Biblioteca de Monja Coen tem livros em japonês, Buda, Alcorão, samurais e Abel Ferreira

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A mãe era poeta. Apaixonada pelas palavras. O pai, bibliotecário. Devoto do cheiro dos livros. A filha dos dois tornou-se uma escritora pop, ainda que tardiamente. Quando publicou sua primeira obra, A Sabedoria da Transformação, em 2014, Coen Roshi tinha 67 anos. Os pedidos se multiplicaram e a monja não parou mais de escrever. De lá para cá, são mais de 30 publicações em uma década. "As editoras me dão um título ou um assunto e dizem: escreva. E aí eu vou meditar e refletir sobre aquele tema por algum tempo."

Adepta do zen-budismo, Monja Coen recebeu a reportagem do Estadão em sua 'casa-templo', no bairro do Pacaembu, zona oeste de São Paulo. É no imóvel da família, em meio aos alunos dos cursos de meditação e de seus pets - quatro cachorros e um gato - que ela guarda uma vasta coleção de livros. Boa parte, claro, relacionada à prática e aos ensinamentos budistas.

Do outro lado do mundo

Na biblioteca da Monja Coen, os ideogramas japoneses e chineses se mesclam ao alfabeto latino-romano das obras em português e inglês. Paulistana de berço, foi em Nagoya, no Japão, onde morou por 12 anos, que ela se aprofundou nos ensinamentos de Buda. Voltou de lá como uma sensei e, de quebra, arranhando algum conhecimento dos ideogramas nipônicos. "Aprendi pouco. Sou semialfabetizada", ela brinca. "Sei mais aqueles símbolos que tem alguma relação com o budismo."

Da coleção de livros em japonês e chinês, ela destaca obras publicadas pela sua ordem, Soto Shu, que mostram em detalhes os procedimentos da vida monástica. São livros pesados e repletos de fotografias. Quase manuais de instruções. Um passo a passo das técnicas de meditação e rituais. Mas também há livros de poesia. "Não tenho conhecimento suficiente da língua japonesa para ler esses. Para compreender a poesia de outro idioma, você tem que saber muito bem."

No acervo da monja, Buda mora até nas ficções. Ou "quase" ficções. Ela nos mostra um exemplar em português de Velho Caminho, Nuvens Brancas. É uma obra de Thich Nhat Hanh, monge, escritor e ativista pela paz que morreu em 2022. "É um livro lindo. Ele pegou todos os sutras, que são os ensinamentos de Buda, textos sagrados e reconhecidos como verdadeiros, e fez disso um romance. Então não há nenhum dado inventado. Só que ele criou um texto agradável de ler."

Coen confessa: prefere os livros mais curtinhos. "São os que consigo ler no tempo que tenho." Mas recomenda fortemente uma obra que é exceção à sua regra pessoal: os dois volumes de Musashi: A História do Mais Famoso Samurai de Todos os Tempos, do romancista japonês Eiji Yoshikawa, que somam mais de 1.800 páginas. "Mas é daqueles livros que cada parágrafo te deixa com mais vontade de ler o outro."

Uma biblioteca ecumênica

Colado em Buda, está Alá. Mais ao lado, Jesus Cristo. O escritório da Monja Coen, que tem um quadro de Dalai Lama e uma série de imagens e estátuas budistas, reserva espaço para obras sobre outras religiões e filosofias. No topo da estante, um Alcorão chama atenção. Baixinha, a sensei pede ajuda ao repórter para pegar o exemplar, que ganhou de um grupo de sheiks árabes em um encontro inter-religioso.

Do contato com os cristãos, nasceram obras em conjunto. Sobre o Amor, por exemplo, é uma publicação em coautoria com o padre Júlio Lancelotti e o pastor Henrique Vieira. Um outro livro, feito com Gustavo Arns, filho de dom Evaristo Arns, deve ser lançado até novembro.

Mas foi com um clássico literário que Coen aprendeu, ainda na infância, o que era o judaísmo. "Eu tinha um namoradinho, Marcelo, foi o primeiro beijo que eu dei na vida. Fiquei toda feliz, mas minhas amigas de classe me alertaram que ele era judeu. 'Judeu? Como assim' O que é judeu', eu pensei. E foi aí que minha mãe me deu O Diário de Anne Frank. E ainda me levou a uma peça sobre a obra, que estava em cartaz em São Paulo. Era assim que ela nos ensinava."

