Aviões 'Frankenstein' do PCC: polícia apreende fuselagens em operação que mira a facção

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Uma operação da Polícia Civil de São Paulo apreendeu cinco aeronaves desmontadas no galpão de uma chácara, em Joanópolis, no interior de São Paulo, nesta quinta-feira, 3. A suspeita é de que as peças seriam usadas para a montagem de aviões conhecidos como 'Frankenstein' para serem usados pelo crime organizado para o transporte de drogas.

O galpão foi localizado durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão expedidos pela 2.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da capital em ação que investiga operações financeiras vinculadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

Conforme o delegado Marcos Galli Casseb, do 30.º Distrito Policial (Tatuapé), essas aeronaves remontadas costumam ser utilizadas para o transporte de drogas e outras atividades criminosas. "Temos hoje uma modalidade de transporte de objetos ilegais, como droga, dinheiro e ouro de origem de garimpos ilegais, em que eles utilizam aeronaves conhecidas como 'Frankenstein'. São aeronaves montadas com peças usadas, às quais é acrescentado um tanque suplementar para aumentar a autonomia e voar abaixo dos radares dos aeroportos", disse ao Estadão.

Segundo o policial, os aviões são montados com peças compradas em desmanches ou arrematadas em leilões, a exemplo dos carros conhecidos como 'cabritos'. "Chamamos a prática de voo de galinha, que é um voo único. Eles carregam a cocaína, fazem o transporte e, chegando lá, queimam a aeronave para não permitir a identificação", explicou.

Como o dono do galpão em Joanópolis onde as partes de aviões foram apreendidas não teve o nome divulgado pela polícia, devido ao sigilo na investigação, a reportagem ficou impossibilitada de fazer contato com a sua defesa. No depoimento, conforme informação do delegado, ele negou qualquer envolvimento com o crime organizado e disse que as compras dos aviões desmontados foram declaradas à Receita Federal.

Começo no Tatuapé

A operação realizada na chácara de Joanópolis teve início a partir de uma investigação sobre a atuação do crime organizado e lavagem de dinheiro na compra e venda de carros de luxo e apartamentos caros no bairro Tatuapé, na zona leste da capital. "No decorrer de um dos inquéritos, identificamos que havia uma empresa de fachada cujo proprietário era um pedreiro e a empresa dele tinha um avião de R$ 5 milhões, um bimotor que apreendemos em agosto deste ano", disse.

Como noticiou o Estadão, no dia 7 de agosto, agentes do 30.º DP apreenderam o avião Bandeirante Embraer EMB-110 que pertenceria a uma frota comprada por traficantes ligados ao PCC. A aeronave, avaliada em R$ 5 milhões, estava registrada em nome de um piloto vinculado a um narcotraficante que transportava cocaína para cartéis mexicanos e foi alvo da Operação Terra Fértil, desencadeada pela PF em junho.

Segundo o delegado, a investigação da Polícia Civil tem conexão com a da PF. "Estávamos atrás de três aviões, mas só achamos esse de Campo de Marte. Havia suspeita de que um avião estivesse em um hangar de Bragança Paulista e cumprimos um mandado de busca lá. Não achamos o avião, mas apreendemos documentos e vimos que o proprietário era dono desse sítio em Joanópolis, onde fizemos a apreensão das peças e fuselagens. Agora vamos investigar a origem e o destino delas", disse o delegado.

Ouvido no 30.º DP, o empresário negou qualquer envolvimento com o crime organizado. Ele declarou ter importado as aeronaves parcialmente desmanchadas dos Estados Unidos e que ele desmontava para vender as peças. "Causa estranheza porque sabemos que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) é altamente rigorosa na reposição de peças em aeronaves. Ele ficou de apresentar a documentação sobre essa importação e estamos aguardando."

Não há pistas de pouso próximas do galpão e as peças chegaram por via terrestre, segundo o delegado. O nome do empresário não foi divulgado, já que o inquérito policial tramita sob sigilo por envolver transações financeiras. Ainda segundo o policial, tanto o dono da empresa 'laranja' como o dono da aeronave residem no Tatuapé.

