Pinturas de Nelson Sargento são tema de ocupação na zona norte do Rio

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Nelson Sargento um dia escreveu, para depois cantar, que o morro é o encanto da paisagem. O cantor, compositor e artista plástico sabia do que falava: presidente de honra da Mangueira, ele morou boa parte da vida no segundo barraco da parte mais alta do morro que batiza a tradicional escola de samba carioca. O artista morreu no final de maio aos 96 anos e deixou para a posteridade mais de 400 canções, sendo alguns clássicos da música popular. Mas também deixou muitos quadros pintados a próprio punho, e que pelos próximos dois meses poderão ser contemplados na zona norte do Rio.

Arte, Agoniza Mas Não Morre: Nelson Sargento, 9.7 é o nome da ocupação artística montada no Espaço Travessia, no Instituto Nise da Silveira. Lá, é possível ver 16 quadros do sambista, seis deles inéditos, além de obras de mais de 20 artistas convidados e cuja temática lembra de alguma forma o trabalho de Sargento.

"Estamos encravados no Engenho de Dentro, e as coisas quase sempre acontecem na zona sul ou no centro. Aqui temos muita potência artística, muita potência cultural, que por vezes não é representada", diz Marcelo Valle, curador da ocupação. "Nelson é um cara do subúrbio, que começou como pintor de paredes. Ele consegue dialogar com muita gente. Dialoga com a juventude, com os mais velhos, com a questão da saúde mental, com a felicidade e com a alegria."

Amigos e familiares dizem que a exposição era um desejo do sambista, que esperava viver até os 100 anos - ele morreu cerca de dois meses antes de chegar aos 97. "Nós tínhamos como mote um dos sambas do Nelson chamado Encanto da Paisagem", conta o amigo, parceiro de música e produtor cultural Agenor de Oliveira. "Nosso objetivo era criar uma exposição ampla que mostrasse, através dos versos desse samba, não só a realidade do morro, mas também seus encantos, suas paisagens."

Dentre as obras pintadas pelo artista, a temática do morro e do samba é uma constante. Dona Evonete, viúva de Nelson Sargento, se disse emocionada com a exposição: "O Nelson pintando era uma criança. Era comportado, se deixasse ele com um pincel na mão ele ia criando. Pintava em qualquer horário, principalmente de madrugada. É um grande artista: um bom cantor, um bom compositor, com parceiros maravilhosos. Ele merece muito essa homenagem".

A ocupação artística se distribui por dois andares do Instituto Nise da Silveira, e deverá ficar aberta até o final de setembro. Segundo Marcelo Valle, nesse período algumas das obras dos artistas convidados que estão hoje expostas deverão sair, mas outras serão agregadas. A visitação é gratuita, mas devido à pandemia é preciso entrar em contato prévio para fazer agendamento.

Entre as peças expostas na ocupação Arte, Agoniza Mas Não Morre: Nelson Sargento, 9.7, uma chama especial atenção. Não tem o colorido que marca o traçado do artista, tampouco a delicadeza das linhas, mas tem importância histórica: trata-se do primeiro violão usado pelo sambista.

A história do instrumento, aliás, merece um capítulo à parte. Ele chegou às mãos de Nelson meio que de improviso, e quem conhece a história ressalta que isso apenas serve para mostrar como o músico era brilhante. Porque o violão era péssimo.

O produtor cultural Agenor de Oliveira conta que quando integrantes de um musical sentiram a necessidade de acrescentar um violão ao grupo, o compositor Elton Medeiros sugeriu o nome do amigo Nelson Mattos - que mais tarde se tornaria Nelson Sargento.

"Foram ao morro da Mangueira e deixaram um recado para a esposa do Nelson na época. Disseram que era para ele ir ao teatro no dia seguinte, que tinham um trabalho para ele", diz Oliveira. Pintor de paredes, Nelson Mattos pensou que o trabalho era pintar o prédio, e como estava exausto pelos dias cansativos de trabalho, não compareceu.

