Grupos que reúnem 500 empresas publicam no Brasil manifesto pró-diversidade em reação a Trump

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Frente às medidas anti-ESG anunciadas pelo presidente Donald Trump nos Estados Unidos, segmentos do setor empresarial no Brasil têm reagido publicamente contra a possibilidade de desmonte da agenda de diversidade e inclusão (D&I) no ambiente corporativo e político. Nesta quarta-feira, 29, movimentos empresariais brasileiros ligados às políticas de D&I publicaram um manifesto conjunto (leia a íntegra abaixo) nas redes sociais em que reforçaram o compromisso com a agenda no Brasil.

O documento intitulado "Um compromisso inabalável com o futuro" foi assinado pelas entidades: Movimento Mulher 360, Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, Rede Empresarial pela Inclusão Social, Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, Fórum Gerações e Futuro do Trabalho, Mover, Pacto pela Equidade Racial e Instituto Ethos. As organizações representam 500 companhias associadas de diversos segmentos da economia, entre nacionais e multinacionais.

No documento, os signatários expressam que não basta reconhecer a importância da representatividade, mas agir para torná-la uma realidade. "Acreditamos que representatividade e performance andam juntas. Times diversos são mais resilientes e geram melhores resultados, tanto individuais quanto coletivos. Por isso, reafirmamos nosso compromisso inabalável com essa jornada e seus valores inegociáveis."

As companhias ainda reforçam que o Brasil possui peculiaridades que não permitem o recuo da agenda. "Apesar dos desafios, temos condições de ser referência global em D&I: nossa demografia diversa, o arcabouço legal e político robusto, e os compromissos já assumidos por empresas e instituições criam um cenário ímpar para a promoção de um ambiente de negócios que preze pela inclusão, criatividade e inovação."

No início do ano, grandes multinacionais sediadas nos EUA como Meta, McDonald's e Amazon anunciaram reformulação ou encerramento dos seus programas de diversidade. O movimento foi reforçado por Trump nas primeiras semanas de seu governo, quando o presidente declarou como ilegais programas de D&I no Estado federal.

O movimento causou um clima de apreensão imediata no Brasil, levando à reação massiva de especialistas e consultorias da área a respeito de possíveis efeitos no ambiente corporativo no País. Pontualmente, empresas como Natura e Carrefour publicaram notas de apoio à agenda, confirmando a continuidade de suas políticas internas de D&I.

Agora, a publicação de um manifesto setorial é uma maneira não só de tentar dissipar a atmosfera de medo relacionado a possíveis impactos do anti-ESG no Brasil, como também confirmar que não haverá retrocesso dessas políticas no ambiente corporativo brasileiro, diz a gestora executiva do Movimento Mulher 360, Margareth Goldenberg.

"Percebemos um movimento de pânico no Brasil tanto de lideranças, como de consultorias, que foi aumentando de acordo com a divulgação norte-americana sobre os recuos e sobre as ordens executivas que o Trump está assinando. Isso trouxe, inclusive, uma necessidade de divulgações internas nas empresas para acalmar seus colaboradores de que aqui não vamos retroagir. Por isso, em vez de comunicados pontuais, resolvemos fazer um manifesto único", explica Goldenberg.

Segundo a executiva, mesmo nos casos das multinacionais, a expectativa é a de que as empresas mantenham essas políticas adequadas às demandas da realidade brasileira, que, na sua visão, ainda não conseguiu alcançar níveis satisfatórios de diversidade e inclusão. "A tendência da grande maioria das empresas é não ter mais políticas únicas globais. Elas vão se desdobrar em políticas locais."

A executiva afirma que, apesar de o cenário brasileiro ser completamente diferente do norte-americano, essa reação contra diversidade e inclusão tem que servir como aprendizado e como alerta, para "filtrar ruídos e também recriar novas estratégias, abordagens e inspirar mudanças consistentes".

Leia o manifesto na íntegra:

"Somos movimentos empresariais compostos por mais de 500 grandes empresas que atuam articuladamente e cotidianamente com a valorização da diversidade, equidade e inclusão (DE&I).

Nosso objetivo é integrar os princípios e as práticas de DE&I presentes em compromissos concretos à cultura das nossas organizações, à estratégia de negócios e à construção de uma sociedade mais sustentável.

