Países vulneráveis abandonam sala, se dizem 'insultados' e negociação empaca em COP de Baku

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- O mais importante evento sobre mudança climática deste ano, a COP29, chegou ao primeiro dia de "prorrogação" com tensão e dificuldade de consenso. Os grupos que representam os países insulares e mais vulneráveis deixaram uma das salas de negociação afirmando que não têm sido ouvidos pelos países ricos. Em Baku, no Azerbaijão, já é noite de sábado.

O evento estava marcado para acabar na sexta-feira, 22, mas a proposta provisória apresentada pela presidência da conferência deste ano foi amplamente criticada.

A edição tem sido chamada de "COP das Finanças" pelo objetivo de definir as metas de financiamento climático que devem ser pagas pelas nações desenvolvidas (responsáveis majoritárias pela crise climáticas) para aquelas em desenvolvimento.

"Nós ainda estamos aqui, mas, para as reuniões serem produtivas, precisam ser inclusivas. A voz dos mais vulneráveis não pode ser ignorada", apontou a Aliança das Pequenas Ilhas (Aosis, na sigla em inglês). A organização destacou, contudo, que segue comprometida com o processo. "Nós nos encontramos continuamente insultados pela falta de inclusão, nossas falas têm sido ignoradas", completou em comunicado oficial.

Os dois grupos que se retiraram são dos países menos desenvolvidos (LDC), o que inclui Angola, Bangladesh, Haiti e Togo, dentre outros, e de países insulares (Aosis), como Maldivas, Jamaica e Barbados.

Os países insulares têm reiteradamente reclamado de dificuldade de diálogo nesta edição da cúpula, considerada decisiva para que consigam atenuar os riscos sofridos pelas mudanças climáticas e, também, fazer uma transição energética. Na prática, contudo, tem falado até na sensação de "humilhação", embora a emergência atual faça com que ainda queiram chegar a um consenso.

Representantes de países chegaram a sair correndo de uma das salas de reunião, para não falar com a imprensa. O líder da delegação dos Estados Unidos, John Podesta, foi cercado por uma multidão. Um manifestante gritava por um "fair paid share".

"Estou triste, cansado, faminto, privado do sono", descreveu o principal negociador do Panamá, Juan Carlos Monterrey Gomez, ao ser cercado por jornalistas. "Precisamos sair daqui com um acordo. Nosso governo precisa de um acordo. Não podemos voltar de mãos abanando. Estamos em uma estrada para o inferno (crise climática)."

O último rascunho do acordo foi divulgado na tarde de sexta-feira, há mais de 24 horas. Um novo texto era esperado para este sábado, mas não há previsão de veiculação. A plenária final do evento chegou a ser anunciada para as 19h (11h em Brasília) e foi postergada para as 20h.

Como em outras edições, é possível que haja somente a "passagem de bastão" para a próxima sede, o Brasil, enquanto as negociações continuam na sequência.

Nos bastidores, a condução da presidência da COP29 tem sido criticada. A pouca expressão do Azerbaijão em outras cúpulas já havia despertado desconfiança desde quando o anúncio da sede foi feito. A escolha ocorreu no ano passado em meio à dificuldade de definição de um representante da região e a relutância da Rússia.

Negociações têm avançado pela noite e madrugada nos últimos dias. O entendimento é de que as discussões na primeira semana e início da atual se perderam por temas diversos, em vez de estarem focadas nos assuntos principais da cúpula deste ano, especialmente o financiamento climático.

O rascunho apresentado na sexta tinha uma linguagem ambígua, avaliada por negociadores e especialistas como possível de diversas interpretações, enfraquecendo, inclusive, a demanda de que o valor acordado seja de recursos públicos. A proposta é de US$ 250 bilhões anuais até 2035, enquanto estudos apontam que são necessários US$ 1,3 trilhão.

Contraproposta brasileira

Nesse cenário, o Brasil apresentou uma contraproposta de US$ 300 bilhões até 2030, com uma atualização para US$ 390 bilhões até 2035. A base é um estudo do Independent High Level Expert Group (IHLEG), que tem apoiado deliberações sobre a agenda de financiamento climático desde a COP-26, ligado à London School of Economics and Political Science, da Universidade de Londres, veiculado durante a COP29.

