Sócio da clínica de laudo falso de Marçal desviou dinheiro para comprar barco

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Sócio da clínica que teria emitido laudo falso usado pelo candidato Pablo Marçal (PRTB) para atacar o deputado Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Luiz Teixeira da Silva Júnior além de condenado pelo uso de documentos falsos para obtenção de registro de médico, é réu na Justiça de São Paulo por peculato enquanto gestor do hospital municipal de Cajamar, na região metropolitana.

Na ação, em curso na 2.ª Vara Judicial de Cajamar, Luiz Teixeira é acusado de ter "aceitado promessa de vantagem indevida" do ex-prefeito Toninho Ribas, entre 2015 e 2016. Para assegurar um contrato de gestão do hospital, Teixeira teria reformado o imóvel da sogra do ex-prefeito, transformando a casa em um ambulatório infantil.

Até a publicação deste texto, o Estadão buscou contato com a defesa de Teixeira e de Toninho Ribas, mas sem sucesso. O espaço está aberto.

Em nota, a defesa de Teixeira afirmou que ele "não possui qualquer envolvimento na elaboração do laudo médico" divulgado por Marçal. Segundo o texto, o nome de sua empresa foi usado "sem o seu consentimento por pessoa que lhe é desconhecida".

À Justiça de São Paulo, a defesa de Teixeira pediu que o processo fosse colocado em sigilo pelo fato de o médico atuar como perito judicial e exercer "função diplomática de adido de saúde perante o Consulado de Chipre". Os advogados pediram a absolvição de Teixeira sob alegação de falta de provas.

"A imputação feita pelo órgão acusador não transbordou os limites da mera argumentação, pois não há um mínimo de prova sequer capaz de afirmar ter ocorrido ou se concretizado o "fato criminoso", devendo ser o acusado Luiz Teixeira absolvido pela inexistência de crime, e não pela ausência de provas em si", sustenta a defesa.

Prestes a ir a julgamento, Luiz Teixeira também já carrega uma ficha no Tribunal de Justiça de São Paulo. Ele foi sentenciado por uso de documento falso, falsificação de documento particular e estelionato.

Quase um mês depois de ver o Ministério Público pedir sua condenação por desvio de dinheiro público, o médico vê seu nome arrastado para o centro de um furação: sua clínica estampa o documento usado por Pablo Marçal para Guilherme Boulos (PSOL).

Segundo a denúncia da Promotoria, Toninho Ribas ofereceu a Luiz Teixeira "vantagem indevida consistente na garantia de manutenção e prorrogação do contrato de gestão firmado pela prefeitura municipal com a Fenaesc, desde que Luiz Teixeira realizasse reforma e, consequentemente, garantisse expressiva valorização económica de imóvel pertencente à família de Antônio, mais precisamente a seus sogros" - no caso a instalação de um ambulatório infantil no local.

A peça levada à Justiça em 2017 diz que Luiz Teixeira aceitou a vantagem e fez as obras determinadas por Toninho no imóvel onde passou a funcionar o ambulatório infantil municipal. Durante a reforma, o então prefeito determinava como seriam executadas as melhorias, diz o documento.

A Promotoria narra que, segundo depoimento do próprio Luiz Teixeira no processo, foram investidos na reforma mais de R$ 1 milhão pertencentes à Fenaesc, quantia que não foi reembolsada por Toninho Ribas.

Em troca, o contrato foi mantido até janeiro de 2017, quando acabou interrompido pela prefeitura de Cajamar sob alegação de que Teixeira estaria desviando verbas públicas para contas pessoais.

A acusação abarca ainda outros supostos atos ilícitos e investigados, entre eles o filho de Toninho, Kaio Poloto. Ele teve o celular grampeado na investigação. Segundo a Promotoria, em uma conversa ele falou com o pai sobre "pagamento e eventual desvio de verbas municipais pelo gestor da Organização Social contratada para administrar o Hospital Municipal". A organização social era Luiz Teixeira.

O Ministério Público narra que, em uma ocasião, Kaio Poloto ligou para seu pai e contou que "o dinheiro que eles transferiram para a Fenaesc em 22 de dezembro foi desviado para contas de Liliane (esposa de Luiz Teixeira) e para a compra de um barco em benefício do próprio Luiz".

