Parque Nacional do Itatiaia revela descoberta arqueológica inédita no Rio

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Um sítio arqueológico com pinturas rupestres foi descoberto no Parque Nacional do Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro. O achado é inédito no estado. Os desenhos nas rochas, em tons de vermelho e amarelo-alaranjado, estão a 2.350 metros de altitude. Um deles se assemelha a um lagarto visto de cima. O local ainda não pode ser visitado.

O achado aconteceu no final de 2023, mas as imagens só foram divulgadas nesta quarta-feira, 2, pela gestão do parque e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra as unidades de conservação federais. No tempo decorrido, foram realizadas análises para atestar a importância do achado e adotadas medidas para a proteção do local. Segundo o ICMBio, o sítio traz novas perspectivas para a arqueologia brasileira.

Batizado de Sítio Arqueológico Agulhas Negras, o local foi descoberto por Andres Conquista, colaborador da Parquetur, concessionária do Itatiaia. "Estava fotografando os lírios e escalando uma pedra durante meu horário de almoço. Ao subir em outra rocha para descer do lado oposto, vi as pinturas na superfície", relata.

Desenhos geométricos

As pinturas encontradas no Sítio Agulhas Negras são predominantemente desenhos geométricos, alguns apresentando duas cores, combinando tons de vermelho e amarelo-alaranjado, segundo o ICMBio. Há ainda grafismos zoomorfos, como uma figura que remete ao lagarto visto de cima.

De acordo com o arqueólogo Carlos Gabriel, os traços dessas pinturas guardam semelhança com a Tradição São Francisco, cujos registros estão concentrados no médio e baixo curso do Rio São Francisco, entre Minas Gerais e Bahia. "Caso essa situação se confirme, as pinturas de Itatiaia representarão a manifestação mais ao sul dessa tradição no Brasil", afirma.

Importância histórica

Conforme o ICMBio, ainda não é possível determinar a idade das pinturas. Os registros serão analisados por especialistas nos próximos meses. "Além de seu valor artístico e cultural, o Sítio Agulhas Negras reforça a presença contínua de povos indígenas no Brasil antes da chegada dos europeus", diz o ICMBio.

Ainda segundo o Instituto, a localização no planalto de Itatiaia, uma região de clima distinto dentro do Sudeste, sugere que diferentes paisagens foram habitadas ao longo dos milênios. Além disso, as semelhanças com registros de outras partes do país indicam uma intensa circulação de ideias e símbolos entre os povos ameríndios.

Para os pesquisadores, o sítio Agulhas Negras pode estar relacionado a outros sítios arqueológicos da região, como os localizados em Andrelândia, Baependi e Carrancas, no sul de Minas Gerais. Eles destacam o Sítio da Serra de Santo Antônio, em Andrelândia, o mais estudado da região e associado à Tradição São Francisco - um agrupamento de pinturas rupestres que se encontram ao longo do Rio São Francisco.

No nível arqueológico mais antigo escavado nessa área, segundo o ICMBio, uma datação revelou 3.030 anos antes do presente. "É possível que os autores das pinturas de Itatiaia tenham pertencido à mesma 'onda cultural'", diz o ICMBio.

Assim que a descoberta foi confirmada, a gestão do Parque do Itatiaia notificou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para o registro oficial e orientações sobre a proteção do sítio. Em abril de 2024, equipes do Iphan, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, visitaram o local para as primeiras análises.

A pesquisa foi autorizada pelo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio), sob o título "Identificação, pesquisa e gestão de sítios arqueológicos no planalto do Parque Nacional de Itatiaia, RJ, Brasil", com o número 98090-1. Ao menos dez pesquisadores das instituições e universidades participaram do trabalho.

A proteção do sítio é uma responsabilidade compartilhada entre o ICMBio, o Iphan e órgãos da sociedade e o plano é abrir o sítio para visitação, mas apenas no futuro. "Neste primeiro momento, a visitação ao sítio arqueológico não será permitida. Vamos aguardar o avanço dos estudos e avaliar, junto aos pesquisadores, a melhor estratégia para visitação futura", diz Felipe Mendonça, gestor do Parque Nacional do Itatiaia.

O que são as pinturas rupestres?