Os compromissos que articulam as empresas signatárias ou associadas estão baseados no respeito e na promoção dos direitos humanos, nas leis, normas nacionais e/ou internacionais, nos acordos e nas convenções que definem valores inegociáveis, orientando o caminho a seguir e a maneira criativa de lidar com desafios do mundo atual.

Acreditamos que para se tornar o país com que sonhamos, o Brasil depende do talento e do potencial de toda a sua população. Apesar dos desafios, temos condições de ser referência global em DE&I: nossa demografia diversa, o arcabouço legal e político robusto, e os compromissos já assumidos por empresas e instituições criam um cenário ímpar para a promoção de um ambiente de negócios que preze pela inclusão, criatividade e inovação.

Empresas que abraçam a diversidade, equidade e inclusão são mais resilientes, inovadoras e alinhadas às expectativas de seus diversos stakeholders (parte interessadas, em português). Ao criarem estruturas justas e acolhedoras, essas organizações fortalecem o engajamento de colaboradores, clientes e parceiros, contribuindo para um futuro mais próspero e sustentável para todos.

Ainda há um longo caminho a percorrer. Não basta reconhecer a importância da representatividade - é preciso agir para torná-la realidade. Isso significa garantir igualdade de oportunidades, ouvir e respeitar todas as vozes, e assegurar que cada indivíduo possa ser quem realmente é, sem medo ou barreiras. Além disso, acreditamos que representatividade e performance andam juntas. Times diversos são mais resilientes e geram melhores resultados, tanto individuais quanto coletivos.

POR ISSO, REAFIRMAMOS NOSSO COMPROMISSO INABALÁVEL COM ESSA JORNADA E SEUS VALORES INEGOCIÁVEIS.

Continuaremos construindo um ambiente empresarial no qual o compromisso com o respeito e a promoção aos direitos humanos signifique sucesso para os negócios e para toda a sociedade. Continuaremos enfrentando nossos desafios, ampliando horizontes com posturas e práticas concretas que rejeitem a discriminação, promovam equidade, atuem para o desenvolvimento de cada pessoa em ambientes inclusivos, seguros e saudáveis.

Somos vozes que constroem pontes. Somos mãos que erguem oportunidades. Somos corações que batem pelo mesmo propósito: um Brasil que valorize sua diversidade, que seja mais justo, inclusivo e, assim, sustentável.

JUNTOS E JUNTAS, SEGUIMOS FIRMES NESSA MISSÃO PORQUE DIVERSIDADE, EQUIDADE E INCLUSÃO É UM CAMINHO SEM VOLTA - E É NELE QUE ESCOLHEMOS ESTAR."

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A cantora Nana Caymmi, que morreu na noite desta quinta-feira, 1º, aos 84 anos, fez aniversário no último dia 29 de abril. Internada desde julho de 2024, Nana recebeu uma mensagem da também cantora Maria Bethânia, de quem era amiga.

Bethânia escreveu: "Nana, quero que receba um abraço muito demorado, cheio de tanto carinho e admiração que tenho por você. Querida, precisamos de você e da sua voz. Queremos você perto e cheia de suas alegrias, dons e águas do mar na sua voz mais linda que há. Amor para você, hoje, seu aniversário, e sempre. Rezo à Nossa Senhora para você vencer esse tempo tão duro e difícil. Peço por sua voz e por sua saúde. Te amo. Sua irmã, Maria Bethânia".

Nana e Bethânia tinham uma longa relação de amizade e gravaram juntas no álbum Brasileirinho, de Bethânia, lançado em 2003. Bethânia afirmou mais de uma vez que Nana era a maior cantora do Brasil.

De acordo com informações divulgadas pela Casa de Saúde São José, onde Nana estava internada há nove meses para tratar de problemas cardíacos, a cantora morreu às 19h10 desta quinta-feira, em decorrência da disfunção de múltiplos órgãos.

Morreu nesta quinta-feira, 1° de maio, Nana Caymmi, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. A morte foi confirmada pelo irmão da artista, o também músico e compositor Danilo Caymmi. Ela estava internada havia nove meses em uma clínica no Rio de Janeiro.

"Eu comunico o falecimento da minha irmã, Nana Caymmi. Estamos, lógico, na família, todos muito chocados e tristes, mas ela também passou nove meses sofrendo em um hospital", disse Danilo Caymmi.

"O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu, de sentimento, de tudo. Nós estamos, realmente, todos muito tristes, mas ela terminou nove meses de sofrimento intenso dentro de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital", acrescentou o irmão, em um vídeo publicado no Instagram.

