Livro homenageia jornalista que retratou a importância do caipira para o Brasil

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Durante grande parte da vida, o pesquisador e jornalista Judas Tadeu de Campos escreveu principalmente sobre dois personagens: um deles foi o município de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, com sua religiosidade e suas festas de rua. O outro foi a figura do morador do interior paulista, o homem do campo que viu a vida se transformar nas últimas décadas.

"Tadeu se notabilizou por ter se dedicado à divulgação do papel do caipira na história e na política social de São Paulo", disse ao Estadão o economista e empresário Roberto Teixeira da Costa, amigo do jornalista. "O caipira, em algumas leituras mais genéricas, é estigmatizado, mas foi muito importante para a absorção e fusão de certas culturas."

Descrito como generoso, pacato e de inteligência acima da média, Tadeu de Campos escreveu textos que chegaram às casas de milhares de brasileiros. Entre as décadas de 1970 e 1990, principalmente, ele colaborou com o Estadão como correspondente do interior, assinando reportagens e promovendo o Vale do Paraíba como destino turístico para moradores de grandes cidades.

Ele faleceu em setembro do ano passado, aos 78 anos, e agora recebe uma homenagem. A obra Judas Tadeu de Campos, feita por Teixeira da Costa em parceria com Fabio Pahim Junior e Roseli Mayan, tem prefácio assinado por um famoso paulista do interior, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB).

As cem páginas do livro reúnem informações sobre Tadeu de Campos, anexos de reportagens escritas para o Estadão, fotos e depoimentos de quem o conheceu e conviveu de perto com ele.

Além disso, há uma coletânea de textos do próprio jornalista que contam a história de São Luiz do Paraitinga do ponto de vista econômico (ascensão e declínio da produção cafeeira entre os séculos 19 e 20), cultural (surgimento e ressurgimento da Festa do Divino Espírito Santo, e a influência da Igreja Católica na celebração) e social (formação e transformação da comunidade caipira a partir da urbanização da cidade).

"Escrevi este livro por entender que nós brasileiros não damos a devida dimensão às pessoas que não aparecem na mídia, mas se destacaram pelo seu trabalho, visão e colaboração, e estiveram na discussão de temas relevantes para a história do País", disse Teixeira.

O talento de Tadeu de Campos para transmitir conhecimento não era por acaso. Além de jornalista, foi professor.

Ele se formou em Pedagogia na Universidade de Taubaté em 1979 e fez mestrado (1998) e doutorado (2002) em Educação na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, com ênfase em pesquisa sobre cultura caipira, etnografia da educação e formação docente.

Também se formou em Comunicação Social pela Universidade de Taubaté, em 1993, e foi autor de dois livros: "A Festa do Divino (Espírito Santo)" e "A Imperial de São Luiz do Paraitinga".

Uma região diferente das vizinhas

Um dos elementos principais deste livro-tributo não é apenas Judas Tadeu de Campos, mas sim como a narrativa sobre o município luizense se forma a partir do olhar do repórter, inclinado a valorizar os feitos da população local e atento aos descuidos do poder público com a cidade.

Por meio de textos escritos pelo próprio Tadeu de Campos, é possível entender por que São Luiz do Paraitinga difere de áreas vizinhas, como Taubaté e São José dos Campos, que se desenvolveram cercadas de centros tecnológicos, com indústrias automobilística e aeroespacial.

No Alto do Paraíba, onde está Paraitinga, "existe um modo de vida muito diferente", descreve Tadeu de Campos. E esse perfil distinto inclui, sobretudo, manifestações culturais e festas tradicionais ligadas a uma religiosidade popular.

"O Alto Paraíba é considerado uma região caipira típica de São Paulo", destaca. "E uma das características de uma zona caipira é que sua vida social emergiu do sertão, transformando numa sequência de campos e lavouras, sítios e fazendas. Estas produziram os bairros, as vilas e as fazendas."

O educador e jornalista costumava afirmar que um dos maiores símbolos da cultura caipira, que se transformou no século 20 com a urbanização e com a indústria cultural que alcançavam as zonas rurais da cidade, era a Festa do Divino Espírito Santo, celebrada até hoje no município.

A festa, originada na Idade Média e que chegou a Portugal no fim do século 15, foi registrada pela primeira vez em São Luiz do Paraitinga em 1803 - mas pode até ter chegado antes à cidade. A celebração, que dura 10 dias e é realizada 50 dias depois da Páscoa, remonta as homenagens feitas pelos agricultores ao Divino Espírito Santo.

"Em 1996, pela primeira vez em muitos anos, a Folia do Divino (evento realizado para arrecadar fundos para a festa) não percorreu a zona rural durante o longo período de preparo da festa", escreveu Tadeu em Campos, certa vez, demonstrando preocupação com uma espécie de "esvaziamento da comemoração".

