G20 chega a uma declaração conjunta sem criticar papel de Rússia e Israel em guerras

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O G20 chegou na segunda-feira, 18, a uma declaração conjunta. O capítulo mais delicado era o referente à geopolítica. Houve pressão de países do G7 para reabrir o documento para mencionar as guerras na Ucrânia e em Israel, mas o Brasil manteve os conflitos de fora da declaração final. A ameaça do presidente da Argentina, Javier Milei, de não assinar o texto não se concretizou - ele fez apenas objeções verbais.

 

A saída para chegar a um consenso foi não fazer condenações nem à Rússia nem a Israel. Os países voltaram atrás, no entanto, na proposta inicial de não mencionar a palavra "guerra" - uma demanda do bloco pró-Rússia - e incluíram o vocábulo no texto. Eles retomaram a linguagem usada no comunicado do G20 do ano passado, na Índia, que usou o termo guerra e já poupava Moscou.

 

Na segunda, os países concordaram com duas alterações, em relação ao que foi acertado por diplomatas nos últimos dias. Após pressão dos europeus, eles incluíram uma condenação a ataques à "infraestrutura" de países, um reflexo dos bombardeios russos a instalações de energia da Ucrânia, no domingo.

 

"Destacamos o sofrimento humano e os impactos negativos da guerra no que diz respeito à segurança alimentar e energética global, às cadeias de abastecimento, à estabilidade macrofinanceira, à inflação e ao crescimento", afirma um trecho do documento, uma referência indireta à Ucrânia.

 

Com relação ao conflito entre Israel e Hamas, os países do G20 aceitaram um pedido dos emergentes e incluíram manifestações de preocupação com a situação.

 

"Expressando nossa profunda preocupação com a situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza e a escalada no Líbano, enfatizamos a necessidade urgente de expandir o fluxo de ajuda humanitária e reforçar a proteção dos civis e exigir a eliminação de todas as barreiras à prestação de assistência humanitária em grande escala", diz o texto.

 

Geopolítica

 

O embate geopolítico marcou a abertura da cúpula, comandada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Museu de Arte Moderna do Rio, e acabou ofuscando o lançamento de uma aliança global contra a fome e a pobreza, bandeira da diplomacia do brasileiro.

 

Durante a maior parte do dia, o maior entrave à declaração final parecia ser de Milei, um crítico do multilateralismo. Na semana passada, o governo argentino foi o único a votar contra uma resolução da Assembleia-Geral da ONU sobre violência contra as mulheres.

 

Na cúpula do Rio, Milei abriu cinco frentes de embate durante a reta final de negociações do comunicado do G20: multilateralismo, gênero, desenvolvimento sustentável, tributação de grandes fortunas, clima e meio ambiente. Nesta segunda, ele rejeitou temas ligados ao desenvolvimento sustentável, a Agenda 2030 da ONU.

 

Mas no fim, o presidente da Argentina acabou cedendo e assinou - ainda que com algumas ressalvas - o texto final. Com isso, o maior empecilho ao consenso na declaração final acabou se tornando a posição de países europeus e americanos sobre as guerras na Ucrânia e em Gaza.

 

A pressão passou a vir então do grupo dos sete países mais ricos do mundo - EUA, Canadá, Alemanha, Itália, França, Reino Unido e Japão. Eles pretendiam que o Brasil reabrisse as negociações sobre o capítulo geopolítico do documento final para incluir uma condenação aos ataques da Rússia. Diplomatas europeus e americanos também não estariam satisfeitos com a forma como ficou a redação do trecho que trata sobre clima.

 

Por mais que a diplomacia brasileira tentasse colocar a fome e a pobreza no centro do debate, as guerras estavam no topo da agenda dos mais poderosos. O presidente dos EUA, Joe Biden, que vive seus últimos dias na Casa Branca, citou os conflitos na Ucrânia e de Israel contra o Hamas durante seu discurso.

 

"Os EUA apoiam a soberania da Ucrânia e sua integridade territorial. Todos ao redor desta mesa deveriam fazê-lo também, em minha opinião", disse o americano, um dia depois de autorizar o governo ucraniano a usar mísseis de longo alcance para atacar alvos dentro do território russo.

 

Biden também falou sobre Gaza. "Israel tem o direito de se defender depois do pior massacre de judeus desde o Holocausto. Mas a forma como se defende importa muito", disse. "Vamos continuar pressionando para acelerar um acordo de cessar-fogo que garanta a segurança de Israel, resgate os reféns e termine o sofrimento de pessoas e crianças palestinas."

 

O premiê do Reino Unido, Keir Starmer, também usou seu discurso para atacar a Rússia e pedir apoio humanitário a Gaza, mas sem mencionar Israel. "É importante nesta sala que abordemos a guerra ilegal da Rússia na Ucrânia. Amanhã (terça-feira, 19), marca o milésimo dia de sua invasão de um Estado pacífico e soberano."

 

Depois da decisão de Biden, Starmer deve autorizar em breve que os ucranianos usem mísseis britânicos Storm Shadow contra alvos dentro da Rússia. "Há muito tempo tenho sido claro: precisamos redobrar a aposta, garantir que a Ucrânia tenha o que é necessário pelo tempo que for necessário, porque não podemos permitir que Putin vença essa guerra."

 

Encontro

 

Diante de tantas divergências, outro momento importante quase acabou sendo ofuscado: o primeiro encontro entre Lula e Milei.

 

O aperto de mão entre os dois foi rápido, durou apenas 15 segundos, um contraste marcante com a recepção do brasileiro a outros líderes no MAM, principalmente Biden e o presidente da França, Emmanuel Mácron.

