outubro, cujo principal adversário neste momento é o prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP), que é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Estou de volta para caminharmos juntos e mantermos nosso espírito de luta na defesa da democracia", discursou Marta, emendando que a pluralidade e o respeito às diferenças estão ameaçadas pelo crescimento da direita autoritária. "Todos nós estamos convocados para o desafio de fazer da cidade de São Paulo um bastião de resistência democrática", continuou ela.

Lula disse que insistiu na volta de Marta para o PT, apesar de alguns dirigentes partidários inicialmente resistirem ao movimento, porque considerava que ela seria importante na chapa. Quando deixou o PT, em 2015, Marta se disse constrangida com o "protagonismo" da legenda em "um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou".

"O Boulos, que é um jovem talento, precisa de alguém como a Marta que tem a marca de uma boa gestão", disse o presidente. Ele comparou a ex-prefeita com o jogador Roberto Rivelino, craque do Corinthians e da Seleção Brasileira, que trocou o time do Parque São Jorge pelo Fluminense em 1975. "Você é o nosso Rivelino, Marta".

Segundo Lula, o PT precisa pensar porque não governou mais São Paulo depois de três gestões progressistas, com Luiza Erundina, hoje no PSOL, Fernando Haddad (PT) e a própria Marta. "O partido precisa fazer alianças.

Não adianta lançar candidato. Precisamos apoiar quem tem chances de vencer a eleição", acrescentou, ao defender a aliança com o PSOL e Boulos na cabeça de chapa.

As marcas da gestão de Marta Suplicy (2001-2004) à frente de São Paulo, como o Bilhete Único e os Centros Educacionais Unificados (CEUs) foram repetidamente citadas como exemplos do apelo da ex-prefeita entre os eleitores mais pobres.

Lula também aproveitou o momento para dar um recado à militância e aos dirigentes do partido. Para o presidente, é preocupante o desempenho do PT na última eleição municipal na capital. "A pergunta que faço é a seguinte: como um partido que tem 20% de preferência eleitoral, só teve 5% de votos para vereadores. Alguma coisa está errada", disse.

Para Boulos, a chegada de Marta é um passo na direção da formação do que ele chamou de frente democrática contra a "frente do autoritarismo", que na visão dele é representada por Nunes e Bolsonaro. O psolista rechaçou qualquer chance da dobradinha ser marcada por brigas e desentendimentos, mesmo com as farpas do passado, porque "unidade não se faz entre iguais" e sim entre os diferentes.

"Para aqueles que acharam que a gente não ia se entrosar, nós vamos fazer a dupla dinâmica para mudar a cidade de SP. Vai ser a aliança dos CEUs com a moradia popular, do bilhete único com as cozinhas solidárias, da experiência administrativa com a coragem de lutar pelo nosso povo", disse o pré-candidato do PSOL. Boulos brincou que Lula, responsável pela aliança com Marta, poderia trazer até o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) devido aos afagos trocados entre os dois mais cedo durante cerimônia em Santos (SP).

Presidente do PT, Gleisi Hoffmann disse considerar que a ex-prefeita saiu do PT, mas que a sigla nunca deixou fazer parte da imagem pública de Marta. Já Haddad, que chegou a ser chamado de "pior prefeito da história de São Paulo" pela ex-prefeita, deixou a rusga no passado e também exaltou a gestão de Marta, na qual teve a primeira experiência como gestor público, e afirmou que era "muito bom" tê-la no partido novamente.

O evento contou com a presença dos ministros Alexandre Padilha (PT-SP), das Relações Instuticionais, de Márcio Macêdo (PT-SE), da Secretaria-Geral da Presidência, e de Luiz Marinho (PT-SP), do Trabalho, além de parlamentares federais, estaduais e vereadores.

Primeira agenda eleitoral será na 'Martalândia'

Após a filiação, Boulos e Marta planejam o primeiro evento juntos da pré-campanha em Parelheiros, reduto eleitoral da ex-prefeita, conhecido como Martalândia. O evento vai contar com a presença e a participação da população. A data ainda não foi definida. Também é esperado a realização de uma plenária com movimentos sociais após o carnaval.

