Tema urgente, Sérgio Ferrara dirige 'Cascavel' sobre a violência doméstica

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O diretor Sérgio Ferrara, de 54 anos, imaginou que passaria impune aos experimentos do teatro online frequentes na pandemia. Há quase dois anos, ele foi convidado pelas atrizes e produtoras Carol Cezar e Fernanda Heras para montar Cascavel, drama escrito pela inglesa Catrina McHugh em 2015. Às vésperas do começo dos ensaios, o mundo parou e o trio engavetou temporariamente o projeto.

"Entendemos, porém, que o tema se tornou urgente durante o confinamento social, não podíamos mais esperar", afirma Ferrara, responsável pela peça que estreia nesta quinta, 29, na plataforma Sympla, e fica disponível até 22 de agosto. Os ingressos são gratuitos, mas aceitam-se contribuições a partir de R$ 10.

Cascavel revela os horrores da violência doméstica através de Suzy e Jen (interpretadas, respectivamente, por Fernanda e Carol) e suas relações, em períodos diferentes, com James (representado pelas próprias atrizes), que as controla e, destruindo aos poucos a autonomia de cada uma, coloca suas vidas em risco. Em um tom documental, a dupla relata histórias parecidas, desde o momento em que conheceram este homem e como seu comportamento repressor e agressivo as levou gradativamente a um isolamento do mundo.

Catrina McHugh desenvolveu Cascavel como parte de um programa de treinamento para policiais da cidade inglesa de Durham. A lei do Reino Unido foi alterada em 2015 para criminalizar o controle coercitivo em relacionamentos - e o trabalho da dramaturga foi uma das estratégias de conscientização empregadas no processo. "Somente em São Paulo, os casos de mulheres agredidas aumentaram 44,9% desde o começo da pandemia", declara o diretor. "Quando a violência física é consumada, provavelmente essas vítimas já vinham sofrendo abusos psicológicos, morais e sexuais, que não são visíveis e, logo, menos perceptíveis por terceiros."

Desde as primeiras leituras do texto, o diretor sublinhou para as atrizes que Brasil e Inglaterra têm realidades bem distintas, logo precisariam realizar sensíveis adaptações para que as mulheres brasileiras encontrassem identificação similar. "Nós, infelizmente, não vivemos em um país em que o socorro é acionado e, 15 minutos depois, policiais atenciosos batem em sua porta para as devidas averiguações", compara.

Ferrara ressalta que o brasileiro sofre abusos todos os dias e, mesmo diante de inegáveis avanços nas legislações, é preciso atenção permanente para evitar retrocessos. "E falo isso não pensando só nas conquistas femininas, como a Lei Maria da Penha, mas também em relação aos direitos dos negros, dos homossexuais, dos mais pobres, nada está plenamente garantido pelo Estado, ao contrário de outros países."

Com três décadas de carreira nos palcos, Ferrara é responsável por espetáculos marcantes como Mãe Coragem e Seus Filhos, protagonizado por Maria Alice Vergueiro, Abajur Lilás, com Esther Góes, e O Mercador de Veneza, que rendeu o Prêmio Shell ao ator Luiz Damasceno. O ponto de virada de sua trajetória, no entanto, foi Pobre Super-Homem, peça do canadense Brad Fraser, que, em 2000, abordou os fantasmas da aids na sociedade contemporânea. "Gosto de trazer à tona temas tabus e sinto que o feminicídio é tão pouco discutido como ainda era a aids no Brasil na época de Pobre Super-Homem", comenta. "Com minha obra, abri um espaço de entendimento e inclusão de que nem tinha consciência e percebo hoje que a função de um artista não é só realizar um trabalho, seja filme, peça, livro, mas imaginar como esta obra poderá reverberar até para as gerações seguintes."

Ferrara passou a contar, nos últimos anos, com uma nova perspectiva profissional que aumenta a compreensão em torno das dramaturgias que abraça. Em 2018, ele voltou aos bancos acadêmicos para um bacharelado em psicologia, previsto para concluir em 2023. "Busco saber quem sou eu em um lugar de menos ego e mais reflexão e, nas últimas peças que dirigi, verifico em mim uma ansiedade menor, uma disposição para o diálogo com a equipe que talvez não tivesse há alguns anos e, claro, é consequência da psicologia", reconhece.

