Crise na fronteira entre México e EUA é fruto do capitalismo do ódio, diz Cristina Rivera Garza

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A escritora mexicana Cristina Rivera Garza, vencedora do prêmio Pulitzer por O Invencível Verão de Liliana (Autêntica), falou sobre a crise na fronteira entre Estados Unidos e México durante a mesa que dividiu com a argentina María Negroni na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2025, neste sábado, 2.

A autora nasceu em 1964 no município de Heroica Matamoros, que fica na divisa com o estado do Texas, e atualmente mora em Houston. "Sempre que me perguntam isso eu começo dizendo: é tão horrível quanto parece", disse, em resposta ao mediador Guilherme Freitas.

A escritora considera que o conflito na fronteira e a política contra imigração americana são frutos de um "capitalismo de ódio". Ela contou que conseguiu perceber, ao longo de quase dez anos em Houston, que celebrações mexicanas na cidade foram diminuindo por medo da repressão.

"É preciso lutar cotidianamente, com o corpo, como as feministas dizem. Para mim, trabalhar na universidade é oferecer cursos de escrita criativa e literatura é uma forma de ativismo", completou. Atualmente, ela dirige o programa de doutorado em escrita criativa da Universidade de Houston.

Escrita e memória

A mesa entre Cristina e María Negroni, que contaram que se conhecem há muitos anos, demorou a engatar e teve alguns problemas de tradução. Ainda assim, ambas puderam apresentar seus trabalhos e refletir sobre a criação da literatura a partir de memória e pesquisa.

O Coração do Dano (Poente), da escritora argentina, é uma autoficção sobre a relação complicada com a mãe, um misto de rancor e fascínio. "A escrita de um livro é sempre um mistério para o autor ou autora. Acho que o livro foi se escrevendo, um pouco baseado na perda. Não é um livro de luto, mas de alguma forma, tinha que articular algo que sempre esteve dentro de mim. Essa figura materna, de alguma forma, me configura", disse ela.

O Invencível Verão de Liliana, de Cristina, reconstitui a vida da irmã da escritora, morta em 1990, aos 21 anos, vítima de feminicídio. A mexicana comentou que já havia tentado escrever o livro anteriormente, sem sucesso, e creditou às mobilizações feministas na América Latina que, segundo ela, produziram a linguagem que ela pode usar no livro. Quando Liliana foi morta, o termo 'feminicídio' não fazia parte da esfera pública. "Foram elas que possibilitaram eu pudesse dizer: foi isso que aconteceu", afirmou.

Ela também falou sobre Autobiografia do Algodão, publicado neste ano pela Autêntica, um romance que resgata a história de seus avós na fronteira, em uma plantação de algodão. "O que me moveu foi uma busca pela identidade. Foi uma pesquisa amorosa. Um trabalho de cuidado, um acolhimento que oferecemos aos nossos mortos", disse.

Em outro momento, o mediador pediu que María falasse sobre sua relação com Clarice Lispector. A epígrafe do livro da argentina é uma frase da escritora: "Vou criar o que me aconteceu". Ela disse que Clarice, nesta frase, "faz uma espécie de fenda na distância que existe entre a palavra e o mundo."

"Minha citação da Clarice é para dizer que o que narra esse livro não é algo que ocorreu. Eu não tenho certeza de fato. Dentro do livro, a mãe desmente memórias", disse, completando: "Escrever um livro é como entrar em um poço às escuras. Tenho que acreditar que ele vai me levar para onde eu quero ir."

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta terça-feira, 11, uma nova versão do mapa-múndi, com o estado do Pará no centro do planeta, como forma de valorizar a COP30, evento mundial que está acontecendo em Belém para debater o combate às mudanças climáticas.

O mapa está invertido ao que normalmente é mostrado, com o hemisfério sul na parte de cima e o hemisfério norte na parte de baixo. Em postagem nas redes sociais, o IBGE "afirma que é uma forma de valorizar Belém como capital simbólica do Brasil durante a COP, no mês em que o compromisso de construir uma transição ecológica justa e sustentável ganha destaque".

A representação também demarca o território do Brasil, da Amazônia, dos outros países que tem partes da maior floresta tropical do planeta e a "Amazônia Azul", a região do Oceano Atlântico que se projeta a partir do litoral até o limite exterior da Plataforma Continental brasileira, de exploração econômica exclusiva do Brasil.

A COP em Belém é a trigésima edição da "Conferência entre as Partes", evento anual realizado pela Organização das Nações Unidas para debater o combate às mudanças climáticas. O principal objetivo é chegar a acordos entre todos os países para evitar o aumento na temperatura média da terra em 1,5ºC em relação à média de antes do início da revolução industrial. É a primeira vez que uma COP ocorre no Brasil.

Em 2024, o IBGE havia publicado uma versão do mapa-múndi com o Brasil no centro, em versão atualizada do Atlas Geográfico Escolar. Na ocasião, a mudança gerou polêmica, com acusações nas redes sociais de que refletiria uma visão ideológica do ensino de geografia.

O presidente do IBGE, Márcio Pochmann, defendeu a decisão de colocar o Brasil no centro após as reações. "A centralidade dos países do Norte Global nas projeções cartográficas é expressão do projeto eurocentrista de modernidade Ocidental. A emergência do Sul Global acompanha o reposicionamento do Brasil no mapa-múndi", disse, nas redes sociais.

