'Criamos ensino integral, mas não adianta dar o ruim 2 vezes'

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Afinal, qual o grande gargalo do Brasil na educação? Falta de infraestrutura das escolas? Desigualdades regionais? A pobreza que afasta alunos dos livros para trabalhar? Para Guiomar Namo de Mello, doutora em Educação, integrante da Academia Paulista de Educação e referência do País em formação de professores, o problema é multifatorial e, por isso, requer soluções combinadas e foco na garantia da aprendizagem. Em 12 de março, Guiomar se reuniu em São Paulo com especialistas em educação e representantes do setor privado para discutir propostas para o Plano Nacional de Educação (PNE), que será revisto neste ano e renovado para mais uma década. Na opinião dela, o governo federal tem feito propostas que sinalizam caminhos interessantes, mas que, na prática, não deixam claro se há garantias de qualidade da oferta. Um exemplo é o ensino de tempo integral. "Criamos ensino integral porque tínhamos escola pela metade, mas dar o ruim duas vezes não adianta", diz.

Qual deve ser o foco para a educação nos próximos dez anos, período de escopo do PNE?

Pode parecer óbvio, mas o foco nos próximos dez anos deve ser aprendizagem das crianças - a aprendizagem que está prevista, seja na BNCC (Base Nacional Comum Curricular, documento do Ministério da Educação que define o que deve ser aprendido em cada idade), seja nas recomendações dos currículos estaduais, nos referenciais ou nos currículos municipais. Cada sistema de ensino no Brasil tem elementos que estabelecem o que é necessário que as crianças aprendam em cada ano, em cada etapa da escolaridade básica. Esses elementos são subsídios, uma plataforma que foi criada para beneficiar essas aprendizagens. O problema é que não adianta estabelecer qual é a aprendizagem, nem saber avaliar se essa aprendizagem está ou não acontecendo, se as crianças estão, de fato, aprendendo. O professor, aliás, deve estar no centro dessa política, junto ao diretor da escola. Um professor que trabalha em três turnos e ganha pouco não terá tempo para pensar quais as dificuldades e as necessidades de cada aluno, de cada turma. Já o diretor tem um papel fundamental de gestão. Precisa ter carisma, necessita de competência técnica e de treinamento em liderança.

Para além de valorizar o professor, o que é preciso mudar em sua formação para atingir esses objetivos de aprendizagem?

A formação é uma das coisas mais importantes - seja a inicial do professor, que é o ensino superior, seja depois disso, na formação continuada, quando ele ingressa na carreira. O ensino superior precisa encontrar formas de ter um projeto integrado e coeso em relação à formação de professores, para que não seja apenas um bacharelado e uma licenciatura dentro de uma área específica. Quando o professor deixa a faculdade, sai sabendo somente o conteúdo relacionado à área dele (como Biologia ou Química). Mas precisamos ter professores que possam transitar nas fronteiras das suas disciplinas e que possam estabelecer, sem dispensar o núcleo importante e "duro" do conteúdo, temas interdisciplinares que atendam às necessidades dos alunos. A segunda coisa importantíssima é que se estabeleça um mecanismo de avaliação dos cursos de ensino superior e formação de professores. Temos um processo de avaliação que está agora com o MEC, mas esse processo tem de ser revisto, porque entra em questões mais técnicas. A formação do professor precisa ter dimensão prática desde o início, e não só na hora de fazer o estágio. A terceira condição indispensável é que haja mecanismos para financiar este professor, não apenas pagando a sua educação, mas também dando a ele subsídio para que possa se manter enquanto estuda. As pessoas que se formam em pedagogia no Brasil estão entre os alunos mais pobres, os que fizeram os piores cursos de ensino médio e que tiraram as piores notas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Eles já têm uma formação básica muito prejudicada e ainda precisam trabalhar para se sustentar durante a graduação.

O que precisa ser aprimorado na primeira infância? Faltam investimentos?

