Livro 'A Menina dos Vaga-Lumes' resgata vida e obra de Ruth de Souza

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Foi assistindo às participações esporádicas da atriz Ruth de Souza em programas de TV ao longo dos anos que o jovem jornalista e escritor paulistano Ygor Kassab se viu interessado pela figura dessa atriz que, aos mais de 90 anos de idade, ainda despertava um efeito magnético no público.

"Meu encantamento veio do fato de ela sempre ter uma força humana e artística diante de uma realidade social tão conflitante", conta Kassab que, desde 2014, vinha se aprofundando na vida e na trajetória da atriz morta em 2019, aos 98 anos. Ele lança agora Ruth de Souza - A Menina dos Vaga-Lumes: 100 Anos de História, a primeira biografia póstuma da artista e o primeiro livro a traçar um panorama da influência da atriz no cenário cultural brasileiro, um tipo de análise que o próprio jornalista sentia falta.

"Falta uma bibliografia robusta acerca da história da dona Ruth", observa. "E essa falta tem vários fatores envolvidos. Primeiro, o racismo. A carreira dela sofreu impactos enormes devido à discriminação. Os papéis dados para dona Ruth, em sua maioria, eram pequenos e com poucas falas. Eram personagens servis ou marginalizados, como empregadas domésticas, lavradoras, damas de companhia e escravas. Esse estereótipo fez com que ela tivesse um 'reconhecimento público' menos badalado. E, claro, há a questão da falta de incentivo à educação e à cultura. O resgate cultural nunca foi algo muito lembrado nas políticas governamentais, haja visto o desprestígio de prédios históricos e teatros, além do descaso com a aposentadoria dos artistas."

Lançado pela Giostri Edições, Ruth de Souza - A Menina dos Vaga-Lumes busca mesclar as passagens da vida da atriz com depoimentos de colegas e avaliações críticas de nomes como Décio de Almeida Prado e Sábato Magaldi, jornalistas responsáveis por buscar o resgate e a valorização do trabalho teatral e cinematográfico da atriz.

Ao longo de cinco anos, Kassab conseguiu não apenas um levantamento farto de material, mas também depoimentos de figuras como Ignácio de Loyola Brandão, Amir Haddad, Léa Garcia, Zezé Motta, Haroldo Costa, Renata Sorrah, Karin Rodrigues, além de Nicette Bruno e da própria Ruth de Souza, que deu sua bênção para este projeto.

"O processo de pesquisa foi árduo, porque fiz muitas consultas e transcrições, e foi necessária uma minúcia muito grande para selecionar e encaixar no texto esses recortes. Mas é como bordar. É preciso ter muita desenvoltura e paciência para costurar as letras para o conjunto da obra ficar harmonioso", comenta o autor.

"Foram cinco anos até a publicação do livro. Os primeiros dois anos foram apenas de pesquisas e os outros uma mescla entre escrever e me manter pesquisando. Eu queria fazer um trabalho diferente, que pudesse trazer um panorama crítico sobre ela que ninguém conhecesse. Então, busquei trazer à luz documentos históricos que atestam e enaltecem o grande valor que ela ainda possui nas artes cênicas do Brasil, valor esse que ela não teve em vida, apesar das homenagens."

A saída pacífica de cena da artista, aos 98 anos, entretanto, deixou uma dívida social engasgada. Dívida essa que o autor busca sempre manter viva para que não se repita. "Faltou a ela receber um papel maior, que estivesse à altura de seu talento", ele diz. O jornalista, contudo, enxerga na sociedade uma possibilidade de, hoje, valorizar com mais propriedade as figuras negras atuantes na cultura. Esse é, na visão de Kassab, também o legado deixado por Ruth de Souza.

"É a resistência. Há uma frase que ela costumava dizer e eu acredito que traduz muito bem toda essa situação: 'Podem dizer que você não pode fazer algo, mas, se você quiser, irá fazer'. E, no Brasil, para fazer arte é preciso ter essa resistência de querer fazer", comenta.

Autor de dois livros de poesia, lançados em 2017 e 2019, Ygor Kassab encerra a biografia de Ruth de Souza com um poema inédito dedicado à atriz que lhe acendeu o desejo de abrir os caminhos para a pesquisa e o resgate histórico de figuras marginalizadas na história cultural brasileira. Em sua lista, consta ainda o desejo de biografar nomes como Haroldo Barbosa e Léa Garcia, além de duas figuras do período da monarquia brasileira: as imperatrizes Leopoldina e Teresa Cristina.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A série argentina O Eternauta acaba de chegar à Netflix e já tem conquistado os espectadores. Baseada na HQ homônima considerada uma das maiores obras da literatura argentina, ela tem uma história trágica por trás: seu criador, Héctor Oesterheld, foi morto pela ditadura na Argentina na década de 1970.

Nascido em Buenos Aires em 1919, Oesterheld é um dos principais nomes dos quadrinhos e da ficção cientifica na Argentina. Escreveu alguns romances e outras HQs, além de ter publicado em revistas de grande importância, mas O Eternauta é considerada a sua obra-prima.

