Aliança Contra Fome tem adesão de última hora da Argentina

Internacional
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou na segunda, 18, a adesão de 82 países à Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, principal tema da presidência brasileira do G20 e talvez o único dos três pilares propostos pelo País com algum avanço concreto. A Argentina de Javier Milei aderiu no último momento, segundo o Itamaraty, e não constava na lista inicialmente divulgada pelo governo brasileiro.

 

De acordo com os diplomatas, Milei foi o menos aplaudido nos discursos de abertura da cúpula. No primeiro semestre deste ano, a pobreza na Argentina chegou a 52,9% da população, depois do choque recessivo dado pelo presidente na economia para tentar tirar o país da longa crise persistente. Ontem, o libertário voltou a criticar o multilateralismo e a intromissão do Estado, afirmando que só o capitalismo tira as pessoas da pobreza.

 

O presidente chileno, Gabriel Boric, rebateu Milei em seu pronunciamento. Segundo relatos de fontes que acompanharam a reunião, ele fez menções ao discurso do argentino e disse que, no Chile, iniciativas apenas do setor privado não resolveram a questão da pobreza. Boric também elogiou programas sociais do Brasil, como o Bolsa Família.

 

Rede de apoio

 

Além dos países que aderiram à causa, a aliança global contra a fome terá 66 organismos internacionais, entre eles fundações como Gates e Rockfeller e bancos multilaterais, como Banco Interamericano de Desenvolvimento e Banco Mundial.

 

Em seu discurso, Lula afirmou que este será o maior legado da cúpula do Rio. "Compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade. Por isso, colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o lançamento de uma aliança global contra a fome e a pobreza."

 

"O símbolo máximo na nossa tragédia coletiva é a fome e a pobreza. Segundo a FAO, em 2024, convivemos com um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas. É como se as populações do Brasil, México, Alemanha, Reino Unido, África do Sul e Canadá, somadas, estivessem passando fome", afirmou Lula.

 

Divergências

 

A cúpula do G20 reúne as 19 maiores economias do mundo, a União Europeia e, a partir deste ano, a União Africana. Como anfitrião e presidente do G20, o Brasil estabeleceu três pilares de discussão pelas lideranças internacionais: combate à fome e à pobreza; reforma dos organismos de governança internacional; e transição energética e desenvolvimento sustentável.

 

A criação do mecanismo já foi aprovada antes e angariou novos integrantes nas últimas semanas, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, que deixará o cargo em janeiro. A expectativa do governo Lula, porém, era receber adesão de pelo menos 100 membros.

 

O objetivo é acelerar a redução da pobreza e eliminar a fome até 2030. Uma manifestação realizada no domingo, na Praia de Copacabana, apresentou 733 pratos vazios espalhados pela areia para representar os 733 milhões de pessoas que passam fome no mundo, de acordo com dados das Nações Unidas.

 

A aliança funcionará por cinco anos, a partir de 2025, com um secretariado sediado na FAO - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - em Roma, na Itália. Além de obter doações de recursos, uma das intenções da aliança é mobilizar fundos já existentes para programas que reconhecidamente funcionam. Os países que desejam receber dinheiro devem se comprometer a adotar um dos programas.

 

O BID, por exemplo, aderiu à aliança e anunciou que vai alocar até US$ 25 bilhões em financiamentos aos seus países-membros para garantir a implementação de políticas e programas de combate à pobreza e à fome.

 

Avanços

 

De acordo com o cientista político e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha Mauricio Santoro, a agenda da fome e pobreza é a única que deve avançar, já que as demais tendem a ser esvaziados pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca ano que vem.

 

O presidente eleito dos EUA é crítico do multilateralismo e os demais pilares propostos pelo Brasil devem enfrentar resistência internacional com seu governo.

 

"É um tema muito importante para o presidente Lula e é o menos controvertido", diz Santoro. "Não tem ali ninguém que seja contrário a isso, pode haver alguma discordância em termos concretos sobre a melhor maneira de obter isso, mas acho que é um é muito promissor."

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), defendeu nesta quarta-feira, 30, uma "solução equilibrada" para o tarifaço a produtos brasileiros promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O parlamentar saiu em defesa do Poder Judiciário, "elemento essencial para a preservação da soberania nacional, que é inegociável".