A investigação já apurou que um avião teria decolado do aeroporto de Bragança Paulista e pousado em Honduras, na América Central, tendo sido incendiado em seguida.

A suspeita é de que a aeronave levou uma carga de cocaína. Conforme o policial, Honduras é um ponto de troca de aeronaves que voam com drogas para o México. "O dono do sítio confirmou que algumas das aeronaves que ele comercializou caíram com drogas, mas ele alega que elas foram vendidas em transações legais. Vamos ter de apurar isso também", disse.

Os partes desmontados apreendidos em Joanópolis são norte-americanos, já que têm prefixo com a letra "N" no início. O que a investigação vai apurar é qual seria o destino dos aviões.

"Ele entra com as aeronaves compradas em leilão nos Estados Unidos, o que pode até ser legal, mas queremos saber para onde vão esses aviões. Ainda estamos esperando a documentação das compras. As investigações vão prosseguir."

O delegado disse que, assim que receber os laudos da perícia, vai informar a Anac sobre a investigação. "Preciso saber se a eventual utilização dessas peças teria a aprovação da Anac. Vamos encaminhar os laudos da perícia nas peças, que ainda não foram entregues, e pedir o concurso da Anac", disse.

A Anac informou em nota que não foi envolvida na operação em questão, sendo que a participação da agência nesses eventos ocorre quando há pedido da autoridade policial. "Cabe ainda esclarecer que a Anac sempre colabora com seu conhecimento técnico quando solicitada pela polícia", disse.

Em pedaços

Frankenstein é o termo tirado do nome de um personagem do livro da escritora Mary Shelley que conta a história de um estudante de ciências naturais, Victor Frankenstein, que utiliza partes de corpos de pessoas mortas para criar um monstro. O nome é utilizado nos meios policiais para designar aviões montados com partes de outras aeronaves pelo narcotráfico.

Conforme noticiou o Estadão, no dia 2 de julho último, a PF deflagrou a Operação Terra Fértil mirando uma quadrilha suspeita de enviar cocaína para países da América Latina, abastecendo especialmente os cartéis mexicanos. Segundo a PF, o grupo era chefiado por um narcotraficante internacional e alguns membros são ligados ao PCC. A investigação apontou que a organização criminosa teria movimentado mais de R$ 5 bilhões em cinco anos.

Sobre a Operação Terra Fértil, a PF informou que as investigações ainda estão em andamento.

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Em celebração que reunirá nomes marcantes da televisão brasileira, a TV Globo apresenta nesta segunda o Show 60 Anos - um pacote que inclui música, jornalismo e esporte. A exibição ocorre logo após o capítulo de Vale Tudo.

O evento mistura apresentações musicais com cenas de dramaturgia, gravadas nos Estúdios Globo. A proposta é trazer ao público uma viagem por personagens e histórias que marcaram a vida do canal.

Entre os artistas confirmados estão Roberto Carlos, Gilberto Gil, Sandy & Junior, Ivete Sangalo, Chitãozinho & Xororó, Angélica, Xuxa, Fafá de Belém, Lulu Santos, Daniel, Péricles e Zeca Pagodinho. Eles dividem o palco com outros nomes em colaborações especiais, interpretando canções que ficaram na memória afetiva dos brasileiros.

Também participam da festa IZA, Ana Castela, Simone Mendes, Maiara & Maraisa, Zezé Di Camargo & Luciano, Joelma, João Gomes, Lauana Prado, MC Cabelinho, Negra Li, Rosana, As Frenéticas, Alexandre Pires, Roupa Nova e Paulinho da Viola, entre outros.

O programa inclui a participação de jornalistas, atletas e atores em números especiais. A cenografia foi criada em parceria com o britânico Nathan Paul Taylor. Serão mais de 2 mil m² de cenário, com 550 m² de painéis de LED e 14 câmeras de cinema. O Show 60 anos tem direção artística de Antonia Prado e direção de gênero de Monica Almeida. A direção-geral também conta com Dennis Carvalho, João Monteiro, Henrique Sauer, Gian Carlos Bellotti, Renan de Andrade e Marcelo Amiky.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Além de O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, outro filme com envolvimento de brasileiros fará sua estreia mundial na 78ª edição do Festival de Cannes, em maio: 'O Riso e a Faca', fruto de uma parceria entre Portugal, Brasil, Romênia e França, foi selecionado para integrar a mostra Un Certain Regard, um dos destaques da programação do evento.

