Como falar de justiça, política e cidadania para crianças e adolescentes

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A formação para a cidadania é um processo educacional focado no desenvolvimento de competências, habilidades e valores que capacitam os indivíduos na participação de forma ativa e consciente em questões que envolvem a sociedade. Neste mês, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei 1.577/22, que propõe a criação da Política Nacional de Educação para a Política e Cidadania. O objetivo é aprimorar as habilidades políticas e de cidadania em estudantes da educação básica das redes públicas e privadas.

O projeto de lei está em fase de análise pelas comissões de Finanças e Tributação e pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). Para virar lei, a proposta precisa ser aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.

"O projeto de lei tem nosso apoio, inclusive há mais de 30 anos, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) tem investido na educação a fim de despertar os valores constitucionais na sociedade", afirma o desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJ-PR) Roberto Bacellar, coordenador nacional do Programa Cidadania e Justiça também se aprendem na Escola da AMB, iniciativa que nasceu a partir da criação de uma cartilha com conceitos de justiça em linguagem simples e lúdica para as crianças.

O desembargador conta que em 1993 ele apresentou o material a um publicitário paranaense que o incentivou a criar o programa, que hoje está dividido em cinco etapas, para atender estudantes da 5ª série do ensino fundamental da rede pública.

Na época, Bacellar atuava como juiz na Comarca de Umuarama, município paranaense. "Eu mesmo ia até as escolas de uma forma ainda bastante precária, mas desde o começo foi possível ver os frutos que o programa poderia trazer ao Brasil inteiro", afirmou Bacellar. Até o momento, a ação já atingiu aproximadamente 7 milhões de crianças no Brasil em todos os Estados da Federação.

"Não estamos lá para ensinar a cidadania, mas para despertá-la. O conhecimento e convencimento sobre deveres vêm das próprias crianças", afirma o desembargador e diretor geral da Escola Judicial do Paraná.

Dentro das escolas, é possível distribuir as etapas durante todo o ano letivo com a atuação de vários professores ou concentrá-las em um período de 90 dias. Uma das fases envolve a ida das crianças aos tribunais. As associações de magistrados de todos os Estados, além dos Tribunais de Justiça, colaboram com essas ações. Os patrocinadores, que ajudam com as impressões das cartilhas, também são parte importante para a continuidade do projeto dentro das escolas.

Formação para a cidadania dentro das escolas

Localizada no Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo, a Escola Nossa Senhora das Graças, conhecida como Gracinha, possui um projeto político-pedagógico que desenvolve a formação cidadã desde a educação infantil até a conclusão do novo ensino médio, por meio de um currículo que valoriza e pratica a reflexão crítica e fundamentada, o olhar investigativo, o diálogo e a ética.

"Para isso, vamos além do conteúdo considerado tradicional, incentivando o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e o engajamento em projetos e causas sociais e de interesse da comunidade escolar", afirma Andréa Montelato, assessora da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do colégio.

Desta forma, a relação entre professores e alunos é pautada em acolhimento, confiança e corresponsabilidade. "Isso fortalece o sentimento de pertencer à comunidade escolar e o compromisso com a sociedade", avalia Andréa.

Conteúdos de política e cidadania são integrados transversalmente em várias áreas do conhecimento na escola, por meio de projetos interdisciplinares, estudos de campo em locais como aldeias indígenas, comunidades quilombolas, caiçaras, ribeirinhas e a Assembleia Legislativa. Essa integração se estende a assembleias estudantis, itinerários formativos, simulações, debates e atividades extracurriculares.

A formação cidadã também faz parte do projeto político pedagógico do Miguel de Cervantes, localizado no Morumbi, zona sul da capital paulista. "Temos no nosso marco declaratório da escola, na missão, na visão e nos valores do colégio o princípio de formar cidadãos felizes que transformem o mundo", afirma Renato Fontes, chefe do departamento de Ciências Humanas do colégio que foi fundado em 1978 por espanhóis residentes em São Paulo.

Conforme Fontes, o colégio, que possui cerca de 1,3 mil alunos, tem ao menos seis frentes envolvendo a formação cidadã. Entre elas está o currículo prescrito alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). "No documento, entre as dez competências gerais, praticamente quatro abordam esse tema diretamente. Além disso, na área de Ciências Humanas, por exemplo, há muitas competências que falam sobre o assunto", explica ele.

No Miguel de Cervantes, também são praticadas aulas de tutoria em todas as séries do ensino infantil ao ensino médio com acompanhamento de professores que são tutores. A discussão é a formação de valores, principalmente, voltados à ética e cidadania.

Em outra abordagem, o colégio também foca em saídas pedagógicas e viagens de estudo, inclusive, para a Espanha, país de origem, tratando de temas como meio ambiente, cidadania e cultura.

