Selva Almada ambienta 'Não é um Rio' em vilarejo onde a violência é decisiva

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A escrita da argentina Selva Almada é precisa, econômica, não admite firulas. Mas isso não impede que seus textos sejam carregados de poesia - Selva consegue a proeza de usar poucas palavras para dizer muito. Ou, às vezes, mais sugerir que afirmar. É o que o leitor pode observar em Não É um Rio, lançado agora pela editora Todavia.

A trama se passa no interior da Argentina, região pontuada por vilarejos onde o tempo parece congelado, só quebrado por casos de violência ou rupturas familiares. Aqui, durante uma pescaria, três homens revelam os contornos de sua existência da mesma forma que o rio por onde navegam tem o curso tracejado.

Enero Rey e Negro levam Tilo, o filho adolescente de Eusébio, um amigo já morto, nessa pescaria e, depois de comer e beber vinho, eles ficam com o humor alterado e entram em um estado de estupor, cozinham, falam e dançam, eles lutam com os fantasmas do passado e do presente.

É o ponto de partida para Selva Almada investigar a crueldade e a violência de um universo dominador, o masculino, que se sustenta por meio de alianças secretas. Trata-se de um terreno já conhecido por ela - em Garotas Mortas, lançado aqui em 2018, a autora argentina apresentou o relato ficcionalizado da morte de três meninas nos anos 1980.

Ela viajou a três províncias argentinas para apurar a morte das garotas, um caso mal resolvido, com nenhum culpado cumprindo pena. Lá, conversou com amigos e familiares e, com um vasto material à mão, escreveu um texto de não ficção. Mas, ao perceber que o texto não tinha a sua voz, optou por usar os dados e escrever com as ferramentas da ficção. Com isso, conseguiu narrar um assunto espinhoso de uma forma menos dura. Sobre sua obra, Selva respondeu, por e-mail, às seguintes questões.

Como em seus dois romances anteriores, o território da narrativa é um conflito: a religião em O Vento Que Arrasa, a inimizade entre famílias em Ladrilleros. Em Não É um Rio, é apenas uma troca de olhares. De onde vem seu interesse pelos detalhes?

Gosto de pensar em uma história (seja ela curta ou um romance, ou mesmo uma longa história) como uma cena que se vê pelo canto do olho: um fragmento muito pequeno de algo maior que não podemos ver, mas que podemos intuir ou perceber ou começar a construir a partir desse fragmento. Normalmente, é assim que começo a escrever, aquela coisa minúscula que não consigo ver completamente e que a escrita revela.

Por que a natureza em sua narrativa é um território e um personagem ao mesmo tempo?

Talvez tenha a ver com a minha própria história de vida: cresci em um lugar onde a natureza era algo vivo, mutante, desafiador... Não gosto de pensar nisso apenas como um cenário, mas como o que é: um sistema vivo do qual nós, humanos, fazemos parte - há diálogo, interferência, conflitos e atos de amor como em qualquer sistema.

Os personagens são pescadores e, para pescar, é preciso silêncio - esta poderia ser uma das razões para uma narrativa tão fragmentada?

Sim, mas não entendi isso desde o início. Na verdade, o romance tinha uma primeira versão de que não gostei justamente porque "era muito falado". Aconteceu também com os outros dos meus romances, em que a forma de narrá-los me foi ditada pela mesma trama. Não É um Rio é um romance com uma presença estelar da paisagem: o rio, a montanha, tudo o que neles vive... A pesca é a desculpa para que os personagens estrangeiros, aqueles que ativam o conflito, estejam lá. Para pescar, é preciso se calar; para escrever também... E este é um romance feito de silêncios.

O cenário desse romance (a ilha, o rio), me parece, favorece a presença do místico, do supersticioso, estou certo?

É um cenário muito sugestivo. O litoral argentino, onde o romance é ambientado, é muito rico em lendas, contos orais de fantasmas, música que recria essas histórias. Também vieram de lá alguns dos nossos maiores poetas, como Juan L. Ortiz (o maior de todos, na minha opinião), que escrevem para aquele rio e para aquela montanha. E, se nos referimos à literatura universal, a ilha sempre foi construída como um espaço mítico, onde tudo pode acontecer.

Como você vê o significado dos nomes e que tipo de coisas você pode transmitir ao leitor por meio da experimentação com o conceito de um nome?

Os nomes costumam aparecer simplesmente. Enero ('janeiro', em espanhol) vem de uma anedota que me contaram, sobre um camponês que deu aos filhos o nome do mês em que nasceram. Janeiro é verão, gostei disso para o personagem que, na primeira versão, era muito mais expansivo. Tilo é porque moro em um quarteirão cheio de tílias e o aroma de suas flores anuncia o verão, minha estação preferida. Depois, há muitos nomes que são típicos da região, como Aguirre. E Siomara era o nome de minha avó.

A amargura e o tédio são os grandes males contemporâneos? Por que vivemos em tempos tão angustiantes?

Não sei. No que diz respeito à angústia, estamos no meio de uma pandemia há mais de um ano, milhares de pessoas morrem todos os dias, há mais de um ano estamos imersos na morte e na incerteza, não me ocorre que isso pudesse gerar outra coisa que não angústia.

Não te impressiona o poder que a ficção tem de interferir na realidade e até de criar novas realidades?

Escrever me parece impressionante como qualquer outra arte, música, plasticidade. Todas impactam nossas vidas, nos desafiam, isso é sempre maravilhoso.

O mal é um aliado da literatura?

Não sei. Suponho que seja um tema recorrente, mas não sei se é um aliado da literatura, não vejo em que sentido seria.