Nas redes, amigos e admiradores também prestaram homenagens à cantora.

"Uma perda imensa para a música do Brasil", escreveu o músico João Bosco, com quem Nana dividiu palcos e microfones. Bosco também teve canções interpretadas por Nana Caymmi, como Quando o Amor Acontece.

O cantor Djavan disse que o País perde uma de suas maiores cantoras e ele, particularmente, uma amiga. "Descanse em paz, Nana querida. Vamos sentir muito sua falta, sua voz continuará a tocar nossos corações."

Alcione também diz que perdeu uma amiga e que a intérprete, filha de Dorival Caymmi, tinha "a voz". "Quem poderá esquecer de Nana Caymmi?"

"Longe, longe ouço essa voz que o tempo não vai levar! Nana das maiores, das maiores das maiores", postou a cantora Monica Salmaso, que já tinha prestado uma homenagem para Nana na última terça, quando a artista completou 84 anos. "Voz de catedral", descreveu Monica na ocasião.

O escritor, roteirista e dramaturgo Walcyr Carrasco disse que, nesta quinta, a música brasileira deve ficar em silêncio em respeito à partida da artista. "Que sua voz siga ecoando onde houver saudade. Meus sentimentos à família, amigos e admiradores!"

A deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSOL-SP) disse que Nana Caymmi tinha umas das vozes "mais marcantes da música popular brasileira" e que a cantora deixa um "legado extraordinário" para o Brasil por meio de interpretações "únicas e carregadas de emoção". "Que sua arte siga viva, e que ela descanse em paz", disse a parlamentar.

A artista Eliana Pittman diz que se despede com tristeza de Nana Caymmi, a quem descreveu com uma das uma "das maiores vozes" que o Brasil já teve, e elogiou a cantora pela irreverência e forte personalidade.

"Nana nunca se curvou a convenções: cantava o que queria, do jeito que queria - e por isso, marcou gerações", disse Eliana, que também fez elogios qualidade técnica da intérprete. "Sua voz grave, seu timbre inconfundível e sua forma tão particular de existir na música deixam um vazio irreparável".

O Grupo MPB4 postou: "Siga em paz, querida Nana Caymmi! Nosso mais fraterno abraço para os amigos Dori Caymmi, Danilo Caymmi (irmãos de Nana Caymmi) e toda a família".

A cantora Nana Caymmi morreu nesta quinta-feira, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Ela estava internada há nove meses na Clínica São José, no Rio de Janeiro. A morte da cantora foi confirmada por seu irmão, o músico e compositor Danilo Caymmi, no início da noite.

Além dos problemas cardíacos que abalaram sua saúde em 2024, que obrigaram os médicos implantar um marcapasso para contornar uma arritmia cardíaca, Nana enfrentou um câncer de estômago em 2015.

Filha do compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu no Rio de Janeiro, com o nome de Dinahir Tostes Caymmi, o mesmo de uma tia, irmã do pai. Incentivada pelos pais, começou a estudar piano clássico ainda criança. Em 1960, entrou no estúdio com Caymmi para fazer sua primeira gravação, Acalanto, a canção de ninar feita para ela pelo pai. No mesmo ano, gravou um compacto simples com as músicas Adeus e Nossos Beijos.

Ao mesmo tempo que dava seus primeiros passos na carreira como cantora, Nana decide deixar o Brasil e se casar com o médico venezuelano Gilberto José Aponte Paoli, com quem teve seus três filhos, Stella, Denise e João Gilberto.

De volta ao País, separada, enfrenta o preconceito de Caymmi, que decide não falar mais com a filha. Nana é então socorrida pelo irmão, Dori, que faz a canção Saveiros para ela cantar no I Festival Internacional da Canção (TV Globo). Foi vaiada ao ser anunciada a vencedora da competição.

Casada agora com Gilberto Gil, apresenta-se no III Festival de Música Popular Brasileira na TV Record, em 1967, com a canção Bom Dia, assinada em parceria com Gil. Grava com o grupo Os Mutantes a canção Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, além de um álbum de carreira.

Em 1973, faz uma exitosa temporada em Buenos Aires, na Argentina, onde lança um disco pela gravadora Trova. No repertório, músicas de compositores que seriam presença constantes em seus discos, como Tom Jobim, João Donato, Chico Buarque, além de Caymmi. Nesse mesmo ano, Caymmi se reaproxima da filha, em um programa de televisão.

