Saudade pode ser usada a favor da saúde mental; entenda como

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Sentir saudade pode ajudar a reduzir sintomas de depressão, segundo uma pesquisa publicada na revista Frontiers in Psychology, em janeiro deste ano. O sentimento tem uma grande presença na cultura brasileira e é um tema frequente na bossa nova, que serviu de inspiração para o estudo.

"Acreditamos que a saudade funciona como um canal de reconexão afetiva. Ela ativa memórias significativas, muitas vezes associadas a vínculos e momentos positivos, o que pode suavizar emoções negativas, como a culpa e a autodepreciação", destaca Jorge Moll Neto, neurocientista, idealizador do IDOR Ciência Pioneira e um dos autores do estudo, conduzido em parceria com pesquisadores do King's College London. "Além disso, há evidências de que sentimentos como nostalgia e saudade ajudam a reforçar o senso de continuidade do eu, o pertencimento e aceitação - todos fatores protetivos frente à depressão".

Segundo o autor, a ideia da pesquisa nasceu da percepção de que, apesar de ser um sentimento presente na cultura brasileira, a saudade é pouco explorada pela psicologia clínica. "Ela é frequentemente vista como uma emoção melancólica, mas também pode envolver amor, conexão e significado - tornando-se, portanto, um sentimento potencialmente adaptativo", pontua.

"A partir disso, desenvolvemos a hipótese de que a saudade poderia funcionar como um recurso emocional útil na psicoterapia, especialmente para pessoas com altos níveis de autocrítica, que têm maior vulnerabilidade à depressão."

O que é a saudade?

Segundo Fátima Bertini, doutora em psicologia, professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e coordenadora do projeto Clínica da Saudade, o conceito de saudade pode ser definido como uma vivência afetiva que envolve sentimentos profundos de ausência, desejo e memória. Ela destaca que a saudade está relacionada a algo ou alguém que foi significativo, mas que está distante ou ausente no presente. Não se trata apenas de uma falta, mas de uma presença que persiste na memória e nos sentimentos, o que a torna um afeto complexo, muitas vezes ambíguo, porque pode causar tanto dor quanto carinho.

"A saudade tem algo muito peculiar, que somente a língua portuguesa identifica: é uma tristeza da lembrança, mas também uma potência da alegria. Ela é tristeza e alegria. Tristeza porque lembra a ausência, e alegria porque lembra de algo que foi bom. Por isso, eu acredito que a saudade - apesar da etimologia do latim desiderium, que significa tristeza profunda - não se define só pela tristeza", afirma.

"Só queremos lembrar o que foi bom. Se a saudade existe, é porque, além da tristeza da ausência, também carrega uma potência: a alegria de lembrar de momentos positivos. Por isso, eu acredito em uma epistemologia positiva da saudade", acrescenta Fátima.

Como o estudo foi feito?

Para a elaboração do estudo do IDOR Ciência Pioneira com o King's College London, 39 pessoas foram convidadas a criar filmes pessoais de 10 minutos com fotos, músicas e vídeos que despertavam autocrítica, tristeza e, por fim, saudade. Depois disso, o grupo foi instruído a assistir ao vídeo todos os dias, por uma semana.

"A ideia era que, ao revisitar sentimentos difíceis como autocrítica e tristeza, eles pudessem ressignificá-los ao acessarem, ao final, a saudade - um sentimento mais construtivo e afetivo", explica o neurocientista Jorge Moll.

Antes e depois da intervenção, os participantes responderam a escalas padronizadas, incluindo o Inventário de Depressão de Beck, um questionário de autorrelato com 21 itens que avaliam a presença e a gravidade de sintomas depressivos. Mesmo com um curto período de testagem, os resultados apontaram uma redução significativa nos escores ligados a sintomas depressivos.

"Também houve melhora nas escalas de autocrítica, o que reforça a hipótese de que a saudade pode atuar como um modulador emocional positivo, ajudando na regulação de sentimentos dolorosos. A alta taxa de adesão e a ausência de efeitos negativos também são destaques importantes", diz o pesquisador do IDOR Ciência Pioneira. Não foram registrados eventos como aumento da sensação de angústia. Embora houvesse suporte disponível em caso de problemas, nenhum participante solicitou ajuda.

Limitações

Por se tratar de um experimento voltado para a análise de segurança e viabilidade de novas pesquisas, os testes foram feitos em pessoas sem problemas de saúde mental diagnosticados previamente, mas que relataram prejuízos devido a sentimentos frequentes de autocrítica.

Os participantes foram recrutados por anúncios em listas de e-mails e nas redes sociais. A seleção envolveu uma pré-triagem, a partir da análise de dados coletados em formulário respondido por 1.839 pessoas, e devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19 (as primeiras etapas do estudo ocorreram em 2021), a pesquisa ocorreu de forma online.

