Bolsonaristas retornam ao Telegram e usam ato para espalhar desinformação

Política
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Apoiadores de Jair Bolsonaro têm aproveitado o ato convocado pelo ex-presidente na Avenida Paulista, no dia 25, para espalhar desinformação e teorias conspiratórias por meio do Telegram. Usuários da plataforma voltaram a compartilhar, por exemplo, mensagem segundo a qual caminhoneiros, motociclistas e representantes do agronegócio vão promover uma paralisação geral caso Bolsonaro seja preso.

 

"Assunto que está circulando nos bastidores. Que uma grande paralisação geral dos caminhoneiros e o agro estão articulando logo após a prisão do Bolsonaro", diz um dos posts que estão sendo distribuídos em canais bolsonaristas. "Pessoal, se preparem para o pior, porque irá haver desabastecimento nos mercados e postos de gasolina, em geral."

 

Levantamento do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com apoio do InternetLab, contabilizou nos últimos dias 951 mensagens em 96 grupos e 113 canais do Telegram com menções relativas à manifestação na Paulista. O vídeo em que Bolsonaro faz a convocação foi divulgado nesta segunda-feira, 12.

 

Entre as mensagens, Bolsonaro e sua família são mencionados 166 vezes, enquanto líderes religiosos e instituições são citados 35 vezes e o Supremo Tribunal Federal e ministros da Corte, 15 vezes. Torcidas de futebol organizadas aparecem 48 vezes. Rumores na internet diziam que a Gaviões da Fiel, do Corinthians, e a Mancha Verde, do Palmeiras, estavam convocando um ato no mesmo dia e no mesmo local da manifestação de desagravo a Bolsonaro, mas as organizadas negaram a iniciativa.

 

'Chamado'

 

"O presidente Bolsonaro está dando um recado. Estamos a 11 dias do maior evento de democracia e resgate aos movimentos patrióticos como os 70 dias nos quartéis. Eu estava lá e vocês?", afirma outra mensagem que circulou em 16 dos grupos monitorados pelo levantamento. "Vamos atender o chamado dele (Bolsonaro) para o dia 25/2/2024 às 15h na Avenida Paulista. Não esqueçam quem é o governador de SP que certamente o dará todo o apoio necessário."

 

"Temos hoje, mesmo após a saída de Bolsonaro (do governo), um ecossistema multiplataforma de desinformação e mensagem de ódio que rapidamente recebeu esse chamamento do ex-presidente", disse o pesquisador Leonardo Nascimento, responsável pelo levantamento da UFBA. "Isso cria uma efervescência no grupo, de caráter conspiratório."

 

"Mensagens insinuando uma nova tentativa de golpe e uma possível tomada de poder pelos manifestantes durante o ato, bem como mensagens em defesa da suposta perseguição política sofrida por Bolsonaro, que agora também precisa combater o Centrão, são as mais difundidas para incentivar os apoiadores a irem às ruas", diz o relatório do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

 

Mensagens em tom radical estão "recirculando" nos grupos bolsonaristas. "Barulho, conservadores! Não é hora de aposentar os sinos. O Brasil patriota precisa despertar para a batalha!", afirma uma das mensagens. "O Brasil vai se levantar. Os motoclubes estão se levantando, o povo está se levantando, caminhoneiros vão se levantar", diz outro vídeo.

 

'Ordeiro'

 

Nesta quinta-feira, 15, Bolsonaro se reuniu com o pastor Silas Malafaia na sede do PL, em Brasília, para tratar da manifestação na capital paulista. O líder evangélico alugou um trio elétrico para o ato. Segundo ele, o ato será "pacífico" e terá como mote a defesa do estado democrático de direito. "Isso vale para todo mundo", declarou.

 

"Manifestações pacíficas são livres na nossa Nação e é isso que nós vamos fazer lá. Vamos fazer uma grande manifestação em favor da liberdade de todo o povo brasileiro. Vai muito mais além do que Bolsonaro", afirmou o pastor, na saída do encontro no PL. Participaram também da reunião o assessor e advogado do ex-presidente, Fábio Wajngarten, e o deputado Zucco (PL-RS). O parlamentar gaúcho disse que a intenção é promover "um evento ordeiro e com a presença de diversos parlamentares".

 

Apoiadores do ex-presidente já organizam caravanas para a capital paulista. Segundo mensagens trocadas nas redes, os carros partirão de cidades do interior de São Paulo, de Minas e do Rio. O valor da viagem chega a R$ 200.

 

O vídeo de Bolsonaro sobre o ato na Paulista - no qual ele pede que apoiadores não levem faixas contra ninguém - foi a 12.ª publicação do ex-presidente com mais engajamento no Instagram nos últimos 365 dias, segundo a agência Bites. A soma de curtidas, compartilhamentos e comentários resultou em 1,4 milhão de reações. O vídeo foi visto 14,4 milhões de vezes. "Isso mostra uma força do ex-presidente como há alguns meses não se via", disse o diretor adjunto da Bites, André Eler.

 

Investigação

 

Bolsonaro convocou apoiadores para o ato na Paulista para se defender das suspeitas que o atingem. Na semana passada, a Polícia Federal cumpriu mais de 30 mandados de busca e apreensão na Tempus Veritatis, tendo como alvo, além do ex-presidente, aliados próximos. Ele teve de entregar seu passaporte às autoridades. A defesa tenta reverter a decisão na Justiça.

