O problema das drogas na série nacional 'Onde Está Meu Coração'

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No início, era um projeto da dupla George Moura/José Goldenberg para José Luiz Villamarim dirigir. Após o sucesso da parceria em O Rebu, de 2014, os dois roteiristas buscavam uma nova história. A maneira como as coisas ocorrem - Goldenberg, o Gold, levava a filha para a escola, antes das 7 da manhã. Numa rua de Botafogo, no Rio, viu aquele jovem bem vestido, mas desleixado, os olhos transtornados, os pés descalços. A imagem - forte - ficou com ele. Discutiu com o amigo Moura. Começaram a tecer uma história.

"Nosso tema de fundo é a droga, mas a série - Onde Está Meu Coração - é sobre relações familiares", diz Goldenberg, o Gold. Levaram o projeto a Villamarim, mas ele estava sem agenda, comprometido com a novela Amor de Mãe. Foi a grande chance de Luísa Lima, que integrava o entorno de Villa e, como diretora colaboradora, realizava séries e novelas sob a direção geral dele. "Eu estava querendo dar o grande passo de uma direção solo, a emissora (a Globo) também achava que eu estava pronta e valia a pena investir. Dirigi Onde Está Meu Coração e foi tudo muito intenso." Há mais de um ano, a série foi apresentada no mercado do Festival de Berlim. Estava apontada para estrear em 2020, mas aí veio a pandemia e o mundo parou.

O primeiro capítulo de Onde Está Meu Coração estreia na Tela Quente de 3 de maio. Já na madrugada de 4, a série inteira - dez capítulos - estará disponível no Globoplay. Um ano inteiro de espera - Luisa não teve momentos de ansiedade, revendo o trabalho, querendo mudar alguma coisa? "É normal, acontece com todo mundo, faz parte do jogo." Embora o clique original tenha sido aquele garoto desgarrado, no Rio, o roteiro tomou outro rumo. Uma médica, Amanda. Exige muito de si mesma, gosta de experimentar coisas novas com o marido. Ele mantém o controle sobre si mesmo, ela se torna dependente. E tudo se passa em São Paulo. "Estudei aí, e achava que seria a locação perfeita para a nossa história", diz Moura, falando do Rio. A selva de concreto.

Luísa entrou na dos roteiristas e filmou, em HD, a série toda em locações. Nada de estúdio - "Isso ressalta o realismo, a impressão de urgência." De cara, Moura e Gold decidiram que não queriam seguir a abordagem tradicional do tema 'drogas' no cinema brasileiro. Em geral são narrativas policiais. Pobreza, violência. Luísa fala nos atributos 'confortáveis' de Amanda. Branca, classe média alta. E Gold - "Queríamos desconstruir estereótipos, ir fundo na abordagem das contradições humanas." Moura admite que fez direitinho sua lição de casa - reviu clássicos de Hollywood como O Homem do Braço de Ouro, de Otto Preminger, com Frank Sinatra, de 1955. "Revi também Farrapo Humano, de Billy Wilder." Foi o grande vencedor do Oscar de 1945. O alcoolismo foi dando lugar às drogas mais pesadas, mas nunca deixou de ser uma ameaça - Vício Maldito/Days of Wine and Roses, de Blake Edwards, de 1962, em que Jack Lemmon e Lee Remick estão geniais.

O foco em Onde Está Meu Coração é a família. Pai e mãe divergem quanto ao tratamento que deve ser dado a Amanda. Letícia Colin é quem faz o papel. Está espetacular. O pai é interpretado por Fábio Assunção, que, todo mundo sabe, teve problemas com drogas na vida. Moura conta que o roteiro - completo - foi enviado a Assunção com um recado. "Gostaríamos muito que você fizesse, mas sinta-se à vontade para dizer não." Ele disse sim. Luísa destaca um aspecto importante - "Esse cruzamento da vida pessoal do Fábio com a nossa trama me trouxe um senso muito grande de responsabilidade." Esclarece - "Fábio me deu acesso a um grupo de pesquisadores, profissionais da área da saúde mental e de políticas de drogas no Brasil, no qual está completamente inserido como interlocutor respeitado."

E mais - "Fábio é um ator visceral, gigante, que se entregou sem qualquer entrave nessa representação. Quando ele entrava no set a gente se olhava e falava o mínimo, muitas vezes nos emocionávamos nos primeiros instantes do ensaio, sentindo muita sintonia e compartilhando as sutilezas do que estava em jogo em cada cena." Referendando tudo o que foi dito pelos roteiristas, Luísa enfatiza o propósito do trabalho.