A ex-prefeita e o psolista se encontraram pela primeira vez em janeiro, em um almoço no apartamento de Marta, no Jardim Paulista, bairro nobre da zona oeste da capital. Nesse encontro, selaram uma aliança para formar uma chapa na eleições municipal deste ano. Na época, Boulos classificou o encontro como "excelente" e disse que o principal desafio de ambos é reeditar uma frente democrática para derrotar o bolsonarismo em São Paulo.

Após o encontro entre Marta e Boulos, a Executiva municipal do PT em São Paulo aprovou, com 12 votos a favor e um contra, a refiliação de Marta à sigla. Embora a filiação tenha sido concluída nesta sexta-feira, tendências internas do PT expressam oposição à volta da ex-prefeita. Dirigente nacional do partido, Valter Pomar já declarou sua intenção de apresentar um pedido para anular a filiação. As chances de êxito desse pedido, porém, são consideradas mínimas.

Isso porque foi o presidente Lula que convenceu Marta a retornar ao PT, partido que deixou de forma traumática em 2015, após 31 anos de filiação. No inicio de janeiro, o presidente chamou a ex-prefeito para uma conversa no Palácio do Planalto. Após o encontro, Marta topou voltar ao PT com a missão de ocupar a vice na chapa encabeçada por Boulos.

Para isso, porém, ela precisou deixar o comando da Secretaria Municipal Relações Internacionais da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição e tende a ser o principal adversário de Boulos na disputa pela Prefeitura. Marta justificou a troca de time alegando que não poderia estar do mesmo lado que o bolsonarismo, em alusão ao fato de Nunes buscar o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição. Bolsonaro, inclusive, deve indicar a vice emedebista.

O prefeito de São Paulo rebateu a justificativa de Marta, dizendo que nunca havia escondido da então aliada que buscava o apoio de Bolsonaro. Nunes também afirmou que ficou "muito chateado" com a decisão da ex-prefeita, acrescentado que a sua esposa, Regina Carnovale Nunes, chorou a saída de Marta. Porém, ele evitou classificar como "traição" o movimento de Marta de deixar a sua gestão para compor com o seu principal adversário.adversário.

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A proteção político-diplomática dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia, condenada em caso de corrupção envolvendo a Operação Lava Jato, gerou desgaste político imediato ao petista. O asilo político, seguido de um pedido de refúgio que na prática bloqueia a extradição dela, rendeu quatro frentes de cobrança da oposição no Brasil.

Parlamentares sugeriram a abertura de investigações pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Além disso, querem convocar o chanceler Mauro Vieira a prestar explicações na Câmara e requisitaram informações por escrito ao Itamaraty.

Ao todo, a Câmara dos Deputados já registrou seis propostas legislativas relacionadas à atuação diplomática e política de Lula, em socorro a Nadine Heredia. A defesa nega qualquer irregularidade.

O deputado Evair de Melo (PP-ES), autor de quatro delas, sugeriu à PGR a investigação de possíveis irregularidades na concessão do asilo diplomático e o uso de recursos públicos no transporte dela pela Força Aérea Brasileira (FAB). Ele também sugeriu a convocação do ministro para prestar esclarecimentos em audiência pública.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Filipe Barros (PL-PR), pediu que o TCU realize uma auditoria sobre as despesas e a regularidade do emprego da FAB, que deslocou um jatinho para buscar a ex-primeira-dama em Lima e transportá-la, bem como seu filho, até Brasília.

Já os deputados do partido Novo Adriana Ventura (SP) e Marcel Van Hattem (RS) requisitaram ao Itamaraty informações sobre a decisão de Lula. Os parlamentares querem saber, por exemplo, o que embasou a decisão do governo brasileiro e se uma futura extradição, a pedido da Justiça do país vizinho, é cogitada. Ambos indagam também se foi feita alguma avaliação prévia de impactos nas relações bilaterais com o Peru.

Para Ventura e Van Hattem, "a urgência da situação foi invocada, mas a decisão ocorreu horas após a condenação judicial e ordem de prisão, sem que, até o momento, tenham sido publicamente apresentados indícios claros de motivação política na perseguição ou de risco à vida ou integridade da requerente".