Os dados de desenvolvimento humano na área da neurociência deixam clara a importância da educação infantil, desde os anos iniciais até o início do ensino fundamental. É um período crítico para o futuro do desenvolvimento. Então, nós precisamos resolver o nosso problema de alfabetização, de leitura e escrita formal, e, sem dúvida alguma, o investimento na primeira infância vai ser importante agora. Mas precisamos, antes de tudo, entender como usar esse investimento, que tipo de projeto pedagógico tem de ser feito - até mesmo para pensar como usar bem o dinheiro do investimento que já vem sendo feito. É preciso entender que, independente dos desafios que temos, eles não podem servir como justificativa para a não alfabetização. Nós precisamos aprender a alfabetizar crianças ainda que elas venham de meios sociais adversos, garantindo que, ao final de um percurso, terão seus direitos de aprendizagem plenamente satisfeitos. Esse é o desafio.

E no ensino fundamental?

Acho que temos os primeiros quatro ou cinco anos do ensino fundamental melhor resolvidos. O nosso problema tem sido essa faixa etária do 6.º ao 9.º ano, até o início do ensino médio, onde existe uma grande distorção idade-série (em decorrência das reprovações) e de abandono da escola. Essa é a fase da puberdade, do início da adolescência, uma fase com muitas características emocionais peculiares, onde começam a aparecer transtornos e problemas como o bullying - e também é a etapa que foi mais afetada pela pandemia, pela ausência de escola. Por outro lado, a neurociência mostra que, por volta dos 14 e 15 anos, começa a se abrir uma nova janela de oportunidade neurológica de capacidade de grande aprendizagem. É uma fase de constituição e consolidação do pensamento operatório. Mas o que está acontecendo, então? Provavelmente, uma grande desmotivação. Talvez tenha origem ainda na pandemia, mas eu não sei até quando a gente vai poder usar a pandemia como desculpa. É uma fase que precisa de um cuidado especial do coordenador pedagógico. É importante ter na escola um grupo de apoio ao professor, que ajude o professor a lidar com as situações, porque não é fácil enfrentar uma classe de 32 pré-adolescentes, né?

O ensino integral é uma boa ferramenta para alavancar a aprendizagem?

Isso é uma coisa e nós fizemos de um jeito tão complicado... No mundo inteiro, as escolas não são de tempo integral. Nós criamos o ensino integral porque tínhamos uma escola pela metade. Achamos que, colocando outra parte, juntando as duas, dava uma escola integral (no sentido de educação completa). Mas isso não é necessariamente verdade. Não vamos esquecer que se você dá duas vezes uma coisa ruim, não adianta nada. Quando você pensa em ampliar o tempo que a criança fica na escola, precisa pensar numa forma realmente integrada de permanência. E isso envolve um projeto pedagógico específico, uma gestão curricular e preparação de professores própria para essa escola em tempo integral. A gente funcionou bem por muito tempo com escolas em meio período, sobretudo em algumas áreas que, digamos, são mais bem situadas. Não é o tempo na escola que define a qualidade. Sempre que pensamos na escola em tempo integral, ela se torna também um lugar de permanência e de proteção da criança. Se ela vive em ambientes de risco, a escola tem mesmo este papel de cuidado e de proteção. Podemos até ter a escola integral, desde que a gente conte com um projeto pedagógico coerente que dê conta desta permanência em tempo integral. Um valor importante, independentemente de quanto tempo a criança vai ficar na escola, é que ela tenha uma formação que atenda tanto ao desenvolvimento intelectual e cognitivo quanto ao físico e o social, para que ela saiba lidar com situações e tenha, enfim, um caráter de resiliência e de autonomia. Esse é um objetivo de formação integral.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A cantora Nana Caymmi morreu nesta quinta-feira, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Ela estava internada há nove meses na Clínica São José, no Rio de Janeiro. A morte da cantora foi confirmada por seu irmão, o músico e compositor Danilo Caymmi, no início da noite.

Além dos problemas cardíacos que abalaram sua saúde em 2024, que obrigaram os médicos implantar um marcapasso para contornar uma arritmia cardíaca, Nana enfrentou um câncer de estômago em 2015.

Filha do compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu no Rio de Janeiro, com o nome de Dinahir Tostes Caymmi, o mesmo de uma tia, irmã do pai. Incentivada pelos pais, começou a estudar piano clássico ainda criança. Em 1960, entrou no estúdio com Caymmi para fazer sua primeira gravação, Acalanto, a canção de ninar feita para ela pelo pai. No mesmo ano, gravou um compacto simples com as músicas Adeus e Nossos Beijos.