"Nosso foco não é a droga, mas as fragilidades humanas e sociais, nossos traumas. O roteiro propõe um foco no tratamento dessas questões. É preciso empatia. Ninguém escolhe ser viciado. É preciso encarar o problema, e com o comprometimento de todas as esferas da sociedade."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O presidente Donald Trump anunciou neste domingo, 4, que autorizou a implementação de uma tarifa de 100% para filmes produzidos fora dos Estados Unidos; a medida tem efeito imediato. Ele classificou os incentivos para atração de cineastas americanos a outros países como uma "ameaça à segurança nacional".

A novidade foi divulgada através do perfil do republicano em sua rede social, a Truth Social. A decisão é válida tanto para filmes "completamente" estrangeiros quanto para filmes de produtoras americanas filmados em outros países.

"A indústria cinematográfica nos Estados Unidos está morrendo muito rapidamente. Outros países estão oferecendo todos os tipos de incentivos para atrair nossos cineastas e estúdios para fora dos Estados Unidos", declarou.

Para ele, Hollywood, cidade símbolo desse tipo de produção e que abriga diversos estúdios de filmagem, "está sendo devastada".

Trump chamou a atração de cineastas americanos a outros estúdios de gravação ao redor do mundo de "esforço coordenado", afirmando que "além de tudo, (é) uma questão de mensagem e propaganda!"

Segundo o republicano, o Departamento de Comércio e o Representante de Comércio dos Estados Unidos deram início imediato ao processo de implementação da tarifa. "Nós queremos filmes feitos na América novamente!", finalizou.

O Troféu Imprensa 2025 divulga sua lista de vencedores no SBT na noite deste domingo, 4. Durante a cerimônia, os apresentadores Patricia Abravanel e Celso Portiolli conversaram com Carlos Alberto de Nóbrega, que comanda o humorístico A Praça É Nossa, que recebeu o Troféu Imprensa Pela História por conta de sua trajetória na TV.

Ele se emocionou ao relembrar os passos do pai, Manoel de Nóbrega: "A Praça é a minha vida, porque eu pude continuar um trabalho que o meu pai teve só 14 anos [para fazer], coitado. Eu tô há 38 fazendo. E sempre que eu entro eu me lembro dele".

Na sequência, recordou a importância de Silvio Santos para trazê-lo ao SBT em 1987. "[Foi] a maneira que achei para dizer 'muito obrigado' para o Silvio pelo que ele fez pelo meu pai - Porque todo mundo fala o que meu pai fez pelo Silvio, ninguém fala sobre o que o Silvio fez pelo meu pai. Eu sei."

"Vou dar o meu melhor. No dia que a Praça acabar, não sei, eu vou junto", continuou. Em outro momento, brincou, fazendo referência a Daniela Beyruti, filha de Silvio e presidente do SBT: "Estou aqui há 38 anos e espero ficar mais, viu dona patroa? [Olhou na direção de Daniela] Eu quero fazer 90 anos aqui! [Risos]".

Patricia Abravanel valorizou o prêmio dado a Carlos Alberto de Nóbrega: "É um troféu pela sua história. Você está sendo o primeiro a ganhar um troféu pela sua história, dedicação ao entretenimento, ao humor, à televisão brasileira."

O ator David Harbour passou pelo Brasil em novembro do ano passado, quando participou da conferência D23, da Disney, e falou ao Estadão sobre o que os fãs podiam esperar de Thunderbolts*, novo filme da Marvel que acaba de estrear nos cinemas brasileiros.

Contido e com medo de spoilers, o ator bateu na tecla de que o longa mudaria o rumo da Casa das Ideias - uma conversa que, no final das contas, acaba surgindo sempre em entrevistas com atores da Marvel. Mas, algo chamou a atenção: a devoção de Harbour a Florence Pugh.

Espontaneamente, o Jim Hopper de Stranger Things falou sobre a colega de elenco. Vale ressaltar que, até aquele momento, não estava claro quem seria o protagonista do filme.

"Acho que uma das coisas de que mais gosto em Thunderbolts* é que a Florence Pugh é a líder do filme. Acho que ela tem uma força e uma presença. É provavelmente a melhor atriz entre nós", afirmou Harbour, de maneira muito franca. "Fico feliz em ser ator coadjuvante para uma mulher como ela. É menos sobre diversidade e mais sobre capacidade".