Assim que tiver o diploma na mão, o artista planeja dividir seu tempo entre o teatro e a abertura de um consultório para atender seus pacientes, também com um ponto de vista voltado para a área que melhor domina. "Vejo atores, atrizes e diretores amigos que caem nas mãos de psicólogos que desconhecem o universo do teatro e não encontram um espaço de reflexão adequado para suas questões", diz. "Chegou a hora em que me é permitido passar adiante tudo o que aprendi e vivi até hoje."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O aguardado show de Lady Gaga na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, teve início na noite deste sábado, 3. É possível assistir ao vivo pela Globo, na TV aberta, pelo canal pago Multishow e pelo streaming Globoplay. Previsto para começar às 21h45, o show contou com um atraso e a cantora apareceu em um vídeo no palco somente por volta de 22h10.

Todo mundo no Rio. Mesmo. Quando ainda faltavam 12 horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, as filas para ter acesso à Avenida Atlântica já davam voltas nos quarteirões internos do bairro. Por razões de segurança, era preciso passar por um dos 18 pontos de bloqueio para alcançar a orla, instalados desde cedo em ruas transversais aparelhados com detectores de metais e câmeras de reconhecimento facial.

Em experiências anteriores, como o show de Madonna, no ano passado, e o réveillon, as aglomerações só se formaram faltando poucas horas para o início do espetáculo. Mas com Gaga foi bem diferente. Já na manhã de sábado havia fila ocupando dois quarteirões. A temperatura em torno dos 25ºC ajudou. O céu estava claro, o sol brilhando, mas não havia muito calor.

Uma faixa da avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais vias do bairro, estava ocupada por fãs na altura do palco. O professor de educação física Humberto Machado, de 38 anos, que veio para o show com um grupo de amigos da Paraíba e do Rio Grande do Norte, contou que ficou na fila para acesso à orla por cerca de meia hora.

"A gente achou que seria rápido para entrar porque ainda era muito cedo", contou o professor. "Mas a fila era impressionante."

O professor e seus amigos levavam água e sanduíches em recipientes de plástico para aguentar por toda a tarde e noite. Recipientes de vidro, líquidos inflamáveis e objetos perfurocortantes estavam proibidos e estavam sendo confiscados nas barreiras.

O bairro, rapidamente apelidado de "Gagacabana", era uma grande festa desde cedo, sem registro de incidentes. Fãs totalmente montados, os "little monsters" (monstrinhos), não paravam de chegar a pé, de ônibus e, principalmente, de metrô, exibindo leques, chapéus e todo tipo de indumentária remetendo à artista, a "mother monster" (mãe monstra).

Em frente ao Copacabana Palace, onde a diva está hospedada, o movimento foi ininterrupto a madrugada inteira, sobretudo depois do ensaio aberto na noite de sábado, em que Gaga cantou mais de dez músicas para deleite de todos que estavam na orla, entre elas grandes sucessos como Abracadabra, Bad romance e Shallow, a mais baixada por fãs no Brasil nas plataformas de streaming.

Antes mesmo do fim da manhã longos trechos da praia já estavam ocupados por fãs marcando lugar na areia para assistir ao show da diva e vendedores ambulantes. E não só. As árvores do canteiro central da Atlântica e mesmo da calçada próxima aos prédios estavam sendo disputadas desde cedo pelos que queriam garantir um lugar 'vip' para assistir ao show.

A tatuadora Aisha Dutra, de 22 anos, e a estudante Lilian Magalhães, de 26 anos, estavam aboletadas em uma árvore desde cedo. Elas são do bairro de Santa Cruz, na zona oeste, mas alugaram um apartamento por temporada em Copacabana, especialmente para estarem perto do show. O plano da dupla era chegar à praia às 5h da manhã deste sábado. Mas como elas só foram dormir de madrugada, depois do fim do ensaio, acabaram chegando à orla às 8h.

"Ontem, durante o ensaio, a gente subiu numa árvore e viu que era a melhor opção, porque tinha gente dormindo na grade desde ontem e não tinha mais lugar perto do palco", explicou a tatuadora, devidamente instalada na árvore.

Na tarde de sexta-feira, 2, a Prefeitura informou que dados consolidados pela Rodoviária Novo Rio e pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) indicavam a chegada de mais 500 mil visitantes na cidade entre os dias 1º e 3 de maio, superando as expectativas iniciais de 240 mil pessoas. Desse total, 25% seriam turistas estrangeiros.