"O Parlamento acompanha de perto cada desdobramento dessa questão, em conjunto com o Executivo e o Judiciário, para assegurar a proteção da nossa economia e a defesa intransigente das instituições democráticas", diz o posicionamento assinado por Davi Alcolumbre. "O caminho da cooperação internacional deve prevalecer, com o objetivo de restabelecer a confiança mútua e manter a histórica parceria entre as duas nações."

Mais cedo na quarta, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), rechaçou a aplicação de sanções contra autoridades do País. Sem fazer referência ao tarifaço de Trump, Motta frisou que a democracia é sustentada pelo Executivo, pelo Legislativo e pelo Judiciário e que estes devem atuar com "independência e harmonia".

O governo Trump incluiu Alexandre de Moraes na lista de sancionados pela Lei Magnitsky nesta quarta-feira. É a primeira autoridade de um país democrático a ser punida com a medida, criada para restringir direitos de violadores graves de direitos humanos, como condenados por tortura, tráfico humano e assassinatos em série.

Horas depois de sancionar Moraes, o governo americano ratificou a imposição de tarifas de 50% às importações do Brasil. Quase 700 produtos foram incluídos como exceção e serão isentos da taxa. Entre as principais mercadores prejudicadas, estão o café e as carnes. Um cálculo preliminar da consultoria Leme Consultores aponta que as 694 exceções da gestão Trump atenuam os efeitos do tarifaço em 41%.

Uma comitiva de senadores desembarcou nos Estados Unidos no início da semana para tentar reverter a imposição das tarifas. Em nota, a comitiva diz que "todas as agendas da delegação foram voltadas à reconstrução do diálogo político" entre os parlamentares dos dois países. Se confirmadas, as taxas passam a valer a partir de 6 de agosto.

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, participa nesta quinta-feira, 31, do programa da Ana Maria Braga, na TV Globo. A entrevista ocorre um dia após a oficialização da tarifa de 50% a produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Alckmin afirmou que o governo Lula continua com as negociações com os Estados Unidos e a intenção é aumentar o comércio com o país. "Negociações começam hoje", disse.

"Nós não criamos o problema, mas queremos resolver", afirmou o vice-presidente, destacando que um contato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente dos EUA precisa de uma preparação.

"Vamos trabalhar para preservar empregos, produções e para avançar em mercados", afirmou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que a soberania brasileira "aparece em primeiro lugar em nossa Constituição, entre os demais princípios fundamentais" e que ela é que "nos trouxe liberdade e independência". Em publicação no X (antigo Twitter) na manhã desta quinta-feira, 31, Lula disse que é graças à soberania que o País pode "decidir seus rumos, proteger seus recursos, cuidar de seu território e defender seus interesses diante do mundo".

"Sem soberania, o Brasil não existiria. Foi ela que nos trouxe liberdade e independência. E é ela que aparece em primeiro lugar em nossa Constituição, entre os demais princípios fundamentais. Soberania é a autoridade que um povo tem sobre seu próprio destino", disse o presidente. Lula ainda afirmou que a "soberania é, para nós, o direito de construir uma sociedade livre, justa e solidária".

O presidente tem insistido no discurso de defesa da soberania brasileira após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmar a tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil (com uma série de exceções, entre elas o suco de laranja e aeronaves civis) e sancionar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Lula disse que seu governo vem trabalhando "com esse espírito" e apresentando "ações concretas que devolvem dignidade, fortalecem nossa economia e colocam o Brasil, novamente, no caminho da inclusão e do desenvolvimento". O presidente citou em sua publicação, por exemplo, um vídeo em que fala da queda do desemprego e do aumento da renda do trabalhador brasileiro. Também compartilhou um post sobre a saída do Brasil do Mapa da Fome da Organizações das Nações Unidas (ONU).

"Assumimos a atual gestão com muitos desafios: recolocar o Brasil no cenário internacional, reconstruir políticas públicas que haviam sido desmontadas e tirar o País do mapa da fome. Com senso de compromisso e muito trabalho sério, estamos prosperando", disse.

Segundo o presidente, a soberania de um país não significa ele estar distante das demais nações em termos de cooperação. "A soberania deve ser acompanhada pela cooperação internacional. O mundo enfrenta desafios que nenhuma nação vencerá sozinha, como a fome e a mudança do clima. Desafios comuns exigem ações compartilhadas. Por isso, atuamos para fortalecer o multilateralismo", finalizou.