Netflix recebe críticas por gravar em SP série sobre o acidente do Césio 137 de Goiânia

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Em junho, a Netflix anunciou que tinha começado as gravações da minissérie Emergência Radioativa, inspirada no acidente radiológico com Césio 137, que aconteceu em 1987 em Goiânia.

Criada por Gustavo Lipsztein, dirigida por Fernando Coimbra e produzida pela Gullane, a trama de Emergência Radioativa acompanha a atuação de físicos e médicos na corrida contra o tempo para salvar milhares de vidas e a cidade. A minissérie tem no elenco nomes como Johnny Massaro, Paulo Gorgulho, Bukassa Kabengele, Alan Rocha, Antonio Saboia, Luiz Bertazzo e Tuca Andrada.

No entanto, os goianos não ficaram felizes com o fato de o filme ter sido rodado em São Paulo e não em Goiânia. Na semana passada, quando o acidente completou 38 anos, o Conselho Municipal de Cultura da cidade publicou uma carta aberta à Netflix manifestando a insatisfação.

Para os conselheiros, Goiânia tem condições para receber uma produção deste porte, com profissionais qualificados, infraestrutura, locações autênticas e, sobretudo, o vínculo emocional e histórico com o fato histórico. "Trazer a filmagem para cá não seria apenas fazer justiça à nossa história, mas também gerar empregos, movimentar a economia local e fortalecer a cultura brasileira com mais verdade e representatividade", diz o documento.

"O acidente com o Césio-137 foi considerado pela Agência Internacional de Energia Atômica o maior acidente radiológico do mundo fora de usinas nucleares. Ele não pertence a um cenário montado em estúdio: ele pertence a Goiânia, ao seu povo, às suas cicatrizes", completa a carta.

O Estadão procurou a Netflix, mas a plataforma não se manifestou até a publicação desta matéria.

Relembre o acidente

Em setembro de 1987, catadores de sucatas encontraram um aparelho de radioterapia abandonado em uma clínica desativada no centro de Goiânia. O material foi levado para um ferro-velho onde a cápsula contendo césio 137 foi rompida. O pó branco luminescente foi manipulado, distribuído entre familiares e vizinhos, sem que soubessem do risco.

O resultado foi o maior acidente radiológico do Brasil e um dos maiores do mundo, alcançando o nível 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares.

Ao todo 110 mil pessoas foram monitoradas durante a força-tarefa que envolveu diversos órgãos locais, nacionais e internacionais. Oficialmente, 249 pessoas foram contaminadas, das quais quatro morreram em decorrência da síndrome aguda da radiação.

Marcas na cidade

Goiânia ainda hoje carrega marcas do episódio. Os endereços do ferro-velho e de onde a cápsula foi aberta foram cavados a 8 metros de profundidade e concretados. Hoje permanecem como um grande vazio já que nenhuma obra pode ser feita ali por questões de segurança.

A clínica desativada onde os catadores de recicláveis encontraram a cápsula de césio foi demolida e o lugar cedeu espaço para a construção do Centro de Convenções de Goiânia, inaugurado em 1994.

Abadiânia de Goiás, cidade vizinha a Goiânia, foi escolhida para receber as mais de seis mil toneladas de rejeitos que foram acondicionados em

containeres de concreto. Entre os rejeitos estão roupas, utensílios, objetos, animais de estimação, árvores, restos de demolição, etc.

Outro ponto que conta a história do acidente é o Cemitério Parque, onde foram enterradas as vítimas, em especial, a menina Leide das Neves Ferreira, que tinha seis anos quando manipulou o pó que brilhava. Ela morreu poucas semanas depois. O corpo foi enterrado em um caixão especial revestido de chumbo, que pesava 700kg. Depois o túmulo foi concretado para evitar a propagação da radiação.

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A emboscada seguida da morte do ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, não foi o primeiro crime do qual ele foi vítima. Em dezembro de 2023, Fontes sofreu um assalto, na Praia Grande, litoral paulista. Na época, ele já demonstrava preocupação com sua segurança e de familiares, após anos de atuação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC).

"Eu combati esses caras durante tantos anos e agora os bandidos sabem onde moro. Minha família, agora, quer que eu deixe o emprego em Praia Grande e saia de São Paulo", disse ao Estadão após o episódio. Ele ainda apontava estar preocupado com a exposição do assalto nas mídias e que sua família se sentia ameaçada.

Ele e a mulher saíam de um restaurante e iam para casa quando foram abordados. Um dos criminosos apontou a arma para a cabeça do ex-policial. Foram roubados celulares, joias, cartões e a moto do casal. Os suspeitos foram presos em flagrante, e os bens, recuperados. Na época, Fontes atuava como secretário da Administração na prefeitura de Praia Grande.

Em maio de 2022, o ex-delegado-geral foi vítima de um assalto, mas na Avenida do Estado, zona sul da capital. Uma dupla em uma motocicleta o abordou, mas desistiu ao perceber que o veículo que Fontes dirigia era blindado.

