Rivais medem força na Pensilvânia no último dia de campanha

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Os dois candidatos à presidência dos EUA priorizaram o Estado da Pensilvânia nesta segunda-feira, 4, no último dia de campanha, onde as pesquisas do The Washington Post apontam Kamala Harris na frente de Donald Trump. O Estado-pêndulo, que em 2016 deu vitória ao republicano e na eleição seguinte escolheu o democrata Joe Biden, concede ao vencedor 19 votos no colégio eleitoral, o que o torna decisivo no caminho à Casa Branca.

 

Trump apelou para a família. Em Reding, cidade com cerca de 100 mil habitantes, o republicano chamou seus filhos, Eric, Don Jr. e Tiffany, para subirem ao palco. Ele também repetiu o bordão de seu programa de maior sucesso na TV, The Apprentice (O Aprendiz), ao pedir votos. "Amanhã (terça, 5), você tem de dizer a Kamala: 'Chega!", ele disse. "Você está demitida!"

 

Trump começou o dia em Raleigh, na Carolina do Norte, e fez duas paradas na Pensilvânia, em Reading e Pittsburgh, e encerraria a campanha em Grand Rapids, em Michigan.

 

Já Kamala fez quatro comícios na Pensilvânia. "A América está pronta para um novo caminho, onde vemos nossos compatriotas americanos não como inimigos, mas como vizinhos", disse. À noite, ela terminaria sua campanha na Filadélfia, maior cidade do Estado, com 1,5 milhão de habitantes, em um comício estrelado, com a presença de Lady Gaga, Oprah Winfrey e Ricky Martin.

 

Kamala Harris

 

A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, se tornou em agosto a candidata do Partido Democrata à presidência. A oficialização de sua candidatura aconteceu após meses de campanha para a reeleição do presidente, Joe Biden, que desistiu da candidatura depois de fazer um péssimo debate contra o ex-presidente e candidato republicano Donald Trump. Tim Walz é o companheiro de Kamala e concorre ao cargo de vice-presidente.

 

Kamala, de 60 anos, estava pronta até julho para concorrer mais uma vez à vice-presidência na chapa de Biden, mas o desempenho questionável do atual presidente durante a campanha se refletiu nas pesquisas e mudou o cenário.

 

Com o tempo curto para a escolha de um novo candidato por meio das primárias, como é costume nos EUA, a vice-presidente conseguiu unir o Partido Democrata em torno de sua candidatura. Ela recebeu o apoio de Biden, imediatamente após ele anunciar a desistência, evitando o desgaste de um processo mais longo.

 

A união em torno de Kamala fez com que a sua campanha arrecadasse cifras milionárias que podem fazer a diferença na eleição, sobretudo nos Estados-pêndulo, que alternam entre eleger republicanos e democratas, diferentemente da maioria dos Estados americanos.

 

Kamala foi procuradora-geral da Califórnia, senadora e a primeira vice-presidente mulher e negra da história dos EUA. Como candidata à presidência, tenta se tornar a primeira mulher a ocupar a Casa Branca.

 

Filha de imigrantes da Jamaica e da Índia, é pioneira desde o início de sua carreira política. Foi a primeira mulher a exercer o cargo de chefe da promotoria de São Francisco, entre 2004 e 2010. Em seguida, a primeira procuradora-geral da Califórnia, cargo que ocupou até 2017. Além de ser a primeira mulher, também foi a primeira negra a comandar o Judiciário do Estado americano mais populoso.

 

A primeira vitória de Kamala Harris como candidata aconteceu em 2003, quando ela derrotou o procurador-geral da Califórnia, que havia sido seu chefe.

 

Argumentação

 

O primeiro mandato no Senado, que começou em 2017, no governo de Donald Trump, foi definido por desempenhos tão contundentes em comissões que membros do governo republicano reclamaram de sua velocidade de argumentação. "Não consigo ser tão rápido", afirmou certa vez Jeff Sessions, então secretário de Justiça dos EUA. "Isso me deixa nervoso."

 

O pioneirismo de Kamala expõe a disposição da democrata em abrir caminhos. "Não havia nada traçado para ela. Kamala teve de encontrar seu caminho através de um conjunto de obstáculos que a maioria das pessoas nas posições que ela ocupou nunca tiveram de lidar", declarou o senador democrata Cory Booker, que conhece Kamala há mais de duas décadas.