As pinturas rupestres são uma das expressões culturais mais antigas da humanidade, transmitindo informações sobre valores estéticos e simbólicos das sociedades que as produziram. Essas representações eram feitas com pigmentos naturais como carvão, argila, sangue e minerais, retratando cenas do cotidiano dos povos antigos, figuras humanas, animais e símbolos abstratos.

As mais antigas já encontradas têm cerca de 51,2 mil anos e estão em uma ilha da Indonésia. No Brasil, as mais conhecidas estão na Serra da Capivara, no Piauí, no que é considerado um dos sítios arqueológicos mais importantes das Américas.

No estado de São Paulo, o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo (USP) tem catalogados mais de 50 sítios arqueológicos com pinturas rupestres.

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Morreu neste domingo, 3, aos 48 anos, o ator Mauricio Silveira. O artista estava em coma induzido por complicações de uma cirurgia para retirada de um tumor no intestino. A notícia foi confirmada nas redes sociais de Mauricio.

O velório do ator será realizado no domingo, das 9h às 11h, no Cemitério Jardim da Saudade, no Jardim Sulacap, no Rio de Janeiro.

Mauricio já havia atuado em diversas novelas da Rede Globo, como Cobras & Lagartos (2006), Faça Sua História (2008) e Insensato Coração (2011). Ele também colecionou contribuições ao teatro e ao audiovisual.

Mauricio era ator, diretor e CEO da oficina de teatro e audiovisual MS Produções, responsável por espetáculos como Blue Man e Eu Matei Nelson Rodrigues, no qual também atuou.

Tratamento contra câncer no intestino

O artista estava em coma induzido para tratar uma infecção. Theo Becker, que também é ator e amigo pessoal de Mauricio, pediu em seu Instagram para que fãs e seguidores torcessem pela recuperação. O vídeo, postado no último domingo, 27, viralizou.

"Quero pedir orações para um grande amigo meu, Mauricio Silveira. O médico fez um exame e descobriu um câncer no intestino. Um câncer agressivo demais. Ele está entre a vida e a morte", disse Theo na ocasião.

Na última quinta, 31, a família de Mauricio informou que o estado de saúde do ator havia piorado e pediu por doações de sangue. Na ocasião, ele recebeu o apoio de diversos colegas de profissão.

"Toda força e energia de cura", escreveu Eriberto Leão. "Estou orando por você, querido", comentou a atriz Ellen Roche.

A mesa 8 da Flip 2025, na manhã de sexta-feira, 1.º, não foi uma "mesa de poesia feminina", como aquelas que, há poucas décadas, separavam as poetas da conversa principal. Mas foi uma mesa sobre poesia, e de poesia feita por mulheres. A conversa entre Alice Ruiz, Claudia Roquette-Pinto e Marília Garcia, mediada por Fernando Luna, falou sobre as convergências e divergências de três gerações de poetas e gerou diversos momentos aplaudidos pela plateia.

"É uma magia um espaço desse lotado de pessoas interessadas em poesia de mulheres às 10h da manhã de uma sexta", celebrou Alice. Logo, foi questionada sobre a emoção de estar na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, no ano em que o homenageado é o poeta Paulo Leminski, que foi seu companheiro e com quem teve três filhos. "Normalmente para a mulher se pergunta da emoção, mesmo quando é trabalho. Se eu não tivesse colocado a emoção de lado, não teria conseguido trabalhar", disse Alice, que, mais tarde, voltou à questão: "Espero não ter sido indelicada. É porque isso é o inferno da minha geração".

Alice definiu como uma felicidade grande ver o reconhecimento da obra de Leminski, pelo qual ela e as filhas Aurea Alice e Estrela tanto trabalharam. "Essa coisa de estar vivo é por momentos como esse."

CONVERGÊNCIA. Alice, Claudia e Marília contaram como conheceram a poesia uma da outra. "Nunca vi uma Flip com tantas poetas. Isso a gente deve a essas pioneiras", disse Claudia, falando da geração de Alice. "Os rapazes que me desculpem, mas em quantidade e qualidade acho que já estamos na frente", completou Alice.

Um dos temas de convergência foi o erotismo, presente nas obras de Claudia e Alice. A veterana comentou que uma de suas grandes influências foi Clarice Lispector, mas também citou Gilka Machado, e disse que a presença do erotismo nas obras da poeta a impressionaram: "Mulher escrever sobre erotismo, para mim, é político".