Você acredita que os romancistas têm uma obrigação moral para com seus personagens e seus leitores?

Não, os romancistas não devem ter obrigação moral, por que teriam? Acho que escrever é pura liberdade, portanto qualquer obrigação, qualquer sentimento de obrigação, violaria a escrita.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Lady Gaga dedicou uma música para o noivo, Michael Polansky, durante seu megashow no Rio de Janeiro, na noite de sábado, 3. A cantora americana levou um público de 2,1 milhões de pessoas à praia de Copacabana, segundo a prefeitura da cidade.

"Michael, vou cantar essa canção para 2 milhões de pessoas. Isso é o quanto eu te amo", disse ela na apresentação de Blade of Grass, música do álbum Mayhem que Gaga escreveu em homenagem ao parceiro.

Polansky tem 46 anos, nasceu no estado de Minnesota, nos Estados Unidos, e trabalha com investimentos. Segundo seu perfil no Linkedin, ele se formou na universidade de Harvard e tem um diploma em matemática aplicada e ciências da computação.

Atualmente, ele tem funções em diversas empresas e fundações sem fins lucrativos. Ele ajudou a criar a Fundação Parker, em 2015, ao lado de Sean Parker, um dos fundadores do Facebook, que tem o objetivo de criar mudanças positivas na saúde pública global.

Ele também é creditado como sócio fundador da Hawktail, uma empresa de capital de risco "que investe em tecnologia de estágio inicial e transformacional em ciências da vida, tecnologia climática, tecnologia profunda e software", e da Outer Biosciences, que tem como missão "melhorar a saúde da pele humana."

Ele e Gaga foram apresentados pela mãe da cantora, Cynthia Germanotta, em 2019. Assumiram o namoro publicamente no ano seguinte e revelaram o noivado em 2024. O empresário costuma acompanhar a cantora em turnês e shows - incluindo no Rio - e já compareceu com ela em eventos da indústria da música.

O megashow de Lady Gaga na praia de Copacabana na noite deste sábado, 3, teve repercussão na mídia internacional. Veículos estrangeiros destacaram o público recorde de 2,1 milhões de pessoas, que superou o da apresentação de Madonna (1,6 milhão) no ano passado.

O britânico The Guardian acompanhou a apresentação diretamente do Rio e entrevistou fãs da cantora na praia carioca, incluindo mãe e filha que vieram do Chile para a apresentação. O jornal disse que "a atmosfera era parte frenesi, parte reverência durante a 'ópera gótica' de cinco atos".

A revista americana Variety, tradicional na área do entretenimento, chamou a atenção para o fato de que aquele foi o maior público da carreira de Lady Gaga e o maior de um show feminino em Copacabana (o recorde geral é de Rod Stewart - veja aqui o ranking).

Outro portal americano, o NPR escreveu que "alguns fãs, muitos deles jovens, chegaram à praia de madrugada para garantir um bom lugar, munidos de lanches e bebidas", e aguardaram ao longo dia sob um sol escaldante.

O site alemão Deutsche Welle (DW) também repercutiu o tamanho do público que compareceu ao show e comentou o objetivo da cidade do Rio de Janeiro de ter um megashow em Copacabana todo ano no mês de maio até 2028.

Já o britânico The Telegraph disse que a apresentação "impulsionou" a economia do Rio de Janeiro, repercutindo a informação da prefeitura de que a estimativa era que o show gerasse R$ 600 milhões para a cidade.

A rede britânica BBC também conversou com fãs no local e lembrou que Gaga não se apresentava no Rio desde 2012, já que havia cancelado uma apresentação no Rock in Rio 2017.

"Uma grande operação de segurança foi montada, com 5 mil policiais de plantão e os participantes tendo que passar por detectores de metal. As autoridades também usaram drones e câmeras de reconhecimento facial para ajudar a policiar o evento", destacou o veículo.

O show de Lady Gaga no Rio também repercutiu em veículos como o jornal Público, de Portugal, a CNN americana e as agências de notícias Reuters e Associated Press.

O velório de Millena Brandão, atriz mirim que morreu aos 11 anos na última sexta-feira, 2, após receber um diagnóstico de tumor cerebral, será neste domingo, 4. As informações foram divulgadas pelos pais nas redes sociais da menina.

Ele ocorre a partir das 14h na capela do Cemitério Campo Grande, na zona sul de São Paulo, e será aberto ao público. O enterro tem previsão de início para 17h.

Millena teve morte encefálica e sofreu diversas paradas cardiorrespiratórias nos últimos dias. Ela recebeu um diagnóstico de tumor cerebral e estava internada no Hospital Geral de Grajaú, na capital, desde o dia 29.

A menina foi levada a um hospital no início da semana depois de reclamar de fortes dores de cabeça. Segundo o SBT, ela chegou a ser diagnosticada com dengue em uma unidade, mas, após uma piora no quadro, ela foi transferida para o Hospital Geral do Grajaú, onde médicos realizaram outros exames e identificaram a presença de um tumor no cérebro de cinco centímetros.

Ela estava entubada, sedada e sem respostas neurológicas. Millena seria transferida para o Hospital das Clínicas na quarta-feira, 30, mas sofreu as paradas cardíacas durante a tentativa de transferência.

A família começou uma vaquinha na internet para ajudar no tratamento da menina. No início de sexta, no entanto, postou nos stories da conta de Millena do Instagram a frase "nossa menina se foi".

Millena fez parte do elenco da novela A Infância de Romeu e Julieta, do SBT, e trabalhou como figurante na série Sintonia, da Netflix. Além de trabalhar como atriz, ela também era influenciadora digital e modelo.