No estudo, os pesquisadores apontam o US$ 1,3 trilhão anual, mas com uma distribuição de recursos calculada com diversas fontes (dinheiro dos próprios países em desenvolvimento, bancos multilaterais etc), na qual o repasse dos países ricos necessário seria de ao menos os US$ 300 bilhões.

Hoje, a fonte de recursos do chamado Novo Objetivo Quantificado Coletivo (NCQG na sigla em inglês) é incerta, inclusive sobre a forma como chegará aos países, abrindo brecha até para empréstimos com juros expressivos, por exemplo. O entendimento é que a proposta oficial pende mais para a demanda das nações ricas e que há muitas ambiguidades.

Além disso, o valor de US$ 250 bilhões não seria um avanço significativo na prática, pois os US$ 100 bilhões foram acordados em 2009.

Em coletiva de imprensa na sexta, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o Brasil fez diversas consultas a outros países e grupos regionais para tentar avançar. Temos muitos números e até agora bem poucos recursos", afirmou. "Os US$ 300 bilhões até 2030 são só o começo de uma jornada. Consideramos que a resolução tem que sair dessa COP. Não podemos adiar. Mais do que prejuízo para a COP-30, seria um prejuízo para a vida de todos nós", completou.

A meta hoje em vigor é de US$ 100 bilhões, mas há divergências se ela foi cumprida em algum momento deste sua implementação de fato, entre 2020 e 2025. Dentre os aspectos questionados, estão o tipo de recurso - parte dos países entende que não poderia incluir na conta empréstimos a juros altos - e a sua destinação.

O NCQG é considerado chave para que os países em desenvolvimento consigam investir em adaptação, mitigação e transição energética. No Acordo de Paris, está firmado o compromisso de que essa responsabilidade de repasse de recursos é dos maiores responsáveis pela crise climática, os países ricos.

No rascunho, são reconhecidas as barreiras fiscais enfrentadas pelos países em desenvolvimento e, então, chama-se a todos os atores dos setores público e privado para "trabalharem juntos" para aumentar a contribuição gradualmente, para chegar a US$ 1,3 trilhão até 2035. Isto é, o valor poderia ser alcançado se fossem somados todos os investimentos de origens diversas. O compromisso obrigatório de recursos dos países ricos seria, contudo, o de US$ 250 bilhões.

A ativista ambiental Greta Thunberg criticou em suas contas nas redes sociais o rascunho da proposta da COP29. Ela chamou o resultado do fórum internacional até então apresentado de "completo desastre" e disse que a falta de compromisso real com a tomada de medidas para frear a crise climática representa uma "sentença de morte para inúmeras pessoas cujas vidas foram ou serão arruinadas".

* A repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade

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Uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro em uma comunidade em Duque de Caxias resultou na morte de sete pessoas, neste domingo, 27.

A ação da polícia na comunidade da Rua 7 foi motivada, segundo a corporação, para prender criminosos envolvidos em um ataque à 60ª DP (Campos Elíseos), em fevereiro. Na época, os envolvidos tentaram libertar o suposto chefe do tráfico de drogas da comunidade de Vai Quem Quer, Rodolfo Manhães Viana, vulgo Rato, e Wesley de Souza do Espírito Santo, braço direito dele. Dois agentes ficaram feridos durante a tentativa de resgate, mas já receberam alta do hospital.

Com as mortes deste domingo, são 13 óbitos, no total, durante as operações realizadas para tentar deter os suspeitos de participar do resgate. Até o momento, 40 pessoas foram presas devido à participação direta ou indireta no ataque.

De acordo com a Polícia Civil, as vítimas deste domingo eram "narcoterroristas" que foram "neutralizados" após um confronto com os policiais. Entre os mortos, estaria o chefe da comunidade, cunhado de Joab da Conceição Silva, o homem que ordenou e comandou a tentativa de resgate na delegacia.

Segundo a polícia, a facção realizava um baile na comunidade antes de ser abordada.

"A equipe aguardou até o fim do evento clandestino para realizar a abordagem. Os criminosos atacaram os policiais e houve confronto, resultando nas mortes dos sete bandidos", diz nota da corporação.

A polícia afirma que as investigações apontam que todos os mortos estavam envolvidos na ação criminosa, mas não divulgou a identidade das vítimas. "O trabalho segue, a fim de capturar todos os envolvidos", afirma o comunicado.