"A transparência e o respeito ao Estado de Direito exigem que se esclareçamos critérios utilizados pela diplomacia brasileira para essa concessão, que tem impactos relevantes nas relações bilaterais com o Peru e no posicionamento internacional do Brasil no combate à corrupção e à impunidade", justificaram os deputados do Novo.

Por outro lado, o advogado Marco Aurélio de Carvalho, que representa Nadine no Brasil descartou quaisquer irregularidades na proteção dada a ex-primeira-dama ou no uso do avião da FAB, destacando que seria responsabilidade do País retirá-la do Peru após conceder o asilo.

"A oposição está tentando criar um fato político. Não tem nenhum embasamento (o pedido de investigação). O asilo foi concedido dentro das regras", disse, acrescentando que não vê impactos concretos para o caso de Nadine Heredia. "A oposição quer gritar e tem o direito de fazer isso. Assim como o governo tem o direito de fazer o que acha que deve ser feito dentro das regras estabelecidas pelas convenções internacionais", concluiu.

Nadine Heridia e o ex-presidente peruano Ollanta Humala foram condenados a 15 anos de prisão, acusados de receber contribuições ilegais de campanha da Odebretch e do governo venezuelano no valor de US$ 3 milhões.

Ao anunciar a sentença, na terça-feira, 15, a Justiça ordenou a prisão imediata do casal, mas apenas Humala estava presente no tribunal. Nadia, por sua vez, se asilou na embaixada do Brasil em Lima e pediu refúgio após chegar ao País.

"A embaixada do Brasil estava plena e totalmente informada sobre a sentença da senhora Heredia pelo crime de lavagem de dinheiro", disse o ministro das Relações Exteriores Elmer Schialer sobre o asilo, destacando que o Peru era obrigado pela Convenção de Caracas a conceder o salvo-conduto imediato para Nadine deixasse o país após o asilo. "Esta decisão foi tomada em estrito cumprimento das obrigações internacionais do Peru".

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia manifestou objeção contra os planos de Tóquio de realizar exercícios militares com mísseis próximos ao território russo. O departamento manifestou sua posição em um comunicado entregue à Embaixada do Japão em Moscou nesta quinta-feira, 17.

Segundo o comunicado, o governo russo condena os testes previstos para junho na ilha de Hokkaido, que incluirão o lançamento de mísseis a partir de sistemas costeiros com alcance de até 200 km. Para Moscou, a atividade é "provocativa" e representa uma "ameaça potencial à segurança nacional", especialmente por ocorrer "nas imediações das fronteiras da Federação da Rússia".

O texto também afirma que ações como essa "contribuem para o aumento da tensão no Nordeste Asiático e na região Ásia-Pacífico como um todo" e são "absolutamente inaceitáveis". Moscou ainda adverte que "se reserva o direito de adotar todas as contramedidas necessárias para neutralizar ameaças à sua segurança" em suas fronteiras no leste. A declaração, no entanto, não especifica quais medidas poderiam ser adotadas.

Em conversa telefônica nesta quinta-feira, 17, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, abordaram os esforços para encerrar o conflito na Ucrânia, com Washington apresentando uma proposta de paz e Moscou mantendo sua disposição ao diálogo, segundo comunicados oficiais de ambos os países.

O Ministério das Relações Exteriores russo informou que Rubio, que está em Paris para discussões com aliados europeus e ucranianos, detalhou a Lavrov seus recentes contatos diplomáticos. O ministro russo "reafirmou a disposição de Moscou em continuar o trabalho conjunto com os colegas americanos para eliminar de forma confiável as causas fundamentais da crise ucraniana", segundo a nota da Rússia.

Do lado americano, a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, afirmou que Rubio apresentou a Lavrov a mesma proposta de paz discutida com europeus e ucranianos. "O presidente Donald Trump e os EUA querem que esta guerra termine, e apresentaram a todas as partes os contornos de uma paz duradoura e sustentável", declarou.

A nota americana destacou a "recepção encorajadora" à proposta em Paris, sugerindo abertura das partes para negociações. Enquanto isso, o comunicado russo enfatizou o acordo em manter "comunicação ativa", especialmente antes das próximas reuniões diplomáticas previstas para a semana que vem.