Luiz Teixeira teve a prisão decretada, ficou foragido. Ele foi condenado por uso de documento falso e falsificação de documento particular.

Em junho de 2017 a Justiça colocou o médico no banco dos réus por peculato e decretou sua prisão preventiva no processo sobre a reforma do imóvel da sogra de Toninho Ribas. A detenção foi imposta uma vez que a Justiça considerou que medidas cautelares alternativas não bastavam a Teixeira. Isso porque ele já era considerado foragido em razão de uma ordem de prisão decretada em outro processo, também por peculato.

Neste processo anterior, Luiz Teixeira e sua mulher Liliane foram acusados de 108 atos de peculato, além de lavagem de dinheiro, falsificação de documento e organização criminosa.

O decreto de prisão contra o médico nesse caso indica que ele teria "arquitetado um sofisticado esquema de desvio de verbas da saúde pública municipal para se apropriar ilicitamente dos recursos que deveriam se destinar ao hospital municipal de Cajamar".

Segundo a Promotoria alegou à época, o desvio seria de R$ R$1.85 milhão. A lavagem de dinheiro teria ocorrido por "meio de compras de bem de alto valor, doações à igreja e a políticos de expressão nacional e celebração de contratos fictícios".

O Ministério Público sustentou que Luiz Teixeira e sua mulher "faziam do crime um hábito de vida".

A ficha criminal de Luiz Teixeira indica que a prisão ocorreu somente em abril de 2019. Meses depois, o juízo de primeiro grau o absolveu e à sua mulher das acusações da Promotoria. A Justiça alegou que não havia "provas seguras para condenar os acusados". Em setembro do mesmo ano, Luiz Teixeira foi solto.

O MP recorreu da absolvição e conseguiu a reforma da decisão no Tribunal de Justiça de São Paulo. Teixeira pegou um ano e dois meses em regime aberto por uso de documento falso e falsificação de documento particular. A prisão foi convertida em prestação de serviços à comunidade por oito meses e 24 dias e multa de R$ 8,6 mil.

A pena começou a ser cumprida em setembro do ano passado.

Processo de peculato está prestes a ser julgado

O processo já está na fila de julgamento. Em agosto, o Ministério Público de São Paulo apresentou suas alegações finais - últimos argumentos - na ação penal.

A Promotoria diz que ficou devidamente comprovado que o ex-prefeito Toninho Ribas determinou a reforma de imóvel pertencente à sua sogra para que nele funcionasse o ambulatório infantil, gerando grande valorização do imóvel. Segundo o MP, o imóvel estava "em situação de total abandono antes das reformas".

"Aceitando a promessa da vantagem, Luiz Teixeira realizou as obras e, para tanto, despendeu quase um milhão de reais com a reforma, com a garantia de que o contrato seria mantido", segue o MP.

A Promotoria diz que o próprio Luiz Teixeira se complicou em depoimento. Segundo o Ministério Público, ele deixou claro que a construção do ambulatório infantil foi imposta "por Toninho Ribas", cabendo a ele também a escolha do local. Também relatou que foi orientado pela Procuradoria do município de que a manobra poderia gerar problemas para a mulher de Toninho Ribas e então foi solicitado que ele elaborasse uma carta no sentido de que havia identificado o prédio e manifestando interesse na construção no local.

"O gestor da Fenaesc também contou que foram gastos mais de 800 mil reais na reforma do local "para dar visibilidade política para a prefeitura" deixando claro assim um dos interesses de Antônio Carlos com a construção do Ambulatório Infantil", registrou o Ministério Público.

Segundo a Promotoria, Luiz Teixeira mudou de versão quando foi interrogado em juízo. O órgão ressaltou as inconsistências do relato e diz que o médico "trouxe narrativa visando se eximir da responsabilidade criminal, o que passa necessariamente por desmentir os fatos que levavam ao reconhecimento do crime de corrupção passiva".

Os "maus antecedentes" de Luiz Teixeira

Ao defender a condenação de Luiz Teixeira, o MP destaca a "culpabilidade" do médico, vez que aceitou vantagem indevida "obviamente com o intento de obter benefício econômico". O órgão frisou que o dinheiro investido na reforma do imóvel da família do ex-prefeito saiu de fato dos cofres públicos, dos repasses efetuados pela prefeitura para a Fenaesc.