Há ainda turistas chegando com carros particulares, ônibus fretados e voos pousando no Aeroporto Santos Dumont. A média de ocupação da rede hoteleira é de 86% em toda a cidade, mas em Copacabana chega a 95%.

A Polícia Militar (PM) reforçou o esquema de segurança.

"A novidade para este show são os capacetes brancos, grupos de policiais especializados em patrulhamento de multidão", explicou a tenente-coronel Cláudia Moraes, porta-voz da PM. "Eles vão circular entre as pessoas, sobretudo nos pontos de maior concentração, para evitar furtos de oportunidade de passar uma sensação maior de segurança."

A prefeitura espera a presença de mais de 1,6 milhão de pessoas na praia de Copacabana, onde está montado o palco e as 16 torres com telões de nove metros de altura por cinco metros de largura, permitindo que todos acompanhem o show mesmo à distância. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e a Riotur, o evento deve injetar mais de R$ 600 milhões na economia da cidade.

"A cidade está muito cheia mesmo, tem muito turista", assegurou o motorista de uber Gustavo Monteiro, de 33 anos. "É bom para todo mundo. Por mim, tinha um show desse por mês."

Faltando cerca de duas horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, os pontos de revista montados nas vias transversais de acesso à Avenida Atlântica apresentavam filas de até uma hora de duração.

As maiores eram vistas no acesso da rua Duvivier, o mais próximo ao palco. A fila tinha uma extensão de mais de dois quarteirões. Nos pontos de entrada um pouco mais distantes, como o da Hilário de Gouveia, ainda era possível entrar na orla com apenas 20 minutos de espera.

O enfermeiro Vítor Souza, de 32 anos, que veio de Campos, no interior do Estado, especialmente para o show, contou que ficou por mais de 40 minutos numa fila e acabou desistindo.

Ele conseguiu chegar na praia por meio de uma outra entrada, bem mais distante do palco. "Foi bem mais complicado do que achei que ia ser", contou. "Mas finalmente eu consegui passar."

As filas nos 18 pontos de acesso montados nas ruas transversais à avenida Atlântica começaram a ser formar por volta das 9h da manhã deste sábado, 3. Policiais militares munidos de detectores de metal revistavam as pessoas uma a uma antes de darem acesso à orla. Vidros, explosivos e armas encontrados eram confiscados. Os pontos de acesso também contavam com câmeras de reconhecimento facial.

O perfil oficial do Metrô do Rio de Janeiro fez uma postagem anunciando que o "tempo de viagem está maior" "devido ao grande fluxo do desembarque de clientes na estação Cardeal Arcoverde/Copacabana para o show da Lady Gaga". A empresa recomenda o desembarque pela Siqueira Campos/Copacabana.

O maior show da vida de Lady Gaga

O show desta noite na praia de Copacabana promete ser o maior da carreira de Lady Gaga. A expectativa da Prefeitura é de que pelo menos 1,6 milhão de pessoas estarão reunidas na orla. Até hoje, a apresentação de Gaga com o maior público tinha sido em abril passado, no Festival Coachella, nos EUA, onde reuniu por volta de 100 mil pessoas.

O palco da apresentação desta noite tem nada menos que 1.260 m2, bem maior do que o montado para Madonna no ano passado, que tinha 821 m2. A megaestrutura tem 2,20 m de altura desde a base na areia. Um telão de LED de última geração ficará no fundo do palco.

Gaga vai apresentar um show em cinco atos, com direito a diversas trocas de roupa e um cenário que lembra o de uma peça de teatro - a cantora chama de "ópera gótica". A previsão é de que o espetáculo tenha 2h30 de duração, ao longo das quais Gaga vai contar a história de seu próprio "caos pessoal" ao lutar com sua própria persona, derrotar fantasmas e conseguir renascer.

Pabllo Vittar faz abertura

Uma surpresa para os fãs de Lady Gaga que aguardam o início do show da diva pop. A artista Pablo Vittar, que se apresentou com Madonna no ano passado, está abrindo o show desta noite como DJ.

"É muito louco, parece que estou tendo um deja-vu", afirmou Pablo em uma entrevista concedida à rede de TV CNN antes de subir ao palco, adiantando que pretendia tocar "muito tribal house, muito tech, muito remix e algumas músicas minhas". "Ano passado, com Madonna comemorando 40 anos de carreira, e agora nesse show histórico com a Gaga. Estou muito feliz."