Desigualdade foi um dos temas do 78º Festival de Veneza

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Um festival de cinema é como uma bolha. Lá dentro, uma produção americana sobre um jogador de cassino em busca de redenção é comparada com três dias da princesa Diana no tumultuado casamento com o príncipe Charles. Quando se cobre a distância, pois a pandemia corre desigual pelo globo, essa bolha não existe. A conversa com colegas do mundo inteiro não acontece. O que sobra são a tela do computador e os filmes aos quais se tem acesso. Mas ainda dá para sentir o que vai na cabeça dos cineastas e assistir a obras para as quais talvez não houvesse tempo se estivesse no Lido, onde se encerra neste sábado, 11, o 78º Festival de Veneza.

No caso de Paul Schrader, o que está em sua mente não é muito diferente do que sempre esteve, desde seus primeiros roteiros, como Taxi Driver - Motorista de Táxi, de 1976: um cavaleiro solitário traumatizado e culpado em busca de redenção, talvez por meio da salvação de outro. Neste filme noir cheio de estilo, o homem é William Tell (Oscar Isaac, a estrela do festival), um ex-interrogador militar - ou melhor, torturador -, que hoje corre os cassinos do Meio-Oeste americano. Tell poderia ganhar milhões, mas ele quer apenas o suficiente para se manter. É uma maneira de ficar fora do radar, mas também uma recusa dos ideais americanos e do capitalismo. Tell transita entre cidades de prédios uniformemente horrendos e motéis tão mal decorados quanto os cassinos que representam o luxo e a riqueza para aquela América do meio. Tem uma imagem clara de seu país, ao contrário do jogador conhecido como EUA, que se veste com a bandeira e, quando ganha, grita, triunfante: E-U-A!

O personagem de Isaac em The Card Counter é diferente daquele que o ator faz na série Scenes From a Marriage, que estreia amanhã na HBO Max no Brasil e é uma versão de Cenas de um Casamento, a minissérie de Ingmar Bergman da década de 1970. Criada por Hagai Levi (In Treatment), a adaptação inverte os sinais: a Mira de Jessica Chastain é a mulher ambiciosa, com uma carreira bem-sucedida na área de tecnologia, e seu marido Jonathan (Isaac) é um professor de filosofia que cuida da filha. A vida dos dois é bastante confortável, financeiramente. Mas o vazio ainda está lá. E como se doar a um relacionamento quando há um oco dentro de si?

Em dado momento, Mira diz: "Você necessita de uma testemunha para sua vida, alguém que está sempre lá, fazendo o registro". Não é diferente do cômico napolitano Eduardo Scarpetta (o excelente Toni Servillo) em Qui Rido Io, filme do italiano Mario Martone. Este homem precisa não só de muitas testemunhas de sua vida - a companhia de teatro, a mulher e os filhos e as várias amantes e sua prole - como também do aplauso do público e a admiração de seus pares.

É esse respeito que procura Daniele (Daniele Barison) em Atlantide, do italiano Yuri Ancarani. O rapaz pode estar à margem, mas não das exigências da sociedade capitalista e da masculinidade, aqui representadas pela cultura do "barchino", ou lanchas. Toda a existência de Daniele gira em torno do objetivo de chegar aos 85 km/h. Há um embate entre a Veneza local e aquela que os turistas preferem ver de longe, a partir de seus imensos navios de cruzeiro, e entre a modernidade e a antiguidade da cidade, que periga deixar de existir a não ser na memória.

Essas questões aparecem de formas distintas em Piedra Noche, do argentino Iván Fund, e Karmalink, dirigido pelo americano Jake Wachtel, mas ambientado no Camboja. Os dois utilizam elementos de gênero: fantasia no primeiro, ficção científica no segundo. Piedra Noche fala de um casal que precisa lidar com a perda mais insuportável, enquanto veem a praia da tragédia assombrada por monstros vários, incluindo a plataforma horrenda que vira um triste ponto turístico depois de degradar a área. Karmalink se passa em uma Phnom Penh do futuro, em que as comunidades cada vez mais miseráveis são empurradas para dar lugar a condomínios. Um adolescente busca a salvação da família no budismo e no passado, com um artefato valioso que acredita ter escondido em uma vida anterior. Aqui também o trauma das guerras americanas está embutido nas pessoas e no país.

Em Les Promesses, de Thomas Kruithof, Isabelle Huppert é uma prefeita que tenta lutar pelos moradores de conjuntos habitacionais inabitáveis. Mas suas boas intenções esbarram nas tentações da ambição pessoal e nas realidades da política, a arte do possível.

Como o presidente do júri da competição oficial do Festival de Veneza deste ano, Bong Joon-ho, disse na época do lançamento de seu Parasita, o capitalismo é a nossa vida. E isso significa lidar com a pressão pela busca desenfreada por riqueza, desigualdade, guerra, trauma, destruição, vazio. A presença de Duna, de Denis Villeneuve, também estrelado por Oscar Isaac e exibido fora de competição, faz todo o sentido: uma história futurista sobre colonialismo, exploração de riquezas, espera pelo messias, em um lugar inóspito. Dado o nosso passado e o nosso presente, por que o futuro haveria de ser diferente?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Lady Gaga publicou uma texto emocionante agradecendo seus fãs pelo show gratuito que realizou na noite deste sábado, 3, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Na publicação, ela compartilhou fotos com uma das roupas usadas na apresentação e um vídeo da multidão que a assistia.

Gaga disse que nada poderia prepará-la para o sentimento de "orgulho e alegria absolutos" ao cantar para o público brasileiro, afirmando que ficou sem fôlego ao ver a multidão durante as primeiras músicas do show.

