A Avenida 23 de Maio terá um bosque de conservação logo após o viaduto Doutor Manuel José Chaves, próximo aos Arcos do Bixiga, na região da Bela Vista, na área central de são Paulo. O Bosque do Canário está sendo implantado pela Secretaria Municipal das Subprefeituras, com previsão de conclusão das obras para janeiro.
Segundo a Prefeitura, a área verde terá cerca de 5 mil m2 e árvores de espécies nativas da Mata Atlântica e do Cerrado, além de um jardim de chuva de 80 m2.
Ambos são soluções baseadas na natureza (SbN), projetos de bioengenharia que usam princípios e processos dos ecossistemas naturais para enfrentar desafios socioambientais nas cidades, como a ocorrência de enchentes e as ilhas de calor.
O bosque deve servir como um fragmento florestal e um refúgio da biodiversidade em uma das vias mais importantes da cidade, que liga o centro à zona sul.
Conforme a Secretaria das Subprefeituras, a primeira fase de plantios, com mais de 40 árvores, já foi realizada. Agora, está sendo implantado o jardim de chuva, que vai captar as águas das chuvas vindas das regiões mais altas.
O Bosque do Canário não será aberto à visitação. Isso deve favorecer o desenvolvimento das mudas e a chegada dos animais, permitindo ainda a formação da serrapilheira, uma camada de matéria orgânica deteriorada que conserva a fertilidade do solo.
Neste ano, a gestão de Ricardo Nunes (MDB) foi alvo de críticas pelo anúncio ou efetivo corte de árvores em outros bairros da cidade, como Vila Mariana e São Mateus. As obras que levariam ao desbaste foram paralisadas pela Justiça.
Temperatura menor e corredor biológico
O tráfego intenso da Av. 23 de Maio e sua impermeabilização são fatores que contribuem para o fenômeno das ilhas de calor, que aumenta as temperaturas na cidade.
Segundo dados da plataforma UrbVerde, realizada por pesquisadores da USP em parceria com outras universidades, o coeficiente de ilha de calor em trechos da avenida paulistana chega ao intervalo de 9 a 15, um dos mais altos segundo a escala da ferramenta.
O cálculo do índice considera a intensidade das ilhas de calor (soma dos graus Celsius acima da média de temperatura dividido pela área com temperatura superior à média), multiplicada pela população de idosos e crianças em determinada área, por serem mais sensíveis ao tempo quente.
Segundo a UrbVerde, "árvores e rios refrescam o microclima e são a melhor solução tecnológica para adaptação das cidades aos efeitos das mudanças climáticas".
A diminuição da temperatura é uma das finalidades da implementação do bosque, segundo a Prefeitura.
O local também foi escolhido pela proximidade com o Bosque das Maritacas, localizado a pouco mais de um quilômetro, na Avenida do Estado com a Rua da Figueira, próximo ao Parque Dom Pedro II, implantado em setembro.
A ideia é formar um corredor de biodiversidade que ligue os bosques da região central aos que ficam na Marginal Tietê, na região de Cidade Tiradentes.
Com o plantio de espécies da Mata Atlântica e Cerrado, o bosque deve exercer ainda um papel na dispersão de sementes que é feita pelos pássaros, "levando as árvores que um dia dominaram o horizonte a ocuparem seus espaços de forma natural", apontou em nota a Secretaria das Subprefeituras.