A monja e o treinador

Há um exemplar que destoa na biblioteca da monja, apesar de seu título bastante 'zen': Cabeça Fria, Coração Quente. A edição especial do livro de Abel Ferreira foi um presente do técnico do Palmeiras. "Nós fomos palestrantes na mesma bienal [em 2022] e o editor dele entrou em contato porque ele queria me visitar", ela explica.

O português conheceu o trabalho da monja quando ainda era técnico do Braga, em seu país-natal. "A psicóloga do time recomendou que o Abel visse meus vídeos para ver se ele acalmava um pouco. A gente sabe como ele fica bravo à beira de campo", ela brinca. Mas depois ressalta: "Eu gosto disso. Nós não podemos ser 'mosca morta'. É importante que a gente se manifeste quando acha que algo está errado. E ele faz isso."

Poucas semanas depois da Bienal, Abel levou a esposa, Ana Xavier, e as duas filhas ao Templo Taikozan Tenzuizenji, que curiosamente fica ao lado de um palco do esporte: o Estádio Municipal do Pacaembu. "Ele é um homem muito sensível. E quando fala de futebol aqui no livro, ele, na verdade, fala sobre a vida", destaca a monja sobre a obra publicada pelo treinador alviverde junto à sua comissão técnica

A monja não se diz palmeirense, apesar de ter ganhado um carinho especial pelo clube após o encontro com o treinador. Antes do início da nossa entrevista, ela lamentou: "Você viu o gol que anularam do Gómez [no jogo contra o Botafogo]? Como pode? Não tem como não tocar a mão na bola. É um absurdo marcarem aquilo."

Pois é. Até a monja que deixou o técnico multicampeão um pouco mais 'zen' às vezes também se estressa com futebol.

Monja Coen não pensa em parar. "Não tem aposentadoria, se a mente está funcionando, se você pode falar e agir no mundo, você está bem. Claro que não corre como corria antes, não escuta tão bem, não enxerga tão bem, mas se a mente está lúcida, então vamos lá", finaliza.

Os livros essenciais de Monja Coen

A publicação mais recente da líder zen-budista é Em Cada Instante Nascemos e Morremos Bilhões de Vezes, publicado pelo selo Academia, da editora Planeta. Para conhecer mais da obra da monja, também vale ler:

- Zen Para Distraídos: Princípios Para Viver Melhor no Mundo Moderno (Academia, 2018)

- A Monja e o Professor: Reflexões Sobre Ética, Preceitos e Valores (BestSeller, 2018, em coautoria com Clóvis de Barros Filho)

- Tempo de Cura: Como Podemos nos Tornar Seres Completos, Firmes e Fortes (Academia, 2021)

- Aprenda a Viver o Agora: Conceitos de Zen-budismo e Atenção Plena Para Praticar em até 10 Minutos (Academia, 2019)

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Nesta segunda-feira, 14, a Samsung suspendeu, temporariamente, a atualização One UI 7 após problemas envolvendo segurança, bloqueios de aparelhos, usabilidade do sistema e consumo de bateria. A distribuição do software havia sido iniciada há apenas uma semana. Procurada pela reportagem, a companhia sul-coreana não comentou o assunto.

Segundo veículos internacionais, foram vários os problemas com o novo sistema. Alguns usuários relataram que, com a atualização, não estavam conseguindo desbloquear aparelhos como o Galaxy S24. Os relatos iniciais foram feitos na Coreia do Sul, um dos primeiros países a receber a atualização.

Segundo o site SamMobile, o One UI 7 sofria com um bug com a Pasta segura, pasta em que o usuário consegue "trancar" fotos e, assim, o app Galeria gerava vídeos com essas fotos, movendo esses conteúdos mais privados em áreas do smartphone sem proteção.

Além da questão de privacidade, usuários relataram problemas envolvendo o consumo excessivo da bateria após a atualização. Não está claro quantos usuários foram afetados. A Samsung também não divulgou como os clientes afetados pelo bug devem proceder. De acordo com informações divulgadas pelo The Verge, a empresa pausou a atualização do One UI 7 em todos os países em que opera.

A atualização era bastante esperada por usuários, já que só foi disponibilizada sete meses depois que o Android 15 foi liberado para desenvolvedores. O One UI 7 ainda não havia chegado no Brasil e, mesmo antes desses problemas, ainda não havia previsão de lançamento para o País.