Dirigido pelo português Pedro Pinho, o longa-metragem tem mais de 31 nomes brasileiros na equipe, como a produtora Tatiana Leite (que comanda a Bubbles Project) e o diretor de fotografia Ivo Lopes Araújo. O título do longa faz referência à música homônima do músico baiano Tom Zé.

Gravada na Guiné-Bissau e no deserto da Mauritânia, a trama conta a história de Sérgio, um engenheiro ambiental português que viaja para uma metrópole africana onde tocará um projeto rodoviário entre o deserto e a selva. Por lá, ele desenvolverá um relacionamento íntimo com dois moradores da cidade, Diára e Gui. O ator brasileiro Jonathan Guilherme, ex-atleta de vôlei, interpreta Gui. Ele divide a cena com o português Sérgio Coragem e a cabo-verdiana Cleo Diára.

PALMA DE OURO

Já o diretor Kleber Mendonça Filho disputará a Palma de Ouro, principal prêmio do evento, com O Agente Secreto. O filme, um thriller ambientado no Brasil de 1977, traz Wagner Moura no papel de um especialista em tecnologia que, durante a ditadura militar, foge de um passado misterioso e volta ao Recife em busca de paz. Ele logo percebe que a cidade está longe de ser o refúgio que procura.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Burguesia francesa, espionagem e confeitaria, tudo junto e misturado. Em poucas palavras, é difícil definir Carême - O Rebelde da Culinária, a mais nova produção da AppleTV+, mas esses três termos dão pro gasto. O chef dos reis, ou o rei dos chefs, Antonin Carême (Benjamin Voisin) ficou conhecido por seus doces mirabolantes e complexos em plena era napoleônica.

De origem humilde, foi abandonado pelos pais em Paris e seguiu a vida sempre dentro da cozinha, até conhecer Bailly (Vincent Schmitt), confeiteiro, mentor e a única figura paterna que o protagonista conheceu. A série, de oito capítulos, começa com o convite para que o jovem cozinheiro integre o time de chefs de Napoleão Bonaparte. Relutante, Carême aceita, pressionado por Charles-Maurice de Talleyrand (Jérémie Renier), um político e estrategista que pede para o cozinheiro obter informações sobre os próximos passos do imperador. Em troca, Talleyrand promete salvar o pai adotivo de Carême da prisão.

A partir do dia 30 de abril, o espectador pode se envolver com a produção baseada no livro Cooking for Kings: The Life of Antonin Carême, the First Celebrity Chef, (Cozinhando para Reis: A Vida de Antonin Carême, o Primeiro Chef-Celebridade, em tradução livre) de Ian Kelly, também criador da série. Para a produção da AppleTV+, Kelly teve a parceria de Davide Serino e direção de Martin Bourboulon, Laïla Marrakchi e Matias Boucard.

MULTIFACETADO

Carême ganha destaque na telinha como um jovem ambicioso, conquistador e extremamente talentoso na cozinha. Além de tudo que cabia ao verdadeiro Carême, na produção, a faceta "espião" também foi explorada. Não há comprovação histórica, mas consta que o chef ficou de fato conhecido por cozinhar para figuras importantes de sua época, incluindo Talleyrand e Napoleão.

Dos tantos "Carêmes" para equilibrar em um único indivíduo, Benjamin Voisin destaca que "embora muito confiante, extrovertido e arrogante, também buscou mostrar sua vulnerabilidade e desenvolvimento enquanto passava da adolescência para um momento mais adulto, em oito episódios".