Marília comentou que acredita que a poesia vai sendo construída em conjunto, a partir de quem está produzindo naquele período, mas que agora vê uma pluralidade muito maior de vozes. Claudia lembrou que "escutou atrocidades" nos anos 1990, quando começou a publicar. "Mostrei um poema a um colega e ele me disse: você escreve igual a um homem." Foi nesse momento que ela lembrou como eram comuns as "mesas de poesia feminina". "É muito diferente disso aqui, agora."

"Eu tinha quase um compromisso em não falar de sofrimento. Mas, se eu falasse, queria apresentar uma saída", disse Alice, antes de ler um trecho de Milagrimas. Quando encerrou o último verso, "a cada mil lágrimas sai um milagre", foi ovacionada de pé pela plateia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A escritora mexicana Cristina Rivera Garza, vencedora do prêmio Pulitzer por O Invencível Verão de Liliana (Autêntica), falou sobre a crise na fronteira entre Estados Unidos e México durante a mesa que dividiu com a argentina María Negroni na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2025, neste sábado, 2.

A autora nasceu em 1964 no município de Heroica Matamoros, que fica na divisa com o estado do Texas, e atualmente mora em Houston. "Sempre que me perguntam isso eu começo dizendo: é tão horrível quanto parece", disse, em resposta ao mediador Guilherme Freitas.

A escritora considera que o conflito na fronteira e a política contra imigração americana são frutos de um "capitalismo de ódio". Ela contou que conseguiu perceber, ao longo de quase dez anos em Houston, que celebrações mexicanas na cidade foram diminuindo por medo da repressão.

"É preciso lutar cotidianamente, com o corpo, como as feministas dizem. Para mim, trabalhar na universidade é oferecer cursos de escrita criativa e literatura é uma forma de ativismo", completou. Atualmente, ela dirige o programa de doutorado em escrita criativa da Universidade de Houston.

Escrita e memória

A mesa entre Cristina e María Negroni, que contaram que se conhecem há muitos anos, demorou a engatar e teve alguns problemas de tradução. Ainda assim, ambas puderam apresentar seus trabalhos e refletir sobre a criação da literatura a partir de memória e pesquisa.

O Coração do Dano (Poente), da escritora argentina, é uma autoficção sobre a relação complicada com a mãe, um misto de rancor e fascínio. "A escrita de um livro é sempre um mistério para o autor ou autora. Acho que o livro foi se escrevendo, um pouco baseado na perda. Não é um livro de luto, mas de alguma forma, tinha que articular algo que sempre esteve dentro de mim. Essa figura materna, de alguma forma, me configura", disse ela.

O Invencível Verão de Liliana, de Cristina, reconstitui a vida da irmã da escritora, morta em 1990, aos 21 anos, vítima de feminicídio. A mexicana comentou que já havia tentado escrever o livro anteriormente, sem sucesso, e creditou às mobilizações feministas na América Latina que, segundo ela, produziram a linguagem que ela pode usar no livro. Quando Liliana foi morta, o termo 'feminicídio' não fazia parte da esfera pública. "Foram elas que possibilitaram eu pudesse dizer: foi isso que aconteceu", afirmou.

Ela também falou sobre Autobiografia do Algodão, publicado neste ano pela Autêntica, um romance que resgata a história de seus avós na fronteira, em uma plantação de algodão. "O que me moveu foi uma busca pela identidade. Foi uma pesquisa amorosa. Um trabalho de cuidado, um acolhimento que oferecemos aos nossos mortos", disse.

Em outro momento, o mediador pediu que María falasse sobre sua relação com Clarice Lispector. A epígrafe do livro da argentina é uma frase da escritora: "Vou criar o que me aconteceu". Ela disse que Clarice, nesta frase, "faz uma espécie de fenda na distância que existe entre a palavra e o mundo."

"Minha citação da Clarice é para dizer que o que narra esse livro não é algo que ocorreu. Eu não tenho certeza de fato. Dentro do livro, a mãe desmente memórias", disse, completando: "Escrever um livro é como entrar em um poço às escuras. Tenho que acreditar que ele vai me levar para onde eu quero ir."