Dois anos antes, em 2020, Fontes sofreu uma emboscada de assaltantes no Ipiranga. Ele reagiu e chegou a balear um dos criminosos, que conseguiu fugir. Já em 2012, o ex-chefe da Polícia Civil foi abordado por dois homens na Via Anchieta, no ABC.

Houve troca de tiros e um dos suspeitos morreu. Fontes estava junto de uma investigadora da Polícia Civil. Ela foi atingida no pescoço e ficou internada por 45 dias após passar por cirurgia.

Quando atuava à frente do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Fontes comandou parte das investigações sobre os atentados praticados pelo PCC no Estado.

Foi ele que indiciou alguns dos principais líderes da facção, como Marcos Willians Herbas Camacho, o "Marcola". Também foi responsável pelo indiciamento da mulher de "Marcola" por lavagem de dinheiro da organização criminosa.

A morte de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado de São Paulo assassinado na Praia Grande, nesta segunda-feira, 15, reascendeu debates sobre a violência e atuação criminosa no litoral do Estado.

Nos últimos dias, quem já havia sinalizado a respeito do tema foi Guilherme Derrite, Secretário de Segurança Pública de São Paulo. Em palestra no Fórum O Otimista Brasil 2025, no dia 8 de setembro, o capitão e deputado federal deu detalhes sobre o "cenário de guerra" que encontrou na Baixada Santista durante as Operações Escudo e Verão, realizadas em 2023 e 2024 na região.

"[As operações] Foram amplamente divulgadas pela mídia; em alguns casos, criticadas por aqueles que não imaginavam o cenário de guerra que foi encontrado lá na Baixada Santista", iniciou Derrite. "Eu quero deixar claro que o confronto é a nossa última opção. Se tem alguém que não deseja o confronto entre a Polícia e criminosos sou eu, porque é o momento mais triste da vida dessa função que eu exerço aqui", ressaltou.

O secretário citou que foram desmobilizadas 27 barricadas, espécie de trincheiras improvisadas, na dimensão da Baixada Santista.

"Não é um cenário de paz e tranquilidade. O que estava se formando ali era a tentativa da criação de um território paralelo dentro do Estado de São Paulo. Nós já vimos esse filme acontecer em outros locais e tenho certeza de que é muito prejudicial", explicou.

Após a morte de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo, assassinado na Praia Grande, no litoral sul, nesta segunda-feira, 15, a Polícia Civil e a Polícia Militar iniciaram uma verdadeira "caçada" em busca dos criminosos na Baixada Santista. Fontes foi baleado em uma emboscada enquanto saía da sede da Prefeitura de Praia Grande.

Mais de uma centena de policiais da capital foram enviados para a Baixada Santista. "Estamos mobilizando o DHPP e o Deic nessa investigação. É algo muito triste. O doutro Ruy era uma figura emblemática da Polícia Civil e muito atuante no combate ao crime organizado. Estava aposentado desde maio 2023. Vamos priorizar a investigação, mas já determinei a ida do (Batalhão de) Choque para a Baixada para tranquilizar a população", afirmou o secretário da Segurança Púbica, Guilherme Derrite.

Ruy Ferraz Fontes ficou conhecido por sua atuação contra a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele chefiou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, após ser nomeado para o cargo de delegado-geral no então governo João Doria (na época no PSDB).

Imagens de câmeras de segurança mostram que Fontes estava em alta velocidade, provavelmente fugindo dos bandidos, quando entra no cruzamento e é atingido por um ônibus. O carro capota. Os bandidos descem da picape com fuzis e atiram no delegado, que reagiu.

Para promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco) ouvidos pelo Estadão, "tudo indica que foi um crime de máfia".

"Policiais militares atenderam rapidamente à ocorrência e localizaram o veículo utilizado pelos criminosos. A cena foi preservada para a realização da perícia, e o caso está sendo registrado na Polícia Civil. Equipes estão em campo, realizando diligências e utilizando ferramentas de inteligência para identificar, prender e responsabilizar os envolvidos", disse, em nota a Secretaria da Segurança Pública.

A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol do Brasil) emitiu nota de pesar e chamou o morte de Fontes de "tragédia sem precedentes". "Trata-se de uma tragédia de proporções inenarráveis, que atinge não apenas a Polícia Civil, mas toda a sociedade brasileira, pois cala uma voz firme e comprometida com a lei, a justiça e a proteção da cidadania. Sua dedicação, coragem e os enormes prejuízos impostos às organizações criminosas fizeram dele alvo da violência que sempre combateu com bravura", diz a nota.

Histórico de atuação contra o PCC

Ruy ficou conhecido por sua atuação contra a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele chefiou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, após ser nomeado para o cargo de delegado-geral no então governo João Dória (na época no PSDB).

Em 2006, ele foi o responsável por indiciar toda a cúpula do primeiro Comando da Capital (PCC), inclusive Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, antes de os bandidos serem isolados na penitenciária 2 de presidente Venceslau.