"A cultura caipira chegou a um ponto de saturação? Está sendo engolida pela cultura de massa e pela indústria cultural? Ou seria apenas mais uma forma de adaptação (e resistência) do caipira ao comportamento dos tempos modernos, que agora chega com toda força para essas bandas?", questionou, em texto trazido no livro.

De olho no interior

Tadeu de Campos empregou seu repertório sobre a cidade para produzir reportagens ao Estadão, em uma época que o jornal tinha uma rede de repórteres setoristas espalhadas pelo interior.

"Era ótimo correspondente, um dos principais. Culto, diretor da escola pública local. Homem simples, típico daquele cantinho do Vale, entre Taubaté e Ubatuba", afirmou o jornalista Luiz Carlos Ramos, que foi, nos 1980, editor de Seção do Interior do jornal.

"Em respeito à sua importância na sociedade, como diretor de escola e correspondente do jornal, Tadeu ficava junto ao prefeito, ao delegado e ao padre nos palanques de cerimônias públicas", lembra Ramos.

Para o Estadão, gostava de promover a cidade como opção de passeio. Uma de suas primeiras contribuições para o jornal foi em maio de 1972, com a matéria "A Imperial São Luiz do Paraitinga", publicada no suplemento de turismo.

Reportagens como "Seguindo ao encontro da vida simples de Catuçaba" (de março de 1980), e "Em Taubaté, a rua só das figueiras" (de janeiro de 1980), são mais exemplos.

O correspondente também assinava matérias de mobilidade urbana, como o projeto apresentado por estudantes de Taubaté para uma ferrovia entre o Vale do Paraíba a Ubatuba, litoral norte (fevereiro de 1980); segurança pública, denunciando saques em plantações (maio de 1996); e também sobre consequências de desastres climáticos, quando, em fevereiro de 1996, chuvas mataram 26 pessoas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Sua última colaboração para o jornal foi uma reportagem escrita em fevereiro de 2017. O tema foi justamente o centenário de morte de um cidadão luizense: o sanitarista Oswaldo Cruz.

Serviço - Lançamento do livro

O autor da obra sobre Judas Tadeu de Campos pretende fazer dois eventos para promover o livro: um na capital paulista, no dia 23 de julho, no bar Empório Alto dos Pinheiros, na Rua Vupabussu, número 305, em Pinheiros, às 18h30. O outro em 12 de outubro, Dia dos Professores, em São Luiz do Paraitinga - o local e o horário ainda serão definidos.

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Depois de nove meses presos no espaço, os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams chegaram em casa. A espaçonave onde os dois americanos voltaram à Terra pousou perto da costa da Flórida por volta das 18h57 desta terça-feira, 18, com transmissão ao vivo da Nasa, a Agência Aerospacial dos Estados Unidos.

A chegada de ambos era esperada com ansiedade. Os astronautas foram enviados à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) em uma missão de oito dias, chamada de Crew 9, em junho de 2024. Mas, por conta de problemas técnicos da cápsula Starliner, da Boeing, usada para transportá-los, Butch e Suni tiveram de permanecer no espaço por nove meses.

Os astronautas foram trazidos à Terra com ajuda da SpaceX, empresa do bilionário Elon Musk. O foguete Falcon 9, que decolou da Flórida na sexta-feira, 14, com uma cápsula Dragon fixada em sua parte superior, carregou uma tripulação de quatro pessoas a bordo com destino à ISS.

A viagem de retorno teve início no final da noite da segunda-feira, 17, e durou cerca de 17 horas. Nick Hague, da Nasa, e o cosmonauta Aleksandr Gorbounov também estiveram a bordo junto de Butch e Suni.

O processo de desorbita e entrada na Terra aconteceu pouco depois das 18h e, durante alguns minutos, a Nasa perdeu a comunicação com a espaçonave. As interrupções foram tratadas como dentro da normalidade.

A Nasa realizou a transmissão do retorno desde a noite de segunda. Na madrugada de terça, 18, a agência fez uma interrupção no fornecimento da imagens depois que a cápsula usada pelos tripulantes se separou da Estação Espacial Internacional e retornou com a disponibilidade de imagens às 17h45 momentos antes do Splashdown, como é chamado o momento em que espaçonave pousa na água.

A previsão era de que a espaçonave SpaceX Dragon pousasse por volta das 18h57 do horário de Brasília. O Splashdown aconteceu na hora prevista.(Colaborou Rariane Costa)

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça-feira, 18, um requerimento que dá regime de urgência para um projeto de lei complementar que prorroga até o fim do exercício de 2025 o prazo para a transposição, transferência e reprogramação de saldos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) aos fundos estaduais, distritais e municipais de saúde.