Um dia após o sepultamento do papa Francisco, uma missa em sufrágio ao pontífice foi realizada na manhã deste domingo, 27, no Vaticano. A celebração reuniu milhares de pessoas na Praça São Pedro, assim como há grande movimentação na Basílica Santa Maria Maior, em Roma, onde começou a visitação ao túmulo de Francisco.

Na missa, o líder católico foi chamado de "o pastor que o Senhor deu ao povo" pelo cardeal Pietro Parolin - secretário de Estado do Vaticano e próximo de Francisco. De acordo com a Vatican News (portal oficial da Santa Sé), a celebração reuniu funcionários do Vaticano e religiosos, além de adolescentes católicos de diversas partes do mundo e outros milhares de fiéis.

A grande quantidade de jovens presentes se deve à canonização que ocorreria neste domingo, de Carlos Acutis - jovem que morreu aos 15 anos, em 2006, e está prestes a se tornar o primeiro "santo millennial" ou "santo da internet". Contudo, a cerimônia foi adiada após a morte de Francisco, e será remarcada para depois do conclave.

Na missa, o cardeal falou do luto e da importância de manter o legado do papa. "O nosso carinho por ele, que se manifesta nestas horas, não deve permanecer uma simples emoção do momento; devemos acolher o seu legado e torná-lo vida vivida", salientou. "Só a misericórdia cura, só a misericórdia cria um mundo novo, extinguindo os focos de desconfiança, ódio e violência: este é o grande ensinamento do papa Francisco."

"Recordamos com carinho o nosso amado papa Francisco. Esta memória está particularmente viva entre os funcionários e fiéis da Cidade do Vaticano, muitos dos quais estão aqui presentes, e a quem gostaria de agradecer pelo serviço que prestam diariamente. A vós, a todos nós, ao mundo inteiro, o papa Francisco envia do céu o seu abraço", declarou o cardeal.

Além disso, Parolin falou de outro valor que marcou o papado de Francisco: "recordou-nos que não pode haver paz sem o reconhecimento do outro, sem a atenção aos mais fracos e, sobretudo, nunca pode haver paz se não aprendermos a perdoar-nos reciprocamente, usando entre nós a mesma misericórdia que Deus tem para com a nossa vida".

Para a missa, as pessoas se aglomeraram em diversas vias do Vaticano. Dentre o público também estavam brasileiros, que chegaram a exibir a bandeira do País. O milagre reconhecido pela Igreja que levou à beatificação de Acutis envolvia um jovem brasileiro.

Na missa, o cardeal também destacou outra das marcas do pontífice: a alegria. "Lembrou-nos disso desde a sua eleição e repetiu-o a nós muitas vezes, colocando no centro do seu pontificado a alegria do Evangelho", destacou. "A alegria pascal, que nos sustenta na hora da provação e da tristeza, hoje é algo que quase se pode tocar nesta praça. É visível sobretudo nos vossos rostos", completou.

Este é o segundo dia dos "novendiais", de novo dias seguidos de missas em sufrágio de Francisco, chamado de "Domingo da Misericórdia". A data também é marcada como o segundo domingo de Páscoa, celebrado pela Igreja Católica.

Confira abaixo a íntegra da homilia do cardeal Parolin

"Queridos irmãos e irmãs,

Jesus Ressuscitado aparece aos seus discípulos, enquanto estavam fechados no cenáculo com medo, com as portas fechadas (Jo 20, 19). O seu estado de espírito está perturbado e o seu coração triste, porque o Mestre e Pastor, que tinham seguido deixando tudo, foi pregado na cruz. Viveram coisas terríveis e sentem-se órfãos, sozinhos, perdidos, ameaçados e indefesos.

A imagem inicial que o Evangelho nos oferece neste domingo pode representar bem o estado de espírito de todos nós, da Igreja e do mundo inteiro. O Pastor que o Senhor deu ao seu povo, o Papa Francisco, terminou a sua vida terrena e deixou-nos. A dor pela sua partida, a tristeza que nos assalta, a perturbação que sentimos no coração, a sensação de desorientação: estamos a viver tudo isto, como os apóstolos entristecidos pela morte do Senhor.

No entanto, o Evangelho diz-nos que é precisamente nestes momentos de escuridão que o Senhor vem até nós com a luz da ressurreição, para iluminar os nossos corações. O Papa Francisco lembrou-nos disso desde a sua eleição e repetiu-o a nós muitas vezes, colocando no centro do seu pontificado a alegria do Evangelho que - como escreveu na Evangelii gaudium - «enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior e do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria (n. 1).

