Colapso das correntes do Atlântico está mais próximo, diz estudo. Que desastres isso causaria?

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Um colapso das correntes oceânicas do Atlântico, que pode levar grandes partes da Europa a uma intensa onda de frio, parece um pouco mais provável e próximo do que antes, na medida em que uma nova simulação computacional identifica um ponto de inflexão "abrupto" se aproximando no futuro.

Um cenário há muito temido, desencadeado pelo derretimento da camada de gelo da Groenlândia por causa do aquecimento global, ainda está a algumas décadas de ocorrer. Esse intervalo, porém, é bem menos do que os séculos de distância que eram projetados para um fenômeno desse tipo, como mostra novo estudo publicado na revista Science Advances nesta sexta-feira, 9.

"Estamos nos aproximando (do colapso), mas não temos certeza de quão mais perto", disse o autor principal do estudo, Rene van Westen, um cientista climático e oceanógrafo da Universidade de Utrecht, na Holanda. "Estamos caminhando em direção a um ponto de inflexão."

A pesquisa, a primeira a usar simulações complexas e incluir múltiplos fatores, utiliza uma medição chave para rastrear a força da circulação oceânica geral vital, que está desacelerando.

Um colapso da corrente - chamada Circulação Meridional do Atlântico ou AMOC - mudaria o clima mundial. Isso porque significaria o desligamento de uma das principais forças do clima e do oceano. Isso reduziria as temperaturas no noroeste da Europa entre 5ºC a 15ºC ao longo das décadas e estenderia o gelo do Ártico muito mais ao sul.

Uma transformação desse tipo também aumentaria ainda mais o calor no Hemisfério Sul, mudaria os padrões de chuva globais e perturbaria a Amazônia, conforme a pesquisa. Outros cientistas afirmam que teria potencial de causar escassez de alimentos e água em todo o mundo.

A AMOC faz parte de um complexo sistema transportador global de correntes oceânicas que movem diferentes níveis de sal e água quente ao redor do globo, em diferentes profundidades e padrões, que ajudam a regular a temperatura da Terra, absorver dióxido de carbono e impulsionar o ciclo da água, conforma a agência espacial americana, a Nasa.

Quando a AMOC se desliga, há menos troca de calor em todo o mundo. Durante milhares de anos, os oceanos da Terra dependeram de um sistema de circulação que funciona como um cinto transportador. Ele ainda está em movimento, mas desacelerando.

O motor deste cinto transportador fica na costa da Groenlândia, onde, na medida em que mais gelo derrete por causa da mudança climática, mais água doce flui para o Atlântico Norte e desacelera tudo, disse van Westen. No sistema atual, água fria mais profunda e mais fresca segue para o sul, passando pelas Américas e depois para o leste, passando pela África.

Enquanto isso, a água do oceano mais quente e mais salgada, vinda dos oceanos Pacífico e Índico, passa pela ponta sul da África, vira e contorna a Flórida e continua subindo pela Costa Leste americana até a Groenlândia.

Sensores robóticos flutuantes

Nas últimas décadas, pesquisadores têm utilizado redes de sensores robóticos flutuantes para observar o oceano em tempo real. Na medida em que esses sensores derivam com as correntes e nadam pela coluna de água, coletam informações sobre a temperatura e a salinidade do oceano e as enviam para satélites, que então transmitem as informações para cientistas ao redor do mundo.

Essas observações revelaram um estranho ponto de resfriamento na extremidade sul da Groenlândia - um dos únicos lugares do planeta onde o oceano não está ficando mais quente. Isso sugere que o AMOC não está entregando tanta água quente para o Atlântico Norte e indica que o sistema está desacelerando.

Outros estudos combinaram observações diretas com simulações computacionais para concluir que o AMOC já enfraqueceu cerca de 15% desde a década de 1950.

No novo trabalho, os pesquisadores descobriram que a quantidade de água doce movimentada na porção mais meridional do Atlântico era um bom indicador da força do sistema de retroalimentação que alimenta o AMOC.

Quando essa métrica era positiva, significava que o sistema estava se reforçando. Mas quando a equipe examinou dados do mundo real, descobriu que sua medida de transporte de água doce era negativa.

"Este valor está ficando mais negativo sob a mudança climática", disse van Westen. Quando atinge certo ponto, não é uma parada gradual, mas algo "abrupto", alerta.

A equipe holandesa simulou 2,2 mil anos de seu fluxo, adicionando o que a mudança climática causada pelo homem faz a ele. Eles encontraram, após 1.750 anos, "colapso abrupto da AMOC", mas até agora não conseguem traduzir essa linha do tempo simulada para o futuro real da Terra.

Catástrofes à vista

Quando essa calamidade climática global - retratada, de forma grosseira, no filme O Dia Depois de Amanhã - pode acontecer é "a pergunta de US$ 1 milhão, que infelizmente não podemos responder no momento", afirmou van Westen.