 

Uma prisão preventiva contra o ex-presidente é considerada difícil por juristas ouvidos pela reportagem. "Só pode ser preso se começar a destruir provas, combinar testemunhas, continuar a cometer crime ou tentar fugir. Ainda está na fase de inquérito. Nem a fase de ação penal começou", afirmou Antônio Carlos de Freitas Junior, mestre em Direito pela USP e especialista Direito Público e Eleitoral.

 

Apoio

 

Citado em mensagens bolsonaristas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que confirmou que irá participar do ato, defendeu ontem o ex-presidente. Ele, que foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, se candidatou e foi eleito com apoio do ex-presidente, disse manter relação fraterna com o ex-chefe do Executivo e ter gratidão por ele.

 

Para Tarcísio, não há elementos para responsabilizar o ex-presidente. "Sinceramente, não consigo ver - e essa não é uma opinião minha, tem muitos juristas divididos - nada que traga uma responsabilização. Acho que o pessoal está criando muita coisa. Com o tempo, tudo vai ser esclarecido."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na noite deste domingo, 20, esperar que Rússia e Ucrânia farão um acordo "nesta semana". "Ambos começarão a fazer grandes negócios com os Estados Unidos, que está prosperando, e farão uma fortuna", escreveu na rede social Truth Social.

A declaração foi feita em meio a um cessar-fogo de Páscoa marcado por acusações de violação de ambos os lados.

Ainda na rede social, o republicano citou o "Dia da Libertação", como batizou 2 de abril que foi a data em que anunciou uma série de tarifas.

Segundo ele, muitos líderes mundiais e executivos de empresas pediram alívio das imposições tarifárias desde a ocasião. "É bom ver que o mundo sabe que estamos falando sério, porque ESTAMOS! Eles devem corrigir os erros de décadas de abuso, mas isso não será fácil para eles", reforçou ao chamar quem quiser "o caminho mais fácil" para "construir na América".

Ele classificou como "traição não tarifária" questões que chamou de "manipulação cambial", subsídios para exportação, padrões agrícolas protecionista citando como exemplo a proibição de milho geneticamente modificado na União Europeia, entre outros.

Trump também voltou a criticar a discussão a respeito da deportação de Kilmar Armando Abrego Garcia, que foi deportado por engano para uma prisão em El Salvador.

Embora o governo do republicano tenha admitido um "erro administrativo", o republicano disse que Garcia está sendo tratado como uma "pessoa muito doce e inocente, o que é uma mentira total, flagrante e perigosa", voltando a citar sua ligação com a gangue MS-13. Os advogados de Garcia negam.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, condenou o ataque feito à usina hidrelétrica Rucalhue, que está sendo construída no rio Biobío, na região centro-sul do país, na madrugada deste domingo, 20, quando 52 veículos foram incendiados no local.

"Assim como fizemos em outros casos, perseguiremos e encontraremos os responsáveis que deverão responder perante a justiça. Continuaremos trabalhando sem recuar para erradicar todas as formas de violência", disse o mandatário em publicação na rede social X.

De acordo com o adido de Polícia do Chile, Renzo Miccono, indivíduos armados invadiram a localidade por volta das 2h30 da madrugada, ameaçaram quatro guardas de segurança e depois atearam fogo a máquinas.

O empreendimento terá 90 megawatts (MW) de capacidade e enfrenta resistência de povos originários locais e de ambientalistas. No último dia 03 de abril, a Corte de Apelações de Concepción negou dois recursos que pediam a paralisação das obras.

De acordo com a Associated Press, a região do Biobío já havia sido palco de outro ataque incendiário no último dia 7 de abril, quando duas residências e um galpão foram destruídos. Segundo autoridades, o ataque foi reivindicado pela Resistência Mapuche Lafkenche (RML).

A empresa responsável pelo projeto, Rucalhue Energía SpA, controlada da China International Water & Electric Corp (CWE), afirmou que está colaborando com as autoridades para encontrar os responsáveis e reforçar as medidas de segurança.

"Por sorte, não houve feridos graves. No entanto, os danos materiais são significativos. Uma avaliação completa das perdas está sendo feita", disse a companhia em comunicado, acrescentando que o projeto segue toda a regulamentação ambiental, social e técnica.

*Com informações da Associated Press.

O Exército de Israel afirmou que errou ao matar 15 socorristas na Faixa de Gaza. De acordo com relatório sobre o incidente, que ocorreu em 23 de março, foram identificadas "várias falhas profissionais, violações de ordens e uma falha em relatar completamente o incidente", informou a autoridade militar neste domingo, 20.

Na ocasião, uma ambulância em busca de pessoas feridas por um ataque aéreo israelense foi alvo de tiros em um bairro na cidade de Rafah, que fica na fronteira com o Egito. Quando outras ambulâncias chegaram para procurar a equipe desaparecida, também foram alvo de tiros.

"A investigação determinou que o fogo nos dois primeiros incidentes resultou de um mal-entendido operacional pelas tropas, que acreditavam enfrentar uma ameaça tangível por parte das forças inimigas", disse o exército israelense em referência a um possível veículo policial do Hamas.

Israel disse que demitiu o comandante adjunto do Batalhão de Reconhecimento Golani, por fornecer "um relatório incompleto e impreciso durante o debriefing" e repreendeu o oficial comandante da 14ª Brigada, citando sua responsabilidade geral.

Para Jonathan Whittall, chefe do escritório humanitário das Nações Unidas em Gaza e na Cisjordânia, a investigação militar israelense careceu de responsabilização. "Corremos o risco de continuar assistindo a atrocidades se desenrolarem, e as normas destinadas a nos proteger, se erodindo". Fonte: Dow Jones Newswires.