Patroa que manteve doméstica em situação de escravidão por 32 anos é denunciada

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Uma mulher que manteve sua empregada doméstica em condições análogas à escravidão por quase 32 anos, em sua casa em Vila Isabel (zona norte do Rio), foi denunciada nesta quinta-feira (18) pelo Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ), que pediu à Justiça que ela seja condenada a pagar cerca de R$ 472,5 mil em função da conduta - R$ 272 mil à própria vítima e R$ 199,5 mil à Previdência Social e outros órgãos públicos.

O caso foi descoberto em janeiro, durante uma operação de âmbito nacional realizada pelo Ministério Público do Trabalho. Essa vítima de 51 anos foi resgatada no apartamento da patroa, para cuja família trabalhava desde 1989, sem carteira assinada. Atualmente ela era responsável por cuidar da mãe da ré, uma senhora idosa portadora de mal de Alzheimer. A empregada dormia em um colchão no chão, no mesmo quarto em que a idosa, e guardava seus pertences em um armário dentro do banheiro. A vítima não tinha folgas. No apartamento não havia dependência de empregada nem outro lugar em que a vítima pudesse se desligar do trabalho. A empregada recebia um salário mínimo, mas parte do valor era usada pela empregadora para pagar o plano de saúde para a vítima.

A trabalhadora resgatada foi levada para um hotel, e o gasto com medicamentos, roupas, transporte e alimentação foi bancado pelo Projeto Ação Integrada, desenvolvido pelo MPT-RJ em parceria com a Cáritas Arquediocesana do Rio de Janeiro.

A ré foi notificada a suspender as atividades domésticas realizadas pela trabalhadora e a comprovar, em até dez dias, o pagamento de todos os créditos trabalhistas, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e demais verbas rescisórias. Até o ajuizamento da ação pelo MPT-RJ, a patroa não comprovou esses pagamentos.

Na Ação Civil Pública contra a mulher, o MPT-RJ requer o bloqueio de valores e bens em nome da ré, inclusive o arresto do imóvel onde a vítima foi encontrada, até o valor de R$ 500 mil, montante estimado para pagamento de verbas trabalhistas e indenizações.

Para a vítima, o MPT-RJ pediu que a ré seja condenada a pagar, imediatamente, um salário mínimo por mês (R$ 1.100, em valor atual), a ser descontado diretamente de seus vencimentos, até o julgamento final do processo, sendo a primeira parcela paga em até 48 horas da decisão, já que a vítima se encontra em estado de absoluta necessidade. O MPT-RJ pede ainda que a ré pague todas as verbas trabalhistas não quitadas ao longo desses 32 anos, no valor de R$ 135.707,73. O mesmo valor é pedido a título de indenização por danos morais individuais à vítima, totalizando R$ 272.515,46 para a vítima, além do salário mínimo dos meses subsequentes.

O MPT-RJ também pede que a ré seja condenada ao pagamento do valor atualizado das contribuições previdenciárias devidas, nos termos do laudo pericial, no total de R$ 61.464,81, valor a ser ainda atualizado até a conclusão da ação. Foi pedido ainda que a ré seja obrigada a restituir o valor gasto pelo Projeto Ação Integrada no resgate da vítima, o correspondente a R$ 2.360,09, e outros pelo menos R$ 135.707,73 a título de dano moral coletivo, em benefício da sociedade, a ser revertido conforme decisão do Juízo, com a aquiescência do MPT.

Para a procuradora do Trabalho Vivian Brito Mattos, responsável pelo caso e que participou do resgate, "restou configurado o tão penoso trabalho escravo moderno, agravado pela vulnerabilidade da vítima, uma pessoa com 51 anos de idade, extremamente simples, que teve seus laços familiares e sociais rompidos em tenra idade pela necessidade de trabalho e moradia e por todo trabalho psicológico feito sobre ela para mantê-la em situação de total sujeição e submissão, a ponto de sequer ter consciência da situação de exploração a que foi submetida, por mais de 30 anos."

Segunda a procuradora, ficou claro que "os grilhões de outrora que restringiam a liberdade de locomoção foram substituídos pelo abuso psicológico, que retirou a autoestima da trabalhadora e a manteve diminuída, anulada e com medo de ter opinião ou mesmo direitos, impedindo-a de romper o vínculo com a patroa por acreditar que aquela era a única relação possível e sem forças para mudar sua própria situação. "

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Em celebração que reunirá nomes marcantes da televisão brasileira, a TV Globo apresenta nesta segunda o Show 60 Anos - um pacote que inclui música, jornalismo e esporte. A exibição ocorre logo após o capítulo de Vale Tudo.

