Prefeitos vão pedir à cúpula do G-20 US$ 800 bilhões públicos ao ano para clima

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Um movimento global de prefeitos vai pedir formalmente à cúpula de líderes do G-20 pelo aumento do financiamento público às cidades para US$ 800 bilhões ao ano, visando investimentos capazes de levar ao cumprimento das metas climáticas previstas no Acordo de Paris.

Esse montante representa algo próximo a 20% do esforço de investimento necessário para "esverdear" centros urbanos pelo mundo, estimado em US$ 4,5 bilhões ao ano. Mas seria o suficiente para catapultar a parcela privada restante, disse ao Estadão/Broadcast Gregor Robertson, embaixador global do Pacto Global de Prefeitos.

"Os fluxos financeiros atuais para cidade estão aquém do que é necessário. Em 2021, o valor público investido foi de apenas US$ 183 bilhões", diz Gregor Robertson. Naquele ano e do ano seguinte, 2022, investimento total, considerando fontes públicas e privadas, em iniciativas climáticas nas cidades ficou na casa dos US$ 830 bilhões, bem abaixo dos US$ 4,5 trilhões necessários. A ideia é que as cifras ideais sejam alcançadas em 2030.

O pedido será feito no encerramento da cúpula do Urban20 (U20), grupo de trabalho para cidades paralelo ao G-20, sendo assinado por 60 prefeitos de grandes cidades, o que inclui adeptos do Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia (Gcom na sigla em inglês) e da rede C40 Cities.

Eles pedem aos governos nacionais e às instituições de financiamento de desenvolvimento - bancos públicos e multilaterais - que priorizem as iniciativas urbanas, também usando mecanismos de subsídios e empréstimos a juros baixos para mobilizar os investimentos privados. O pleito é que 40% desses financiamentos a taxas menores priorizem bairros e comunidades de baixa renda e vulneráveis.

Potencial

Segundo Robertson, embora as cidades concentram 70% das emissões globais de gases do efeito estufa e ainda enfrentam o desafio do crescimento populacional acelerado, elas são a melhor saída para a descarbonização e inovação massivas, podendo responder por 40% das contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) do Acordo de Paris, sendo centrais para limitar o aquecimento global a 1,5°C até 2030.

No mais, do ponto de vista econômico, o grupo de prefeitos estima que o investimento direcionado requerido poderia liberar US$ 23,9 trilhões em retornos até 2050, fruto da transformação de setores como transporte, habitação e energia.

Peculiaridades

"Nas cidades do Sul Global, teremos uma porcentagem maior de financiamento público, enquanto no Norte Global, provavelmente veremos uma parcela maior de financiamento privado ao qual os países têm mais acesso. Mas isso muda a cada cidade e projeto. A relação 20/80 é uma média que vimos ao longo de muitos anos nas cidades", pontua Robertson ao Broadcast. A iniciativa, diz ele, defende a priorização dos recursos públicos para países de baixa renda, com maior necessidade de infraestrutura.

Embora o comunicado do Pacto Global de Prefeitos mencione medidas voltadas a transporte de baixa emissão, energia limpa e infraestrutura resistente ao clima, Robertson diz que o foco dos investimentos deve variar muito em função da realidade de cada cidade. Como exemplo, ele cita Vancouver, onde mora, onde o funcionamento dos prédios responde por 55% da poluição.

"O investimento em uma cidade como Vancouver precisa focar a descarbonização de edifícios, a redução dos combustíveis fósseis queimados neles e do carbono incorporado em seus materiais. Isso é muito diferente nas cidades do sul global, onde o transporte tende a ser uma fonte maior de poluição. Então, o investimento precisa ser direcionado para transporte ou, em alguns casos, para tratamento de resíduos, aterros sanitários. Precisamos ser flexíveis com isso", diz.

Acesso

Na última quinta, 14, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que endossa o pedido, afirmou que os recursos existem no mundo e que a maior dificuldade está em viabilizá-los, uma vez que há forte ingerência dos governos centrais no repasse às cidades, em geral ligada a necessidade de aprovação para garantias soberanas.

Então, Paes disse que os prefeitos reunidos no U20 pediriam ao presidente Lula, como presidente de momento do G-20, um "fast-track" para financiamento climático e uma espécie de fundo garantidor a fim de facilitar os repasses às cidades. No caso do Brasil, o prefeito sugeriu que uma saída seria reduzir os trâmites de aprovação do Tesouro Nacional e Senado, além de excluir financiamentos desse tipo do grau de endividamento das prefeituras.

Questionado a esse respeito, Robertson reconheceu se tratar de um problema global. "A maioria dos países tem desafios para as cidades acessarem níveis apropriados de financiamento sem garantias dos governos federais. Acreditamos que o CHAMP, a (Coalizão para Parcerias Multiníveis de Alta Ambição), tem grande potencial para endereçar isso", afirma.

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou favorável ao arquivamento da ação penal apresentada pelo deputado federal Rui Falcão (PT-SP) contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A representação foi motivada por uma declaração de Tarcísio contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Na ocasião, o governador afirmou que "ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como o [Alexandre de] Moraes".

Para Rui Falcão, a fala foi interpretada como um "ato antidemocrático inserido em contexto de golpe continuado".

No entanto, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o pedido não apresenta elementos informativos mínimos que indiquem a existência de um crime, o que não justifica a abertura de investigação. Por isso, ele solicitou o arquivamento do caso.