A Promotoria também assinala os "maus antecedentes" de Luiz Teixeira. São citadas duas condenações anteriores do médico - uma por uso de documento falso e falsificação de documento particular e outra por estelionato.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE LUIZ TEIXEIRA

Desde as primeiras horas da madrugada do sábado - dia 05 de outubro -, de forma inaceitável e sem justificativa, diversas acusações, ameaças e ofensas, têm sido direcionadas ao Dr. Luiz Teixeira da Silva Júnior, sua esposa e seus filhos, ocasionando grande angústia e apreensão em relação à integridade física e mental de todos.

Em respeito, e compromissado com a transparência do processo eleitoral, o Dr. Luiz Teixeira, de maneira intencional, aguardou o encerramento do horário de votação deste primeiro turno para se pronunciar publicamente e esclarecer que não possui qualquer envolvimento na elaboração do laudo médico referente ao Sr. Guilherme Castro Boulos.

Ademais, esclarece que o Dr. José Roberto de Souza nunca trabalhou ao seu lado, assim como nunca prestou atendimento ao Sr. Guilherme Castro Boulos em sua clínica, ressaltando que o seu nome - e o de suas empresas - foram utilizados sem o seu consentimento por pessoa que lhe é desconhecida.

Todos os fatos que estão sendo relacionados ao Dr. Luiz Teixeira serão devidamente esclarecidos nos autos da investigação, cujo resultado é de seu absoluto interesse.

Aclaramos, por fim, que o Dr. Luiz Teixeira está à inteira disposição das autoridades competentes para fornecer os esclarecimentos necessários.

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O Pentágono enviou um destroyer da Marinha para reforçar a segurança na fronteira sul dos Estados Unidos. O uso do navio de guerra - que esteve envolvido em operações no Oriente Médio ano passado - é incomum e reflete a utilização das Forças Armadas para conter o que Donald Trump chama de "invasão".

O USS Gravely, um destroyer lança-mísseis guiado, foi enviado para patrulhar águas que normalmente seriam vigiadas pela Guarda Costeira dos EUA. O general Gregory Guillot, que supervisiona o Comando Norte dos EUA, disse em comunicado que o navio de guerra vai melhorar a capacidade de "proteger a integridade territorial, a soberania e a segurança do país".

Autoridades de defesa acrescentaram, na mesma declaração, que o envio contribuirá para "uma resposta coordenada e robusta no combate ao terrorismo marítimo, à proliferação de armas, ao crime transnacional, à pirataria, à destruição ambiental e à imigração ilegal por via marítima."

O envio do destroyer é parte da resposta do Departamento de Defesa à ordem do presidente Donald Trump que exige o reforço na segurança da fronteira sul. Autoridades americanas não responderam se o Gravely será usado para suprir uma possível falta de navios da Guarda Costeira ou se tem a intenção de enviar um sinal aos cartéis de drogas.

Donald Trump classificou oito grupos criminosos como organizações terroristas e disse ter chegado a hora de "os Estados Unidos travarem uma guerra contra os cartéis".

O secretário de Defesa Pete Hegseth disse repetidas vezes que considera a fronteira uma questão de segurança nacional. E enviou milhares de tropas da ativa para reforçar as operações do Departamento de Segurança Interna da divisa com o México.

O envio do Gravely para a região do Comando Norte deixa aberta a possibilidade de que o destroyer realize patrulhas no Mar do Caribe ou no Golfo do México, que Donald Trump renomeou como Golfo da América. Poderia ser uma demonstração de força militar na região.

Autoridades de Defesa dos EUA disseram que o destroyer viajará com um pequeno grupo de agentes da Guarda Costeira a bordo. Isso levanta a possibilidade de uso do navio militar para auxiliar na detenção de imigrantes encontrados no mar. A Guarda Costeira costuma realizar missões de aplicação da lei enquanto os militares não tem essa permissão na maioria dos casos.

Com mais de 155 metros de comprimento, o Gravely é maior que todas as embarcações da frota da Guarda Costeira e transporta dezenas de mísseis de cruzeiro Tomahawk. No ano passado, o destroyer escoltou o porta-aviões USS Dwight D. Eisenhower e derrubou munições lançadas por militantes houthis do Iêmen contra navios comerciais e militares no Mar Vermelho. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente Donald Trump anunciou neste sábado, 15, que os Estados Unidos lançaram uma ação militar "decisiva e poderosa" contra os rebeldes Houthis, no Iêmen. Parte do "Eixo da Resistência" do Irã, o grupo causou problemas ao comércio global com ataques no Mar Vermelho em meio ao conflito no Oriente Médio.