Agora, com Thunderbolts* finalmente nas telonas, dá para notar duas coisas: Florence Pugh é realmente uma atriz extraordinária, elevando a qualidade do filme para outro patamar, e Harbour parece realmente uma pessoa feliz em ser a "escada" do elenco.

O papel de Guardião Vermelho

No novo longa-metragem da Marvel, ele interpreta novamente o Guardião Vermelho, herói da época da União Soviética e que também é o emocionado pai da personagem de Pugh. Aqui, ele passa a fazer parte desse time de anti-heróis ao lado de Yelena (Pugh), Soldado Invernal (Sebastian Stan), John Walker (Wyatt Russell) e Fantasma (Hannah John-Kamen).

Nessa equação toda, Harbour é o mais coadjuvante de todos. Pugh é a protagonista absoluta, Stan tem o peso de já fazer parte do universo há bons anos, Wyatt ganha pontos pelo arco dramático em Falcão e o Soldado Invernal e John-Kamen também sai um pouco à frente por já ter aparecido como vilã de Homem-Formiga e a Vespa. Já Harbour apareceu em Viúva Negra, mas nunca assumindo um posto de peso.

Ainda assim, Harbour é uma das almas de Thunderbolts* - e ajuda o filme a ser realmente bom, livrando um peso das costas da Disney. No novo filme, o norte-americano é o alívio cômico da coisa toda, interpretando esse russo exagerado e histriônico que tenta ter mais proximidade com a filha. Não há grande dramaticidade ou momentos importantes do astro.

"Não quero dar nenhum detalhe a mais. Acho que vocês deveriam ver o filme com uma mente aberta, sem expectativas, e então vão perceber que ele realmente se encaixa no universo, mas o leva para uma direção diferente, o que é divertido", explicou o ator ao Estadão, também em novembro, sem dar pistas exatas sobre seu papel de fato no filme.

Especialista em papéis secundários memoráveis

Harbour construiu uma carreira sólida aparecendo em papéis secundários que, invariavelmente, roubam a cena. Antes de seu grande momento como Jim Hopper, ele já havia demonstrado esse talento em obras como O Segredo de Brokeback Mountain (2005), onde interpretou um personagem pequeno mas marcante.

Na TV, Harbour apareceu em séries aclamadas como The Newsroom, onde interpretou Elliot Hirsch, e Manhattan, como Dr. Reed Akley. Em ambos os casos, mesmo sem ser o protagonista, conseguiu entregar performances que ficaram na memória dos espectadores.

Em Hellboy, de 2019, finalmente ganhou um papel protagonista, mas ironicamente não conseguiu o mesmo brilho que tem em papéis menores. Foi em Viúva Negra que ele realmente mostrou sua vocação para ser o complemento perfeito em grandes produções, roubando as cenas como o Guardião - mesmo dividindo tela com Scarlett Johansson.

"Eu acho que há algo no DNA de alguns atores que os torna especialmente bons em papéis de apoio. É preciso ter capacidade de criar algo memorável em pouco tempo", disse o ator em entrevista à Entertainment Weekly em 2023, questionado sobre ser coadjuvante. "Não é sobre quanto tempo você está na tela, mas o que você faz com esse tempo."

Vale lembrar que, recentemente, Harbour também deixou sua marca em filmes como Sem Remorso, ao lado de Michael B. Jordan, e em Agente Oculto, da Netflix - todos como coadjuvante. Neste ano, também está em um pequeno papel em Resgate Implacável, filme com Jason Statham - ele interpreta um colega da época do exército com problemas de visão.

"Acho que posso não ser a estrela principal em muitos projetos, mas sou aquela peça do quebra-cabeça que ajuda a dar forma ao todo", confessou o ator ao The Hollywood Reporter em uma entrevista de 2022. "E, honestamente, isso me agrada muito. Há uma liberdade criativa em papéis coadjuvantes que nem sempre se tem como protagonista."

Reconhecimento além das câmeras

Mesmo com esse destaque como coadjuvante, porém, Harbour se consagrou e fez seu nome. É querido, reconhecido e tietado. Ao Estadão, falou sobre essa relação com os fãs e a relação com a fama.

"Há dias bons e ruins. É bonito quando seu trabalho toca tanto as pessoas que elas sentem no coração e te amam por isso", reflete o ator, que provocou grande euforia ao aparecer em eventos recentes. Mas ele pondera: "Às vezes pode ser difícil, porque uma das coisas que eu realmente gosto é a sensação de anonimato. No fim, esse é um preço que estou disposto a pagar".