"No dia seguinte, voltaram ao morro e deixaram novo recado para a mulher: 'diz para o rapaz aparecer amanhã, porque se não for, não precisa ir mais'. No dia seguinte o Nelson pegou sua malinha, os pinceis, seu chapeuzinho e foi lá para pintar. Quando chegou, perguntaram a ele sobre o violão. 'Que violão? Não vim aqui para pintar?'", se diverte Agenor. "Ele não tinha violão, não existia violão. Arrumaram esse violão aí, que é lamentável, mas que fez parte de alguns de seus maiores sucessos."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O aguardado show de Lady Gaga na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, teve início na noite deste sábado, 3. É possível assistir ao vivo pela Globo, na TV aberta, pelo canal pago Multishow e pelo streaming Globoplay. Previsto para começar às 21h45, o show contou com um atraso e a cantora apareceu em um vídeo no palco somente por volta de 22h10.

Todo mundo no Rio. Mesmo. Quando ainda faltavam 12 horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, as filas para ter acesso à Avenida Atlântica já davam voltas nos quarteirões internos do bairro. Por razões de segurança, era preciso passar por um dos 18 pontos de bloqueio para alcançar a orla, instalados desde cedo em ruas transversais aparelhados com detectores de metais e câmeras de reconhecimento facial.

Em experiências anteriores, como o show de Madonna, no ano passado, e o réveillon, as aglomerações só se formaram faltando poucas horas para o início do espetáculo. Mas com Gaga foi bem diferente. Já na manhã de sábado havia fila ocupando dois quarteirões. A temperatura em torno dos 25ºC ajudou. O céu estava claro, o sol brilhando, mas não havia muito calor.

Uma faixa da avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais vias do bairro, estava ocupada por fãs na altura do palco. O professor de educação física Humberto Machado, de 38 anos, que veio para o show com um grupo de amigos da Paraíba e do Rio Grande do Norte, contou que ficou na fila para acesso à orla por cerca de meia hora.

"A gente achou que seria rápido para entrar porque ainda era muito cedo", contou o professor. "Mas a fila era impressionante."

O professor e seus amigos levavam água e sanduíches em recipientes de plástico para aguentar por toda a tarde e noite. Recipientes de vidro, líquidos inflamáveis e objetos perfurocortantes estavam proibidos e estavam sendo confiscados nas barreiras.

O bairro, rapidamente apelidado de "Gagacabana", era uma grande festa desde cedo, sem registro de incidentes. Fãs totalmente montados, os "little monsters" (monstrinhos), não paravam de chegar a pé, de ônibus e, principalmente, de metrô, exibindo leques, chapéus e todo tipo de indumentária remetendo à artista, a "mother monster" (mãe monstra).

Em frente ao Copacabana Palace, onde a diva está hospedada, o movimento foi ininterrupto a madrugada inteira, sobretudo depois do ensaio aberto na noite de sábado, em que Gaga cantou mais de dez músicas para deleite de todos que estavam na orla, entre elas grandes sucessos como Abracadabra, Bad romance e Shallow, a mais baixada por fãs no Brasil nas plataformas de streaming.

Antes mesmo do fim da manhã longos trechos da praia já estavam ocupados por fãs marcando lugar na areia para assistir ao show da diva e vendedores ambulantes. E não só. As árvores do canteiro central da Atlântica e mesmo da calçada próxima aos prédios estavam sendo disputadas desde cedo pelos que queriam garantir um lugar 'vip' para assistir ao show.

A tatuadora Aisha Dutra, de 22 anos, e a estudante Lilian Magalhães, de 26 anos, estavam aboletadas em uma árvore desde cedo. Elas são do bairro de Santa Cruz, na zona oeste, mas alugaram um apartamento por temporada em Copacabana, especialmente para estarem perto do show. O plano da dupla era chegar à praia às 5h da manhã deste sábado. Mas como elas só foram dormir de madrugada, depois do fim do ensaio, acabaram chegando à orla às 8h.

"Ontem, durante o ensaio, a gente subiu numa árvore e viu que era a melhor opção, porque tinha gente dormindo na grade desde ontem e não tinha mais lugar perto do palco", explicou a tatuadora, devidamente instalada na árvore.

Na tarde de sexta-feira, 2, a Prefeitura informou que dados consolidados pela Rodoviária Novo Rio e pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) indicavam a chegada de mais 500 mil visitantes na cidade entre os dias 1º e 3 de maio, superando as expectativas iniciais de 240 mil pessoas. Desse total, 25% seriam turistas estrangeiros.