Segundo balanço preliminar do ministério da Saúde ligado ao grupo rebelde, com os bombardeios, nove pessoas morreram e outras nove ficaram feridas, a maioria em estado grave.

"Eles empreenderam uma campanha implacável de pirataria, violência e terrorismo contra navios, aeronaves e drones americanos e de outros países", escreveu Trump na sua rede, a Truth Social.

Entenda mais sobre os Houthis:

Quem são os Houthis?

Os Houthis, militantes xiitas que lutam contra o governo do Iêmen há cerca de duas décadas, tomaram Sanaa em 2014, forçando o governo internacionalmente reconhecido a fugir para a cidade de Áden, no sul do país. Uma coalizão liderada pela Arábia Saudita lançou uma intervenção militar para expulsar os militantes, mas falhou, deixando os Houthis no poder no norte do Iêmen, onde governam a maior parte da população e desencadearam uma guerra civil que já matou centenas de milhares de pessoas e resultou em uma das piores crises humanitárias do mundo.

Os Houthis construíram sua ideologia com base na oposição a Israel e aos Estados Unidos, vendo-se como parte do "eixo de resistência" liderado pelo Irã, juntamente com o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza e o Hezbollah no Líbano. Sua ideologia é refletida no slogan da bandeira do grupo: "Alá é grande, morte à América, morte a Israel, maldição aos judeus, vitória ao Islã". Seus líderes frequentemente traçam paralelos entre as bombas de fabricação americana usadas para atacá-los no Iêmen e as armas enviadas a Israel para uso em Gaza.

Conversas entre os Houthis e a Arábia Saudita em Riad, capital saudita, em setembro de 2023, geraram esperanças de um acordo de paz que potencialmente reconheceria o direito dos Houthis de governar o norte do Iêmen. Em dezembro de 2023, as Nações Unidas anunciaram que as partes em conflito haviam concordado com um plano de paz, mas o progresso foi interrompido quando o governo iemenita reconhecido internacionalmente, apoiado pela Arábia Saudita, suspendeu a implementação do acordo, citando uma escalada Houthi no Mar Vermelho.

Antes considerados rebeldes mal organizados, os Houthis, nos últimos anos, reforçaram seu arsenal, que agora inclui mísseis de cruzeiro e balísticos, além de drones de longo alcance. Analistas atribuem essa expansão ao apoio do Irã, que tem fornecido equipamentos a milícias em todo o Oriente Médio.

Os EUA consideram os Houthis um grupo terrorista?

A administração de Donald Trump inicialmente designou os Houthis como uma organização terrorista em 2021, pouco antes de Trump deixar o cargo. A administração Biden suspendeu a designação semanas depois, para facilitar a entrada de ajuda humanitária no Iêmen.

No início de 2024, o Departamento de Estado anunciou que estava restabelecendo a designação devido aos ataques dos Houthis a navios. A designação de terrorista permite que Washington imponha sanções financeiras e processe criminalmente qualquer pessoa que forneça "apoio material" ao grupo designado, e o Departamento do Tesouro tem tentado pressionar os Houthis cortando financiamento e suprimentos.

Agora, de volta à Casa Branca, Trump anunciou uma ação militar contra o grupo no Iêmen.

Por que os Houthis atacaram navios?

Por mais de um ano, os Houthis, um grupo militante apoiado pelo Irã que controla o norte do Iêmen, têm atacado navios no mar Vermelho, causando graves interrupções em uma importante rota comercial, e têm alvejado Israel com drones e mísseis.

Semanas após o ataque do grupo terrorista Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que levou Israel a desencadear uma campanha militar devastadora em Gaza, os Houthis, em solidariedade ao grupo terrorista Hamas, disseram que atacariam qualquer navio viajando para ou saindo de Israel. Declararam também ter lançado drones e mísseis contra Israel. No entanto, os critérios dos Houthis para atacar navios rapidamente se expandiram para incluir embarcações com ligações diretas ou indiretas a Israel ou com visitas anteriores a portos israelenses, além de navios vinculados aos EUA ou ao Reino Unido, com a categoria sendo ampliada várias vezes desde então.