A trama acompanha um grupo de sobreviventes de uma nevasca mortal que precisa lutar contra uma ameaça alienígena. Com Juan Salvo como protagonista, o quadrinho foi publicado entre 1957 e 1959 com ilustrações de Francisco Solano López, com uma versão mais politizada sendo lançada na década de 1970.

Oesterheld frequentemente dizia que o herói de O Eternauta era um "herói coletivo". No final dos anos 1960, ele também escreveu biografias em quadrinhos de Che Guevara e Evita Perón, importantes líderes de esquerda, em parceria com o cartunista Alberto Breccia.

Naquele período, o autor já era envolvido com os Montoneros, organização político-militar argentina de esquerda que tinha objetivo de resistir e derrubar a ditadura no país. As quatro filhas de Oesterheld, Estela, Diana, Beatriz e Marina, também estavam envolvidas com o grupo.

As Forças Armadas da Argentina, já vigiando a atividade de Oesterheld, começaram a fechar o cerco em sua família. A primeira desaparecida foi Beatriz, que tinha apenas 19 anos, em 1976. Meses depois, foi a vez de Diana, seguida de Marina, ambas grávidas na época. A última foi Estela, já no final de 1977.

Oesterheld desapareceu em abril daquele ano. Acredita-se que tenha sido fortemente torturado física e psicologicamente, sendo obrigado a ver fotos das filhas executadas, e que foi morto apenas em 1978. O seu corpo nunca foi encontrado. Das filhas, apenas Beatriz pôde ser velada.

A morte do autor e de seus familiares só foi reconhecida em 1985, com um julgamento histórico que resgatou a memória dos desaparecidos e revelou os horrores da ditadura na Argentina.

Não é surpresa que compositores como Wagner e Beethoven foram alguns dos favoritos de Hitler. No entanto, quando se escondeu no bunker no final da Segunda Guerra Mundial, o líder nazista levou consigo uma coleção de discos surpreendente, que inclui compositores e músicos russos, judeus e gays. Ele os ouviu até sua morte, em 30 de abril de 1945.

A descoberta foi publicada inicialmente na revista alemã Der Spiegel em 2007, quando Alexandra Besymenskaja, filha do general soviético Lew Besymenski, redescobriu o material. Seu pai fez parte da equipe responsável pela evacuação do bunker e, apaixonado por música, levou os discos consigo.

Mais tarde, a coleção foi estudada em detalhes por Fred Brouwers no livro Beethoven no Bunker. Entre as gravações, há Tchaikovski, que era russo e homossexual, Rachmaninov, e execuções do violinista polonês Bronislaw Huberman, de origem judaica e que se opôs ativamente ao nazismo.

Além disso, a seleção também continha gravações de jazz, operetas e outros estilos considerados "música degenerada" pelo 3º Reich. A maioria dos compositores, como Paul Abraham, foram perseguidos pelo nazismo.

Confira, abaixo, 5 composições que Hitler ouvia no bunker antes de morrer

- Adagio da "Sinfonia no. 7", de Anton Bruckner, com a Filarmônica de Berlim. Regida por Wilhelm Furtwängler, gravação de 1942.

- Sonata no. 24, em fá sustenido maior, op. 78, de Beethoven: Adagio cantabile - Allegro ma non troppo e Allegro vivace

- Concerto para Violino e Orquestra em ré maior opus 35, de Tchaikovsky, com Bronislaw Huberman (violino) e Orquestra da Ópera Estatal de Berlim

Regida por William Steinberg (1899-1978). Movimentos: Allegro moderato - Canzonetta.Andante - e Finale. Allegro vivacíssimo. Gravação de 28 de dezembro de 1928.

- Paul Abraham and his orchestra 1930: Good Night

E uma gravação moderna de um dos maiores sucessos de Abraham, "Bal in Savoy (Toujours l'amour)", com a soprano Angela Gheorghiu

O ator Robert de Niro, de 81 anos, fez uma declaração pública sobre sua relação com a filha Airyn, de 29, que recentemente se assumiu como uma mulher trans.

"Eu amava e apoiava Aaron como meu filho, e agora amo e apoio Airyn como minha filha. Não sei qual é o grande problema... Amo todos os meus filhos", disse ele em uma nota ao site Deadline na quarta, 30.

A declaração foi feita após a repercussão de uma entrevista de Airyn à revista Them, na qual ela falou sobre crescer sob os holofotes do vencedor do Oscar e o processo da transição de gênero.

Na ocasião, ela contou que decidiu iniciar o uso de hormônios em novembro de 2024 como parte do processo de transição. "Sempre fui muito feminina, mesmo antes de saber exatamente o que isso significava", disse.

Ela destacou que a transição também a aproximou de referências femininas negras que sempre admirou, como Laverne Cox, Marsha P. Johnson e Michaela Jaé Rodriguez. "A transição também me aproximou da minha negritude. Me sinto mais próxima dessas mulheres quando abraço essa nova identidade".

Airyn é filha de De Niro com a atriz e modelo Toukie Smith, de 72 anos. Embora nunca tenham se casado, eles mantiveram um relacionamento de quase dez anos entre as décadas de 1980 e 1990.