Ela também agradeceu ao público, citando que 2,5 milhões de pessoas compareceram à praia de Copacabana, "o maior público para uma mulher na história" - vale pontuar que a informação sobre o recorde feminino é correta, mas a prefeitura estimou um público de 2,1 milhões. Em 2024, Madonna reuniu 1,6 milhões de pessoas.

A artista ainda agradeceu à paciência dos fãs, que aguardaram 12 anos para um retorno da cantora ao País (em 2017, ela cancelou uma apresentação no Rock in Rio): "Obrigada, Rio, por esperar meu retorno. Obrigada aos monstrinhos [little monsters, como são chamados os fãs da cantora] de todo o mundo. Eu amo vocês. Jamais esquecerei este momento."

Leia o texto na íntegra

"Nada poderia me preparar para o sentimento que tive durante o show de ontem à noite - o orgulho e a alegria absolutos que senti ao cantar para o povo do Brasil. A visão da multidão durante minhas músicas de abertura me deixou sem fôlego.

Seu coração brilha tanto, sua cultura é tão vibrante e especial, que espero que saibam o quanto sou grata por ter compartilhado esse momento histórico com vocês. Estima-se que 2,5 milhões de pessoas vieram me ver cantar, o maior público para uma mulher na história.

Gostaria de poder compartilhar esse sentimento com o mundo inteiro - sei que não posso, mas posso dizer o seguinte: se você perder o rumo, pode encontrar o caminho de volta se acreditar em si mesmo e trabalhar duro.

Você pode se dar dignidade ensaiando sua paixão e sua arte, esforçando-se para alcançar novos patamares - você pode se elevar, mesmo que isso leve algum tempo.

Obrigada, Rio, por esperar meu retorno. Obrigada aos monstrinhos [little monsters, como são chamados os fãs da cantora] de todo o mundo. Eu amo vocês. Jamais esquecerei este momento. Patas para cima, monstrinhos. Obrigada [em português]. Com amor, Mãe Monstro."

Lady Gaga dedicou uma música para o noivo, Michael Polansky, durante seu megashow no Rio de Janeiro, na noite de sábado, 3. A cantora americana levou um público de 2,1 milhões de pessoas à praia de Copacabana, segundo a prefeitura da cidade.

"Michael, vou cantar essa canção para 2 milhões de pessoas. Isso é o quanto eu te amo", disse ela na apresentação de Blade of Grass, música do álbum Mayhem que Gaga escreveu em homenagem ao parceiro.

Polansky tem 46 anos, nasceu no estado de Minnesota, nos Estados Unidos, e trabalha com investimentos. Segundo seu perfil no Linkedin, ele se formou na universidade de Harvard e tem um diploma em matemática aplicada e ciências da computação.

Atualmente, ele tem funções em diversas empresas e fundações sem fins lucrativos. Ele ajudou a criar a Fundação Parker, em 2015, ao lado de Sean Parker, um dos fundadores do Facebook, que tem o objetivo de criar mudanças positivas na saúde pública global.

Ele também é creditado como sócio fundador da Hawktail, uma empresa de capital de risco "que investe em tecnologia de estágio inicial e transformacional em ciências da vida, tecnologia climática, tecnologia profunda e software", e da Outer Biosciences, que tem como missão "melhorar a saúde da pele humana."

Ele e Gaga foram apresentados pela mãe da cantora, Cynthia Germanotta, em 2019. Assumiram o namoro publicamente no ano seguinte e revelaram o noivado em 2024. O empresário costuma acompanhar a cantora em turnês e shows - incluindo no Rio - e já compareceu com ela em eventos da indústria da música.

O megashow de Lady Gaga na praia de Copacabana na noite deste sábado, 3, teve repercussão na mídia internacional. Veículos estrangeiros destacaram o público recorde de 2,1 milhões de pessoas, que superou o da apresentação de Madonna (1,6 milhão) no ano passado.

O britânico The Guardian acompanhou a apresentação diretamente do Rio e entrevistou fãs da cantora na praia carioca, incluindo mãe e filha que vieram do Chile para a apresentação. O jornal disse que "a atmosfera era parte frenesi, parte reverência durante a 'ópera gótica' de cinco atos".

A revista americana Variety, tradicional na área do entretenimento, chamou a atenção para o fato de que aquele foi o maior público da carreira de Lady Gaga e o maior de um show feminino em Copacabana (o recorde geral é de Rod Stewart - veja aqui o ranking).

Outro portal americano, o NPR escreveu que "alguns fãs, muitos deles jovens, chegaram à praia de madrugada para garantir um bom lugar, munidos de lanches e bebidas", e aguardaram ao longo dia sob um sol escaldante.

O site alemão Deutsche Welle (DW) também repercutiu o tamanho do público que compareceu ao show e comentou o objetivo da cidade do Rio de Janeiro de ter um megashow em Copacabana todo ano no mês de maio até 2028.

Já o britânico The Telegraph disse que a apresentação "impulsionou" a economia do Rio de Janeiro, repercutindo a informação da prefeitura de que a estimativa era que o show gerasse R$ 600 milhões para a cidade.

A rede britânica BBC também conversou com fãs no local e lembrou que Gaga não se apresentava no Rio desde 2012, já que havia cancelado uma apresentação no Rock in Rio 2017.

"Uma grande operação de segurança foi montada, com 5 mil policiais de plantão e os participantes tendo que passar por detectores de metal. As autoridades também usaram drones e câmeras de reconhecimento facial para ajudar a policiar o evento", destacou o veículo.

O show de Lady Gaga no Rio também repercutiu em veículos como o jornal Público, de Portugal, a CNN americana e as agências de notícias Reuters e Associated Press.