Uma das limitações do estudo reside na diferença entre voluntários homens e mulheres. A maior parte dos participantes eram mulheres, o que impediu comparações mais robustas entre os gêneros. Para o futuro, os pesquisadores pretendem recrutar amostras equilibradas em termos de gênero e diversidade étnico-cultural.

"Nosso próximo passo é desenvolver ensaios clínicos randomizados, com grupos de controle e amostras clínicas, ou seja, pacientes com diagnóstico formal de depressão. Além disso, estamos interessados em explorar os correlatos neurobiológicos da saudade - por exemplo, utilizando a ressonância magnética funcional para entender como o cérebro responde a esse tipo de emoção durante a intervenção ou antes e após a mesma", conta Moll.

Além do neurocientista brasileiro, por meio do IDOR Ciência Pioneira, o estudo teve a participação dos autores Nahed Lajmi, Suqian Duan e Roland Zahn, que atuam no Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King's College London.

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A escritora mexicana Cristina Rivera Garza, vencedora do prêmio Pulitzer por O Invencível Verão de Liliana (Autêntica), falou sobre a crise na fronteira entre Estados Unidos e México durante a mesa que dividiu com a argentina María Negroni na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2025, neste sábado, 2.

A autora nasceu em 1964 no município de Heroica Matamoros, que fica na divisa com o estado do Texas, e atualmente mora em Houston. "Sempre que me perguntam isso eu começo dizendo: é tão horrível quanto parece", disse, em resposta ao mediador Guilherme Freitas.

A escritora considera que o conflito na fronteira e a política contra imigração americana são frutos de um "capitalismo de ódio". Ela contou que conseguiu perceber, ao longo de quase dez anos em Houston, que celebrações mexicanas na cidade foram diminuindo por medo da repressão.

"É preciso lutar cotidianamente, com o corpo, como as feministas dizem. Para mim, trabalhar na universidade é oferecer cursos de escrita criativa e literatura é uma forma de ativismo", completou. Atualmente, ela dirige o programa de doutorado em escrita criativa da Universidade de Houston.

Escrita e memória

A mesa entre Cristina e María Negroni, que contaram que se conhecem há muitos anos, demorou a engatar e teve alguns problemas de tradução. Ainda assim, ambas puderam apresentar seus trabalhos e refletir sobre a criação da literatura a partir de memória e pesquisa.

O Coração do Dano (Poente), da escritora argentina, é uma autoficção sobre a relação complicada com a mãe, um misto de rancor e fascínio. "A escrita de um livro é sempre um mistério para o autor ou autora. Acho que o livro foi se escrevendo, um pouco baseado na perda. Não é um livro de luto, mas de alguma forma, tinha que articular algo que sempre esteve dentro de mim. Essa figura materna, de alguma forma, me configura", disse ela.

O Invencível Verão de Liliana, de Cristina, reconstitui a vida da irmã da escritora, morta em 1990, aos 21 anos, vítima de feminicídio. A mexicana comentou que já havia tentado escrever o livro anteriormente, sem sucesso, e creditou às mobilizações feministas na América Latina que, segundo ela, produziram a linguagem que ela pode usar no livro. Quando Liliana foi morta, o termo 'feminicídio' não fazia parte da esfera pública. "Foram elas que possibilitaram eu pudesse dizer: foi isso que aconteceu", afirmou.

Ela também falou sobre Autobiografia do Algodão, publicado neste ano pela Autêntica, um romance que resgata a história de seus avós na fronteira, em uma plantação de algodão. "O que me moveu foi uma busca pela identidade. Foi uma pesquisa amorosa. Um trabalho de cuidado, um acolhimento que oferecemos aos nossos mortos", disse.

Em outro momento, o mediador pediu que María falasse sobre sua relação com Clarice Lispector. A epígrafe do livro da argentina é uma frase da escritora: "Vou criar o que me aconteceu". Ela disse que Clarice, nesta frase, "faz uma espécie de fenda na distância que existe entre a palavra e o mundo."

"Minha citação da Clarice é para dizer que o que narra esse livro não é algo que ocorreu. Eu não tenho certeza de fato. Dentro do livro, a mãe desmente memórias", disse, completando: "Escrever um livro é como entrar em um poço às escuras. Tenho que acreditar que ele vai me levar para onde eu quero ir."

"Vocês são as pessoas mais carinhosas do mundo", disse, em português, a escritora Rosa Montero, assim que subiu ao palco do Auditório da Matriz na noite deste sábado, 2, na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2025. Ela retribuía o amor do público, que lotou o espaço e a aplaudiu de pé.