 

A vice-presidente participou das primárias democratas em 2020, mas deixou a disputa por falta de apoio. Apesar da saída antecipada da corrida eleitoral, os aliados mantiveram a crença inabalável em sua capacidade de liderar o partido no futuro.

 

Aqueles que a conhecem dizem que Kamala pode ser difícil de lidar, em parte porque ela é diferente de qualquer figura política anterior. Às vezes, a democrata pode projetar um ar de indiferença, falar sobre culinária e hip-hop dos anos 90. E, frequentemente, adota um silêncio tão profundo que até seus assessores, em 2020, tiveram dificuldades em identificar suas posições em questões importantes para aquela campanha.

 

Cansada de ser pressionada a explicar suas experiências pessoais, ela se irritava com o tratamento midiático, de doadores e estrategistas políticos. "Estou realmente cansada de ter de explicar minhas experiências com racismo para que as pessoas entendam que ele existe", disse Kamala, em uma entrevista em junho.

 

Ativismo

 

Para Kamala, o ativismo político é um direito de nascença. Seus avós maternos lutaram pela independência indiana do domínio britânico e realizaram um trabalho informativo para mulheres rurais sobre contracepção. Seus pais protestaram pelos direitos civis e de voto como estudantes de doutorado na Universidade da Califórnia.

 

Como vice-presidente, Kamala assumiu a dianteira em discussões importantes relacionadas a aborto, direito ao voto e fronteira. Após a Suprema Corte americana anular o precedente histórico de Roe vs Wade que garantiu o direito ao aborto para todas as mulheres até 2022, ela se tornou a principal liderança do governo Biden sobre o assunto e pressionou o Congresso para que aprovasse uma lei que garantisse esses direitos.

 

A vice-presidente também se envolveu ativamente com questões relacionadas à fronteira. Trump tenta colar a imagem de Kamala com a avaliação ruim da política democrata em relação ao tema. Em resposta, ela diz que apoiou um projeto de lei bipartidário que poderia ter reforçado a segurança na fronteira, mas a lei não foi aprovada em razão da oposição de Trump, que não queria que Biden ganhasse capital político.

 

Donald Trump

 

Ninguém sabe mais do sistema americano que ele e só ele pode resolver. Foi assim que Donald Trump se descreveu no discurso na Convenção Nacional Republicana, em 2016, com a promessa de construir um muro na fronteira com o México e o slogan "Make America Great Again" (Fazer os EUA Grandes de Novo, em tradução literal).

 

Quatro anos depois, prometeu restaurar os EUA por meio "da lei e da ordem", em um momento de pandemia e manifestações antirracistas por causa da morte de George Floyd. Ao perder, instigou seus apoiadores a invadir o Capitólio com a mentira de que os democratas haviam roubado a eleição.

 

Em sua terceira campanha, apenas a intensidade do discurso mudou. Não se fala mais em muro, mas em deportação em massa de milhões de imigrantes ilegais, com o uso de militares. "Eles (os imigrantes) estão envenenando o sangue de nosso país", afirmou, em um comício, em dezembro de 2023.

 

Trump redefiniu o Partido Republicano, os temas mais debatidos nos EUA e o equilíbrio de poder no mundo. Antes, era apenas conhecido em programas de TV, tabloides e aparições em filmes. Por anos, construiu uma imagem de ostentação e sucesso, mesmo estando no centro de casos de fraude e já ter declarado falência em seis ocasiões.

 

O ex-presidente também é réu em diversos processos criminais, que inclui conspiração contra o Estado pelo incentivo ao ataque ao Capitólio. Ainda assim, é a voz mais influente em seu partido.

 

O que fará se ganhar e o que fará se perder - temor de muitos americanos desde 6 de janeiro de 2021, data da invasão ao Capitólio - são questões recorrentes.

 

Mandato

 

Em 2016, após ter ensaiado outras duas vezes, Trump disse que seria candidato à presidência. Anunciou o plano num discurso contra imigrantes e muçulmanos, colocando-se como um outsider que combateria a elite política e alguém capaz de levar os EUA para os "melhores tempos do passado". A ideia de um declínio na sociedade americana estava no ar e ele catapultou o slogan "Make America Great Again", depois transformado em movimento.

 

A princípio, o candidato parecia uma piada, mas suas declarações atraiam uma cobertura cada vez maior da imprensa. Aos poucos, as ideias se tornaram temas de debate em grandes emissoras e se espalharam. Nas primárias republicanas, o magnata superou nomes como Ted Cruz, Lindsay Graham e Jeb Bush, mais tradicionais no partido.

