Como é 'Folhas de Outono', filme que surpreendeu ao ser eleito o melhor de 2023 pela 'Time'?

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Vivemos em uma cultura de descarte e desperdício. O princípio é que algo ou alguém se resume àquela parte sua que tem algum valor produtivo, suscetível de ser explorada até a obsolescência. O resto deve ser ignorado ou jogado fora. Quando essa parte se esgota ou expira, ela também deve ser descartada. É o capitalismo eficiente. Essas imagens de rejeito são recorrentes em Folhas de Outono, desde os produtos vencidos que Ansa (Alma Pöysti) joga fora no supermercado até os entulhos destinados à caçamba e à destruição nos canteiros de obra em que Holappa (Jussi Vatanen) trabalha.

 

Contudo, a questão que o veterano cineasta finlandês Aki Kaurismaki realmente coloca em seu filme, em exibição nos cinemas do Brasil, é se esse casal de protagonistas, Ansa e Holappa, também se resume a seu valor produtivo. Se esses dois seres proletários, quase invisíveis, também existem apenas como máquinas numa linha de produção, com todos os demais aspectos de suas vidas devendo ser descartados e ignorados.

 

Em outras palavras, seriam eles também material de rejeito num mundo em que somos o quanto valemos, ou são dignos de amor, de um romance, de poesia para além da mera sobrevivência? A questão não é apenas se existe amor em Helsinki, mas sim se existe amor nos tempos do capitalismo tardio.

 

O filme foi vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes. É um feito maior, mas não mais surpreendente do que emplacar o 1º lugar na lista de melhores de 2023 da Time, revista tradicional e generalista norte-americana, à frente de medalhões de Hollywood.

 

Ansa é uma etiquetadora de supermercado, que vive uma rotina mecanizada entre corredores sem vida, transporte público e lasanha de micro-ondas, até ser demitida por colocar na bolsa um sanduíche vencido. Holappa é um pedreiro alcoólatra que se protege por trás do senso de humor cáustico e da garrafa sempre à mão. São duas existências submersas em uma melancolia desesperançada, até que eles se conhecem e despertam um no outro o desejo por algo mais que simplesmente pagar boletos.

 

É a perfeita estrutura de uma comédia romântica - e é exatamente isso que Folhas de Outono é. Nos artifícios narrativos que separam o casal, como Holappa perder o número do telefone de Ansa anotado em um pedaço de papel, nos movimentos de câmera mínimos, apenas funcionais, e nos cortes secos, o longa de Kaurismaki é não só uma homenagem à fórmula clássica, mas especificamente um tributo aos grandes exemplares do gênero criados por Charles Chaplin, como Luzes da Ribalta e Luzes da Cidade - algo que fica bem explicitado na cena e no plano final do filme.

 

O diretor finlandês, porém, não se resume a reproduzir essas referências. O aspecto mais interessante de Folhas é que o que parece realmente interessar ao longa é questionar a ética da comédia romântica em tempos de capitalismo tardio. Um elemento sonoro recorrente no filme é o noticiário no rádio sobre a Guerra da Ucrânia.

 

Nessa insistência da atrocidade e da barbárie interrompendo a rotina banal dos protagonistas, Kaurismaki parece perguntar-se (e a nós) sobre a moralidade do romance em tempos de guerra, de bombardeios de hospitais e genocídio de crianças. E ao fazer isso, ele questiona a própria ética da arte nos tempos atuais: qual a moralidade de contar a história de dois personagens brancos se apaixonando quando o mundo inteiro parece prestes a acabar, seja pela hecatombe bélica ou climática?

 

A resposta é que nós precisamos de beleza. Precisamos manter e acreditar no valor intrínseco da arte, mesmo quando todo o resto da humanidade é uma linha de produção de feiura.

 

As locações centrais do longa representam, de certa forma, o esqueleto que sustenta o capitalismo - o supermercado, o canteiro de obras -, locais tidos como sem poesia. E o que Kaurismaki e seu filme propõem é encontrar e revelar a poesia nesses lugares e nas pessoas que os habitam.

 

Ele faz isso com a ajuda das performances sutis e comoventes de Pöysti e Vatanen, de um roteiro recheado de diálogos afiados ("estou deprimido porque bebo muito", "e por que você bebe muito?", "porque estou deprimido") e de uma trilha musical onipresente e impecável. As canções de Folhas são tão centrais e conduzem a trama de tal forma que o filme acaba sendo quase um musical nórdico.

 

Os títulos vão desde exemplares do cancioneiro pop finlandês que parecem um Roberto Carlos de Helsinki até a apresentação da girl band Maustetytöt, uma espécie de Breeders nórdica, cuja canção Syntynyt Suruun Ja Puettu Pettymyksin (Nascida na tristeza e vestida de decepção, em tradução livre) resume a melancolia proletária do capitalismo tardio do longa e ficaria grudada na sua cabeça se você conseguisse pronunciar algum som em finlandês.