Tecnicamente, tanto o mapa com Belém no centro como o do Brasil são tão corretos quanto possível para representar uma superfície real que é esférica numa imagem plana. No espaço, não existe em cima e embaixo, portanto, os hemisférios norte e sul foram definidos apenas por convenção, enquanto qualquer lugar pode ser considerado o centro - outros países, como Austrália e Nova Zelândia também fazem mapas nos quais seus territórios aparecem no centro.

A Prefeitura de São Paulo tem até o dia 8 de dezembro para regulamentar o serviço de transporte de passageiros por motocicletas na capital paulista.

Em setembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) considerou inconstitucional o decreto municipal que proibia esse tipo de modal na cidade e estabeleceu prazo de 90 dias para que a Prefeitura regulamente a atividade, atualmente proibida nas vias paulistanas.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) trava desde 2023 uma disputa judicial contra plataformas como 99 e Uber, que tentam implantar o serviço de transporte de passageiros por motocicleta em São Paulo. Nunes alega risco de aumento de acidentes, enquanto as empresas defendem a modalidade como alternativa de deslocamento em áreas desassistidas pelo transporte público.

O prefeito, no entanto, vem acumulando derrotas nesse embate. Depois de ter o decreto de 2023 declarado inconstitucional pelo TJ-SP, o Supremo Tribunal Federal (STF) também julgou inconstitucional a Lei nº 18.156/2025, sancionada em junho deste ano pelo governo paulista, que dava autonomia aos municípios para vetar ou autorizar o mototáxi e os aplicativos de moto.

Em ambos os casos, as decisões foram motivadas por uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) movida pela Confederação Nacional dos Serviços (CNS), que argumentou que a norma estadual invadia a competência da União para legislar sobre trânsito e transporte.

O relator, ministro Alexandre de Moraes, ao suspender a lei por liminar, apontou que a norma criava critérios e exigências não previstos na legislação federal e permitiria que os municípios regulamentassem o serviço de forma incompatível com o que estabelece a União. Todos os demais ministros acompanharam o voto pela inconstitucionalidade.

Nunes rebateu a decisão e afirmou não haver invasão de competência. "Se eles (ministros do STF) entendem que existe alguma lacuna na legislação federal - do meu ponto de vista, não há -, poderiam ter tido a sensibilidade de criar um ordenamento para que a gente preservasse vidas", disse o prefeito durante agenda na segunda, 10. Apesar de STF e TJ entenderem que a Prefeitura não tem poder de barrar o serviço, o tipo de transporte não está sendo oferecido porque a atividade ainda não está regulamentada.

Manobra via projeto de lei no Congresso

Questionada sobre como pretende regulamentar o serviço - se por meio de decreto ou com a realização de audiências públicas -, a Prefeitura não respondeu. A assessoria encaminhou à reportagem um áudio do prefeito, gravado em agenda nesta terça-feira, no qual ele afirma esperar a aprovação de um projeto de lei do deputado federal Maurício Neves (PP-SP), que pode barrar o serviço de transporte de passageiros por motocicleta.

A proposta estabelece condições para que os municípios possam oferecer o modal, desde que tenham baixos índices de mortes no trânsito e disponibilidade de leitos hospitalares para atender vítimas de acidentes. Como a capital tem um índice elevado, Nunes acredita que ficaria de fora da autorização.

"No Senado, eu já conversei com o presidente Davi Alcolumbre; na Câmara, com o presidente Hugo Motta. Temos levado todos os dados e estatísticas, mostrando a importância de aprovar essa lei", afirmou Nunes. "Eu tenho que correr contra o tempo para aprovar o projeto de lei do Maurício Neves e, com isso, salvar vidas", completou o prefeito, sem dar mais detalhes sobre o processo de regulamentação.

Comissão estudar fazer audiência pública no final do mês

A vereadora Renata Falzoni (PSOL), presidente da Subcomissão do Serviço de Transporte Individual de Passageiros por Motocicleta, dentro da Comissão de Trânsito, Transporte e Atividade Econômica, da Câmara Municipal de São Paulo, disse ao Estadão que uma audiência pública deverá ser marcada no final deste mês, em data ainda não definida.

"Já foi realizada, no primeiro semestre, uma audiência pública pela subcomissão, e, agora, pretendemos realizar uma audiência pública de encerramento", disse a parlamentar. Outras audiências públicas foram organizadas pela comissão presidida pela vereadora, mas todas foram realizadas no primeiro semestre deste ano. Caso o encontro de novembro seja confirmado, será o primeiro após a exigência da regulamentação pelo Judiciário.

"A ideia é que tenhamos um encerramento participativo, e é essa a importância de uma audiência pública: ouvir os atores envolvidos, a sociedade civil, empresas. Enfim, todos aqueles que pretendem se manifestar sobre a temática. Um desfecho democrático para selar os trabalhos intensos dessa subcomissão", completou.

Um caminhão está atravessado na pista externa do Rodoanel, na altura do km 44, no trecho de Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo, no sentido da Rodovia Presidente Dutra. Conforme informações da SPMar, o condutor do veículo foi vítima de sequestro na madrugada desta quarta-feira, 12.

"Mandaram o motorista atravessar o caminhão (na via). E ele está amarrado na cabine a um artefato caseiro. Estamos esperando a chegada do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE)", disse a concessionária. Motoristas devem evitar a região, em razão de congestionamento no local. Há congestionamento do km 44 ao 31.