O evento mistura apresentações musicais com cenas de dramaturgia, gravadas nos Estúdios Globo. A proposta é trazer ao público uma viagem por personagens e histórias que marcaram a vida do canal.

Entre os artistas confirmados estão Roberto Carlos, Gilberto Gil, Sandy & Junior, Ivete Sangalo, Chitãozinho & Xororó, Angélica, Xuxa, Fafá de Belém, Lulu Santos, Daniel, Péricles e Zeca Pagodinho. Eles dividem o palco com outros nomes em colaborações especiais, interpretando canções que ficaram na memória afetiva dos brasileiros.

Também participam da festa IZA, Ana Castela, Simone Mendes, Maiara & Maraisa, Zezé Di Camargo & Luciano, Joelma, João Gomes, Lauana Prado, MC Cabelinho, Negra Li, Rosana, As Frenéticas, Alexandre Pires, Roupa Nova e Paulinho da Viola, entre outros.

O programa inclui a participação de jornalistas, atletas e atores em números especiais. A cenografia foi criada em parceria com o britânico Nathan Paul Taylor. Serão mais de 2 mil m² de cenário, com 550 m² de painéis de LED e 14 câmeras de cinema. O Show 60 anos tem direção artística de Antonia Prado e direção de gênero de Monica Almeida. A direção-geral também conta com Dennis Carvalho, João Monteiro, Henrique Sauer, Gian Carlos Bellotti, Renan de Andrade e Marcelo Amiky.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Além de O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, outro filme com envolvimento de brasileiros fará sua estreia mundial na 78ª edição do Festival de Cannes, em maio: 'O Riso e a Faca', fruto de uma parceria entre Portugal, Brasil, Romênia e França, foi selecionado para integrar a mostra Un Certain Regard, um dos destaques da programação do evento.

Dirigido pelo português Pedro Pinho, o longa-metragem tem mais de 31 nomes brasileiros na equipe, como a produtora Tatiana Leite (que comanda a Bubbles Project) e o diretor de fotografia Ivo Lopes Araújo. O título do longa faz referência à música homônima do músico baiano Tom Zé.

Gravada na Guiné-Bissau e no deserto da Mauritânia, a trama conta a história de Sérgio, um engenheiro ambiental português que viaja para uma metrópole africana onde tocará um projeto rodoviário entre o deserto e a selva. Por lá, ele desenvolverá um relacionamento íntimo com dois moradores da cidade, Diára e Gui. O ator brasileiro Jonathan Guilherme, ex-atleta de vôlei, interpreta Gui. Ele divide a cena com o português Sérgio Coragem e a cabo-verdiana Cleo Diára.

PALMA DE OURO

Já o diretor Kleber Mendonça Filho disputará a Palma de Ouro, principal prêmio do evento, com O Agente Secreto. O filme, um thriller ambientado no Brasil de 1977, traz Wagner Moura no papel de um especialista em tecnologia que, durante a ditadura militar, foge de um passado misterioso e volta ao Recife em busca de paz. Ele logo percebe que a cidade está longe de ser o refúgio que procura.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Burguesia francesa, espionagem e confeitaria, tudo junto e misturado. Em poucas palavras, é difícil definir Carême - O Rebelde da Culinária, a mais nova produção da AppleTV+, mas esses três termos dão pro gasto. O chef dos reis, ou o rei dos chefs, Antonin Carême (Benjamin Voisin) ficou conhecido por seus doces mirabolantes e complexos em plena era napoleônica.

De origem humilde, foi abandonado pelos pais em Paris e seguiu a vida sempre dentro da cozinha, até conhecer Bailly (Vincent Schmitt), confeiteiro, mentor e a única figura paterna que o protagonista conheceu. A série, de oito capítulos, começa com o convite para que o jovem cozinheiro integre o time de chefs de Napoleão Bonaparte. Relutante, Carême aceita, pressionado por Charles-Maurice de Talleyrand (Jérémie Renier), um político e estrategista que pede para o cozinheiro obter informações sobre os próximos passos do imperador. Em troca, Talleyrand promete salvar o pai adotivo de Carême da prisão.

A partir do dia 30 de abril, o espectador pode se envolver com a produção baseada no livro Cooking for Kings: The Life of Antonin Carême, the First Celebrity Chef, (Cozinhando para Reis: A Vida de Antonin Carême, o Primeiro Chef-Celebridade, em tradução livre) de Ian Kelly, também criador da série. Para a produção da AppleTV+, Kelly teve a parceria de Davide Serino e direção de Martin Bourboulon, Laïla Marrakchi e Matias Boucard.