Ao mesmo tempo que dava seus primeiros passos na carreira como cantora, Nana decide deixar o Brasil e se casar com o médico venezuelano Gilberto José Aponte Paoli, com quem teve seus três filhos, Stella, Denise e João Gilberto.

De volta ao País, separada, enfrenta o preconceito de Caymmi, que decide não falar mais com a filha. Nana é então socorrida pelo irmão, Dori, que faz a canção Saveiros para ela cantar no I Festival Internacional da Canção (TV Globo). Foi vaiada ao ser anunciada a vencedora da competição.

Casada agora com Gilberto Gil, apresenta-se no III Festival de Música Popular Brasileira na TV Record, em 1967, com a canção Bom Dia, assinada em parceria com Gil. Grava com o grupo Os Mutantes a canção Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, além de um álbum de carreira.

Em 1973, faz uma exitosa temporada em Buenos Aires, na Argentina, onde lança um disco pela gravadora Trova. No repertório, músicas de compositores que seriam presença constantes em seus discos, como Tom Jobim, João Donato, Chico Buarque, além de Caymmi. Nesse mesmo ano, Caymmi se reaproxima da filha, em um programa de televisão.

Ao longo dos anos 1970 e 1980, grava regularmente. Seus álbuns reuniam não somente um repertório sofisticado, mas também grandes músicos, como João Donato, Helio Delmiro, Toninho Horta, Novelli, além dos irmãos Dori e Danilo. Em 1980, participa da faixa Sentinela, no disco de Milton Nascimento. No início dos anos 1990, grava Bolero, disco inteiramente dedicado ao gênero.

Com o prestígio de uma das principais cantoras do País, Nana, embora tenha alcançado relativo sucesso com músicas como Mãos de Afeto, Beijo Partido, Contrato de Separação e De Volta ao Começo, além de ser voz presente em trilhas sonoras de novelas da TV Globo, não tinha, no entanto, a mesma popularidade de nomes como Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina.

Sucesso popular

O reconhecimento popular só chegou em 1998, quando o bolero Resposta ao Tempo, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhido para ser tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, de Glória Perez. A história da moça de uma família tradicional mineira que larga o noivo no altar e se torna uma das mais famosos prostitutas da zona boêmia de Belo Horizonte conquistou a audiência e ampliou o público de Nana.

Anos antes, Nana havia batido na trave. Sua gravação de Vem Morena havia sido escolhida para a abertura da novela Tieta, um dos maiores sucessos da TV Globo. Porém, dias antes da estreia da trama, em agosto de 1989, o então diretor geral da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, pediu uma música "mais animada". Ele mesmo fez a letra da canção gravada por Luiz Caldas. "Fiquei esperando minha música tocar e aparece o Luiz Caldas dizendo que a lua estava cheia de tesão", reclamou, tempos depois, Nana nos jornais.

Com a carreira em alta, arrisca e coloca em prática um antigo desejo: fazer uma segundo volume de um álbum dedicado apenas a boleros. Sangra de Mi Alma foi lançado em 2000, com clássicos do gênero como Amor de Mi Amores e Solamente Una Vez, essa última escolhida para trilha da novela Laços de Família.

Nos anos 2000, Nana se dedica a regravar as canções de Caymmi em álbuns temáticos. O Mar e o Tempo (2002), Para Caymmi: de Nana, Dori e Danilo (2004), Quem Inventou o Amor (2007) e Caymmi (2013) compreenderam boa parte da obra do compositor.

Seus últimos dois álbuns foram Nana Caymmi Canta Tito Madi, de 2019, sobre a obra do compositor pré-bossanovista, e Nana, Tom, Vinicius, de 2020, com canções de seus dois grandes amigos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Nana, porém, a essa altura, já estava afastada dos palcos. Sua última apresentação foi em 2015, em São Paulo. A cantora havia prometido voltar a cantar ao vivo se o empresário Danilo Santos de Miranda, seu grande amigo, diretor do Sesc São Paulo, se recuperasse de uma internação. Miranda morreu em outubro de 2023. O Selo Sesc, projeto criado por Miranda, guarda um registro inédito do show Resposta ao Tempo, gerado a partir de uma apresentação de Nana no Sesc Pompeia.