O procurador também destacou que a eventual articulação política em defesa de anistia não configura crime, e que a concessão de anistia é responsabilidade do Congresso Nacional, devendo ser feita por meio de lei ordinária com sanção presidencial.

"Articulação política não constitui ilícito penal, tampouco extrapola os limites da liberdade de expressão", afirmou Gonet.

A representação foi apresentada no âmbito da Ação Penal 2668, que tramita no STF. Um dos argumentos era de que Tarcísio teria atuado junto a parlamentares pela tramitação de um projeto de anistia destinado a beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros envolvidos na tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito.

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira, 15, a sustação da ação penal em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) pelos crimes de injúria, difamação e calúnia.

O placar ficou em 268 votos a favor da sustação, 167 contra e 4 abstenções. Os favoráveis foram 11 a mais do que o quórum mínimo de 257 votos.

O senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) apresentou queixa-crime contra Gayer pelos crimes de calúnia, difamação e injúria após vídeo publicado pelo deputado federal nas redes sociais em fevereiro de 2023.

Gayer chamou Vanderlan e o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) de "dois vagabundos que viraram as costas para o povo em troca de comissão", ao comentar a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado.

Na mesma publicação, Gayer também fez ataques ao STF, disse que Pacheco se comportava como um "chihuahua adestrado" e "continuará a arregaçar o c* dessa casa para que o STF continue a penetrar com a p* ditatorial".

"Não estou nem aí para as palavras de baixo calão, mas eu estou puto mesmo, que era a maior oportunidade que a gente tinha de salvar o nosso País e os senadores nos traíram", disse Gayer no vídeo.

As palavras de baixo calão foram repetidas por Lindbergh Farias (RJ), líder do PT na Câmara, para persuadir parlamentares a votarem contra. "Isso é passar dos limites completamente. Os senhores querem jogar a imagem desta Casa no ralo do esgoto", disse o petista. "Essa votação é uma vergonha. Como é uma vergonha Eduardo Bolsonaro não ter sido casado por esta Câmara."

No entendimento da Primeira Turma do STF, Gayer "extrapolou da sua imunidade parlamentar para proferir declarações em descompasso com os princípios consagrados na Constituição Federal".

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) pediu que os parlamentares "não votassem por vingança" e que atuem em defesa das prerrogativas parlamentares. "Não podemos aqui ignorar e deixar de lado as questões políticas e meramente dizer, por uma vingança, 'eu não gosto do deputado Gustavo Gayer, porque eu achei as palavras dele chulas'. Quaisquer motivos que sejam não serão justificativas plausíveis e nem suficientes para poder cassá-lo hoje", disse.

O PL pediu a sustação da ação penal por entender que deputados possuem imunidades para "a garantia do livre desempenho do mandato". "Assim, em atenção à garantia do livre exercício do mandato para o qual foi eleito, requer-se, desde já, a aplicação da imunidade processual ao parlamentar", afirmou o partido.

A decisão da Câmara trava o processo no STF e a Corte fica impedida de dar continuidade ao caso. Governistas criticaram a decisão da Casa.

O relator do caso, deputado Zé Haroldo Cathedral (PSD-GO), acompanhou o pedido do PL e apresentou texto para barrar o andamento da ação penal contra Gayer.

No documento, Cathedral disse que as declarações de Gayer foram "inadequadas', mas são protegidas pela inviolabilidade de palavras garantidas aos parlamentares.

"As críticas formuladas pelo deputado federal Gustavo Gayer ao senador Vanderlan Cardoso foram exprimidas em linguagem inadequada, grosseira e deselegante, porém protegidas pela inviolabilidade. Caso se compreenda que a conduta é censurável, o remédio prescrito pelo texto constitucional seria a responsabilização ético-disciplinar", afirmou Cathedral.

"Deputado Gustavo Gayer deveria ir ao Conselho de Ética, e não ao STF", disse Cathedral ao ler o relatório na Comissão de Constituição e Justiça aprovado na semana, para aplausos de deputados do PL. "Não houve representação apresentada contra Gayer em razão desse episódio."

É a segunda vez que o PL pede para sustar a tramitação de uma ação penal. O primeiro caso envolveu o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que faz parte do primeiro núcleo acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de ter participado de plano de tentativa de golpe de Estado.

Nesse caso, o plenário da Câmara decidiu por sustar a ação penal com 315 votos a favor e 143 contra após a CCJ tomar a mesma decisão. Na semana seguinte, a Primeira Turma do STF votou de forma unânime para limitar a decisão da Câmara.

No caso, a leitura dos ministros do Supremo foi de que o Poder Legislativo não tem atribuição para decidir sobre ações penais em curso na Corte, e que poderiam ser anuladas apenas as acusações contra Ramagem sobre atos após a sua diplomação.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso teve um mal estar nesta quarta-feira, 15, e foi levado para o Hospital Sírio Libanês, em Brasília. Ele estava na Corte quando houve uma queda de pressão.

A suspeita inicial era de uma virose. O ministro está sendo submetido a exames. Ainda não há informações sobre o diagnóstico. Ele ficará internado ao menos até amanhã.

Barroso comunicou em plenário na quinta-feira, 9, a decisão de antecipar a aposentadoria. A medida foi publicada nesta quarta-feira, 15, no Diário Oficial da União, com data de validade a partir de sábado, 18.

A saída precoce de Barroso do tribunal abre a terceira vaga no atual mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Com a aposentadoria publicada, a expectativa é que seja nomeado um novo ministro ainda nesta semana.