O diretor Martin Bourboulon também percebe essa complexidade do protagonista. Sobre Carême, ele conta que tentou trazer uma visão de chef talentoso para a personagem, mas também mostrar sensualidade e atitude. "De certo modo, ele tinha um jeito bem rebelde, mas, em seu trabalho, ele era sério - mas também jovem e louco." Foi preciso mesclar tudo isso quando o diretor se viu diante de um indivíduo que parecia ser muitas pessoas em uma só.

Além disso, já no início do projeto, Bourboulon ficou empolgado ao ver que todos os temas funcionavam bem juntos: comida, sexo e política. "Fiquei animado ao descobrir, ou redescobrir, um chef francês tão famoso como Carême, mas sobre o qual parte do público nunca tinha ouvido falar." Seja para tratar algum tipo de doença com ervas medicinais, ou evitar uma crise política com cupcakes, a verdade é que, quando o assunto é comida, o protagonista nunca está para brincadeira. Por isso, o "péssimo cozinheiro", como o próprio Voisin se intitula, teve de aprender a ser um grande chef para interpretar Carême.

Tanto Benjamin, quanto a já amante da cozinha Alice Da Luz, que interpreta Agathe, cozinheira da equipe de Napoleão, receberam orientações de um chef francês e tomaram aulas na famosa escola Ferrandi de gastronomia, em Paris.

O processo foi tão profundo que, durante as aulas, os atores fingiam ser os próprios personagens. "Éramos verdadeiros estudantes, com aulas de culinária e hospitalidade. Até usamos os nomes de nossos personagens para nos comunicar", conta Alice. "Ali aprendemos postura, gestos, nomes de comidas, ingredientes e como criar uma personalidade na cozinha", acrescenta.

Segundo Benjamin, o trabalho com o chef foi essencial para que as técnicas viessem automaticamente, durante as filmagens. "Tudo foi trabalhado para que o público assistindo à série realmente quisesse experimentar aquela comida."

O diretor Martin Bourboulon destaca que foi preciso trabalhar muito bem os conceitos de comida e cozinha na fotografia da série. "A culinária é importante para toda a vida de Carême, para seu pai, seu trabalho, Talleyrand e também para determinados enredos da série. Em certo momento do segundo episódio, por exemplo, a comida se torna um fator decisivo. Ela passa a ser uma ferramenta fundamental para assuntos diplomáticos."

Até as personagens que não estão ligadas diretamente à culinária são incluídas nesse tema. Ao interpretar Charles-Maurice de Talleyrand, Jérémie Renier compreendeu que o estrategista se utilizou da comida e das habilidades de Carême para conquistar seus objetivos e ambições. "A grande pergunta do livro de Ian Kelly é o que aconteceria se, de repente, Carême tivesse um lugar à mesa graças a seu ofício e como ele teria impacto em relações diplomáticas."

EMPODERAMENTO

Em Carême - O Rebelde da Culinária, a comida e o poder andam lado a lado e, por vezes, se misturam. Talleyrand vê as habilidades culinárias do protagonista como uma forma de entrar no palácio de Napoleão e obter informações. Carême vê uma forma de salvar seu pai e ainda subir na vida. Para Agathe, no entanto, o poder da comida é algo ainda mais profundo.

No primeiro episódio, assim que Carême começa a trabalhar na cozinha do palácio de Napoleão, ele conhece a personagem, que logo o instiga: "Você deve estar se perguntando o que uma mulher está fazendo aqui, não é?". Ela é a única mulher em posição de poder naquele espaço.

"Eu quis trazer uma força de caráter para Agathe, que foi uma chef que realmente existiu e que trabalhou em cozinhas francesas famosas. Eu quis colocar Agathe como alguém que estava no front e não nas sombras, mostrando sensibilidade na cozinha, mas também sua força e dedicação", conta Alice Da Luz.

DESAFIOS

Filmar comida e pessoas cozinhando é desafiador, e o diretor conta que um dos segredos estava em equilibrar planos fechados e abertos. A trama de Carême prende do início ao fim e vale a pena observar como as muitas camadas do protagonista e do enredo se desdobram a cada episódio. Como em uma receita, todos os ingredientes harmonizam perfeitamente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.