A última imagem conhecida de Nana é a que aparece no documentário Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, de Daniela Broitman. Nele, Nana dá um forte depoimento sobre o pai e canta, à capela, o samba canção Não Tem Solução, em um dos melhores momentos do filme.

Em agosto de 2024, o cantor Renato Brás lançou a faixa A Lua e Eu, sucesso de Cassiano, com a participação de Nana nos vocais. A voz de Nana foi capturada em sua casa, no Rio de Janeiro.

Em sua última entrevista ao Estadão, quando completou 80 anos, Nana manifestou o desejo de gravar as parcerias do irmão Dori com Nelson Motta. Também desejava cantar Milton Nascimento - um de seus grandes amigos - e Beto Guedes. "Se eu não gravei, são inéditas para mim", disse, reforçando uma insatisfação constante dos últimos anos, a de que não havia bons novos compositores para lhe fornecerem repertório.

Como uma metáfora da vida, Nana, também nessa entrevista, falou sobre seu sentimento ao gravar uma canção. "Ela acontece, assim como o amor. É como uma nascente, ela corre. Para quem consegue molhar o rosto nessa água límpida, como eu faço quando estou gravando, é um delírio", disse.

Por Laysa Zanetti

Caco Ciocler vai entrar para o elenco de Vale Tudo, interpretando um personagem inédito na trama. O ator será Esteban, um interesse amoroso de Celina (Malu Galli). A informação foi publicada pela coluna Play, do jornal O Globo, e confirmada por Caco em seu perfil no Instagram.

Na versão de 1988 da novela, a irmã de Odete não teve sua vida afetiva explorada e, portanto, o personagem Esteban não existiu. Ainda não se sabe qual será a sua história ou como vai conhecer Celina.

Na trama original, Celina era interpretada por Nathalia Timberg, e dedicava a maior parte do tempo aos sobrinhos e aos cuidados da mansão. Desta vez, a autora Manuela Dias pretende adicionar mais camadas à sua história e dar a ela mais autonomia.

"Celina é uma cinquentona que não se casou, criou os filhos da irmã e não trabalha", resumiu Galli ao jornal O Globo, explicando os novos traços da personagem. "A gente trouxe o interesse dela pelas artes plásticas, ela é uma incentivadora dos artistas. É mais ativa nesse sentido."

Longe das novelas desde a refilmagem de Pantanal, Caco vai começar a gravar suas cenas no folhetim neste sábado, 3. Recentemente, participou da minissérie Os Quatro da Candelária e do filme Meu Sangue Ferve por Você, cinebiografia de Sidney Magal.

Miguel Falabella foi afastado das apresentações desta semana do espetáculo Uma Coisa Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum, em São Paulo. O comunicado foi feito nas redes sociais da peça nesta quinta-feira, 1º, que explica que o ator passa por um problema de saúde.

Em seu perfil, Falabella detalhou a situação, e revelou que precisou se afastar porque está com uma hérnia de disco. "Estou com muita dor, não estou conseguindo andar direito e, por isso, infelizmente não estou fazendo Uma Coisa Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum. Como dizia minha mãe, doença é aluguel que a gente paga para usar o corpo", declarou.

A peça é uma adaptação brasileira do musical com letra e música de Stephen Sondheim, ambientado na Roma Antiga e inspirado nas comédias farsescas de Plauto. A história acompanha Pseudolus, personagem de Falabella que é um escravo determinado a conquistar sua liberdade. Para isso, ele promete ajudar seu jovem amo a conquistar a amada. Ivan Parente, Giovanna Zotti, Carlos Capeletti, Mauricio Xavier e Lucas Colombo também integram o elenco da peça.

Diante da ausência de Falabella, o protagonista será interpretado por Edgar Bustamante nas próximas sessões, desta quinta a domingo, 4.

Nos comentários das publicações, fãs e amigos desejam melhoras a Miguel. "Cuidaremos do nosso lourão mais que amado e ele já já estará de volta pro palco", comentou Danielle Winits. "Boa recuperação, chuvisquinho. Já já você está 100% e de volta aos palcos pra receber todo carinho e amor que você merece", desejou o também ator Daniel Rangel.

A peça Uma Coisa Aconteceu a Caminho do Fórum está em cartaz de quinta a domingo no Teatro Claro Mais SP, com apresentações às 20h (quinta e sexta), 16h e 20h (sábado) e 15h e 20h (domingo).