Paul McCartney acena às novas gerações com 'McCartney III Imagined'

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Um pouco mais de três meses depois de lançar seu mais recente álbum, McCartney III, Paul McCartney volta à cena com uma bem pensada ação fonográfica geracional. McCartney III Imagined parte de um princípio simples, mas pouco utilizado em grandes lançamentos feitos por artistas de sua geração. O mesmo álbum que ele produziu solitariamente durante a pandemia, em 2020, tocando todos os instrumentos e fazendo todas as vozes, ressurge com tratamentos diferentes para cada uma das faixas.

McCartney, diz um texto enviado pela gravadora, escolheu ele mesmo os artistas aos quais entregaria cada uma das canções para que eles as arranjassem como bem quisessem. O resultado tem uma temperatura oscilante, mas a proposta, como escreveu a revista Rolling Stone dos Estados Unidos, pode ser, em muitos momentos, "um exemplo para todos nós".

Como o reverso de sua versão original lançada em dezembro de 2020, feita com Paul em isolamento assim como foram feitos os antecessores da trilogia McCartney, de 1970, em um doloroso período de isolamento emocional pós-Beatles, e McCartney II, de 1980, depois do fim dos Wings, McCartney Imagined é o imaginário de um coletivo feito sem nenhum contato entre as partes.

A curadoria feita pelo próprio Paul traz Beck na abertura do disco, retrabalhando Find My Way. A original tem uma proposta eletrônica em sua base que Beck radicaliza, abaixando um tom e a tornando um pouco mais arrastada. Mas a mudança em The Kiss of Venus é mais profunda. O nome escolhido para seu remix é Dominic Fike - e agora começamos a entender parte da proposta do beatle, analisando quem é quem nesse jogo em que as duas partes podem sair ganhando.

Dominic Fike é um rapper norte-americano de 24 anos, descendente de filipinos e que iniciou sua ficha policial aos 21 ao agredir a um guarda nos Estados Unidos. Mas nada disso importou à gravadora Columbia Records, que percebeu o poder de mobilização do garoto e o contratou por uma soma de US$ 4 milhões. Paul McCartney não é bobo. Estar ao lado de Dominic Fike, por mais que as sutilezas de sua bela The Kiss of Venus apareçam reconfiguradas e sem as mesmas delicadezas, nesse momento, vale mais do que ter ao lado a colaboração de um contemporâneo. É preciso se conectar com as gerações que podem não saber quem foram os Beatles. E por mais que a ideia ainda pareça um absurdo, sim, esse dia pode chegar em um futuro não distante.

Existe ainda mais coragem na faixa seguinte, Pretty Boys, ressurgida experimental, fantasiosa e livre mesmo das métricas rítmicas de Paul. É como se a canção fosse estilhaçada e refeita com alguns de seus cacos. Mas um artista só pode ter a intenção de ouvir algo distante de si mesmo quando pede um remix ao trio de rock norte-americano Khruangbin. O nome em tailandês significa avião, algo que passa a ideia de um som flutuante entre o psicodelismo, as culturas do Oriente Médio e o rock proposto por Laura Lee (baixo), Mark Speer (guitarra) e Donald DJ Johnson (bateria).

Paul inspirou-se em Johnny Cash para fazer Women and Wives, linda e dramática. A versão de agora aparece assinada pela cantora St. Vincent. Ela faz alguns contracantos, mas não altera a estrutura da canção. A voz de Paul conduz a música como se nada acontecesse a seu redor, transpassando sopros, guitarras e teclados que não mudam seu curso. É uma versão que não faz sentido, aprisionada ao excesso de respeito. Melhor seria revirar tudo, como fez Dominic, e trazer alguma informação sensorial nova além da original.

O cantor e compositor Devonté Hynes é um exemplo mais extremo de ousadia. Mais conhecido como Blood Orange, mas que também já foi Lightspeed Champion, é um produtor inglês que nasceu e foi criado em Ilford, a oeste de Londres, filho de mãe guianense e pai de Serra Leoa. Se foi Paul mesmo quem o escolheu, os sinais de suas antenas estão poderosos. Blood Orange desmonta a canção Deep Down e cria outra, sem muitas referências da original.

Seize the Day, uma das mais conhecidas do álbum de Paul, vem bem preservada na voz de Phoebe Bridgers, uma cantora e guitarrista de 26 anos de Pasadena, Califórnia. Phoebe é a ponte com as frentes teen, e seu último álbum, lançado em 2020, tem faixas interessantes como Kyoto e I Know the End. Ela é melancólica e sua voz tem tristeza e sofrimento. Ao cantar, então, faz quase que um cover de uma canção que já tinha suas belezas. Mas a Seize The Day de Phoebe se distancia da de Paul pela voz feminina. Na outra ponta geracional, Ed O'Brien, de 52 anos, guitarrista do Radiohead, e o produtor Paul Richard Epworth, de 46, colocam fúria na canção Slidin'.