O FNS é o órgão gestor dos recursos financeiros do Ministério da Saúde. O capital alocado junto ao Fundo são transferidos para os Estados, municípios e o Distrito Federal, para que realizem de forma descentralizada ações e serviços de saúde.

Autor do projeto, o deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE) argumenta que uma lei de 2020 permitiu que Estados, municípios e o Distrito Federal utilizassem recursos remanescentes de repasses federais de saúde de forma mais flexível, com continuidade do uso em exercícios subsequentes. Contudo, havia prazos limitados para até o fim de 2024.

Para Benevides, o atendimento deve continuar.

"Não tem empenho novo, não tem pagamento novo. São recursos que já estão nas contas das prefeituras e dos Estados. Portanto, aos prefeitos que agora estão entrando e reclamando que não têm dinheiro, vamos providenciar R$ 2 bilhões para ser movimentado até dezembro", disse Benevides no plenário.

O relator Hildo Rocha (MDB-MA) apresentou parecer favorável ao projeto.

A Polícia Civil de São Paulo disse nesta terça-feira, 18, que um dos suspeitos de matar Vitória Regina de Sousa, de 17 anos, confessou o crime na noite desta segunda, 17. De acordo com o delegado Luiz Carlos do Carmo, diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro), Maicol Sales dos Santos admitiu ter assassinado a jovem e agiu sozinho. Ele teve a prisão temporária (30 dias) decretada pela justiça no dia 8 de março. A reportagem tenta contato com a defesa.

"Não há dúvidas que Maicol Sales dos Santos praticou o crime sozinho. Primeiro, já vinha perseguindo a vítima e, na sequência, o arrebatamento. E outras provas obtidas. Mas a prova cabal, ele confessou o crime na noite de segunda-feira, 17. Fica muito claro que ele era obcecado pela vítima", disse o delegado.

O delegado disse ainda que as outras pessoas investigadas estavam em algum momento relacionadas com Vitória. "Investigamos todas as pessoas e todos os celulares apreendidos serão devolvidos", afirmou Carmo. Segundo do Carmo, o laudo apontou que ela foi morta por golpes de faca e não há indícios de violência sexual. A jovem morreu em razão da hemorragia traumática, em razão da perfuração das facadas.

Vitória desapareceu em 27 de fevereiro e foi encontrada morta em 5 de março, a cerca de 5 quilômetros de sua casa, em Cajamar, na Grande São Paulo.

Conforme o delegado, testemunhas confirmaram que ele estava na cena do crime no momento em que a jovem foi sequestrada. Dentro do veículo dele, elas teriam visto uma pessoa usando um capuz (balaclava). A Polícia identificou a compra de um item similar no celular de Maicon, que foi comprada por meio de um site de compras (Mercado Livre).

Vítima era monitorada desde 2024

No domingo, 16, o Fantástico, da TV Globo, transmitiu trechos de um relatório da perícia, que detalhava a cronologia dos últimos momentos de Vitória e reforçava a hipótese de que o crime tinha sido premeditado. Segundo os investigadores, Maicol visualizou uma postagem da jovem nas redes sociais, na qual ela aparecia no ponto de ônibus às 0h06 do dia do desaparecimento.

Além disso, a perícia encontrou no celular do suspeito uma coleção de imagens de Vitória e de outras mulheres com características físicas semelhantes, como tipo de cabelo e perfil corporal. As imagens vinham sendo arquivadas desde setembro do ano passado.

Também foram encontradas fotos de facas e de um revólver armazenadas no telefone de Maicol. A polícia acredita que ele tenha usado uma dessas armas para forçar a vítima a entrar em seu carro sem reagir e não descartam a possibilidade de que ele possa ter agido sozinho em todas as etapas do crime.

Indícios anteriores

Maicol Sales dos Santos é o proprietário de um Toyota Corolla identificado na cena do crime. A perícia encontrou vestígios de sangue no porta-malas do veículo, o que reforça a suspeita contra ele.

"No veículo Corolla, tivemos a constatação de sangue no porta-malas, e tudo leva a crer que pode ser da vítima. Já foi encaminhado para exame de DNA", afirmou Luiz Carlos do Carmo, diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro). Outro detalhe que chamou a atenção dos investigadores é que Maicol sabia que o carro do pai da jovem estava quebrado, o que dificultaria que ela conseguisse uma carona para voltar para casa.

A contradição no depoimento de Maicol também pesou contra ele. O suspeito afirmou que passou a noite do crime em casa com a esposa, mas ela desmentiu sua versão, dizendo que dormiu na casa da mãe e não esteve com o marido naquele dia.