Os Houthis já lançaram mais de 130 ataques com drones e mísseis contra embarcações no mar Vermelho e no Golfo de Áden, segundo a organização Armed Conflict Location and Event Data, que monitora os ataques. Talvez a operação mais ousada dos Houthis tenha ocorrido em novembro de 2023, quando homens armados sequestraram um navio chamado Galaxy Leader e o levaram a um porto iemenita, onde mantêm os tripulantes como reféns há mais de um ano.

Como os ataques afetaram os países ao redor do mundo?

Para viajar entre a Ásia e a Europa, empresas globais de transporte têm navegado há décadas pelo mar Vermelho e pelo Canal de Suez. Agora, muitas companhias estão desviando sua carga pelo Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África, uma rota que adiciona 6.400 km e 10 dias às rotas de transporte, além de exigir mais combustível. Assim, os ataques dos Houthis aumentaram significativamente os custos e riscos de transporte de mercadorias, contribuindo para preços mais altos em todo o mundo, de acordo com economistas - aumentos que influenciaram eleições na Europa e nos Estados Unidos.

O custo de envio de um contêiner da Ásia para o norte da Europa subiu 270% em 12 meses, segundo a Freightos, um mercado digital de transporte marítimo. No entanto, continuar usando o Mar Vermelho aumentaria os prêmios de seguro e colocaria em risco os marinheiros, alguns dos quais foram mortos ou sequestrados nos ataques.

O que o governo Biden fez para conter os ataques?

Na nova ordem mundial de Trump, os homens fortes dominam e o poder faz a razão

A administração Biden montou uma força-tarefa naval chamada Operação Guardião da Prosperidade, que inclui os Estados Unidos, o Reino Unido e outros aliados, e tem patrulhado o mar Vermelho para, nas palavras do Secretário de Estado Antony Blinken, "preservar a liberdade de navegação" e "a liberdade de transporte marítimo". Navios de guerra americanos e britânicos interceptaram alguns mísseis e drones Houthis antes que alcançassem seus alvos. Na primeira metade deste ano, os dois países realizaram pelo menos cinco ataques conjuntos contra os Houthis.

Neste sábado, Donald Trump, que hoje anunciou uma operação militar contra o grupo, classificou a resposta de Joe Biden aos rebeldes no governo anterior como "pateticamente fraca".

A operação militar de Trump e a ameaça ao Irã

No dia 11 de março, os huthis anunciaram que retomariam seus ataques contra barcos que considerassem vinculados a Israel no mar Vermelho, em uma demonstração de apoio aos palestinos da Faixa de Gaza.

O grupo rebelde apoiado pelo Irã alegou que havia tomado a decisão porque Israel não havia permitido a retomada do fornecimento de ajuda à Faixa de Gaza, devastada por uma guerra entre Israel e o movimento islâmico palestino Hamas.

Donald Trump, ao anunciar a operação militar contra o grupo no Iêmen neste sábado, afirmou que os houthis "travaram uma campanha implacável de pirataria, violência e terrorismo contra a América e navios, aeronaves e drones americanos". "Usaremos uma força letal avassaladora até atingirmos nosso objetivo", disse o presidente em sua rede social Truth Social.

Trump também pediu ao Irã que interrompesse "imediatamente" seu apoio aos "terroristas huthis". "O apoio aos terroristas huthis deve cessar imediatamente! Não ameacem o povo americano, seu presidente (...) nem as rotas marítimas do mundo. E se o fizerem, cuidado, porque os Estados Unidos os farão plenamente responsáveis e não lhes faremos nenhum favor!", escreveu Trump na mesma plataforma. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O governo Donald Trump enviou centenas de venezuelanos, acusados de integrar a gangue Tren de Aragua, para a prisão em El Salvador, um dia após a Justiça americana ter bloqueado o uso de uma lei do século 18 para acelerar deportações.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, publicou neste domingo, 16, o vídeo que mostra homens algemados sendo retirados de um avião durante a noite e levados para prisão, onde têm as cabeças raspadas.

"Hoje, os primeiros 238 membros da organização criminosa venezuelana Tren de Aragua chegaram ao nosso país", escreveu Bukele, que havia se oferecido para receber prisioneiros enviados pelos Estados Unidos. Os venezuelanos foram levados para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), a mega prisão de segurança máxima com capacidade para 40 mil pessoas.