Criado em 2007, o programa Cervantes Solidário, que beneficia cerca de 1.500 crianças e jovens de escolas públicas da região por meio de atividades multidisciplinares e de voluntariado, também fortalece o engajamento de alunos por ações sociais.

Com alunos do ensino infantil ao médio, a Camino School também tem como um dos eixos centrais dos estudos de Ciências Humanas a formação para a cidadania e o desenvolvimento de um estudante ativo politicamente. "Dentro do currículo da escola, construímos em diversas etapas do ensino projetos - que chamamos de Expedições - no qual os estudantes ativamente discutem e propõem soluções para problemas reais da convivência estudantil e do Brasil", afirma Valentino Massariol Ruy, coordenador de ensino médio do colégio localizado na região da Pompeia, zona oeste da capital paulista.

Ruy cita a construção de uma assembleia constituinte da classe, entre os estudantes de 9 anos de idade, na qual eles debatem e definem coletivamente seus direitos e deveres fundamentais. No ano seguinte, eles estudam os impactos de diferentes tecnologias no meio ambiente e simulam a COP, para propor de maneira consciente e cidadã, soluções para reverter o aquecimento global.

"Em 2023, por exemplo, alguns de nossos estudantes se juntaram para auxiliar um projeto de capoeira que busca ajudar crianças em situação de vulnerabilidade em Itacaré, na Bahia", acrescenta Ruy sobre uma campanha organizada pela Camino School para motivar a participação social e cidadã.

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A escritora mexicana Cristina Rivera Garza, vencedora do prêmio Pulitzer por O Invencível Verão de Liliana (Autêntica), falou sobre a crise na fronteira entre Estados Unidos e México durante a mesa que dividiu com a argentina María Negroni na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2025, neste sábado, 2.

A autora nasceu em 1964 no município de Heroica Matamoros, que fica na divisa com o estado do Texas, e atualmente mora em Houston. "Sempre que me perguntam isso eu começo dizendo: é tão horrível quanto parece", disse, em resposta ao mediador Guilherme Freitas.

A escritora considera que o conflito na fronteira e a política contra imigração americana são frutos de um "capitalismo de ódio". Ela contou que conseguiu perceber, ao longo de quase dez anos em Houston, que celebrações mexicanas na cidade foram diminuindo por medo da repressão.

"É preciso lutar cotidianamente, com o corpo, como as feministas dizem. Para mim, trabalhar na universidade é oferecer cursos de escrita criativa e literatura é uma forma de ativismo", completou. Atualmente, ela dirige o programa de doutorado em escrita criativa da Universidade de Houston.

Escrita e memória

A mesa entre Cristina e María Negroni, que contaram que se conhecem há muitos anos, demorou a engatar e teve alguns problemas de tradução. Ainda assim, ambas puderam apresentar seus trabalhos e refletir sobre a criação da literatura a partir de memória e pesquisa.

O Coração do Dano (Poente), da escritora argentina, é uma autoficção sobre a relação complicada com a mãe, um misto de rancor e fascínio. "A escrita de um livro é sempre um mistério para o autor ou autora. Acho que o livro foi se escrevendo, um pouco baseado na perda. Não é um livro de luto, mas de alguma forma, tinha que articular algo que sempre esteve dentro de mim. Essa figura materna, de alguma forma, me configura", disse ela.

O Invencível Verão de Liliana, de Cristina, reconstitui a vida da irmã da escritora, morta em 1990, aos 21 anos, vítima de feminicídio. A mexicana comentou que já havia tentado escrever o livro anteriormente, sem sucesso, e creditou às mobilizações feministas na América Latina que, segundo ela, produziram a linguagem que ela pode usar no livro. Quando Liliana foi morta, o termo 'feminicídio' não fazia parte da esfera pública. "Foram elas que possibilitaram eu pudesse dizer: foi isso que aconteceu", afirmou.

Ela também falou sobre Autobiografia do Algodão, publicado neste ano pela Autêntica, um romance que resgata a história de seus avós na fronteira, em uma plantação de algodão. "O que me moveu foi uma busca pela identidade. Foi uma pesquisa amorosa. Um trabalho de cuidado, um acolhimento que oferecemos aos nossos mortos", disse.

Em outro momento, o mediador pediu que María falasse sobre sua relação com Clarice Lispector. A epígrafe do livro da argentina é uma frase da escritora: "Vou criar o que me aconteceu". Ela disse que Clarice, nesta frase, "faz uma espécie de fenda na distância que existe entre a palavra e o mundo."

"Minha citação da Clarice é para dizer que o que narra esse livro não é algo que ocorreu. Eu não tenho certeza de fato. Dentro do livro, a mãe desmente memórias", disse, completando: "Escrever um livro é como entrar em um poço às escuras. Tenho que acreditar que ele vai me levar para onde eu quero ir."