O retorno de Rosa, hoje um dos grandes nomes da literatura espanhola, ocorre 21 anos depois de sua primeira passagem pelo evento. Em 2004, ela esteve aqui como uma escritora pouco conhecida, mas que ganhou o carinho do público com seu carisma e criatividade do livro que lançava na época: A Louca da Casa, recém reeditado pela Todavia.

Já neste ano, ela é considerada a grande estrela da festa, com outros quatro livros publicados no Brasil, todos pela mesma editora: A Boa Sorte, Nós, Mulheres, A Ridícula Ideia de Nunca Mais te Ver e O Perigo de Estar Lúcida. Este último, que discorre sobre a relação entre loucura e criatividade, deu tom ao início da conversa com o mediador Paulo Roberto Pires.

"Os romancistas são pessoas que não amadureceram totalmente", disse Rosa, completando que pessoas que precisam ler "para aguentar a vida, como acredito que são muitos de vocês" - sinalizou para a plateia - "são pessoas que não têm o cérebro desenvolvido de maneira adequada."

"O meu cérebro está o tempo todo imaginando coisas, que não servem para nada, que eu não controlo", continuou. Essas imagens, disse ela, nascem a partir do inconsciente, de onde vem os sonhos. De repente uma dessas imagens a emociona, a enche de curiosidade. É pela necessidade de saber mais sobre essas imagens que nascem os romances de Rosa.

Após ler um trecho de A Louca da Casa, Rosa discorreu sobre sua relação com a ficção, e como se dedicar mais a ela a ajudou a parar de ter crises de pânico, com os quais ela sofreu até os 30 anos. "A loucura é uma ruptura da narrativa comum. É uma sensação de solidão que não é compreensível, não se pode explicar", disse. "Tem psiquiátricos que dizem que um romance é um delírio controlado."

A escritora, que trabalhou por anos como jornalista e segue sendo colaboradora do El País, lembrou que estudou jornalismo porque pensava que precisava de uma ocupação que não a de romancista para se sustentar. Mas disse que isso acabou sendo importante: "Uma coisa essencial é não viver de literatura criativa porque ela precisa ser o mais livre possível. É preciso achar outra maneira de ganhar a vida."

Por mais que fale da loucura e dos transtornos mentais entre os escritores, Rosa diz que renega o estereótipo do escritor sempre em sofrimento. "Detesto essa ideia de que para ser escritor precisa sofrer muito. É mentira. Não é preciso sofrer muito para nada."

Rosa também discutiu a criação de seu livro A Ridícula Ideia de Nunca Mais Te Ver, em que aborda a morte de seu marido, Pablo Lizcano, em 2009, em diálogo com o diário de luto da cientista Marie Curie, que perdeu o marido, Pierre Curie, em um acidente de carruagem.

A escritora explicou que sua relação com a literatura não é a de escrever sobre a própria vida, mas, dois anos após a morte de Pablo, quando tomou contato com os escritos de Curie, sentiu que podia falar não só do próprio luto, mas do luto de todos.

A escritora também falou sobre a própria obsessão com a morte e o envelhecimento, como sentia medo de chegar à maturidade - algo que ela abordou em entrevista ao Estadão -, e como escrever foi o antídoto, aquilo que a ajudou a não ter medo da morte. Durante a mesa, Rosa ainda lembrou do início de sua formação acadêmica, nos anos 1970, que coincidiu com a transição democrática na Espanha.

A TV Globo confirmou neste sábado, 2, mais dois participantes da edição de 2025 do Dança dos Famosos: o ator David Junior e a atriz Duda Santos.

David Junior tem 39 anos e esteve na novela das nove Mania de Você, no ar entre 2024 e 2025. Ele também foi o vencedor do The Masked Singer Brasil, outro programa da emissora.

"Eu estou muito feliz de integrar este time. Feliz com o convite, ansioso, morrendo de medo, mas sei que vou me divertir bastante", disse em postagem no perfil da TV Globo.

Duda Santos, de 24 anos, foi a protagonista do folhetim Garota do Momento, que também foi finalizada este ano. "Tô muito animada, tô muito feliz, tô muito ansiosa. Eu espero que você me passe a coroa de campeã", disse a Tati Machado, apresentadora da emissora e última campeã do programa de dança.

Quem vai participar da Dança dos Famosos 2025?

Além de David e Duda, a Globo já anunciou outros dois nomes para a edição deste ano. A cantora Wanessa Camargo foi confirmada nesta sexta-feira, 1º, como a primeira participante. Depois, a emissora divulgou a participação do influenciador Álvaro.

A edição de 20 anos do Dança dos Famosos estreia neste domingo, 3.