Para ele, é provável que esteja a um século de distância, mas o pesquisador não descarta estar vivo para ver esse problema se instalar na Terra - van Westen acabou de completar 30 anos. "Isso também depende da taxa de mudança climática que estamos induzindo como humanidade", apontou.

Estudos mostraram que a AMOC está desacelerando, mas a questão é sobre um colapso ou desligamento completo. O IPCC, grupo de centenas de cientistas que fornece atualizações regulares sobre o aquecimento global para as Nações Unidas, diz ter confiança média de que não haverá um colapso antes de 2100. Mas isso não é um consenso na comunidade científica.

Stefan Rahmstorf, chefe de Análise de Sistemas Terrestres no Instituto Potsdam para Pesquisa de Clima na Alemanha, chama a pesquisa de "grande avanço na ciência da estabilidade" do sistema de correntes oceânicas do Atlântico.

"O estudo acrescenta significativamente à crescente preocupação sobre um colapso da AMOC no futuro não tão distante", observou ele, que não está envolvido no estudo.

O cientista climático da Universidade de Exeter, no Reino Unido, Tim Lenton, também se mostrou preocupado. Segundo ele, os efeitos seriam "tão abruptos e severos que seriam quase impossíveis de se adaptar em alguns locais".

Mas na opinião de Joel Hirschi, líder de divisão no Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, há preocupações mais urgentes do que essa.

"As temperaturas rapidamente crescentes que temos visto nos últimos anos, e os extremos de temperatura associados, são de maior preocupação imediata do que o desligamento da AMOC", disse Hirschi. "O aquecimento não é hipotético: já está acontecendo e impactando a sociedade agora." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA em www.estadao.com.br/link/estadao-define-politica-de-uso-de-ferramentas-de-inteligencia-artificial-por-seus-jornalistas-veja/.

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O aguardado show de Lady Gaga na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, teve início na noite deste sábado, 3. É possível assistir ao vivo pela Globo, na TV aberta, pelo canal pago Multishow e pelo streaming Globoplay. Previsto para começar às 21h45, o show contou com um atraso e a cantora apareceu em um vídeo no palco somente por volta de 22h10.

Todo mundo no Rio. Mesmo. Quando ainda faltavam 12 horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, as filas para ter acesso à Avenida Atlântica já davam voltas nos quarteirões internos do bairro. Por razões de segurança, era preciso passar por um dos 18 pontos de bloqueio para alcançar a orla, instalados desde cedo em ruas transversais aparelhados com detectores de metais e câmeras de reconhecimento facial.

Em experiências anteriores, como o show de Madonna, no ano passado, e o réveillon, as aglomerações só se formaram faltando poucas horas para o início do espetáculo. Mas com Gaga foi bem diferente. Já na manhã de sábado havia fila ocupando dois quarteirões. A temperatura em torno dos 25ºC ajudou. O céu estava claro, o sol brilhando, mas não havia muito calor.

Uma faixa da avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais vias do bairro, estava ocupada por fãs na altura do palco. O professor de educação física Humberto Machado, de 38 anos, que veio para o show com um grupo de amigos da Paraíba e do Rio Grande do Norte, contou que ficou na fila para acesso à orla por cerca de meia hora.

"A gente achou que seria rápido para entrar porque ainda era muito cedo", contou o professor. "Mas a fila era impressionante."

O professor e seus amigos levavam água e sanduíches em recipientes de plástico para aguentar por toda a tarde e noite. Recipientes de vidro, líquidos inflamáveis e objetos perfurocortantes estavam proibidos e estavam sendo confiscados nas barreiras.

O bairro, rapidamente apelidado de "Gagacabana", era uma grande festa desde cedo, sem registro de incidentes. Fãs totalmente montados, os "little monsters" (monstrinhos), não paravam de chegar a pé, de ônibus e, principalmente, de metrô, exibindo leques, chapéus e todo tipo de indumentária remetendo à artista, a "mother monster" (mãe monstra).

Em frente ao Copacabana Palace, onde a diva está hospedada, o movimento foi ininterrupto a madrugada inteira, sobretudo depois do ensaio aberto na noite de sábado, em que Gaga cantou mais de dez músicas para deleite de todos que estavam na orla, entre elas grandes sucessos como Abracadabra, Bad romance e Shallow, a mais baixada por fãs no Brasil nas plataformas de streaming.

Antes mesmo do fim da manhã longos trechos da praia já estavam ocupados por fãs marcando lugar na areia para assistir ao show da diva e vendedores ambulantes. E não só. As árvores do canteiro central da Atlântica e mesmo da calçada próxima aos prédios estavam sendo disputadas desde cedo pelos que queriam garantir um lugar 'vip' para assistir ao show.

A tatuadora Aisha Dutra, de 22 anos, e a estudante Lilian Magalhães, de 26 anos, estavam aboletadas em uma árvore desde cedo. Elas são do bairro de Santa Cruz, na zona oeste, mas alugaram um apartamento por temporada em Copacabana, especialmente para estarem perto do show. O plano da dupla era chegar à praia às 5h da manhã deste sábado. Mas como elas só foram dormir de madrugada, depois do fim do ensaio, acabaram chegando à orla às 8h.