"Vocês são as pessoas mais carinhosas do mundo", disse, em português, a escritora Rosa Montero, assim que subiu ao palco do Auditório da Matriz na noite deste sábado, 2, na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2025. Ela retribuía o amor do público, que lotou o espaço e a aplaudiu de pé.

O retorno de Rosa, hoje um dos grandes nomes da literatura espanhola, ocorre 21 anos depois de sua primeira passagem pelo evento. Em 2004, ela esteve aqui como uma escritora pouco conhecida, mas que ganhou o carinho do público com seu carisma e criatividade do livro que lançava na época: A Louca da Casa, recém reeditado pela Todavia.

Já neste ano, ela é considerada a grande estrela da festa, com outros quatro livros publicados no Brasil, todos pela mesma editora: A Boa Sorte, Nós, Mulheres, A Ridícula Ideia de Nunca Mais te Ver e O Perigo de Estar Lúcida. Este último, que discorre sobre a relação entre loucura e criatividade, deu tom ao início da conversa com o mediador Paulo Roberto Pires.

"Os romancistas são pessoas que não amadureceram totalmente", disse Rosa, completando que pessoas que precisam ler "para aguentar a vida, como acredito que são muitos de vocês" - sinalizou para a plateia - "são pessoas que não têm o cérebro desenvolvido de maneira adequada."

"O meu cérebro está o tempo todo imaginando coisas, que não servem para nada, que eu não controlo", continuou. Essas imagens, disse ela, nascem a partir do inconsciente, de onde vem os sonhos. De repente uma dessas imagens a emociona, a enche de curiosidade. É pela necessidade de saber mais sobre essas imagens que nascem os romances de Rosa.

Após ler um trecho de A Louca da Casa, Rosa discorreu sobre sua relação com a ficção, e como se dedicar mais a ela a ajudou a parar de ter crises de pânico, com os quais ela sofreu até os 30 anos. "A loucura é uma ruptura da narrativa comum. É uma sensação de solidão que não é compreensível, não se pode explicar", disse. "Tem psiquiátricos que dizem que um romance é um delírio controlado."

A escritora, que trabalhou por anos como jornalista e segue sendo colaboradora do El País, lembrou que estudou jornalismo porque pensava que precisava de uma ocupação que não a de romancista para se sustentar. Mas disse que isso acabou sendo importante: "Uma coisa essencial é não viver de literatura criativa porque ela precisa ser o mais livre possível. É preciso achar outra maneira de ganhar a vida."

Por mais que fale da loucura e dos transtornos mentais entre os escritores, Rosa diz que renega o estereótipo do escritor sempre em sofrimento. "Detesto essa ideia de que para ser escritor precisa sofrer muito. É mentira. Não é preciso sofrer muito para nada."

Rosa também discutiu a criação de seu livro A Ridícula Ideia de Nunca Mais Te Ver, em que aborda a morte de seu marido, Pablo Lizcano, em 2009, em diálogo com o diário de luto da cientista Marie Curie, que perdeu o marido, Pierre Curie, em um acidente de carruagem.

A escritora explicou que sua relação com a literatura não é a de escrever sobre a própria vida, mas, dois anos após a morte de Pablo, quando tomou contato com os escritos de Curie, sentiu que podia falar não só do próprio luto, mas do luto de todos.

A escritora também falou sobre a própria obsessão com a morte e o envelhecimento, como sentia medo de chegar à maturidade - algo que ela abordou em entrevista ao Estadão -, e como escrever foi o antídoto, aquilo que a ajudou a não ter medo da morte. Durante a mesa, Rosa ainda lembrou do início de sua formação acadêmica, nos anos 1970, que coincidiu com a transição democrática na Espanha.

A TV Globo confirmou neste sábado, 2, mais dois participantes da edição de 2025 do Dança dos Famosos: o ator David Junior e a atriz Duda Santos.

David Junior tem 39 anos e esteve na novela das nove Mania de Você, no ar entre 2024 e 2025. Ele também foi o vencedor do The Masked Singer Brasil, outro programa da emissora.

"Eu estou muito feliz de integrar este time. Feliz com o convite, ansioso, morrendo de medo, mas sei que vou me divertir bastante", disse em postagem no perfil da TV Globo.

Duda Santos, de 24 anos, foi a protagonista do folhetim Garota do Momento, que também foi finalizada este ano. "Tô muito animada, tô muito feliz, tô muito ansiosa. Eu espero que você me passe a coroa de campeã", disse a Tati Machado, apresentadora da emissora e última campeã do programa de dança.

Quem vai participar da Dança dos Famosos 2025?

Além de David e Duda, a Globo já anunciou outros dois nomes para a edição deste ano. A cantora Wanessa Camargo foi confirmada nesta sexta-feira, 1º, como a primeira participante. Depois, a emissora divulgou a participação do influenciador Álvaro.

A edição de 20 anos do Dança dos Famosos estreia neste domingo, 3.