 

Tudo isso somado ao estilo já consagrado do cineasta - desde o uso chapado de cores primárias como o verde, azul e vermelho até o humor tão impassível quanto genial (o naipe da senhorinha que controla o karaokê no bar é puro suco de Kaurismaki) - faz do filme uma das produções mais bem realizadas e irresistíveis de 2023.

 

Folhas de Outono não quer denunciar as atrocidades da guerra, resolver a catástrofe climática ou evitar o apocalipse iminente, mas aquece o coração do espectador de um jeito que nós desesperadamente precisamos no mundo atual. Na esperança melancólica de Ansa, que não compara homens a porcos porque porcos são inteligentes e empáticos, e na amargura macambúzia de Holappa, um homem cujo reflexo no espelho despedaçado é tão quebrado quanto ele, o diretor finlandês oferece delicadeza ao cenário apocalíptico em que nos encontramos.

 

Tão recorrente quanto o noticiário radiofônico da guerra é o gesto de Ansa de mudar para uma outra estação tocando música - e talvez essa seja a síntese perfeita do longa. Porque não somos máquinas de produção, nosso prazo de validade ainda não expirou e precisamos de poesia. Temos direito à beleza e ao amor. Do contrário, talvez realmente esteja na hora de jogar a humanidade no lixo.

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O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), estabeleceu ontem critérios para o uso obrigatório das câmeras corporais pelos policiais militares de São Paulo. Conforme a decisão, os equipamentos devem ser usados em três situações: operações de "grande envergadura", incursões em "comunidades vulneráveis para restaurar a ordem pública" e operações para responder ataques a policiais militares.

Essas são situações prioritárias para uso das câmeras, mas a ideia é que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) amplie a instalação dos aparelhos, especialmente nas circunstâncias definidas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública anteriormente. "Na medida em que for viável, o Estado de São Paulo deve garantir que unidades que realizam patrulhamento preventivo e ostensivo também sejam contempladas", explica o ministro na decisão.

Os critérios foram definidos após uma série de episódios de violência policial em São Paulo que pressionaram o governador. Recentemente, Tarcísio admitiu que errou ao criticar as câmeras corporais em ocasiões anteriores.

O QUE ACONTECEU AGORA?

Barroso já havia definido a obrigatoriedade das câmeras nos efetivos policiais paulistas. Foi o próprio governo de São Paulo quem pediu um detalhamento sobre os critérios de uso.

A Secretaria da Segurança Pública alega que não há aparelhos suficientes para toda a PM. São 10.125 câmeras para cerca de 80 mil agentes públicos. A decisão desta quinta-feira é uma resposta ao pedido de prioridade.

Essa decisão define que, neste momento, o governo pode priorizar as regiões em que há disponibilidade dos equipamentos, mas deve distribuir as câmeras "estrategicamente" em áreas com maior índice de letalidade policial. "Essa observação é importante para que os objetivos da decisão não sejam frustrados pela distribuição de câmeras a localidades e unidades com menores taxas de mortes em decorrência da ação policial", afirma Barroso.

Segundo o ministro, a transparência nesse processo é fundamental para assegurar que os recursos disponíveis sejam alocados "de maneira eficiente". "E que os objetivos da política sejam efetivamente alcançados", define.

ESCALADA

No mês passado, 2 policiais militares foram presos e mais de 40 acabaram afastados por denúncias de violência em abordagens. Entre janeiro e o início de dezembro, foram registradas 784 mortes em decorrência de intervenção policial, segundo o Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo tem afirmado investigar os casos e não tolerar os desvios de agentes.

Dados da SSP apontam que, de janeiro a setembro, a Polícia Militar matou 496 pessoas - o maior número desde 2020. A alta interrompeu a curva de queda de mortes pela PM que vinha desde o início do uso de câmeras corporais.

PARA O FUTURO

Pela decisão do STF, o governo de São Paulo precisa manter o ministro informado sobre o andamento da política de câmeras. Barroso pediu relatórios mensais detalhando resultados. O Estado foi procurado pela reportagem, mas não havia se pronunciado até as 21 horas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Marinha do Brasil (MB) informou na noite desta quinta-feira, 26, que mais uma vítima da queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que cedeu no último domingo, 22, foi encontrada no Rio Tocantins. Ao todo, nove pessoas já foram localizadas e oito ainda seguem desaparecidas.

A vítima é uma mulher de 48 anos, que não teve a identidade revelada. De acordo com a Marinha, ela foi localizada por moradores a seis quilômetros do local do acidente, que aconteceu entre as cidades de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA).

Ainda segundo a Marinha, a Força-Tarefa de mergulhadores localizou duas motos, uma caminhonete, um caminhão com a carga de defensivos agrícolas preservada. Na área de buscas, testes de qualidade da água são feitos por militares especializados em Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica (NBQR) e, até o momento, não foram constatadas alterações causadas por agentes químicos.