Ao longo dos anos 1970 e 1980, grava regularmente. Seus álbuns reuniam não somente um repertório sofisticado, mas também grandes músicos, como João Donato, Helio Delmiro, Toninho Horta, Novelli, além dos irmãos Dori e Danilo. Em 1980, participa da faixa Sentinela, no disco de Milton Nascimento. No início dos anos 1990, grava Bolero, disco inteiramente dedicado ao gênero.

Com o prestígio de uma das principais cantoras do País, Nana, embora tenha alcançado relativo sucesso com músicas como Mãos de Afeto, Beijo Partido, Contrato de Separação e De Volta ao Começo, além de ser voz presente em trilhas sonoras de novelas da TV Globo, não tinha, no entanto, a mesma popularidade de nomes como Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina.

Sucesso popular

O reconhecimento popular só chegou em 1998, quando o bolero Resposta ao Tempo, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhido para ser tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, de Glória Perez. A história da moça de uma família tradicional mineira que larga o noivo no altar e se torna uma das mais famosos prostitutas da zona boêmia de Belo Horizonte conquistou a audiência e ampliou o público de Nana.

Anos antes, Nana havia batido na trave. Sua gravação de Vem Morena havia sido escolhida para a abertura da novela Tieta, um dos maiores sucessos da TV Globo. Porém, dias antes da estreia da trama, em agosto de 1989, o então diretor geral da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, pediu uma música "mais animada". Ele mesmo fez a letra da canção gravada por Luiz Caldas. "Fiquei esperando minha música tocar e aparece o Luiz Caldas dizendo que a lua estava cheia de tesão", reclamou, tempos depois, Nana nos jornais.

Com a carreira em alta, arrisca e coloca em prática um antigo desejo: fazer uma segundo volume de um álbum dedicado apenas a boleros. Sangra de Mi Alma foi lançado em 2000, com clássicos do gênero como Amor de Mi Amores e Solamente Una Vez, essa última escolhida para trilha da novela Laços de Família.

Nos anos 2000, Nana se dedica a regravar as canções de Caymmi em álbuns temáticos. O Mar e o Tempo (2002), Para Caymmi: de Nana, Dori e Danilo (2004), Quem Inventou o Amor (2007) e Caymmi (2013) compreenderam boa parte da obra do compositor.

Seus últimos dois álbuns foram Nana Caymmi Canta Tito Madi, de 2019, sobre a obra do compositor pré-bossanovista, e Nana, Tom, Vinicius, de 2020, com canções de seus dois grandes amigos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Nana, porém, a essa altura, já estava afastada dos palcos. Sua última apresentação foi em 2015, em São Paulo. A cantora havia prometido voltar a cantar ao vivo se o empresário Danilo Santos de Miranda, seu grande amigo, diretor do Sesc São Paulo, se recuperasse de uma internação. Miranda morreu em outubro de 2023. O Selo Sesc, projeto criado por Miranda, guarda um registro inédito do show Resposta ao Tempo, gerado a partir de uma apresentação de Nana no Sesc Pompeia.

A última imagem conhecida de Nana é a que aparece no documentário Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, de Daniela Broitman. Nele, Nana dá um forte depoimento sobre o pai e canta, à capela, o samba canção Não Tem Solução, em um dos melhores momentos do filme.

Em agosto de 2024, o cantor Renato Brás lançou a faixa A Lua e Eu, sucesso de Cassiano, com a participação de Nana nos vocais. A voz de Nana foi capturada em sua casa, no Rio de Janeiro.

Em sua última entrevista ao Estadão, quando completou 80 anos, Nana manifestou o desejo de gravar as parcerias do irmão Dori com Nelson Motta. Também desejava cantar Milton Nascimento - um de seus grandes amigos - e Beto Guedes. "Se eu não gravei, são inéditas para mim", disse, reforçando uma insatisfação constante dos últimos anos, a de que não havia bons novos compositores para lhe fornecerem repertório.

Como uma metáfora da vida, Nana, também nessa entrevista, falou sobre seu sentimento ao gravar uma canção. "Ela acontece, assim como o amor. É como uma nascente, ela corre. Para quem consegue molhar o rosto nessa água límpida, como eu faço quando estou gravando, é um delírio", disse.