A alegria pascal, que nos sustenta na hora da provação e da tristeza, hoje é algo que quase se pode tocar nesta praça; é visível sobretudo nos vossos rostos, queridos meninos e adolescentes que viestes de todo o mundo para celebrar o Jubileu. Vós vindes de muitos lugares: das dioceses da Itália e da Europa, dos Estados Unidos à América Latina, da África à Ásia e dos Emirados Árabes... convosco está aqui realmente presente aqui nesta Praça São Pedro, esta manhã, o mundo inteiro!

A todos vós, dirijo uma saudação especial, que dirijo também aos bispos que vos acompanharam, aos sacerdotes, aos catequistas, aos responsáveis ??dos vossos grupos. Uma saudação especial com o desejo de vos fazer sentir o abraço da Igreja e o carinho do Papa Francisco, que teria desejado encontrar-vos, olhar-vos nos olhos e passar no meio de vós para vos saudar.

Diante dos muitos desafios que estais chamados a enfrentar - recordo, por exemplo, o da tecnologia e da inteligência artificial, que caracteriza particularmente a nossa época -, nunca esqueçais de alimentar a vossa vida com a verdadeira esperança, que tem o rosto de Jesus Cristo, vivo e ressuscitado em sua Igreja. Com Ele, nada será demasiado grande ou difícil! Com Ele, nunca estareis sozinhos nem abandonados a vós mesmos, nem sequer nos momentos mais sombrios e mais difíceis de vossa vida! Ele vem ao vosso encontro ali onde vos encontrais, para vos dar coragem para viver, a coragem para partilhar as vossas experiências, as vossas preocupações, os vossos dons, os vossos sonhos, a coragem para ver no rosto de quem está próximo ou distante um irmão e uma irmã a amar, a quem tendes tanto para dar e, ao mesmo tempo, de quem tendes tanto para receber, a coragem para vos ajudar a ser generosos, fiéis e responsáveis na vida que vos espera, para vos fazer compreender o que mais importa na vida: o amor que tudo compreende e tudo espera (cf. 1 Cor 13, 7).

Hoje, segundo domingo da Páscoa, Domingo in Albis, celebramos a festa da Divina Misericórdia.

É precisamente a misericórdia do Pai, maior do que os nossos limites e os nossos cálculos, que caracterizou o Magistério do Papa Francisco e a sua intensa atividade apostólica, juntamente com o desejo de a anunciar e partilhar com todos - o anúncio da boa nova, a evangelização -, que foi o programa do seu pontificado. Ele lembrou-nos que «misericórdia é nome próprio de Deus e, portanto, ninguém pode colocar limites ao seu amor misericordioso, com o qual Ele quer levantar-nos e tornar-nos pessoas novas.

É importante, queridos irmãos e irmãs, acolher como um precioso tesouro esta indicação na qual o Papa Francisco tanto insistiu. E - permiti-me dizê-lo - o nosso carinho por ele, que se manifesta nestas horas, não deve permanecer uma simples emoção do momento; devemos acolher o seu legado e torná-lo vida vivida, abrindo-nos à misericórdia de Deus e tornando-nos também nós misericordiosos uns para com os outros.

A misericórdia leva-nos de novo ao coração da fé. Lembra-nos que não devemos interpretar a nossa relação com Deus e o nosso ser Igreja segundo categorias humanas ou mundanas, porque a boa notícia do Evangelho é, antes de mais nada, a descoberta de sermos amados por um Deus que tem entranhas de misericórdia e ternura por cada um de nós, independentemente dos nossos méritos; lembra-nos, além disso, que a nossa vida é tecida de misericórdia: só podemos levantar-nos após as nossas quedas e olhar para o futuro se temos alguém que nos ama sem limites e nos perdoa. E, por isso, somos chamados a comprometer-nos em viver as nossas relações não já segundo critérios calculistas ou ofuscados pelo egoísmo, mas abrindo-nos ao diálogo com o outro, acolhendo quem encontramos no caminho e perdoando as suas fraquezas e os seus erros. Só a misericórdia cura, só a misericórdia cria um mundo novo, extinguindo os focos de desconfiança, ódio e violência: este é o grande ensinamento do Papa Francisco.