O londrino Damon Albarn, de Blur e Gorillaz, não fez nada marcante com Long Tailed Winter Bird. O tema original, que já não era dos mais inspirados, desaparece nas interferências. Ao final das duas audições, nem Paul nem Damon dizem muito a que esse tema instrumental veio. Com Lavatory Lil, Josh Homme, guitarrista e vocalista do Queens of the Stone Age, segue as pistas de Paul sem se descolar da gravação original. A aventura de colabs termina com Anderson .Paak fazendo When Winter Comes e o projeto 3D, de Robert Del Naja, interferindo em Deep Deep Feeling. As conexões com o novo tempo não são tão simples assim.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O aguardado show de Lady Gaga na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, teve início na noite deste sábado, 3. É possível assistir ao vivo pela Globo, na TV aberta, pelo canal pago Multishow e pelo streaming Globoplay. Previsto para começar às 21h45, o show contou com um atraso e a cantora apareceu em um vídeo no palco somente por volta de 22h10.

Todo mundo no Rio. Mesmo. Quando ainda faltavam 12 horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, as filas para ter acesso à Avenida Atlântica já davam voltas nos quarteirões internos do bairro. Por razões de segurança, era preciso passar por um dos 18 pontos de bloqueio para alcançar a orla, instalados desde cedo em ruas transversais aparelhados com detectores de metais e câmeras de reconhecimento facial.

Em experiências anteriores, como o show de Madonna, no ano passado, e o réveillon, as aglomerações só se formaram faltando poucas horas para o início do espetáculo. Mas com Gaga foi bem diferente. Já na manhã de sábado havia fila ocupando dois quarteirões. A temperatura em torno dos 25ºC ajudou. O céu estava claro, o sol brilhando, mas não havia muito calor.

Uma faixa da avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais vias do bairro, estava ocupada por fãs na altura do palco. O professor de educação física Humberto Machado, de 38 anos, que veio para o show com um grupo de amigos da Paraíba e do Rio Grande do Norte, contou que ficou na fila para acesso à orla por cerca de meia hora.

"A gente achou que seria rápido para entrar porque ainda era muito cedo", contou o professor. "Mas a fila era impressionante."

O professor e seus amigos levavam água e sanduíches em recipientes de plástico para aguentar por toda a tarde e noite. Recipientes de vidro, líquidos inflamáveis e objetos perfurocortantes estavam proibidos e estavam sendo confiscados nas barreiras.

O bairro, rapidamente apelidado de "Gagacabana", era uma grande festa desde cedo, sem registro de incidentes. Fãs totalmente montados, os "little monsters" (monstrinhos), não paravam de chegar a pé, de ônibus e, principalmente, de metrô, exibindo leques, chapéus e todo tipo de indumentária remetendo à artista, a "mother monster" (mãe monstra).

Em frente ao Copacabana Palace, onde a diva está hospedada, o movimento foi ininterrupto a madrugada inteira, sobretudo depois do ensaio aberto na noite de sábado, em que Gaga cantou mais de dez músicas para deleite de todos que estavam na orla, entre elas grandes sucessos como Abracadabra, Bad romance e Shallow, a mais baixada por fãs no Brasil nas plataformas de streaming.

Antes mesmo do fim da manhã longos trechos da praia já estavam ocupados por fãs marcando lugar na areia para assistir ao show da diva e vendedores ambulantes. E não só. As árvores do canteiro central da Atlântica e mesmo da calçada próxima aos prédios estavam sendo disputadas desde cedo pelos que queriam garantir um lugar 'vip' para assistir ao show.

A tatuadora Aisha Dutra, de 22 anos, e a estudante Lilian Magalhães, de 26 anos, estavam aboletadas em uma árvore desde cedo. Elas são do bairro de Santa Cruz, na zona oeste, mas alugaram um apartamento por temporada em Copacabana, especialmente para estarem perto do show. O plano da dupla era chegar à praia às 5h da manhã deste sábado. Mas como elas só foram dormir de madrugada, depois do fim do ensaio, acabaram chegando à orla às 8h.

"Ontem, durante o ensaio, a gente subiu numa árvore e viu que era a melhor opção, porque tinha gente dormindo na grade desde ontem e não tinha mais lugar perto do palco", explicou a tatuadora, devidamente instalada na árvore.