No início da tarde de quinta, outras duas pessoas desaparecidas foram localizadas. Ambas, no entanto, ainda não foram retiradas da água e seguem embaixo dos escombros, que estão a 35 metros de profundidade.

"Não foi possível realizar a extração dos corpos e a partir de agora, os operadores traçam estratégias para realizar novos mergulhos para retirá-los do local", informou a Polícia Militar do Tocantins.

A Força-Tarefa é coordenada pela MB, que conta com o apoio do Corpo de Bombeiros dos Estados do Maranhão, do Tocantins e do Pará. Até a última atualização, 79 militares da Marinha atuavam no local, com 44 mergulhadores ao todo - 18 da Marinha, 10 do Maranhão, 10 do Tocantins e seis do Pará.

Dificuldades na localização dos corpos

A localização dos corpos tem sido um desafio para os mergulhadores. Muito por conta das características do rio, como água turva e correnteza, além das presenças de escombros da própria estrutura colapsada e de materiais tóxicos que estavam sendo transportados por caminhões que caíram na água.

A possível presença de materiais tóxicos no rio, como ácido sulfúrico, que é corrosivo, altamente perigoso para a saúde humana e danoso aos materiais de mergulho (como os cilindros), faz a Marinha analisar qualidade a água toda manhã antes de começar as buscas. Todos os mergulhos foram autorizados após os exames identificarem que não havia o risco para os agentes.

Outras dificuldades enfrentadas pelos mergulhadores são: o nível de profundidade do Rio Tocantins, que chega a 48 metros; a baixa visibilidade da água, que é muito turva; além da presença de escombros, concreto e vergalhões no rio, que podem se deslocar, enroscar e provocar lesões à equipe de mergulho.

Reforços

Por conta disso, os trabalhos de busca vêm ganhando reforços de contingente e maquinários. Nesta quinta, por exemplo, a Força Aérea Brasileira (FAB) transportou até o aeroporto de Imperatriz, no Maranhão, uma câmara hiperbárica da Marinha, que permitirá a realização de mergulhos de profundidades maiores que 30 metros.

A Polícia Federal (PF), que também atua nas operações, utiliza dois drones subaquáticos para ajudar a localizar as vítimas e os caminhões submersos. O trabalho é realizado pelo Núcleo de Polícia Marítima da Polícia Federal, que fará uma varredura no Rio Tocantins. Um drone subaquático da Transpetro também está sendo usado.

Na lista, também está um sonar "sidescan", um instrumento que ajuda a identificar a posição dos veículos submersos. A ferramenta ajuda a garantir que os mergulhadores atuem de forma mais precisa e otimizada dentro do tempo diário que eles têm disponível.

E existe, ainda, a previsão de a equipe contar, com um médico hiperbárico, dois enfermeiros hiperbáricos e um operador da empresa Geosaker, especializada em inspeções subaquáticas que está auxiliando de forma voluntária nas buscas, que também devem chegar nos próximos dias.

Acidente

No último domingo, 22, a ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, de 533 metros e mais de 60 anos, teve parte da sua estrutura colapsada. A estrutura faz parte de um eixo rodoviário importante para a região Norte, por ser ponto de travessia das rodovias BR-226 (Belém-Brasília) e BR-230 (Transamazônica).

Ao todo 10 veículos, entre carros, caminhões e motocicletas, foram atingidos pelo acidentes. Dois caminhões carregavam ácido sulfúrico e um, que transportava defensivos agrícolas, caíram no Rio Tocantins.

Um avião da companhia aérea Latam precisou fazer um pouso forçado no Aeroporto Internacional de Brasília após declarar emergência na noite desta quinta-feira, 26 (confira nota completa da companhia abaixo). De acordo com informações presentes no site do aeroporto, a aeronave, um Airbus A320, com destino ao Aeroporto de Teresina, na capital do Piauí, decolou da capital federal às 21h45.

Logo em seguida, a tripulação declarou emergência. Cerca de 40 minutos depois, às 22h20, a aeronave, com número de voo LA3852, pousou novamente no aeroporto do Distrito Federal, segundo informações presentes no aplicativo rastreador de voos Flight Radar.

Em nota, a Latam confirmou a intercorrência e informou que "todos os passageiros foram desembarcados em absoluta segurança" após o pouso forçado. Eles serão reacomodados em um novo voo com partida programada para a noite desta sexta-feira, 27.

Veja a íntegra da nota:

A LATAM informa que o voo LA3852 (Brasília-Teresina) desta quinta-feira (26/12) precisou retornar ao aeroporto de origem devido à necessidade de manutenção corretiva não programada na aeronave. O pouso ocorreu sem intercorrências às 22h20 (hora local) e todos os passageiros foram desembarcados em absoluta segurança. A companhia está oferecendo toda a assistência aos passageiros, que serão reacomodados no voo LA9003 (Brasília-Teresina), programado para às 21h05 desta sexta-feira (27/12). A LATAM lamenta os transtornos causados e reitera que adota todas as medidas de segurança técnicas e operacionais para garantir uma viagem segura para todos.