 

Uma vez escolhido para a vaga de candidato republicano, ele enfrentou a democrata Hillary Clinton, uma veterana na política. Embora ela tenha conquistado 2,9 milhões de votos a mais, Trump ganhou no colégio eleitoral. Foram 306 votos a 277, contrariando o que diziam as pesquisas em Estados como Michigan, Pensilvânia e Wisconsin.

 

No início do mandato, Trump revogou medidas do governo Obama, muitas referentes ao meio ambiente, e retirou os EUA de acordos internacionais importantes, como os Acordos de Paris e o Acordo Nuclear do Irã.

 

Pandemia

 

O governo Trump encararia o primeiro ano da pandemia da covid-19 no sentido contrário de todas as normas de segurança sanitárias: foi contra máscaras, testes, lockdown e a favor do uso da cloroquina, contrariando a opinião médica. O republicano chegou a sugerir injeção de desinfetante nos infectados.

 

Com as críticas pela atuação na crise e um cenário dramático nos EUA, que liderava no número de casos e mortes, muitos que votaram em Trump, em 2016, mudaram o voto para Joe Biden, em 2020, e o democrata vencedor.

 

O republicano, no entanto, não aceitou o resultado e começou uma campanha de difamação. A teoria de que a eleição foi roubada se espalhou e resultou na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

 

Trump motivou apoiadores a impedirem que Biden assumisse o cargo. Pelo menos 2 mil correligionários do ex-presidente invadiram o Capitólio. O resultado foram 140 policiais feridos e 5 pessoas mortas. Invasores foram acusados por crimes de depredação e violência contra policiais. Muitos foram presos após investigações federais. Até hoje, Trump afirma que a invasão foi um "ato patriótico" e diz que, caso eleito, libertará os apoiadores presos.

 

Fora da Casa Branca, o ex-presidente não desapareceu. O "cidadão Trump" esteve na mira de investigações e processos criminais, sendo o primeiro ex-presidente a ser acusado formalmente de crimes, por interferência eleitoral na Geórgia, manuseio inadequado de documentos secretos, fraude financeira e invasão ao Capitólio.

 

Ele foi julgado culpado no caso civil da jornalista E. Jean Carroll por abuso sexual e difamação e também no caso de fraude envolvendo a atriz pornô Stormy Daniels. Os outros casos devem ser julgados após as eleições, mas apenas se ele não se tornar presidente de novo.

 

Durante a campanha, Trump radicalizou ainda mais ao dizer que planeja deportar milhões de imigrantes e fechar emissoras que contrariem suas ideias. Em uma entrevista, declarou que gostaria de ser um ditador. "Por um dia, apenas." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para manter a prisão preventiva do coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Jair Bolsonaro, por suspeitas de tentativa de interferência no acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid.

Gonet se manifestou contra um recurso da defesa de Câmara solicitando sua liberdade. O ex-assessor foi preso no mês passado depois que o seu próprio advogado, Eduardo Kuntz, apresentou ao STF uma petição na qual relatou ter mantido conversas com Mauro Cid para tentar obter informações da delação premiada.

Procurado na manhã deste domingo (27), Kuntz não respondeu aos contatos. O espaço está aberto para manifestação.

Nos diálogos apresentados por Kuntz, mantidos com um perfil de Instagram que o advogado atribuiu a Mauro Cid, ele pediu ao tenente-coronel que deixasse Marcelo Câmara de fora dos seus depoimentos e também sugeriu a ele que trocasse de advogado e lhe contratasse.

"As capturas de tela anexadas por Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz incluem mensagens enviadas pelo procurador ao suposto perfil de Mauro César Barbosa Cid, como: 'Poxa...pede para ele falar sobre o Câmara…vc sabe que ele não fez nada de errado' e 'Aquela história da Professora… o Câmara falou que se você disser que Professora é a Madre Tereza, ele passou a informação errada (…)'", escreveu Gonet.

Para o procurador-geral, "os trechos insinuam que Marcelo Costa Câmara não apenas conhecia a conversa conduzida por seu advogado, mas dela se beneficiou ao utilizá-la como argumento defensivo".

Gonet argumenta que esses elementos de prova indicam a existência de riscos concretos ao andamento do processo e à aplicação da lei penal, o que justifica a manutenção da prisão de Marcelo Câmara. A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar esses fatos.