Na tarde de sexta-feira, 2, a Prefeitura informou que dados consolidados pela Rodoviária Novo Rio e pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) indicavam a chegada de mais 500 mil visitantes na cidade entre os dias 1º e 3 de maio, superando as expectativas iniciais de 240 mil pessoas. Desse total, 25% seriam turistas estrangeiros.

Há ainda turistas chegando com carros particulares, ônibus fretados e voos pousando no Aeroporto Santos Dumont. A média de ocupação da rede hoteleira é de 86% em toda a cidade, mas em Copacabana chega a 95%.

A Polícia Militar (PM) reforçou o esquema de segurança.

"A novidade para este show são os capacetes brancos, grupos de policiais especializados em patrulhamento de multidão", explicou a tenente-coronel Cláudia Moraes, porta-voz da PM. "Eles vão circular entre as pessoas, sobretudo nos pontos de maior concentração, para evitar furtos de oportunidade de passar uma sensação maior de segurança."

A prefeitura espera a presença de mais de 1,6 milhão de pessoas na praia de Copacabana, onde está montado o palco e as 16 torres com telões de nove metros de altura por cinco metros de largura, permitindo que todos acompanhem o show mesmo à distância. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e a Riotur, o evento deve injetar mais de R$ 600 milhões na economia da cidade.

"A cidade está muito cheia mesmo, tem muito turista", assegurou o motorista de uber Gustavo Monteiro, de 33 anos. "É bom para todo mundo. Por mim, tinha um show desse por mês."

Faltando cerca de duas horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, os pontos de revista montados nas vias transversais de acesso à Avenida Atlântica apresentavam filas de até uma hora de duração.

As maiores eram vistas no acesso da rua Duvivier, o mais próximo ao palco. A fila tinha uma extensão de mais de dois quarteirões. Nos pontos de entrada um pouco mais distantes, como o da Hilário de Gouveia, ainda era possível entrar na orla com apenas 20 minutos de espera.

O enfermeiro Vítor Souza, de 32 anos, que veio de Campos, no interior do Estado, especialmente para o show, contou que ficou por mais de 40 minutos numa fila e acabou desistindo.

Ele conseguiu chegar na praia por meio de uma outra entrada, bem mais distante do palco. "Foi bem mais complicado do que achei que ia ser", contou. "Mas finalmente eu consegui passar."

As filas nos 18 pontos de acesso montados nas ruas transversais à avenida Atlântica começaram a ser formar por volta das 9h da manhã deste sábado, 3. Policiais militares munidos de detectores de metal revistavam as pessoas uma a uma antes de darem acesso à orla. Vidros, explosivos e armas encontrados eram confiscados. Os pontos de acesso também contavam com câmeras de reconhecimento facial.

O perfil oficial do Metrô do Rio de Janeiro fez uma postagem anunciando que o "tempo de viagem está maior" "devido ao grande fluxo do desembarque de clientes na estação Cardeal Arcoverde/Copacabana para o show da Lady Gaga". A empresa recomenda o desembarque pela Siqueira Campos/Copacabana.

O maior show da vida de Lady Gaga

O show desta noite na praia de Copacabana promete ser o maior da carreira de Lady Gaga. A expectativa da Prefeitura é de que pelo menos 1,6 milhão de pessoas estarão reunidas na orla. Até hoje, a apresentação de Gaga com o maior público tinha sido em abril passado, no Festival Coachella, nos EUA, onde reuniu por volta de 100 mil pessoas.

O palco da apresentação desta noite tem nada menos que 1.260 m2, bem maior do que o montado para Madonna no ano passado, que tinha 821 m2. A megaestrutura tem 2,20 m de altura desde a base na areia. Um telão de LED de última geração ficará no fundo do palco.

Gaga vai apresentar um show em cinco atos, com direito a diversas trocas de roupa e um cenário que lembra o de uma peça de teatro - a cantora chama de "ópera gótica". A previsão é de que o espetáculo tenha 2h30 de duração, ao longo das quais Gaga vai contar a história de seu próprio "caos pessoal" ao lutar com sua própria persona, derrotar fantasmas e conseguir renascer.

Pabllo Vittar faz abertura

Uma surpresa para os fãs de Lady Gaga que aguardam o início do show da diva pop. A artista Pablo Vittar, que se apresentou com Madonna no ano passado, está abrindo o show desta noite como DJ.

"É muito louco, parece que estou tendo um deja-vu", afirmou Pablo em uma entrevista concedida à rede de TV CNN antes de subir ao palco, adiantando que pretendia tocar "muito tribal house, muito tech, muito remix e algumas músicas minhas". "Ano passado, com Madonna comemorando 40 anos de carreira, e agora nesse show histórico com a Gaga. Estou muito feliz."