Na mira de Trump, vendas de semiacabados de aço subiram 25% em janeiro, diz Icomex, da FGV

Economia
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As vendas aos EUA de produtos de aço e ferro semiacabados, que serão atingidas se entrar em vigor a tarifa de 25% anunciada por Donald Trump, aumentaram 25,6% em janeiro, conforme o relatório do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) divulgado nesta terça-feira, 18, pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

 

"O cenário é de incertezas no comércio mundial, com as medidas do governo Trump: o anúncio de imposição de uma tarifa de 25% incidente sobre produtos do México e do Canadá, depois suspensa por um mês; a imposição de 10% de tarifas de importações incidentes sobre produtos chineses, em vez dos 60% ameaçados; o anúncio de um aumento de 25% sobre as importações americanas de aço e alumínio de todas as origens, a vigorar a partir de 12 de março", enumerou a FGV na nota do Icomex.

 

O saldo da balança comercial de janeiro de 2025 foi de US$ 2,2 bilhões, inferior em US$ 4 bilhões a igual período do ano anterior, conforme o Icomex. Na mesma base de comparação, as exportações recuaram 5,7% e as importações subiram 12,2%, em valor. O volume exportado caiu 4,9% e o importado cresceu 14,6%. Os preços exportados recuaram 4,9% e os importados, 2%.

 

A queda nas exportações em janeiro foi liderada pelas commodities, com recuo no volume (1,5%) e preços (9,5%). As não commodities registraram aumento no volume (1,2%) e preços (5,4%). A retração está associada ao desempenho da agropecuária e da extrativa.

 

A agropecuária registrou recuo de 16% em termos de volume e de 0,7% nos preços nas vendas externas. O principal produto exportado foi o café não torrado, com aumento na quantidade (em toneladas) em 9,5% e nos preços de 63,8%. O milho recuou 26,3%, o algodão aumentou em 66,1%, e a soja despencou 64,4%. Todas as variações se referem à quantidade, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, entre os meses de janeiro de 2024 e 2025.

 

Na extrativa, o volume aumentou 5,4% e os preços recuaram em 18,1% nas exportações. A quantidade em toneladas do petróleo bruto aumentou em 9,3% e do minério de ferro em 5,9%, mas os preços desses dois produtos recuaram em 16,1% e 26,3%, respectivamente.

 

Em relação às importações, o aumento em valor é explicado pelo desempenho da agropecuária (21,3%), seguido da indústria de transformação (13,4%). Nos dois, houve aumento no volume importado, 21,9% na agropecuária e 15,3% na transformação. O recuo em valor da extrativa está associado à queda nos preços (10,6%).

 

Os dois principais produtos importados da agropecuária, que representam 42,1% do total das compras externas do setor, registraram aumento na quantidade em toneladas: trigo (16,8%) e cacau (159,2%), neste último com aumento de preços de 94,9%.

 

Na extrativa, os dois principais produtos registraram queda de preços - petróleo bruto (5,7%) e carvão (21,8%) -, mas a quantidade aumentou em 8,4% para o petróleo e ficou estável para o carvão. Os dois produtos explicam 78,5% das importações do setor.

 

Na pauta de importações, cinco produtos explicam 22% do total importado. Todos registraram aumento na quantidade: óleo combustível (10,7%); adubos (9,05%); máquinas e motores não elétricos (39,3%); partes e peças para veículos (26,3%) e válvulas (28,9%)

 

A desagregação por categoria de uso na indústria de transformação mostra que o aumento das importações em volume foi liderado pelos bens de capital (22,7%), bens semiduráveis (21,4%) e bens intermediários (16,8%). As outras categorias registraram queda. Na agropecuária, aumentaram as importações de bens de capital (13,8%) e de bens intermediários (14,6%).

 

Balança por país

 

A análise da balança comercial por mercado de destino mostra um déficit com a China de US$ 582 milhões, o que pode ser explicado, em parte, pelo efeito sazonal da soja, cujo embarque não começou ainda. A variação das vendas de soja entre os meses de janeiro de 2024/2025 foi uma queda de 68%. O petróleo, principal produto, recuou 38,0%, enquanto o minério de ferro diminuiu 27%. Entre os principais produtos, a celulose registrou variação positiva (+53%).

 

Ainda de acordo com o boletim, a balança comercial com os EUA registrou, em janeiro, déficit de US$ 230 milhões, com queda no volume exportado. O petróleo, que explica 16% das exportações para esse país, registrou recuo de 31%. Já as vendas de café subiram 35,5%.

 

Na União Europeia, o déficit foi de US$ 93,2 milhões, com aumento em valor (28,4%) e volume das exportações (29,4%). São destaques as variações em valor do petróleo (28% das exportações, com variação de 61,7%), café (participação de 16% e variação de 92,1%) e a celulose (participação de 5,8% e variação de 60,2%).

 

Outro destaque é o caso da Argentina, com superávit de US$ 326 milhões, impulsionado por um aumento das exportações de 57,9%, em valor, liderado pelo aumento no volume de 72%. As vendas de automóveis (173%, em valor) e partes e peças de automóveis (25,5%), que somaram 20,2% das exportações para esse país, ajudam a explicar esse resultado. A valorização do peso argentino em relação à moeda brasileira influencia também.

 

No caso das importações brasileiras, observa-se que aumentam em valor para todos os mercados. A maior variação é registrada na China, em termos de valor (19,6%) e volume (25,4%).

 

O boletim enfatizou que o cenário no comércio é de incertezas. "Por enquanto, o efeito mais visível é o grau de incerteza que o governo Trump trouxe para a governança do comércio mundial. A China avisou que vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Brasil, idem. A crítica de que não vai resolver nada, pois a OMC está paralisada, não impede que os países chamem a atenção para a importância das regras. A defesa de uma coalizão entre União Europeia, América Latina e Ásia tem sido defendida como forma de isolar os EUA."