Três países da América Central - Guatemala, Panamá e Costa Rica - concordaram em servir de "ponte" para os imigrantes deportados pelos Estados Unidos, mas El Salvador é o único que aceita prisioneiros. "Os Estados Unidos pagarão uma tarifa muito baixa para eles, mas alta para nós", disse Nayib Bukele.

O governo americano espera que esse acordo incomum de transferência de prisioneiros para El Salvador seja o início dos esforços para usar a Lei de Inimigos Estrangeiros, de 1798, para prender e deportar suspeitos de envolvimento com o Tren de Aragua, sem os processos legais necessários nos casos de imigração.

A Lei dos Inimigos Estrangeiros permite deportações sumárias das pessoas de países em conflito com os Estados Unidos ou em casos de "invasão". A lei, mais conhecida por ter servido como base para prisão de nipo-americanos durante a 2ª Guerra, foi invocada três vezes na história americana - sempre no contexto de guerras.

No sábado, o juiz James Boasberg, do Tribunal Distrital Federal em Washington, emitiu uma ordem de restrição temporária que impedia o governo de deportar imigrantes com base na Lei de Inimigos Estrangeiros. A medida preventiva atendeu a pedido de organizações da sociedade civil, que se anteciparam aos planos do governo para expulsar cinco venezuelanos com base na Lei de Inimigos Estrangeiros.

No mesmo dia, o governo Donald Trump invocou o dispositivo ao declarar uma "invasão" do Tren de Aragua nos Estados Unidos.

Em audiência convocada às pressas a pedido da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), o juiz então ordenou que qualquer voo que tivesse partido com imigrantes venezuelanos sob a ordem de Trump retornasse aos Estados Unidos. "É algo que você precisa garantir que seja cumprido imediatamente", disse ao Departamento de Justiça.

O advogado que representou o governo, Drew Ensign, argumentou que o presidente tem amplos poderes sobre imigração e política externa e pediu ao juiz que não interviesse em suas deportações. "A maioria ou todos eles são indivíduos incrivelmente perigosos", disse. O Departamento de Justiça recorreu imediatamente da decisão.

O momento exato dos voos para El Salvador é importante porque James Boasberg emitiu a ordem pouco antes das 19h de sábado, pelo horário de Washington, ou 17h pelo fuso de El Salvador. Mas o vídeo publicado por Bukele mostra que os prisioneiros desembarcaram à noite, o que levanta dúvidas se o governo Donald Trump ignorou a determinação da Justiça.

No domingo, Bukele publicou uma captura de tela nas redes sociais sobre a ordem do juiz Boasberg e escreveu: "Ops... Tarde demais."

A procuradora-geral Pam Bondi acusou o juiz de ter ficado do lado de "terroristas em vez da segurança dos americanos". E alegou que a decisão "ignora uma autoridade bem estabelecida sobre o poder do presidente Trump, colocando o público e as forças de segurança em risco".

Acontece que os Estados Unidos não estão em guerra, como prevê a Lei de Inimigos Estrangeiros. E juristas afirmam que invocar o dispositivo é uma forma de o governo Trump acelerar as deportações, ao privar os imigrantes de direitos.

"É ilegal usar essa lei em tempos de paz, na ausência de uma invasão por uma potência estrangeira, o que não temos", disse Ilya Somin, professor de direito da Universidade George Mason, em meio à expectativa de que a proclamação fosse assinada pelo presidente.

No documento, o governo diz que "todos os cidadãos venezuelanos com 14 anos de idade ou mais" podem ser "apreendidos, contidos, segurados e removidos como Inimigos Estrangeiros". Como Trump tentou caracterizar os imigrantes sem documentos como criminosos - muitas vezes com alegações falsas -, o temor é que a lei possa ser usada para expulsar pessoas inocentes. Os imigrantes não teriam audiências de asilo. E o governo não teria que provar que eles são criminosos em tribunal.

Um dos autores do processo, o tatuador identificado como J.G.G. para proteger sua segurança, disse que fugiu da Venezuela após ter sido torturado pela polícia e temia ser morto se fosse deportado. Ele afirmou que não teve a chance de apresentar seu caso perante um juiz. E que um agente de imigração o identificou erroneamente como membro de uma gangue por causa de suas tatuagens.

(Com agências internacionais)