Há ainda turistas chegando com carros particulares, ônibus fretados e voos pousando no Aeroporto Santos Dumont. A média de ocupação da rede hoteleira é de 86% em toda a cidade, mas em Copacabana chega a 95%.

A Polícia Militar (PM) reforçou o esquema de segurança.

"A novidade para este show são os capacetes brancos, grupos de policiais especializados em patrulhamento de multidão", explicou a tenente-coronel Cláudia Moraes, porta-voz da PM. "Eles vão circular entre as pessoas, sobretudo nos pontos de maior concentração, para evitar furtos de oportunidade de passar uma sensação maior de segurança."

A prefeitura espera a presença de mais de 1,6 milhão de pessoas na praia de Copacabana, onde está montado o palco e as 16 torres com telões de nove metros de altura por cinco metros de largura, permitindo que todos acompanhem o show mesmo à distância. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e a Riotur, o evento deve injetar mais de R$ 600 milhões na economia da cidade.

"A cidade está muito cheia mesmo, tem muito turista", assegurou o motorista de uber Gustavo Monteiro, de 33 anos. "É bom para todo mundo. Por mim, tinha um show desse por mês."

Faltando cerca de duas horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, os pontos de revista montados nas vias transversais de acesso à Avenida Atlântica apresentavam filas de até uma hora de duração.

As maiores eram vistas no acesso da rua Duvivier, o mais próximo ao palco. A fila tinha uma extensão de mais de dois quarteirões. Nos pontos de entrada um pouco mais distantes, como o da Hilário de Gouveia, ainda era possível entrar na orla com apenas 20 minutos de espera.

O enfermeiro Vítor Souza, de 32 anos, que veio de Campos, no interior do Estado, especialmente para o show, contou que ficou por mais de 40 minutos numa fila e acabou desistindo.

Ele conseguiu chegar na praia por meio de uma outra entrada, bem mais distante do palco. "Foi bem mais complicado do que achei que ia ser", contou. "Mas finalmente eu consegui passar."

As filas nos 18 pontos de acesso montados nas ruas transversais à avenida Atlântica começaram a ser formar por volta das 9h da manhã deste sábado, 3. Policiais militares munidos de detectores de metal revistavam as pessoas uma a uma antes de darem acesso à orla. Vidros, explosivos e armas encontrados eram confiscados. Os pontos de acesso também contavam com câmeras de reconhecimento facial.

O perfil oficial do Metrô do Rio de Janeiro fez uma postagem anunciando que o "tempo de viagem está maior" "devido ao grande fluxo do desembarque de clientes na estação Cardeal Arcoverde/Copacabana para o show da Lady Gaga". A empresa recomenda o desembarque pela Siqueira Campos/Copacabana.

O maior show da vida de Lady Gaga

O show desta noite na praia de Copacabana promete ser o maior da carreira de Lady Gaga. A expectativa da Prefeitura é de que pelo menos 1,6 milhão de pessoas estarão reunidas na orla. Até hoje, a apresentação de Gaga com o maior público tinha sido em abril passado, no Festival Coachella, nos EUA, onde reuniu por volta de 100 mil pessoas.

O palco da apresentação desta noite tem nada menos que 1.260 m2, bem maior do que o montado para Madonna no ano passado, que tinha 821 m2. A megaestrutura tem 2,20 m de altura desde a base na areia. Um telão de LED de última geração ficará no fundo do palco.

Gaga vai apresentar um show em cinco atos, com direito a diversas trocas de roupa e um cenário que lembra o de uma peça de teatro - a cantora chama de "ópera gótica". A previsão é de que o espetáculo tenha 2h30 de duração, ao longo das quais Gaga vai contar a história de seu próprio "caos pessoal" ao lutar com sua própria persona, derrotar fantasmas e conseguir renascer.

Pabllo Vittar faz abertura

Uma surpresa para os fãs de Lady Gaga que aguardam o início do show da diva pop. A artista Pablo Vittar, que se apresentou com Madonna no ano passado, está abrindo o show desta noite como DJ.

"É muito louco, parece que estou tendo um deja-vu", afirmou Pablo em uma entrevista concedida à rede de TV CNN antes de subir ao palco, adiantando que pretendia tocar "muito tribal house, muito tech, muito remix e algumas músicas minhas". "Ano passado, com Madonna comemorando 40 anos de carreira, e agora nesse show histórico com a Gaga. Estou muito feliz."