 

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, criticou a falta de um gabinete formal para a esposa do presidente da República, afirmando que a ausência dessa estrutura está ligada ao "machismo". Em entrevista à CNN Brasil, transmitida neste domingo, 17, ela citou Estados Unidos, México e Paraguai como países que contam com gabinetes para primeiras-damas.

"A primeira-dama dos Estados Unidos tem um gabinete e outras diversas primeiras-damas têm", argumentou a socióloga. "Ontem mesmo, recebi uma carta da primeira-dama do Paraguai que, por um problema de saúde, não pode estar no G20 com a gente e (foi enviado) da oficina da primeira-dama. Quer dizer, do gabinete da primeira-dama. Eu não posso nem colocar isso no papel", disse.

Janja disse que se quiser produzir alguma coisa, como uma carta, precisa pagar de seu próprio bolso. "Tudo é do meu bolso que eu pago, porque eu não tenho nada disso. As roupas que eu uso. Tudo, tudo, tudo sai dali."

Em declarações anteriores, Janja já havia se manifestado sobre o desejo de um espaço institucionalizado para o trabalho das primeiras-damas. No ano passado, ela comparou sua situação à da primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, que conta com um gabinete formal no governo norte-americano.

"Nos EUA, a primeira-dama tem. Tem também agenda, protagonismo, e ninguém questiona. Por que se questiona no Brasil? Vou continuar fazendo o que acho correto. Sei os limites. Eu quero saber das discussões, me informar, não quero ouvir de terceiros", afirmou, em entrevista ao jornal O Globo, publicada em novembro de 2023.

Na ocasião, ela afirmou não participar das reuniões de trabalho de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "São dentro de casa, no nosso dia a dia, no fim de semana, quando a gente toma uma cerveja. Quando estou incomodada, eu vou lá e questiono. Não é porque eu sou mulher do presidente que vou falar só de marca de batom", disse.

O ex-presidente Michel Temer declarou nesta segunda-feira, 18, que considera o xingamento feito pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao empresário Elon Musk como algo "nada grave", mas avaliou que a atitude "não foi útil".

"Eu acho que não foi útil, mas também vamos compreender", minimizou. "Acho que é um momento de certa congregação social que a senhora primeira-dama estava fazendo. Acho que também isso liberou um pouco a sua linguagem, nada grave", afirmou Temer.

Janja estava participando de um painel no G-20, no Rio de Janeiro, no último sábado, 16, sobre o combate à desinformação, quando o som de uma buzina interrompeu o discurso, o que levou à sua reação. "Alô, acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você, inclusive, fuck you, Elon Musk", disse a primeira-dama.

Temer afirmou ainda ter certeza que a declaração não "abalará as relações do Brasil com os Estados Unidos". Musk foi recentemente indicado pelo presidente eleito, Donald Trump, para liderar o Departamento de Eficiência Governamental.

Provocações

Após a fala de Janja, Musk reagiu o xingamento compartilhando uma publicação do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) no X, onde escreveu: "lol", abreviação de "laughing out loud", ou "rindo muito", em inglês. "Eles vão perder a próxima eleição", afirmou o bilionário, ao comentar a publicação que reproduzia o vídeo com a fala de Janja.

Em dezembro de 2023, o perfil de Janja no X foi hackeado, resultando em postagens de cunho sexual e ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na ocasião, Janja acusou a plataforma, que é de Elon Musk, de não agir rapidamente para corrigir o ataque, minimizar a gravidade do incidente e "lucrar em cima do ódio".

Posteriormente, após Elon Musk ter desacatado a suspensão de contas na rede social relacionadas ao Inquérito das Milícias Digitais e dispensado um representante legal da empresa no Brasil, Moraes determinou que Musk fosse investigado por obstrução de justiça e incitação ao crime. A situação resultou na suspensão do X no Brasil entre os dias 30 de agosto e 8 de outubro, quando a rede social confirmou o cumprimento de todas as ordens judiciais, a nomeação de uma representante legal no Brasil e o pagamento de uma multa de R$ 28,6 milhões.

O exame necroscópico feito por peritos médicos da Polícia Federal (PF) concluiu que Francisco Wanderley Luiz, o Tiü França, autor do atentado a bomba próximo ao Supremo Tribunal Federal (STF), morreu de traumatismo cranioencefálico causado pelos explosivos que ele próprio acionou.

A tomografia apontou uma fratura extensa no lado direito do crânio. Os exames também atestaram que os dedos da mão direita foram amputados pela explosão.

Os peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC) concluíram que essas regiões estavam próximas no momento da explosão, ou seja, Francisco Wanderley provavelmente segurou a bomba com a mão direta próximo à cabeça.

Um exame toxicológico foi feito para verificar se ele estava sob efeito de alguma substância psicotrópica no momento do atentado.

Pelo menos oito bombas improvisadas foram encontradas na casa alugada por Francisco em Ceilândia, no entorno de Brasília. A Polícia Federal identificou que elas foram montadas com pólvora e fragmentos metálicos, como porcas e arruelas, e que esse mesmo padrão foi usado nas explosões na Praça dos Três Poderes.

Esse tipo de bomba cria uma contenção que aumenta a pressão dentro do tubo. Ao ser detonado, o tubo se rompe, lançando estilhaços com grande força e alcance, o que pode causar ferimentos graves em quem estiver próximo.

A PF prepara um pedido de quebra de sigilo telemático para que seus peritos possam analisar os históricos de buscas e mensagens e dados armazenados na nuvem do celular de Francisco para verificar se ele planejou o ataque sozinho. Outros bens apreendidos, incluindo um trailer carregado com explosivos, também estão sendo periciados.

Além disso, os investigadores estão ouvindo testemunhas. O dono da loja que vendeu os fogos de artifícios, seguranças do STF, o policial militar que recebeu o chamado da ocorrência na Praça dos Três Poderes e vizinhos prestaram depoimento.