Jesus mostra-nos este rosto misericordioso de Deus na sua pregação e nos gestos que realiza; e, como ouvimos, ao apresentar-se no Cenáculo após a ressurreição, oferece o dom da paz e diz: «Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos (Jo 20, 23). Assim, o Senhor Ressuscitado determina que os seus discípulos, a sua Igreja, sejam instrumentos de misericórdia para a humanidade, para aqueles que desejam acolher o amor e o perdão de Deus. O Papa Francisco foi testemunha luminosa de uma Igreja que se inclina com ternura perante os feridos e cura com o bálsamo da misericórdia; e recordou-nos que não pode haver paz sem o reconhecimento do outro, sem a atenção aos mais fracos e, sobretudo, nunca pode haver paz se não aprendermos a perdoar-nos reciprocamente, usando entre nós a mesma misericórdia que Deus tem para com a nossa vida.

Irmãos e irmãs, precisamente neste domingo da misericórdia, recordamos com carinho o nosso amado Papa Francisco. Esta memória está particularmente viva entre os funcionários e fiéis da Cidade do Vaticano, muitos dos quais estão aqui presentes, e a quem gostaria de agradecer pelo serviço que prestam diariamente. A vós, a todos nós, ao mundo inteiro, o Papa Francisco envia do Céu o seu abraço.

Confiemo-nos à Virgem Maria, a quem ele estava tão devotamente ligado que escolheu repousar na Basílica de Santa Maria Maior. Que Ela nos proteja, interceda por nós, vele pela Igreja e sustente o caminho da humanidade na paz e na fraternidade. Assim seja."

Sobre o túmulo do papa Francisco na Basília Santa Maria Maggiore (Santa Maria Maior), em Roma, repousa uma rosa branca. A flor também esteve presente nos rituais do funeral do pontífice, quando um grupo composto por migrantes, pessoas trans, moradores de rua e prisioneiros recepcionou a chegada do corpo do papa na igreja.

O que muitos fiéis não sabem é que a rosa branca é um símbolo presente na vida do papa desde que Jorge Mario Bergoglio ainda era arcebispo em Buenos Aires. Segundo a agência de notícias do Vaticano, a "Vatican News", a rosa representa a devoção de Francisco com a santa Teresa de Lisieux, conhecida como "Santa Teresinha do menino Jesus".

Sempre que se encontrava em dificuldades, o papa pedia a intercessão de Santa Teresinha, para que viesse ao seu auxílio ou de outras pessoas necessitadas. E acreditava que, de alguma forma, sempre acabava recebendo de presente uma rosa branca, que, para ele, era o sinal da graça concedida pela santa.

Em entrevista aos jornalistas Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti para o livro "El jesuita", o papa Francisco falou sobre sua relação com Santa Teresinha.

"Quando tenho um problema, peço à santa, não para resolvê-lo, mas para tomá-lo em suas mãos e me ajudar a aceitá-lo, e como sinal quase sempre recebo uma rosa branca", disse ainda antes de se tornar papa.

Na época, os jornalistas viram um vaso de rosas brancas sobre uma prateleira diante de uma foto de Santa Teresinha, na biblioteca do então arcebispo de Buenos Aires.

Antes de morrer, dias depois de sua última internação, o papa voltou a receber como presente uma rosa branca. Na ocasião, a flor inclusive era proveniente da cidade de Lisieux, na França, onde viveu a santa.

No início de seu pontificado, Francisco também ganhou uma rosa branca de presente de um jardineiro do Vaticano após fazer uma vigília pela Síria. Como hábito, o papa manteve uma rosa branca na mesa de sua varanda na casa Santa Marta.

O túmulo do pontífice na Basília Santa Maria Maggiore foi aberto para visitação neste domingo, 27, segundo dos nove dias de luto oficial por Francisco. Após esse período, um conclave será realizado para eleger o próximo papa. Nenhuma data foi definida ainda, mas a expectativa é de que o processo tenha início até o próximo dia 10 de maio.

O papa Francisco morreu no último dia 21, um dia após o domingo de Páscoa, em decorrência de um AVC. No último sábado, 26, cerca de 400 mil pessoas acompanharam o funeral do papa, considerando os que estavam na Praça de São Pedro e no trajeto por onde passou o cortejo fúnebre.