MULTIFACETADO

Carême ganha destaque na telinha como um jovem ambicioso, conquistador e extremamente talentoso na cozinha. Além de tudo que cabia ao verdadeiro Carême, na produção, a faceta "espião" também foi explorada. Não há comprovação histórica, mas consta que o chef ficou de fato conhecido por cozinhar para figuras importantes de sua época, incluindo Talleyrand e Napoleão.

Dos tantos "Carêmes" para equilibrar em um único indivíduo, Benjamin Voisin destaca que "embora muito confiante, extrovertido e arrogante, também buscou mostrar sua vulnerabilidade e desenvolvimento enquanto passava da adolescência para um momento mais adulto, em oito episódios".

O diretor Martin Bourboulon também percebe essa complexidade do protagonista. Sobre Carême, ele conta que tentou trazer uma visão de chef talentoso para a personagem, mas também mostrar sensualidade e atitude. "De certo modo, ele tinha um jeito bem rebelde, mas, em seu trabalho, ele era sério - mas também jovem e louco." Foi preciso mesclar tudo isso quando o diretor se viu diante de um indivíduo que parecia ser muitas pessoas em uma só.

Além disso, já no início do projeto, Bourboulon ficou empolgado ao ver que todos os temas funcionavam bem juntos: comida, sexo e política. "Fiquei animado ao descobrir, ou redescobrir, um chef francês tão famoso como Carême, mas sobre o qual parte do público nunca tinha ouvido falar." Seja para tratar algum tipo de doença com ervas medicinais, ou evitar uma crise política com cupcakes, a verdade é que, quando o assunto é comida, o protagonista nunca está para brincadeira. Por isso, o "péssimo cozinheiro", como o próprio Voisin se intitula, teve de aprender a ser um grande chef para interpretar Carême.

Tanto Benjamin, quanto a já amante da cozinha Alice Da Luz, que interpreta Agathe, cozinheira da equipe de Napoleão, receberam orientações de um chef francês e tomaram aulas na famosa escola Ferrandi de gastronomia, em Paris.

O processo foi tão profundo que, durante as aulas, os atores fingiam ser os próprios personagens. "Éramos verdadeiros estudantes, com aulas de culinária e hospitalidade. Até usamos os nomes de nossos personagens para nos comunicar", conta Alice. "Ali aprendemos postura, gestos, nomes de comidas, ingredientes e como criar uma personalidade na cozinha", acrescenta.

Segundo Benjamin, o trabalho com o chef foi essencial para que as técnicas viessem automaticamente, durante as filmagens. "Tudo foi trabalhado para que o público assistindo à série realmente quisesse experimentar aquela comida."

O diretor Martin Bourboulon destaca que foi preciso trabalhar muito bem os conceitos de comida e cozinha na fotografia da série. "A culinária é importante para toda a vida de Carême, para seu pai, seu trabalho, Talleyrand e também para determinados enredos da série. Em certo momento do segundo episódio, por exemplo, a comida se torna um fator decisivo. Ela passa a ser uma ferramenta fundamental para assuntos diplomáticos."

Até as personagens que não estão ligadas diretamente à culinária são incluídas nesse tema. Ao interpretar Charles-Maurice de Talleyrand, Jérémie Renier compreendeu que o estrategista se utilizou da comida e das habilidades de Carême para conquistar seus objetivos e ambições. "A grande pergunta do livro de Ian Kelly é o que aconteceria se, de repente, Carême tivesse um lugar à mesa graças a seu ofício e como ele teria impacto em relações diplomáticas."

EMPODERAMENTO

Em Carême - O Rebelde da Culinária, a comida e o poder andam lado a lado e, por vezes, se misturam. Talleyrand vê as habilidades culinárias do protagonista como uma forma de entrar no palácio de Napoleão e obter informações. Carême vê uma forma de salvar seu pai e ainda subir na vida. Para Agathe, no entanto, o poder da comida é algo ainda mais profundo.

No primeiro episódio, assim que Carême começa a trabalhar na cozinha do palácio de Napoleão, ele conhece a personagem, que logo o instiga: "Você deve estar se perguntando o que uma mulher está fazendo aqui, não é?". Ela é a única mulher em posição de poder naquele espaço.

"Eu quis trazer uma força de caráter para Agathe, que foi uma chef que realmente existiu e que trabalhou em cozinhas francesas famosas. Eu quis colocar Agathe como alguém que estava no front e não nas sombras, mostrando sensibilidade na cozinha, mas também sua força e dedicação", conta Alice Da Luz.

DESAFIOS

Filmar comida e pessoas cozinhando é desafiador, e o diretor conta que um dos segredos estava em equilibrar planos fechados e abertos. A trama de Carême prende do início ao fim e vale a pena observar como as muitas camadas do protagonista e do enredo se desdobram a cada episódio. Como em uma receita, todos os ingredientes harmonizam perfeitamente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.