*Mariana Cury é estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani

A Sexta-Feira Santa acontece esta semana, em 18 de abril, e é feriado nacional. A data antecede a Páscoa, que é celebrada no domingo, 20, e não é feriado. Na próxima segunda-feira, 21, também é feriado, em homenagem a Tiradentes.

A lei trabalhista determina que funcionários sob regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não podem trabalhar em feriados a não ser que recebam o valor da hora em dobro ou ganhem uma folga compensatória na semana seguinte ao feriado trabalhado.

Há exceção, no entanto, para profissionais que atuam em serviços considerados "essenciais", como médicos, enfermeiros, bombeiros, entre outros.

No caso do ponto facultativo, cada instituição de serviço não essencial pode determinar se abre ou não na data e, consequentemente, se seus funcionários trabalham ou não.

Na fé cristã, a Sexta-Feira Santa representa a data de morte de Cristo, enquanto a Páscoa é a sua ressurreição.

Quinta-feira da Semana Santa

A quinta-feira da Semana Santa é um dia normal de trabalho e não é designada como feriado nacional. Algumas escolas ligadas a instituições religiosas, no entanto, não têm aula.

A Polícia Militar Ambiental e a concessionária da hidrelétrica de Barra Bonita, no interior de São Paulo, realizaram nesta segunda-feira, 14, uma operação para resgatar uma sucuri adulta que havia se refugiado na eclusa da barragem. A cobra vinha atraindo a atenção dos ocupantes de barcos turísticos que navegam pelo Rio Tietê, mas também corria risco de ser atingida pelas hélices das embarcações.

A sucuri também representaria potencial risco para os turistas. O réptil foi capturado e levado para um local seguro no reservatório da barragem, formado pelo Rio Tietê.

Vídeos feitos neste domingo, 13, por tripulantes de um barco turístico mostram quando a sucuri salta de uma altura de aproximadamente 18 metros na água, durante a operação de eclusagem. A eclusa, que serve para elevar os navios ao nível do reservatório da barragem e, também, descer até o nível do rio, tem um desnível de 26 metros.

Quando o navio entrou na eclusa vindo do reservatório, a cobra estava apenas com a cabeça e parte do corpo para fora da água junto à escada de ferro. Assim que as águas baixaram para ficar no nível do Rio Tietê à jusante, a sucuri ficou totalmente exposta à curiosidade dos turistas. Foi quando a cobra se desprendeu da escada e saltou, caindo na água, muito próxima da borda da embarcação.

Outras imagens mostram quando a cobra quase é esmagada ao se esconder na engrenagem de uma boia de atracação da eclusa. Algumas pessoas que estavam no navio chegaram a dizer que a sucuri estava ferida.

Carlos Nascimento, que opera o navio turístico Homero, em Barra Bonita, diz que o operador da eclusa foi alertado pelo comandante sobre os riscos. "Uma coisa é avistar e admirar uma anaconda em ambiente protegido - para a cobra e para as pessoas. Outra é mantê-la presa entre quatro paredes, assustá-la e causar reações inesperadas, como aconteceu", disse.

Como mostrou o Estadão, a sucuri adulta já havia sido avistada no interior da eclusa na quarta e quinta-feira da semana passada. Alunos de duas escolas da região que excursionavam pelo rio fotografaram e filmaram a sucuri. Nas duas excursões os professores aproveitaram para dar aulas de biologia ao vivo no local, apresentando detalhes sobre a cobra.

A espécie do animal foi confirmada pelo veterinário Rodrigo Teixeira, do Zoológico Municipal de Sorocaba. Ele alertou para a necessidade de reconduzir a sucuri para seu habitat o mais rápido possível.

A concessionária Auren Energia informou em nota que a operação de retirada da cobra estava sendo realizada com apoio da Polícia Ambiental do Estado de São Paulo. A sucuri foi solta na margem do reservatório, em uma área de mata preservada, com características do habitat da espécie.

As sucuris ou anacondas são as maiores serpentes brasileiras e estão entre as maiores do mundo. Elas fazem parte de um grupo de cobras semi aquáticas e são boas nadadoras. Embora sejam encontradas em toda a América do Sul, especialmente em terrenos úmidos e alagadiços, no Estado de São Paulo os avistamentos não são comuns.

Podendo chegar a 6 metros de comprimento, a sucuri se alimenta de peixes, anfíbios, aves, outros répteis e mamíferos. Essa cobra não tem veneno e mata suas presas por constrição, enrolando nelas até que o fluxo sanguíneo seja interrompido e cause a morte.