"Ontem, durante o ensaio, a gente subiu numa árvore e viu que era a melhor opção, porque tinha gente dormindo na grade desde ontem e não tinha mais lugar perto do palco", explicou a tatuadora, devidamente instalada na árvore.

Na tarde de sexta-feira, 2, a Prefeitura informou que dados consolidados pela Rodoviária Novo Rio e pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) indicavam a chegada de mais 500 mil visitantes na cidade entre os dias 1º e 3 de maio, superando as expectativas iniciais de 240 mil pessoas. Desse total, 25% seriam turistas estrangeiros.

Há ainda turistas chegando com carros particulares, ônibus fretados e voos pousando no Aeroporto Santos Dumont. A média de ocupação da rede hoteleira é de 86% em toda a cidade, mas em Copacabana chega a 95%.

A Polícia Militar (PM) reforçou o esquema de segurança.

"A novidade para este show são os capacetes brancos, grupos de policiais especializados em patrulhamento de multidão", explicou a tenente-coronel Cláudia Moraes, porta-voz da PM. "Eles vão circular entre as pessoas, sobretudo nos pontos de maior concentração, para evitar furtos de oportunidade de passar uma sensação maior de segurança."

A prefeitura espera a presença de mais de 1,6 milhão de pessoas na praia de Copacabana, onde está montado o palco e as 16 torres com telões de nove metros de altura por cinco metros de largura, permitindo que todos acompanhem o show mesmo à distância. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e a Riotur, o evento deve injetar mais de R$ 600 milhões na economia da cidade.

"A cidade está muito cheia mesmo, tem muito turista", assegurou o motorista de uber Gustavo Monteiro, de 33 anos. "É bom para todo mundo. Por mim, tinha um show desse por mês."

Faltando cerca de duas horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, os pontos de revista montados nas vias transversais de acesso à Avenida Atlântica apresentavam filas de até uma hora de duração.

As maiores eram vistas no acesso da rua Duvivier, o mais próximo ao palco. A fila tinha uma extensão de mais de dois quarteirões. Nos pontos de entrada um pouco mais distantes, como o da Hilário de Gouveia, ainda era possível entrar na orla com apenas 20 minutos de espera.

O enfermeiro Vítor Souza, de 32 anos, que veio de Campos, no interior do Estado, especialmente para o show, contou que ficou por mais de 40 minutos numa fila e acabou desistindo.

Ele conseguiu chegar na praia por meio de uma outra entrada, bem mais distante do palco. "Foi bem mais complicado do que achei que ia ser", contou. "Mas finalmente eu consegui passar."

As filas nos 18 pontos de acesso montados nas ruas transversais à avenida Atlântica começaram a ser formar por volta das 9h da manhã deste sábado, 3. Policiais militares munidos de detectores de metal revistavam as pessoas uma a uma antes de darem acesso à orla. Vidros, explosivos e armas encontrados eram confiscados. Os pontos de acesso também contavam com câmeras de reconhecimento facial.

O perfil oficial do Metrô do Rio de Janeiro fez uma postagem anunciando que o "tempo de viagem está maior" "devido ao grande fluxo do desembarque de clientes na estação Cardeal Arcoverde/Copacabana para o show da Lady Gaga". A empresa recomenda o desembarque pela Siqueira Campos/Copacabana.

O maior show da vida de Lady Gaga

O show desta noite na praia de Copacabana promete ser o maior da carreira de Lady Gaga. A expectativa da Prefeitura é de que pelo menos 1,6 milhão de pessoas estarão reunidas na orla. Até hoje, a apresentação de Gaga com o maior público tinha sido em abril passado, no Festival Coachella, nos EUA, onde reuniu por volta de 100 mil pessoas.

O palco da apresentação desta noite tem nada menos que 1.260 m2, bem maior do que o montado para Madonna no ano passado, que tinha 821 m2. A megaestrutura tem 2,20 m de altura desde a base na areia. Um telão de LED de última geração ficará no fundo do palco.

Gaga vai apresentar um show em cinco atos, com direito a diversas trocas de roupa e um cenário que lembra o de uma peça de teatro - a cantora chama de "ópera gótica". A previsão é de que o espetáculo tenha 2h30 de duração, ao longo das quais Gaga vai contar a história de seu próprio "caos pessoal" ao lutar com sua própria persona, derrotar fantasmas e conseguir renascer.

Pabllo Vittar faz abertura

Uma surpresa para os fãs de Lady Gaga que aguardam o início do show da diva pop. A artista Pablo Vittar, que se apresentou com Madonna no ano passado, está abrindo o show desta noite como DJ.

"É muito louco, parece que estou tendo um deja-vu", afirmou Pablo em uma entrevista concedida à rede de TV CNN antes de subir ao palco, adiantando que pretendia tocar "muito tribal house, muito tech, muito remix e algumas músicas minhas". "Ano passado, com Madonna comemorando 40 anos de carreira, e agora nesse show histórico com a Gaga. Estou muito feliz."