Após a morte do papa Francisco, anunciada na manhã desta segunda-feira, 21, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmou que não enxerga as pautas do sumo pontífice como progressistas, mas sim que elas refletem a "humanidade do Evangelho".
"Sua mensagem eu não diria que é de uma linha progressista, eu diria que sua mensagem é trazer a essência do Evangelho", afirmou o bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers.
Disse ainda que espera que o próximo papa seja escolhido "de acordo com o que o momento exige". O processo de eleição é chamado conclave, no qual podem votar os cardeais com menos de 80 anos.
Questionado se o próximo papa deveria seguir a mesma "linha" de Francisco, o secretário-geral da CNBB preferiu destacar a "riqueza" do conclave. "São 252 cardeais de 90 países, olha que riqueza. Essa é a expressão do mundo dentro da Igreja, as mais diferentes realidades estão ali presentes, e essas representações vão apresentar aquilo que o momento atual exige."
"É importante vermos a humanidade, a solidariedade do papa Francisco, a sua aproximação com as feridas e dores da humanidade, seu modo de ser e estar mostrava o quanto ele estava perto. Nos faz refletir o quanto precisamos também nos humanizar. Essas são as propostas do Evangelho. Foi muito bonito ver o papa destacando mulheres em cargos que jamais tinham acontecido, para mostrar o quanto a Igreja quer valorizar a pessoa humana, sem preconceitos, buscando a dignidade", destacou.
A CNBB lembrou ainda que Francisco viveu "uma vida coerente com o nome que ele escolheu para o seu pontificado", em referência a São Francisco de Assis, protetor dos animais e padroeiro da ecologia. O papa já deu, inclusive, diversas declarações e até assinou documentos pedindo a líderes globais pela conservação ambiental.
"São pequenos gestos que, já durante a sua vida, mostraram a simplicidade do seu modo de ser, e também na hora da sua morte ele continua nos mostrando o quanto precisamos ser simples, porque a nossa maior dádiva é a vida eterna", disse Hoepers.
Francisco simplificou o próprio funeral. Ele renunciou à tradição secular que costuma levar nove dias, na qual papas são enterrados em três caixões interligados feitos de cipreste, chumbo e carvalho. Em vez disso, será enterrado em um único caixão de madeira revestido de zinco.
Entre os cardeais de todo o mundo, oito são brasileiros. Sete deles têm menos de 80 anos e podem votar, enquanto um já ultrapassou a idade limite para depositar seu voto, mas ainda pode ser votado.
São eles:
- Odilo Pedro Scherer - arcebispo da Arquidiocese de São Paulo
- João Braz de Aviz - arcebispo emérito da Arquidiocese de Brasília e da Congregação para a Vida Consagrada, no Vaticano
- Orani João Tempesta - arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
- Sergio da Rocha - arcebispo da Arquidiocese de Salvador
- Paulo Cezar Costa - arcebispo da Arquidiocese de Brasília
- Leonardo Ulrich Steiner - arcebispo da Arquidiocese de Manaus
- Jaime Spengler - arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre
- Raymundo Damasceno Assis - arcebispo emérito da Arquidiocese de Aparecida (tem 88 anos, não pode votar no conclave, mas pode ser votado).
Foi ressaltado ainda o carinho de Francisco com os brasileiros. "A alegria do papa de falar do Brasil, a disposição, o humor, nos toca profundamente esse carinho não só porque ele é latino-americano, uma identificação direta conosco, mas porque de fato ele tem um carinho pelo Brasil".