"A pretensão do agravante de adquirir dados afetos a acordo de colaboração premiada então protegidos por sigilo evidenciam o concreto risco à conveniência da instrução criminal e à aplicação da lei penal", afirmou o procurador-geral da República.

O coronel já havia ficado preso entre janeiro e maio do ano passado depois que a Polícia Federal detectou que ele realizou ações de monitoramento dos passos do ministro Alexandre de Moraes. Câmara foi solto com a imposição de medidas cautelares, mas o ministro decretou a nova prisão após os fatos revelados por sua própria defesa.

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirmou neste sábado, 26, que vive como "exilada política" na Itália e agradeceu ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) por ter pedido às autoridades do país europeu que a recebessem. Condenada por invadir o sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ela deixou o País antes que a sentença pudesse ser cumprida.

"Eu queria dizer que hoje acordei com uma notícia muito boa, que é um vídeo do Flávio Bolsonaro falando por mim, pedindo por mim para a Giorgia Meloni [primeira-ministra da Itália], para o Matteo Salvini, que é o vice-primeiro-ministro daqui, pedindo para que me recebessem porque sou uma exilada política, sou uma perseguida política no Brasil", declarou Zambelli em vídeo publicado em seu perfil reserva no Instagram.

Os perfis oficiais da deputada, de sua mãe - Rita Zambelli -, e de seu filho foram retirados do ar após decisão judicial do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A nova conta já acumula mais de 11 mil seguidores e 40 publicações; a primeira postagem foi feita em 13 de junho.

Carla Zambelli está na Itália há quase dois meses, na tentativa de evitar o cumprimento de sua pena no Brasil. A parlamentar foi condenada a 10 anos de prisão e perda do mandato, acusada de ser mentora intelectual da invasão do sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

"Em tempos sombrios como este, em que sou alvo de uma perseguição política implacável, cada gesto de solidariedade tem um valor imenso", escreveu a parlamentar.

Na quinta-feira, 24, em entrevista ao portal Metrópoles, o filho "01" do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu que o governo italiano "abra as portas" para Zambelli.

Senadores brasileiros tiveram uma primeira reunião de trabalho na noite desde sábado, em Washington, nos Estados Unidos, no âmbito da missão oficial à capital americana para debater as tarifas de 50% aos produtos brasileiros, a partir do dia 1º de agosto. Participaram das conversas Teresa Cristina (PP-MS), Nelsinho Trad (PSD-MS), Esperidião Amin (PP-SC), o astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Fernando Farias (MDB-AL).

O encontro foi preparatório e teve como foco atualizar os parlamentares sobre os temas prioritários e alinhar os pontos que deverão ser discutidos nas reuniões com congressistas norte-americanos e representantes do setor produtivo dos EUA.

"O objetivo foi promover uma atualização da temática e alinhar os pontos que deveremos abordar ao longo da missão. Essa preparação é fundamental para garantir uma atuação coesa, institucional e estratégica em nome do Brasil", afirmou o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores e coordenador da missão, em nota.

Os senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Jacques Wagner (PT-BA) e Rogério Carvalho (PT-SE) devem chegar a Washington neste domingo.

A missão oficial do Senado brasileiro à capital americana ocorre em meio ao início do recesso parlamentar nos EUA. A Câmara dos Deputados entrou em recesso na semana passada, enquanto o Senado americano deve ter sessão até o dia 31 de julho.

Com a agenda parlamentar esvaziada, o foco da missão brasileira deve ser o setor corporativo. As tentativas de negociações do Brasil com os EUA ganharam corpo nos últimos dias, mas nenhum avanço de fato ocorreu, em meio ao temor de que os americanos adotem novas sanções contra o País.

Há a expectativa de que o presidente dos EUA, Donald Trump, assine uma ordem executiva nos próximos dias com as justificativas legais para taxar os produtos importados do Brasil em 50%, a partir de agosto, conforme relatos na imprensa. Isso porque a investigação do Escritório de Representação de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) para apurar práticas comerciais injustas no Brasil, e que também teria o mesmo objetivo, poderia consumir mais tempo.

Na semana passada, senadores americanos enviaram uma carta ao presidente Trump, criticando a taxação ao Brasil. No documento, acusam o chefe da Casa Branca de "claro abuso de poder" e que interferir no sistema jurídico de uma nação soberana cria um "precedente perigoso" e provoca uma "guerra comercial desnecessária ".